terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Justiça Militar nega recurso e mulher que enganou o Exército por 33 anos terá que devolver R$ 3,7 milhões de pensão

O Superior Tribunal Militar (STM) negou o recurso de Ana Lucia Umbelina Galache de Souza, que fraudou documentos para se passar por filha de um tio-avô, ex-combatente da Segunda Guerra Mundial. A mulher foi condenada, pela Justiça Militar de Mato Grosso do Sul, a devolver R$ 3,7 milhões pelos 33 anos que recebeu pensão do Exército.

O g1 entrou tentou contato com a ré, mas até a última atualização desta reportagem não obteve retorno.

A Defensoria Pública da União (DPU), responsável pela defesa de Ana Lúcia Umbelina Galache de Souza, pediu a absolvição da ré sob a justificativa da “ausência de intenção”, visto que o registro como filha do militar foi feito quando ela era menor de idade.

A corte negou, por unanimidade, o recurso de apelação apresentado por Ana Lucia e decidiu por manter a condenação imposta pela pela Justiça Militar em Mato Grosso do Sul de devolver o valor. A ação teve como relator o ministro Odilson Sampaio Benzi.

Segundo a ação penal militar, o crime teve início em 1988 quando Ana Lucia Umbelina Galache de Souza fraudou documentação e apresentou um segundo nome: Ana Lucia Zarate, para assim, obter o benefício em nome de Vicente Zarate, seu tio-avô, ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Ele morreu em outubro de 1988, e a fraude na pensão teria ocorrido a partir de novembro de 1988 até 2022.

A fraude começou quando ela, ainda menor de idade, conseguiu, em 25 de setembro de 1986, ser registrada em um cartório de Campo Grande, como sendo filha de Vicente Zarate e Natila Ruiz. Com a nova documentação, ela obteve também outra Carteira de Identidade, e outro Cadastro de Pessoa Física (CPF), nestes constando o sobrenome Zarate.

Com os novos documentos, Ana Lucia requereu habilitação como pensionista de Vicente Zarate na Seção do Serviço de Inativos e Pensionistas (SSIP 9) do Exército brasileiro. O pedido foi deferido, e a mulher passou a receber, ainda em 1988, pensão integral como filha de Segundo Sargento e seguiu até 2022 quando foi denunciada. O prejuízo causado totalizou R$3,7 milhões.

O STM diz que a acusada foi inclusive orientada por seu marido para que comparecesse ao Setor de Pensionistas e interrompesse os pagamentos indevidos, o que não ocorreu. A Justiça Militar entende que a ré cometeu crime ao se passar por falsa dependente do ex-combatente para obter vantagens, tendo plena consciência de que estava enganando o serviço militar para receber a pensão.

De acordo com a decisão, o fato de Ana Lucia utilizar dois nomes, identidades e CPFs diferentes, evidencia o fato de “ludibriar” a Administração Militar com o objetivo de receber o benefício indevido, o que caracteriza a autoria e a materialidade do crime de estelionato.

<><> Avó revelou o esquema

Conforme a ação penal, Ana Lucia confirmou durante interrogatório que era, na verdade, sobrinha-neta de Vicente Zarate, e que dividia a pensão oriunda da fraude com sua avó paterna, Conceição Galache, que teria ajudado na obtenção dos documentos fraudulentos. Ana Lucia contou também que não vivia com seu tio-avô, Vicente Zarate, e não o tratava como pai.

A mulher disse, ainda, que se apresentava com o sobrenome Zarate apenas para fins de recebimento da pensão do Exército - ou seja, passando a utilizar dois nomes: o verdadeiro (Ana Lúcia Umbelina Galache de Souza), e o falso, (Ana Lucia Zarate), para manter a fraude, ao longo de 33 anos (de 1988 a 2022).

Ela admitiu ainda à Justiça Militar que o caso só veio à tona após a avó paterna exigir que lhe fossem repassados R$ 8 mil, sob pena de denunciá-la. Descontente com o valor que a neta vinha lhe repassando, Conceição Galache procurou, em 2021, a Polícia Civil e a Administração Militar para informar que Ana Lucia Zarate não era filha de Vicente Zarate.

Após abertura de sindicância e com a comprovação dos fatos, o pagamento da pensão foi suspenso. A avó de Ana Lúcia, Conceição Galache, morreu em maio de 2022. Ela não chegou a ser ouvida nas investigações.

 

•                        Fim da mamata! Insatisfação na caserna com o ajuste fiscal

A péssima reação da caserna às medidas de ajuste fiscal que impactam os integrantes das Forças Armadas fez com que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocasse, neste sábado (30/11), uma reunião com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e os três comandantes militares — o general Tomás Paiva, do Exército; o brigadeiro Marcelo Damasceno, da Aeronáutica; e o almirante Marcos Olsen, da Marinha. A agenda extraoficial durou cerca de duas horas no Palácio da Alvorada, residência oficial do Presidente da República. As autoridades chegaram ao Alvorada por volta das 15h e, às 17h, saíram ao mesmo tempo, sem conversar com jornalistas de plantão. Apesar da reunião, a residência oficial continuou recebendo visita de turistas na tardem de ontem.

