Vergonhosa isenção
de Bolsonaro a pastores entra na mira de Receita e TCU após suspeita de ato
atípico
A
isenção tributária a pastores evangélicos publicada pela Receita Federal às
vésperas da campanha eleitoral de 2022, durante o governo Jair Bolsonaro (PL),
está passando por reavaliação interna do Fisco sob suspeita de ter ocorrido de
forma atípica.
O
ADI (Ato Declaratório Interpretativo) nº 1, de 29 de julho de 2022, ampliou o
alcance da isenção previdenciária a pastores —forte núcleo
de apoio a Bolsonaro, então candidato à reeleição—
e também está sob investigação
do TCU (Tribunal de Contas da União).
Após
a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), esse ato declaratório foi
considerado atípico por integrantes do Fisco e passa agora por uma nova análise
no órgão. Ao fim desse procedimento, a normativa poderá ser total ou
parcialmente revista.
Um
dos pontos detectados, de acordo com envolvidos na análise, é que a edição do
ato não passou pela avaliação técnica da subsecretaria de tributação da
Receita.
O
ADI foi assinado por Julio Cesar Vieira Gomes, então chefe do Fisco.
Atualmente, ele também está na mira da investigação sobre a tentativa de
Bolsonaro em reaver as joias presenteadas pela Arábia Saudita e apreendidas no
aeroporto de Guarulhos (SP).
Julio
Cesar nega ter havido atipicidade no ato e diz que todas as normas da sua
gestão foram regulares e seguiram a tramitação devida.
A
Receita enviou as informações sobre o caso ao TCU em fevereiro deste ano. O
tribunal havia aberto ainda em 2022 um procedimento para investigar possíveis
irregularidades na edição do ADI e solicitou informações ao Fisco.
No
último dia 17 de março, a Secretaria de Controle Externo de Contas Públicas do
TCU pediu informações complementares à Receita.
Entre
elas, esclarecimentos sobre se o ato não exorbitou o poder do órgão de
regulamentação, tendo em vista que a "isenção tributária deve ser
interpretada de forma literal, nos termos do Código Tributário Nacional".
Bolsonaro
citou o ADI do Fisco em seu primeiro ato de campanha, em 16 de agosto, em um
encontro com lideranças religiosas em Juiz de Fora (MG).
Na
ocasião, ele iniciou seu discurso respondendo a um pedido de solução para as
cobranças da Receita. "A reivindicação já foi aceita, [o ato] está
publicado no Diário Oficial da União", disse o presidente, acrescentando
que a medida só não estava sendo cumprida ainda por "perseguição" aos
pastores.
Por
trás do ato editado pelo governo Bolsonaro está a chamada prebenda, remuneração
recebida pelos pastores e líderes religiosos por serviços prestados às igrejas.
A
lei isenta a prebenda do recolhimento de contribuição previdenciária, desde que
ela tenha relação com a atividade religiosa e não dependa da natureza ou da
quantidade de trabalho.
A
Receita, porém, detectou nos últimos anos que algumas igrejas usavam a prebenda
para driblar a fiscalização e distribuir uma espécie de participação nos lucros
aos pastores que reuniam os maiores grupos de fiéis (beneficiando lideranças de
templos em grandes cidades ou bairros, por exemplo) ou as maiores arrecadações
de dízimo.
O
Fisco aplicou multas milionárias e exigiu o pagamento da alíquota
previdenciária de 20% sobre os valores pagos a pastores, dirigentes e
lideranças religiosas. O entendimento dos auditores era o de que a isenção não
se aplicava a mecanismos de remuneração variável.
A
partir daí, a busca pelo perdão tributário e pela flexibilização das regras
passou a ser uma pauta prioritária da bancada evangélica no Congresso Nacional.
Em
2015, no governo Dilma Rousseff (PT), uma primeira lei estipulou que valores
diferenciados, pagos em dinheiro ou como ajuda de custo de moradia, transporte
e formação educacional também seriam isentos de tributação.
O
Fisco reagiu exigindo recibos desses gastos e multou quem não conseguiu
comprovar a natureza das despesas. A Receita adotou ainda o entendimento de que
a nova lei não retroagia, ou seja, as multas expedidas antes de sua publicação
continuavam valendo.
Em
2020, Bolsonaro sancionou uma lei que previa expressamente a retroatividade da
isenção previdenciária mais ampla sobre a prebenda. A intenção era anistiar as
multas que ainda pairavam sobre pastores aliados.
