Governo
Trump anuncia que vai restringir vistos a autoridades estrangeiras
O
secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse que vai
anunciar restrições de visto contra autoridades estrangeiras que são
"cúmplices na censura de americanos".
Rubio
não divulgou ainda o nome das autoridades atingidas pela medida, mas cita a
América Latina em seu anúncio no X.
A
declaração acontece depois que, na semana passada, Rubio chegou a dizer no
Congresso americano que o governo dos EUA estudava a possibilidade de sancionar
Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por supostas ações do
ministro contra a liberdade de expressão de pessoas e empresas dos EUA.
O
anúncio vem quando o governo do Brasil já trabalhava
com uma possível sanção contra Moraes.
No
anúncio desta quarta, Rubio disse que "por muito tempo, americanos foram
multados, assediados e até processados por autoridades estrangeiras por
exercerem seu direito à liberdade de expressão"
"Hoje,
estou anunciando uma nova política de restrição de vistos que se aplicará a
autoridades estrangeiras e indivíduos cúmplices na censura de americanos. A
liberdade de expressão é essencial ao modo de vida americano – um direito de
nascimento sobre o qual governos estrangeiros não têm autoridade",
declarou.
O
secretário disse que essas autoridades não "devem ter o privilégio de
viajar" aos EUA.
O
ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, chegou a comentar a
declaração de Rubio em sessão na Câmara dos Deputados, em Brasília.
Vieira
disse que a "questão de vistos é uma política de cada Estado".
"O
Estado toma a decisão de conceder ou de não conceder."
Em sua
fala, o ministro destacou ainda que o "interesse nacional está em primeiro
lugar" e que "o Brasil não tem parcerias incondicionais" com
outros países.
As
sanções a Alexandre de Moraes vêm sendo defendidas pelo filho do ex-presidente
Jair Bolsonaro (PL), o deputado federal licenciado Eduardo
Bolsonaro (PL-SP).
O
parlamentar se mudou para os Estados Unidos em
março deste ano e
vem fazendo campanha contra Moraes e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) junto ao
governo de Donald Trump e a
parlamentares republicanos.
Logo
após Rubio fazer o anúncio do X, Eduardo Bolsonaro parabenizou o secretário de
Estado.
"A
América está trazendo esperança para todos os lutadores pela liberdade",
escreveu.
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Resposta brasileira
O
governo brasileiro intensificou, nos últimos dias, contatos com o Departamento
de Estado dos Estados Unidos numa estratégia para evitar que o governo
americano aplique sanções a autoridades brasileiras.
A
informação foi divulgada pelo canal GloboNews e confirmada pela BBC News Brasil
nesta terça-feira (27/05) junto a uma fonte que falou à reportagem em caráter
reservado.
Segundo
esta fonte, o Ministério das Relações Exteriores vem indagando os americanos
sobre a lógica por trás de uma sanção a Alexandre
Moraes e advertindo que essa medida seria interpretada pelo governo brasileiro
como uma ingerência internacional em assuntos domésticos — o que poderia trazer
impactos negativos à relação entre os dois países.
A
investida brasileira para evitar sanções a Moraes está sendo capitaneada pelo
Itamaraty.
Uma
possível medida contra o magistrado seria baseada na Lei Global Magnitsky.
Os
contatos do Itamaraty junto ao governo americano, segundo a BBC News Brasil
apurou, estão sendo feitos por autoridades de alto escalão da diplomacia e não
há previsão de que o seu conteúdo ou os seus interlocutores sejam divulgados.
Nos
bastidores, a estratégia é que o assunto seja tratado com a maior discrição
possível para evitar uma escalada que torne a situação diplomaticamente mais
complicada.
Apesar
de as conversas lideradas pelo Itamaraty ainda estarem em curso, outra fonte
que atua no campo diplomático ouvida pela reportagem disse que o Brasil deverá
adotar cautela ao responder a uma eventual sanção a Moraes.
Segundo
ele, uma sanção ao ministro levaria o governo brasileiro a repudiar a medida,
seja por meio de uma nota oficial ou em discursos de autoridades como o
presidente Lula.
A fonte
descartou, no entanto, a possibilidade de que o governo brasileiro
eventualmente adote o princípio da reciprocidade diplomática e imponha sanções
a autoridades americanas.
Ao
mesmo tempo em que o governo brasileiro tenta intensificar contatos nos
bastidores diplomáticos, não há previsão de que, sob os holofotes, os
presidentes Lula e Trump se encontrem.
