Jeferson
Miola: O Brasil arcaico, racista, escravocrata, misógino e patriarcal que
agrediu Marina
Com as
decisões das últimas semanas, deputados e senadores fizeram jus à pesquisa
Atlas Intel de fevereiro passado que mostrou a baixíssima credibilidade do
Congresso Nacional: 82% da população não confia neles.
Primeiro,
265 deputados assinaram requerimento para a votação em caráter de urgência do
Projeto da Impunidade dos golpistas para livrar da cadeia Bolsonaro e comparsas
civis e fardados, dentre eles ex-comandantes das Forças Armadas e
ex-integrantes do Alto Comando do Exército.
Depois,
em mais uma prova de desprezo pela legalidade, e com a assombrosa maioria de
315 deputados, quórum suficiente para mudar a Constituição, a Câmara aprovou
uma resolução para trancar no STF o julgamento dos co-réus de Alexandre Ramagem
na ação penal da trama golpista.
Não
bastassem essas barbaridades, Suas Excelências decidiram ir ainda mais longe e
criaram 18 novos mandatos na Câmara, que passarão dos atuais 513 deputados para
531. A partir de agora, o céu será o limite: a cada perda de vagas dos estados
em consequência do censo demográfico, aplicarão a fórmula mágica de aumentar a
malta.
Entre
emendas impositivas de cada deputado, mais salários, cotas de gabinete e
auxílios, a ampliação representará um gasto adicional de R$ 4,5 bilhões de
reais a cada legislatura. Afora, claro, o efeito cascata da medida para os
legislativos estaduais e municipais.
Saltando
de um grande absurdo a outro ainda maior, também nessas últimas semanas o
Conselho de Ética da Câmara aprovou a cassação do deputado Glauber Braga.
O caso
vai entrar na história dos maiores absurdos do Congresso Nacional, porque se
sabe que esta cassação não tem fundamento legal; é um ato de vingança pessoal
do ex-todo-poderoso chefão do esquema corrupto do orçamento secreto.
Qualquer
ser humano dotado com a mínima razoabilidade duvidaria da possibilidade de
algum parlamento de qualquer republiqueta do mundo descer ainda mais baixo no
esgoto político.
Pura
ilusão, no entanto. O Senado mostrou que no fundo do poço sempre tem uma pá, e
que se pode cavar ainda mais fundo no abismo.
E
então, em mais um ataque bárbaro ao que ainda resta do arcabouço
jurídico-ambiental do Brasil, os predadores aprovaram o Projeto de Lei da
Devastação, que cria uma realidade grave de insegurança social, humana,
econômica e ambiental no país.
E,
menos de uma semana depois, agindo como uma horda assassina com ânsia de
dizimar toda e qualquer forma de civilidade e dignidade humana, os senadores
patrocinaram uma sessão grotesca de agressão à ministra Marina Silva.
O
ocorrido neste 27 de maio de 2025 entra para a história nacional como o dia da
afirmação do Brasil arcaico, racista, escravocrata, misógino, machista e
patriarcal.
O que
se viu foi uma brutalidade horrorosa, com a prática de violência política de
gênero descrita nos manuais de misoginia. Os “senhores do engenho”, expoentes
do arcaísmo, atacaram Marina com fúria, como uma malta ensandecida.
Os
covardes se deram mal, pois se depararam com uma mulher guerreira, imbuída do
espírito dos animais e dos povos originários da Floresta, secularmente
acostumados a resistir a agressores, predadores e facínoras.
A
solidão da Marina em meio àquela matilha babando de raiva e ódio, que não foi
socorrida e amparada por nenhuma liderança do governo no Senado, dignifica
ainda mais a coragem e a têmpera desta lutadora imprescindível da luta pela
vida dos seres humanos e da natureza.
O
terrível nisso tudo é saber que este episódio não significa o ponto máximo da
barbárie que este Congresso calhorda é capaz de produzir. Deputados e senadores
–não só da ultra direita, mas inclusive da base do governo– sempre se superam
nas práticas dantescas.
Diante
de todos esses e de tantos outros descalabros, cabe perguntar: que Congresso é
esse, que protege parlamentares homofóbicos, transfóbicos, agressores de
mulheres, homicidas, corruptos, golpistas e desbravadores da natureza, mas
cassa deputado que defende a mãe ofendida por um fascista provocador do MBL?
Esse é
o mesmo Congresso que preserva privilégios tributários, favores fiscais e
regalias a empresas e igrejas fundamentalistas, mas resiste a acabar com a
jornada 6×1 e reluta a taxar 144.200 super-ricos, os 0,06% que ganham mais de 1
milhão de reais, para compensar a isenção de 20 milhões de contribuintes que
ganham até cinco mil reais por mês.