No
entanto a controvérsia no âmbito da fiscalização continuou, uma vez que,
segundo integrantes do governo, os auditores não viram nenhuma mudança no
alcance das isenções.
Em
setembro de 2021, por exemplo, uma solução de consulta publicada pela
Coordenação-Geral de Tributação afirmou que, caso o pagamento pela instituição
se dê com características inerentes a remuneração por serviços prestados pelo
ministro de confissão religiosa, o valor recebido deveria ser considerado na
base de cálculo da contribuição previdenciária.
O
mesmo entendimento valeria para valores pagos "de forma excedente ao
necessário para fins de subsistência da pessoa".
A
manutenção das multas chegou a ser classificada por Bolsonaro como perseguição
aos evangélicos. Nesse contexto, surgiu o ADI assinado pelo então secretário da
Receita.
O
ato diz que o pagamento de valores diferenciados, no montante ou na forma,
"não caracteriza esses valores como remuneração sujeita à
contribuição". No texto, são citados como fatores de diferenciação
"antiguidade na instituição, grau de instrução, irredutibilidade dos
valores, número de dependentes, posição hierárquica e local do domicílio".
A
norma também diz que só será considerada remuneração tributável a parcela paga
em condições "comprovadamente" relacionadas à natureza e à quantidade
do trabalho executado.
Por
ser assinado pelo secretário especial, o documento se sobrepõe a qualquer
solução de consulta divergente sobre o tema.
Na
época da edição do ato, o Sindifisco Nacional (Sindicato dos Auditores-Fiscais
da Receita Federal) disse que a medida "extrapola a competência da Receita
Federal para atos normativos".
"Ao
reduzir as condicionantes para o que se considera remuneração para fins de
incidência previdenciária, a Receita Federal faz com que mais remunerações se
considerem isentas. Uma ação que prejudica tanto a arrecadação presente quanto
créditos tributários já constituídos e produz efeitos danosos nas contas da
seguridade social", disse o sindicato dos auditores.
No
ano passado, a lista pública de devedores inscritos na Dívida Ativa da União
apontava as entidades religiosas com um débito de R$ 1 bilhão, sendo R$ 951
milhões relacionados à Previdência.
SECRETÁRIO
DIZ QUE ATOS SEGUIRAM AS REGRAS VIGENTES
Julio
Cesar Vieira Gomes, que foi secretário da Receita Federal de dezembro de 2021 a
dezembro de 2022, afirmou que todos os atos normativos adotados em sua gestão
seguiram as regras, com tramitação regular nos órgãos internos.
"O
procedimento adotado na elaboração de todos os atos normativos sempre observou
as regras vigentes, com tramitação regular pelos órgãos técnicos
competentes", afirmou, em nota.
No
ano passado, a Receita havia divulgado nota afirmando que o ADI "tão
somente consolidou num único documento o entendimento já vigente sobre essa
matéria, que já estava veiculado em lei e diversos diplomas jurídicos, como
Soluções de Consultas e Pareceres", acrescentando que a diversidade de documentos
estava gerando divergências internas.
"Dessa
forma, a consolidação do entendimento num único normativo permitiu otimizar a
publicidade, tanto para os auditores-fiscais quanto para os contribuintes,
trazendo ganhos de segurança jurídica, redução de litígios e de
conformidade."
Bolsonaro foi o presidente com menor
gasto em ambiente desde FHC, diz relatório
O
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi o que menos gastou com meio ambiente
entre seus pares desde 2000. Em seus quatro anos de gestão, a média anual gasta
na área foi de R$ 2,8 bilhões por ano, em valores atualizados pelo IPCA, a
menor desde os últimos anos da gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB),
informação mais antiga disponível no governo federal.
Os
dados foram reunidos no relatório "Nunca Mais Outra Vez", publicado
nesta segunda (27) pelo Observatório do Clima, que reúne 80 organizações da
sociedade civil, movimentos sociais e institutos de pesquisa.
A
rede também monitora anualmente os índices de emissões de gases estufa no país,
e atribui ao governo Bolsonaro a maior alta em 19 anos.
Bolsonaro
também bateu o recorde de aumento no desmatamento na Amazônia no seu governo,
com alta de 60% em relação ao mesmo período anterior. A fiscalização, por sua
vez, caiu: foram 40% a menos de multas aplicadas por desmatamento na área da
floresta.