Há
expectativa de que os dois participem da Cúpula do G7 (grupo composto por
Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) entre os
dias 15 e 17 de junho, no Canadá.
Apesar
disso, fontes do governo brasileiro disseram à BBC News Brasil que, até o
momento, o país não deverá formalizar nenhum pedido de reunião bilateral com
Trump.
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Eduardo Bolsonaro investigado no STF
A
imposição de sanções por parte dos EUA ao ministro Moraes é uma das principais
bandeiras levantadas por Eduardo Bolsonaro e por ativistas de direita que vivem
nos EUA.
Segundo
eles, Moraes e outros ministros do STF estariam promovendo uma perseguição
judicial contra Jair Bolsonaro e outros políticos ou militantes de direita.
A
atuação de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos tem gerado desdobramentos no
Brasil. Na segunda-feira (26/5), o STF instaurou um inquérito para
investigar se o parlamentar licenciado vem agindo contra o Judiciário
brasileiro em território americano.
O
inquérito foi instaurado a pedido do procurador-geral da República (PGR), Paulo
Gonet.
Na
denúncia, a PGR diz que, desde o início do ano, Eduardo diz publicamente que
está se dedicando a conseguir do governo dos Estados Unidos a imposição de
sanções contra integrantes do Supremo, da PGR e da Polícia Federal, "pelo
que considera ser uma perseguição política a si mesmo e a seu pai".
"As
retaliações buscadas, concatenadas e anunciadas intrepidamente contra as
autoridades responsáveis pela condução dos casos mencionados nesta peça se
assomam como graves atos de interferência sobre o livre exercício dos Poderes
Constitucionais", diz Gonet.
No
domingo, após a denúncia protocolada pela PGR, Eduardo publicou um vídeo em sua
conta no X, dizendo que "a esquerda passou anos viajando o mundo para
afalar mal da Justiça brasileira".
"E
agora eu, que denuncio as verdadeiras violações de direitos humanos e
perseguições políticas, essas mesmas pessoas pedem para que o Moraes confisque
o meu passaporte e me prenda por abolição violenta do Estado Democrático de
Direito. Dá para acreditar?", disse Eduardo Bolsonaro.
Outro
tema que também vem sendo usado por Rubio para criticar o Judiciário brasileiro
é a crescente tensão entre o STF e plataformas digitais.
Em fevereiro deste ano, Moraes foi
processado individualmente pela Trump Media & Technology Group (TMTG),
empresa ligada ao presidente Donald Trump, em conjunto com a plataforma Rumble,
que havia sido bloqueada no Brasil por determinação do magistrado.
A ação,
movida na Flórida, questionava a autoridade de Moraes para decidir sobre
conteúdos publicados no Rumble e sobre a monetização desses conteúdos.
O
processo foi protocolado poucas horas depois de a Procuradoria-Geral da República (PGR)
apresentar denúncia contra Jair Bolsonaro, acusando-o de liderar uma
organização criminosa que teria planejado um golpe após a derrota nas eleições
de 2022.
Em
outra frente, parlamentares do Partido Republicano encabeçam na Câmara dos
Representantes dos Estados Unidos (equivalente à Câmara dos Deputados
brasileira) um projeto de lei intitulado "No Censors on our Shores
Act" (em tradução livre, "Lei Contra Censores em Nossas
Fronteiras").
A
proposta determina a deportação ou a proibição de entrada em território
americano de autoridades estrangeiras que tenham violado a Primeira Emenda da
Constituição dos Estados Unidos, que prevê a garantia de liberdade de
expressão.
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Governo Trump exige que agências federais cancelem todos
os contratos com Harvard
Em seu
mais recente ataque à Universidade de Harvard, o governo de Donald Trump
ordenou nesta terça-feira (27/05) que as agências governamentais dos Estados
Unidos cancelem todos os contratos federais restantes com a instituição,
comprometendo um valor aproximado de US$ 100 milhões (aproximadamente R$530
milhões).
A
medida vai afetar agências do governo norte-americano que têm a Universidade de
Harvard como parceira e fornecedora de serviços nas áreas de saúde e segurança,
por exemplo, oferecendo estudos e treinamentos.
De
acordo com um funcionário do governo republicano, em condição de anonimato
ao The New York Times, a mais recente medida, que deve afetar nove
agências, é um “rompimento completo do relacionamento comercial de longa data
do governo com Harvard”.