O
Congresso brasileiro é uma instância capturada por maiorias eleitas através do
poder do capital, do rentismo e sua mídia; pelo fundamentalismo religioso, pela
força do arcaísmo agropecuário, do complexo policial-militar e outras forças
reacionárias e conservadoras.
Nos
últimos anos proliferaram no Congresso Nacional várias bancadas temáticas que
reúnem o chorume fascista: do agro, da bíblia, da bola, da bala, do naciturno
etc, que se unem no propósito de impedir avanços e de promover retrocessos
humanos, econômicos, ambientais e civilizatórios.
Com as
emendas impositivas e o orçamento secreto –idiossincrasia genuinamente
brasileira que não existe em nenhum outro Parlamento do mundo, nem mesmo em
sistemas parlamentaristas–, o Congresso institucionalizou a corrupção e o
assalto aos orçamentos e aos fundos públicos da União.
Não é
difícil entender porque a população sente nojo deste Congresso que enlameia a
política e a imagem dos políticos. É um Congresso à imagem e semelhança das
oligarquias dominantes do Brasil – patriarcais, escravocratas, misóginas,
racistas e machistas.
¨
Abaixo-assinado liderado por Manuela D'Ávila pede
cassação de Marcos Rogério por ataques a Marina
A
organização Mulheres Em Luta (MEL), idealizada pela ex-deputada Manuela D'Ávila, lançou nesta
quarta-feira (28) um abaixo-assinado online que pede a cassação do
mandato do senador Marcos Rogério
(PL-RO) por ataques misóginos à ministra do
Meio Ambiente, Marina Silva.
Na
última quarta-feira (27), durante audiência na Comissão de Infraestrutura do
Senado, Marcos Rogério praticou violência política de gênero contra Marina ao
dizer para a ministra se colocar "no seu lugar". Após repetidos
ataques e ofensas, Marina Silva abandonou a sessão.
"'Se
coloque no seu lugar' Quando um senador diz isso a uma ministra, ele não está
só sendo agressivo — está reproduzindo um sistema que insiste em calar,
deslegitimar e expulsar as mulheres dos espaços de poder. O ataque de Marcos
Rogério à ministra Marina Silva é um retrato nítido da violência política de
gênero e raça. É também um lembrete de que o lugar da mulher ainda é disputado
todos os dias — sobretudo quando essa mulher é negra, com trajetória de luta, e
ocupa um cargo de liderança", escreveu Manuela D'Ávila em suas redes
sociais ao divulgar o link do abaixo-assinado.
Segundo
a organização Mulheres Em Luta, em poucas horas a petição online já ultrapassou
as 10 mil assinaturas.
"A
violência política de gênero e raça não pode mais ser normalizada — nem
ignorada. Nosso enxame está formado para enfrentar quem tenta silenciar
mulheres na política. Nos solidarizamos com Marina Silva e todas as mulheres
que, ao ocuparem espaços de poder, são alvo de ataques misóginos e racistas.
Exigimos a cassação do senador Marcos Rogério (PL-RO), presidente da Comissão
de Infraestrutura do Senado Federal, que nesta terça-feira (27/5) disse para a
ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, 'se colocar no seu lugar', em um
momento de debate", diz texto do abaixo-assinado.
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Entenda
A
ministra de Meio Ambiente, Marina Silva, abandonou audiência na Comissão de
Infraestrutura do Senado, na última terça-feira (27), onde compareceu como
convidada, após ataques misóginos do líder do PSDB, Plínio Valério
(PSDB-AM), e do presidente da comissão, Marcos Rogério (PL-RO).
A
agressão aconteceu pouco mais de dois meses após Valério dizer que queria
"enforcá-la" durante cerimônia da Confederação Nacional do Comércio
de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio), em 14 de março.
"Imagine
o que é tolerar Marina 6 horas e dez minutos sem enforcá-la", disse o
senador tucano, sobre a participação de Marina na CPI das ONGs, no Senado.
Na terça,
Valério voltou à tona e desferiu novo ataque misógino na comissão, comandada
pelo bolsonarista Marcos Rogério (PL-RO). Em sua intervenção, em meio a ataques
de bolsonaristas, o tucano disse que queria separar "a ministra da mulher",
porque "mulher merece respeito, a ministra não".
Antes
do ataque do tucano, Marina teve o microfone cortado diversas vezes por
Rogério, que reclamou dizendo que gostaria que ela "fosse uma mulher
submissa". "E eu não sou", rebateu a ministra.
