Quem
foi Hurrem Sultan, a mulher mais poderosa do Império Otomano
Considerada
a mulher mais influente do Império Otomano, Hurrem Sultan, a amada esposa de um
dos governantes mais poderosos da história, Solimão, o Magnífico, é uma figura
enigmática, que desperta fascínio mais de quatro séculos após sua morte.
Também
conhecida como Roxelana, Hurrem Sultan não foi apenas uma concubina ou esposa.
Ela teve uma jornada extraordinária, saindo da escravidão para o auge da
influência imperial, tornando-se uma presença transformadora que reformulou o
cenário político da corte otomana do século 16.
O
Império Otomano dominou o sudeste da Europa, o oeste da Ásia e o norte da
África do século 14 ao início do século 20. Ele é considerado um dos maiores e
mais duradouros impérios da história.
De
acordo com muitos historiadores, o "sultanato das mulheres" — período
durante o qual as mulheres da realeza exerceram uma influência sem precedentes
no governo otomano — começou com a ascensão de Hurrem.
Sua
temporada no harém otomano, os aposentos privados dentro do palácio do sultão,
onde residiam as esposas, concubinas, familiares mulheres, servas do sultão, e
assim por diante, está bem documentado.
No
entanto, séculos depois, o mistério sobre suas origens continua a suscitar
debates. Seria ela uma cativa da atual Ucrânia, filha de um padre ortodoxo ou,
como sugere uma teoria inusitada, uma nobre italiana raptada por piratas?
• Do cativeiro para a corte
A
maioria dos historiadores acredita que Hurrem Sultan nasceu no início dos anos
1500 na Rutênia, uma região histórica que abrangia partes da atual Ucrânia,
Polônia e Belarus.
Não há
registro definitivo do nome de nascimento de Hurrem. Enquanto algumas fontes
ucranianas se referem a ela como Aleksandra Lisovska ou Anastasia, outras
acreditam que ela era conhecida por nomes como La Rossa (vermelha), Rozanna
(rosa elegante), Roksolan (mulher da Rutênia), Roksana ou Roxelana na Europa
Ocidental.
Documentos
oficiais otomanos, no entanto, se referem a ela como Haseki Hurrem Sultan.
"Hurrem" significa algo como alegre em persa, e "haseki" é
um título honorário reservado à mãe do filho de um sultão.
Algumas
fontes afirmam que Hurrem era filha de um padre ortodoxo; outras sugerem que
ela nasceu em uma família de camponeses.
Há
registros que indicam que ela foi capturada por invasores tártaros da Crimeia
em Rohatyn, uma cidade que na época fazia parte do reino polonês, e que hoje
fica no oeste da Ucrânia, explica o professor de história Feridun Emecen, da
Turquia.
Em
seguida, foi vendida como escravizada, levada para o Império Otomano no início
da adolescência e presenteada à mãe do príncipe Solimão, que mais tarde ficaria
conhecido como Solimão, o Magnífico, diz a professora turca Zeynep Tarim.
Ela
pode ter entrado para o harém em 1520, afirma o historiador, com base no fato
de que o primeiro filho do casal, o príncipe Mehmed, nasceu no ano seguinte.
Rompendo
séculos de tradição, Suleiman se casou com ela depois — um ato que chocou a
corte e elevou o status de Hurrem de forma sem precedentes. Até então, nenhum
outro sultão otomano havia se casado com uma concubina.
• Um toque italiano?
Apesar
do amplo consenso sobre as raízes rutenas de Hurrem, há teorias alternativas
sobre sua origem.
Uma
alegação particularmente controversa vem do pesquisador Rinaldo Marmara, que
diz ter descoberto um manuscrito nos arquivos do Vaticano sugerindo que Hurrem
era, na verdade, uma nobre italiana chamada Margherita, da família Marsigli em
Siena.
De
acordo com este documento, ela e o irmão foram capturados por piratas e vendidos
como escravizados na corte otomana, diz ele.
Marmara
vai além, afirmando que o manuscrito revela um suposto parentesco entre o
descendente de Hurrem, o sultão Mehmed 4°, e o papa Alexandre 7° — lançando
dúvidas sobre sua identidade rutena e sugerindo uma linhagem nobre velada.