“Recomendamos
que sua agência rescinda, por conveniência, todos os contratos que não atendem
aos seus padrões”, diz uma carta do governo dos Estados Unidos, assinada pelo
funcionário da Administração de Serviços Gerais, Josh Gruenbaum, acessada pelo NYT.
O
documento assinado por Gruenbaum instrui as agências governamentais a
responderem à exigência até 6 de junho e “procurar fornecedores alternativos
para serviços futuros”.
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Perseguição do governo Trump contra Harvard
O
embate entre o governo norte-americano e a instituição ganhou força depois que
a administração do republicano enviou uma carta a Harvard, no início de abril,
exigindo reformas nas políticas de admissão da universidade, além de mudanças
administrativas na instituição.
Em
resposta, o presidente interino da faculdade, Alan Garber, afirmou que a
universidade não cederia às pressões políticas, que dominavam condições
políticas adicionais para “manter o relacionamento financeiro de Harvard com o
governo federal”.
As
exigências incluíam a eliminação dos programas de diversidade, equidade e
inclusão de Harvard, a proibição de máscaras durante protestos no campus, a
reforma da contratação e admissão com base no mérito e a redução do poder do
corpo docente e dos administradores “que estão mais engajados no ativismo do
que na pesquisa acadêmica”.
“Nenhum
governo — independentemente do partido que estiver no poder — deve ditar o que
universidades privadas podem ensinar, quem podem admitir ou contratar, e quais
áreas de estudo e pesquisa podem seguir”, afirmou Garber.
Poucas
horas após o posicionamento, o governo de Trump suspendeu o repasse de bilhões
de dólares em recursos, o que compromete diretamente as atividades de pesquisa
científica e médica da instituição.
Além do
financiamento público, o mandatário norte-americano intensificou seu confronto
com a universidade, ameaçando retirar sua isenção fiscal. A pressão faz parte
de uma estratégia do republicano de usar o financiamento público como
instrumento para moldar o comportamento das universidades, forçando-as a se
alinhar à agenda política trumpista.
Contudo,
Harvard não cedeu às ameaças e na última quinta-feira (22/05), o governo Trump, por meio do
Departamento de Segurança Interna (DHS) dos Estados Unidos, proibiu a faculdade de admitir
estudantes estrangeiros. A medida é válida até mesmo para alunos que já estudam
na instituição norte-americana. Com isso, eles precisarão ser transferidos.
No
comunicado, a administração do republicano acusou Harvard de tomar uma “conduta
pró-terrorismo” e admitiu que a medida foi colocada em prática pela recusa a
cumprir as normas exigidas pelo governo.
“Harvard
teve várias chances de fazer a coisa certa, mas se recusou. Com isso, perdeu a
certificação do Programa de Estudantes e Visitantes de Intercâmbio por não
cumprir a lei”, informou a nota da secretária de Segurança Interna, Kristin
Noem, acrescentando que a universidade “fomentou a violência e o
antissemitismo”.
O
governo Trump declarou ainda que “matricular estudantes estrangeiros é um
privilégio, não um direito” e acusou a administração de Harvard de transformar
“sua outrora grande instituição em um terreno fértil para agitadores
antiamericanos, antissemitas e pró-terroristas”.
Após a
proibição, a Universidade de Harvard entrou com uma ação judicial contra o
governo Donald Trump. A petição da instituição de ensino superior mais antiga e
rica do país argumenta que a decisão de excluir a escola do Programa de
Estudantes e Visitantes de Intercâmbio do Departamento de Segurança Interna
viola a lei.
Horas
depois do início do processo contra o governo Trump, a juíza distrital dos EUA
Allison Burroughs decidiu que a medida do DHS seria suspensa momentaneamente,
atendendo a um dos pedidos do processo aberto por Harvard. A autoridade
jurídica é a mesma que analisa outra ação movida pela universidade, contra
o congelamento de US$ 2,65 bilhões em
fundos federais.
As
ameaças do governo Trump contra as universidades norte-americanas decorrem em
especial das manifestações pró-Palestina e contra a guerra na Faixa de Gaza no
ano passado. A administração republicana avalia que as mobilizações foram
movidas por suposto antissemitismo.
Para a
Casa Branca, as medidas são um trabalho do governo Trump para “tornar o ensino
superior excelente novamente, acabando com o antissemitismo desenfreado e
garantindo que os fundos dos contribuintes federais não financiem o apoio de
Harvard à discriminação racial perigosa ou à violência motivada por racismo”.
Fonte:
BBC News/Opera Mundi

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