Na
semana passada, a Advocacia-Geral da União do governo Lula (PT) aprovou
pareceres que permitem a cobrança de R$ 29,1 bilhões em multas aplicadas pelo
Ibama e barradas por Bolsonaro. Mais de um mês antes da decisão da AGU, o
próprio órgão anulou despacho do governo que poderia levar à anulação.
Segundo
o relatório, a promessa de campanha de Bolsonaro sobre não demarcar nem um
centímetro de terra indígena também foi cumprida. O documento cita aumentos de
212% e 125% em invasões e no garimpo, respectivamente, nesses territórios. Os
dados são do Conselho Indigenista Missionário e do MapBiomas.
O
Observatório do Clima propõe mudanças em relação a decisões do governo
Bolsonaro. A primeira é rever as pedaladas de emissões que o governo Bolsonaro
registrou em 2022 na UNFCCC (sigla em inglês para Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre Mudança do Clima).
A
pedalada consistiu na mudança nas emissões de 2005, que são a referência para
que, em 2030, o Brasil atinja a meta climática de reduzir em 43% as emissões de
gases-estufa. Como os dados de 2005 foram alterados para baixo, o compromisso
também diminuiu.
Outra
medida é revogar a licença prévia da BR-319, projeto de rodovia para conectar
Manaus a Porto Velho. Levantamento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais) a pedido do Observatório do Clima apontou que o desmatamento no
entorno da BR-319 cresceu 122% de 2020 a 2022, após a concessão da licença.
Alckmin defende reforma tributária e diz
que “nosso modelo é caótico”
O
vice-presidente Geraldo Alckmin defendeu uma reforma tributária que traga
eficiência econômica para o país. Representando o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, ele falou nesta terça-feira (28) na 24ª Marcha a Brasília em Defesa
dos Municípios, promovida pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM).
Para
Alckmin, o modelo tributário brasileiro é “caótico” e “injusto”, tanto na
cobrança quanto na distribuição de recursos. Segundo o vice-presidente, a
disparidade na distribuição varia de R$ 30 a quase R$ 9 mil per capita para os
municípios.
“Há uma conscientização de que o modelo
tributário nosso é caótico, ele leva a uma judicialização altíssima. Ele tem um
custo muito elevado para pagar imposto tal é a complexidade tributária. Ele é
injusto na maneira como arrecada porque está excessivamente em cima de
consumo”, disse, comparando que, nos Estados Unidos, os tributos sobre consumo
são em torno de 20%, enquanto no Brasil chegam a quase 50%.
“Ele
[o modelo tributário] dificulta a exportação porque acumula crédito. Ele não
estimula investimento. Essa é uma reforma que traz eficiência econômica que é o
que o Brasil precisa para crescer mais forte. Estamos confiantes e o caminho é
o diálogo. Os prefeitos eram um dos setores de preocupação, mas hoje há um
entendimento que a questão federativa se resolve e o importante é a economia
crescer mais forte”, completou Alckmin.
A
reforma tributária e o pacto federativo são os temas centrais para os prefeitos
nesta edição da marcha, que reúne cerca de 10 mil gestores. A CNM defende a
mudança na legislação para que o tributo fique na cidade onde houve o consumo.
Atualmente, o dinheiro vai para o município da sede da empresa fornecedora.
Hoje,
duas Propostas de Emenda à Constituição (PEC) para a reforma tributária que
tramitam no Congresso são defendidas pelo Ministério da Fazenda. Elas sugerem a
unificação de vários tributos e não vão diminuir a arrecadação dos municípios,
segundo o governo federal.
• Outras pautas
O
vice-presidente também destacou as ações do governo federal nesses primeiros 87
dias de gestão. Entre elas, o reajuste do valor da merenda escolar, que estava
congelado há cinco anos e foi aumentado em 39%.
Por
outro lado, na educação, ele lembrou que ainda há cerca de 350 mil crianças
entre quatro e cinco anos que estão fora da escola. Segundo o vice-presidente,
é preciso zerar essa fila, pois é dever do Estado universalizar o acesso à
educação.
Na
saúde, Alckmin citou a pactuação para zerar as filas de cirurgias e exames
eletivos, com a liberação de R$ 600 milhões para os municípios, mas cobrou que
os prefeitos avancem na vacinação da população, em especial da vacina do HPV
para meninas e meninos. O HPV (papilomavírus humano) é a infecção sexualmente
transmissível. O objetivo é diminuir os casos de câncer de colo de útero em
mulheres.
Fonte:
FolhaPress/Agencia Brasil
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