"Me
respeite, ministra, se ponha no teu lugar”, gritou Rogério, impedindo a
ministra de falar e alegando que pediu que ela se colocasse em seu "lugar
de ministra de Estado".
A
senadora Eliziane Gama (PSD-MA) acusando Marcos Rogério de machismo e de ter
faltado com o respeito a Marina Silva. O líder do PT no Senado, Rogério
Carvalho (SE), também saiu em defesa da ministra e defendeu que ela abandonasse
o colegiado em meio às confusões.
Ao
final, Marina afirmou que só ficaria na comissão se o senador tucano lhe
pedisse desculpas. "Sou uma mulher de luta e de paz. Mas nunca vou abrir
mão da luta. Não é pelo fato de eu ser mulher que vou deixar as pessoas
atribuírem a mim coisas que não disse", disse Marina.
Sem as
desculpas, Marina levantou-se e foi embora, mesmo com ameaças de Valério, que
dizia que iria convocá-la para novo depoimento.
¨ Por que tanto ódio
contra a ministra Marina Silva? Por Milton Alves
A
ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, foi o alvo de
ataques machistas e de teor misógino, nesta terça-feira (27), em sessão da
Comissão de Infraestrutura do Senado pelos parlamentares Plínio Valério
(PSDB-AM), Omar Aziz (PSD-AM) e pelo presidente da comissão, senador Marcos Rogério
(PL-RO).
As
cenas grotescas e as falas chocantes de senadores da direita extrema e do
extremo Centrão foram marcadas pelo mais abjeto machismo e gestos explícitos de
misoginia –, e apenas revelam a superfície do ódio contra a ministra Marina
Silva.
Marina
Silva reagiu com altivez e exigiu respeito por sua condição de ministra de
estado. “Após mais uma agressão do senador Plínio Valério, lhe dei a opção de
pedir desculpas, mas ele se negou. Por isso me retirei da sessão. Não posso
aceitar ser agredida e não posso me calar quando atribuem a mim
responsabilidades que não são minhas.
A
conduta do presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado, Marcos Rogério,
além de inadequada e vulgar, também foi extremamente agressiva quando declarou
em um tom de voz autoritário para a ministra: “Ponha-se no seu lugar”. Após as
agressões e o desrespeito dos senadores, a ministra deixou a sala onde se
realizava sessão da comissão.
O
Ministério das Mulheres, em nota, manifestou repúdio aos atos de machismo
ocorridos no Senado: “Um completo absurdo o que aconteceu nesta manhã com a
ministra Marina Silva na Comissão de Infraestrutura do Senado. Ela foi
desrespeitada e agredida como mulher e como ministra por diversos parlamentares
– em março, um deles já havia inclusive incitado a violência contra ela”,
afirma a nota assinada pela ministra Márcia Lopes.
As
agressões contra Marina Silva provocaram uma ampla onda de solidariedade no
país e no exterior. O presidente Lula, ministros, parlamentares de diversos
partidos, movimentos sociais e ambientais defenderam a gestão da ministra e sua
conduta na direção do Ministério do Meio Ambiente. Resultado: Marina saiu mais
fortalecida politicamente a partir dos lamentáveis eventos de hoje.
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Por trás da campanha de ódio contra Marina
Nos
últimos meses, a ministra do Meio Ambiente tem sido o objeto de ataques pesados
do agronegócio, das mineradoras, das madeireiras ilegais, de lobistas das
petroleiras, de organizações criminosas de contrabandistas de ouro e pedras
preciosas e dos tradicionais grileiros de terras que atuam na Região Amazônica.
Além
disso, parlamentares vinculados ao agronegócio e ex-parlamentares, como o
neobolsonarista Aldo Rebelo, realizam uma atividade sistemática de
desconstrução das ações de defesa ambiental do ministério, do Ibama e de seus
profissionais.
Marina
Silva enfrenta uma reiterada e sórdida campanha financiada e organizada sob a
capa de “desenvolvimento da Amazônia”, mas que na verdade opera pela manutenção
do modelo agroexportador, que transforma o país num “fazendão” das commodities.
É o antigo e continuado projeto de ocupação predatória da Amazônia e do saque
de suas riquezas. Um velho filme que já vimos na extração do ouro da Serra
Pelada, no Pará, na exploração do manganês na Serra do Navio, no Amapá, no
criminoso Projeto Jari e na violenta construção da Rodovia Transamazônica, pela
ditadura militar, que varreu do mapa tribos inteiras.