Os
historiadores, no entanto, permanecem céticos. Tarim adverte que a
autenticidade desta alegação requer muito mais comprovação.
Ela
ressalta a ausência de qualquer menção nos registros altamente detalhados dos
embaixadores venezianos — uma das fontes mais confiáveis de fofocas da corte e
assuntos diplomáticos do período.
"Se
tivesse havido algo do tipo, os [registros] teriam nos informado sobre isso,
teríamos sabido muito antes", diz ela.
Emecen
compartilha deste ceticismo, reconhecendo que, embora Hurrem tenha se
correspondido com a família real polonesa, isso provavelmente fazia parte da
diplomacia formal, e não era evidência da suposta origem nobre.
• A 'bruxa russa'
A
confusão é agravada pela forma como se referiam a Hurrem Sultan em diferentes
fontes.
Documentos
e poesias da era otomana às vezes a rotulavam como a "bruxa russa",
um apelido depreciativo usado por seus críticos, especialmente após a execução
do filho mais velho de Solimão, o príncipe Mustafa, fruto do relacionamento com
outra mulher, e o primeiro na linha de sucessão ao trono otomano.
Acreditava-se
amplamente que Hurrem havia orquestrado sua queda, abrindo caminho para a
ascensão de seus próprios filhos.
Emecen
esclarece que o termo "Rus" no contexto otomano não era exclusivo da
etnia russa. Em vez disso, era uma designação geográfica para qualquer pessoa
do norte, incluindo o povo da atual Ucrânia e Belarus.
Os
viajantes ocidentais e os diplomatas venezianos da época também se referiam a
Hurrem como russa, mas os acadêmicos argumentam que isso era mais um reflexo de
suas origens geográficas do que de sua etnia.
"Naquela
época, não havia Rússia dentro das fronteiras atuais. [Nas correspondências da
época], o que eles querem dizer com russo é 'da geografia russa'", explica
Emecen.
"No
século 16, os territórios com população ucraniana na Polônia eram chamados de
província 'Ruske', e Rohatyn fazia parte dela", acrescenta o jornalista
Vitalii Chervonenko, do serviço ucraniano de notícias da BBC.
"Na
época, os ucranianos eram chamados de 'rusyns', mas isso não tinha nenhuma
relação com a Rússia."
Nos
últimos anos, a identidade de Hurrem Sultan ganhou um significado político
renovado, especialmente na Ucrânia, onde ela é celebrada como uma figura
nacional.
Estátuas
em sua homenagem foram colocadas em sua suposta cidade natal, Rohatyn, e uma
mesquita na cidade de Mariupol, agora ocupada pela Rússia, leva seu nome ao
lado do de Solimão.
Em
2019, a pedido da Embaixada da Ucrânia em Ancara, uma referência à sua
"origem russa" foi removida da inscrição em seu túmulo no complexo da
Mesquita de Solimão em Istambul.
A
inscrição atualizada agora destaca sua ascendência ucraniana, ressaltando como
seu legado continua no contexto da geopolítica moderna.
• Obras filantrópicas
A
influência de Hurrem vai muito além dos muros do harém, mas talvez suas obras
filantrópicas tenham sido mais duradouras.
Ela
encomendou a construção de mesquitas, refeitórios comunitários e fundações de
caridade em Istambul e Jerusalém, então parte do Império Otomano.
Segundo
registros históricos, Hurrem Sultan morreu de causas naturais em Istambul, em
15 de abril de 1558. Seu corpo foi sepultado na Mesquita de Solimão. Mais
tarde, por ordem do próprio sultão Solimão, foi construído um mausoléu onde seu
túmulo se encontra.
Sua
morte marcou o fim de uma vida extraordinária, mas não o término das questões
que a cercavam.
Seja
uma cativa rutena, uma aristocrata italiana ou uma mulher incompreendida e
poderosa, Hurrem Sultan continua sendo uma das figuras mais fascinantes e
controversas da história otomana e mundial.
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Fonte:
BBC News Turkish

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