O encontro ocorreu após o anúncio do pacote de corte de gastos divulgado na última semana pela equipe econômica do governo. Pelo menos, dois itens do pacote estão sob críticas dos militares: a idade mínima de 55 anos para deixar o serviço ativo e o fim da transferência ex-officio, que se dá quando o militar atinge a idade limite de permanência na Força.

Nos últimos dias, grupos de conversa de oficiais das três Forças amplificaram as críticas ao ajuste fiscal, que chegaram aos respectivos comandos. O Correio teve acesso a algumas dessas conversas e apurou que, além da insatisfação com a conta do ajuste que ficou para as Forças Armadas, há muitas reclamações da falta de colaboração dos Poderes Legislativo e Judiciário, principalmente no que diz respeito aos respectivos sistemas de proteção social, que incluem benefícios e aposentadorias diferenciadas. Apenas o sistema dos militares foi atingido pelo ajuste das contas públicas.

Para alguns oficiais de alto escalão ouvidos pela reportagem, sob a condição de sigilo, há, ainda, uma mágoa em relação à postura do ministro da Defesa, José Múcio, que, ao defender o acordo feito entre a equipe econômica e os comandos militares, disse que se perseguia, no pacote, “igualdade”entre os militares e os demais trabalhadores. “Não há igualdade nenhuma, a carreira militar é diferente, não há fundo de garantia, não se pode fazer greve,não é possível recusar remoção de cidade, não dá para falar de igualdade”, disse um comandante de três estrelas.

<><> Tempo de serviço

Na conversa com o presidente Lula, os comandantes mostraram-se preocupados com o aumento de pedidos de transferência para a reserva nas últimas semanas de militares que cumpriram 30 anos de serviço (mínimo necessário para deixar a ativa), mas não completaram 55 anos de idade. “O fluxo de carreira (nas Forças Armadas) é sempre baseado no tempo de serviço”, comentou outro alto oficial ouvido pela reportagem. Para ele, o acordo do ajuste fiscal foi feito “de forma açodada”.

Os comandantes das Forças querem que o processo de transição para a nova regra que estabelece idade mínima para pedir transferência à reserva seja coordenado pelo Ministério da Defesa, e não pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento, por causa das especificidades da carreira militar. Na proposta do governo, haverá um “pedágio” para os militares com menos de 55 anos de idade que estão perto de completar o tempo de serviço na ativa. As regras de transição devem ser apresentadas ao Congresso Nacional por meio de um projeto de lei. A expectativa é que esse período não ultrapasse dez anos.

<><> Previdência dos militares sofrerá mudanças

Como parte do pacote de corte de gastos anunciado pelo Ministério da Fazenda nesta quinta-feira (28/11), o governo federal apresentou uma série de mudanças na aposentadoria e nos benefícios concedidos aos militares. As medidas visam gerar uma economia anual de R$ 2 bilhões, sendo R$ 1 bilhão em redução de despesas e outro R$ 1 bilhão em aumento de receitas.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad afirmou que foi feito um acordo com as forças armadas, e segundo ele, fizeram um gesto de última hora. “Nós concordamos em acabar com a morte ficta —  quando um militar é condenado por um crime ou expulso do serviço, ele é tratado para fins de pensão como se tivesse morrido —, que é uma coisa que, do ponto de vista da moralidade pública, é importante nós reconhecemos como um resquício do passado que precisa ser superado”, afirmou.

Haddad também apontou que será extinta a transferência de pensão. “Era uma coisa que só dizia respeito a essa carreira. Vamos estabelecer finalmente, uma idade mínima de aposentadoria e passagem para a reserva, melhor dizendo. Fixar pelo teto de 3,5% da remuneração, a contribuição do militar para o fundo de saúde, que era uma coisa que estava desordenada entre as forças, e isso passa a fazer parte do acordo que foi feito com a defesa”, pontuou.

Atualmente, militares são promovidos automaticamente a cada sete anos, o que leva a uma idade média de transferência para a reserva em torno de 52,5 anos. Com a exigência de pelo menos 55 anos, será necessário ajustar a legislação para evitar estagnação nos postos mais altos, como coronéis e suboficiais. 

Além disso, a proposta considera exceções para militares que servem em localidades especiais. Nesses casos, um ano de serviço nessas regiões equivale a três anos para contagem do tempo exigido para aposentadoria. Soluções específicas precisarão ser desenvolvidas para adaptar essa regra ao novo sistema. 

As mudanças fazem parte de um pacote maior de cortes que busca uma economia total de R$ 30 bilhões em 2025 e R$ 40 bilhões em 2026. Segundo o governo, as alterações na previdência dos militares são uma das iniciativas para equilibrar as contas públicas sem comprometer programas prioritários. 

<><> Entenda as principais mudanças estão a extinção de benefícios como:

- Transferência de pensão: Benefício que permitia a transferência de pensão entre familiares será descontinuado;

- Morte ficta: Mecanismo que permitia o pagamento de pensões como se o militar estivesse falecido será eliminado;

- Contribuição ao fundo de saúde: Será fixada uma alíquota de 3,5% da remuneração dos militares para custeio do Fundo de Saúde;

- Idade mínima para aposentadoria: Embora o governo não tenha divulgado a idade exata, especula-se a fixação de 55 anos como limite mínimo para transferência à reserva.

 

Fonte: g1/Correio Braziliense

 

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