O ódio
contra Marina vem de longe, desde os tempos do “empate”, uma forma de luta dos
seringueiros organizados pelo líder ambiental e defensor da Amazônia, Chico
Mendes, assassinado a mando de fazendeiros da região de Xapuri no Acre. Marina
é a herdeira direta dessa luta, sempre esteve identificada com a luta pela
sobrevivência dos povos da floresta.
No
Senado, estava em pauta temas sensíveis e de forte impacto ambiental na Região
Amazônica: A proposta de criação de quatro unidades de conservação marítimas no
Amapá, a controversa defesa da exploração de petróleo na Foz do Amazonas, o
Projeto de Lei do Licenciamento Ambiental e a extensão da BR-319, que liga
Porto Velho a Manaus, que desencadeou uma ampla devastação de mata nativa ao
longo da rodovia.
A
ministra afirmou que a criação de unidades de conservação marinha na Margem
Equatorial, no Amapá, não impede a pesquisa de petróleo na região e sustentou a
defesa da política ambiental do Governo Federal, que reduziu o desmatamento na
Amazônia e protege os demais biomas. E defendeu ainda um novo fundo de
florestas tropicais para remunerar os proprietários que preservam áreas
florestais.
Como um
homem de ascendência amazônica, além da solidariedade política para Marina
Silva, rogo para as divindades guardiãs da Floresta Amazônica — o sábio
Curupira, que protegia o guerrilheiro Osvaldão no Araguaia, a astuta Matinta
Perera, o ágil Mapinguari e a gigante Cobra Norato — que protejam a ministra da
sanha criminosa dos que cobiçam vorazmente as riquezas da Amazônia e desprezam
o seu povo.
¨ Pelo fim da violência
contra as mulheres no Congresso. Por Reimont Otoni
Em
1808, quando a família real portuguesa chegou ao Brasil, estabelecendo-se no
Rio de Janeiro, as 10 mil melhores casas do lugar foram tomadas e ocupadas
pelos nobres, que mandavam pintar nas fachadas a sigla PR (Príncipe Regente) e
enxotavam os moradores, obrigados a deixar tudo para trás, sem qualquer
indenização. Logo, a sigla ficou conhecida como “Ponha-se na Rua”.
Ouso
imaginar que o sentido prepotente da arcaica e caduca expressão deu origem a
outras tão semelhantes, como a “Ponha-se no seu lugar", que eu acreditava
extinta, mas foi proferida nesta terça-feira (27/05), em pleno Senado Federal,
contra uma ministra de Estado, a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente.
Como
lembra o sociólogo e pesquisador José Almino de Alencar, a frase, carregada de
todo o tipo de preconceito – de classe, origem, gênero e raça -, ainda é
“frequentemente invocada para ilustrar o comportamento das classes dominantes
ou privilegiadas no Brasil, país tão marcado por seu passado escravagista e
pelas enormes diferenças socioeconômicas”.
Vergonhosamente,
essa arrogância misógina faz parte da rotina do atual Congresso Nacional, onde
as mulheres são diariamente desrespeitadas, onde diariamente enfrentam
tentativas de silenciamento. Isso acontece com as parlamentares do campo
progressista e com ministras de Estado.
Dos
ataques infantilóides e desprovidos de senso aos gritos e intimidações
grosseiras, nada falta no empenho de alguns deputados e senadores da bancada do
desvario em humilhar e desqualificar as vozes femininas.
A
audiência com a presença de Marina Silva repetiu o repertório incivilizado,
incluindo desligar o microfone da ministra!
O
repugnante espetáculo foi protagonizado pelos senadores Marcos Rogério (PL),
Omar Aziz (PSD) e Plínio Valério (PSDB), que não permitiram que a ministra,
maior autoridade na sala, falasse sobre o tema para o qual foi convidada pela
Comissão de Serviços de Infraestrutura. Quiseram que ela se calasse! Marina
Silva não se calou!O trio repetiu uma prática instalada no Congresso pelo então
parlamentar Jair Bolsonaro, que por três vezes agrediu e atacou a deputada
federal Maria do Rosário, chegando ao absurdo de dizer "não estupro você,
porque não merece". A frase criminosa, dita pela primeira vez em 2003, no
Salão Verde da Câmara, propagou uma cultura de violência contra as mulheres que
hoje invade as redes sociais, as escolas e contamina e corrompe parte da nossa
juventude.
Porque
nada foi feito em 2003, chegamos a esse ponto. É preciso interromper essa
escalada. Os três senadores precisam ser exemplarmente punidos, para dar um
recado aos agressores de mulheres disfarçados de congressistas.
À
ministra Marina Silva, minha total solidariedade e admiração.
Fonte:
Brasil 247Fórum

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