sexta-feira, 30 de maio de 2025

Jeferson Miola: O Brasil arcaico, racista, escravocrata, misógino e patriarcal que agrediu Marina

Com as decisões das últimas semanas, deputados e senadores fizeram jus à pesquisa Atlas Intel de fevereiro passado que mostrou a baixíssima credibilidade do Congresso Nacional: 82% da população não confia neles.

Primeiro, 265 deputados assinaram requerimento para a votação em caráter de urgência do Projeto da Impunidade dos golpistas para livrar da cadeia Bolsonaro e comparsas civis e fardados, dentre eles ex-comandantes das Forças Armadas e ex-integrantes do Alto Comando do Exército.

Depois, em mais uma prova de desprezo pela legalidade, e com a assombrosa maioria de 315 deputados, quórum suficiente para mudar a Constituição, a Câmara aprovou uma resolução para trancar no STF o julgamento dos co-réus de Alexandre Ramagem na ação penal da trama golpista.

Não bastassem essas barbaridades, Suas Excelências decidiram ir ainda mais longe e criaram 18 novos mandatos na Câmara, que passarão dos atuais 513 deputados para 531. A partir de agora, o céu será o limite: a cada perda de vagas dos estados em consequência do censo demográfico, aplicarão a fórmula mágica de aumentar a malta.

Entre emendas impositivas de cada deputado, mais salários, cotas de gabinete e auxílios, a ampliação representará um gasto adicional de R$ 4,5 bilhões de reais a cada legislatura. Afora, claro, o efeito cascata da medida para os legislativos estaduais e municipais.

Saltando de um grande absurdo a outro ainda maior, também nessas últimas semanas o Conselho de Ética da Câmara aprovou a cassação do deputado Glauber Braga.

O caso vai entrar na história dos maiores absurdos do Congresso Nacional, porque se sabe que esta cassação não tem fundamento legal; é um ato de vingança pessoal do ex-todo-poderoso chefão do esquema corrupto do orçamento secreto.

Qualquer ser humano dotado com a mínima razoabilidade duvidaria da possibilidade de algum parlamento de qualquer republiqueta do mundo descer ainda mais baixo no esgoto político.

Pura ilusão, no entanto. O Senado mostrou que no fundo do poço sempre tem uma pá, e que se pode cavar ainda mais fundo no abismo.

E então, em mais um ataque bárbaro ao que ainda resta do arcabouço jurídico-ambiental do Brasil, os predadores aprovaram o Projeto de Lei da Devastação, que cria uma realidade grave de insegurança social, humana, econômica e ambiental no país.

E, menos de uma semana depois, agindo como uma horda assassina com ânsia de dizimar toda e qualquer forma de civilidade e dignidade humana, os senadores patrocinaram uma sessão grotesca de agressão à ministra Marina Silva.

O ocorrido neste 27 de maio de 2025 entra para a história nacional como o dia da afirmação do Brasil arcaico, racista, escravocrata, misógino, machista e patriarcal.

O que se viu foi uma brutalidade horrorosa, com a prática de violência política de gênero descrita nos manuais de misoginia. Os “senhores do engenho”, expoentes do arcaísmo, atacaram Marina com fúria, como uma malta ensandecida.

Os covardes se deram mal, pois se depararam com uma mulher guerreira, imbuída do espírito dos animais e dos povos originários da Floresta, secularmente acostumados a resistir a agressores, predadores e facínoras.

A solidão da Marina em meio àquela matilha babando de raiva e ódio, que não foi socorrida e amparada por nenhuma liderança do governo no Senado, dignifica ainda mais a coragem e a têmpera desta lutadora imprescindível da luta pela vida dos seres humanos e da natureza.

O terrível nisso tudo é saber que este episódio não significa o ponto máximo da barbárie que este Congresso calhorda é capaz de produzir. Deputados e senadores –não só da ultra direita, mas inclusive da base do governo– sempre se superam nas práticas dantescas.

Diante de todos esses e de tantos outros descalabros, cabe perguntar: que Congresso é esse, que protege parlamentares homofóbicos, transfóbicos, agressores de mulheres, homicidas, corruptos, golpistas e desbravadores da natureza, mas cassa deputado que defende a mãe ofendida por um fascista provocador do MBL?

Esse é o mesmo Congresso que preserva privilégios tributários, favores fiscais e regalias a empresas e igrejas fundamentalistas, mas resiste a acabar com a jornada 6×1 e reluta a taxar 144.200 super-ricos, os 0,06% que ganham mais de 1 milhão de reais, para compensar a isenção de 20 milhões de contribuintes que ganham até cinco mil reais por mês.

O Congresso brasileiro é uma instância capturada por maiorias eleitas através do poder do capital, do rentismo e sua mídia; pelo fundamentalismo religioso, pela força do arcaísmo agropecuário, do complexo policial-militar e outras forças reacionárias e conservadoras.

Nos últimos anos proliferaram no Congresso Nacional várias bancadas temáticas que reúnem o chorume fascista: do agro, da bíblia, da bola, da bala, do naciturno etc, que se unem no propósito de impedir avanços e de promover retrocessos humanos, econômicos, ambientais e civilizatórios.

Com as emendas impositivas e o orçamento secreto –idiossincrasia genuinamente brasileira que não existe em nenhum outro Parlamento do mundo, nem mesmo em sistemas parlamentaristas–, o Congresso institucionalizou a corrupção e o assalto aos orçamentos e aos fundos públicos da União.

Não é difícil entender porque a população sente nojo deste Congresso que enlameia a política e a imagem dos políticos. É um Congresso à imagem e semelhança das oligarquias dominantes do Brasil – patriarcais, escravocratas, misóginas, racistas e machistas.

¨      Abaixo-assinado liderado por Manuela D'Ávila pede cassação de Marcos Rogério por ataques a Marina

A organização Mulheres Em Luta (MEL), idealizada pela ex-deputada Manuela D'Ávila, lançou nesta quarta-feira (28) um abaixo-assinado online que pede a cassação do mandato do senador Marcos Rogério (PL-RO) por ataques misóginos à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva

Na última quarta-feira (27), durante audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado, Marcos Rogério praticou violência política de gênero contra Marina ao dizer para a ministra se colocar "no seu lugar". Após repetidos ataques e ofensas, Marina Silva abandonou a sessão. 

"'Se coloque no seu lugar' Quando um senador diz isso a uma ministra, ele não está só sendo agressivo — está reproduzindo um sistema que insiste em calar, deslegitimar e expulsar as mulheres dos espaços de poder. O ataque de Marcos Rogério à ministra Marina Silva é um retrato nítido da violência política de gênero e raça. É também um lembrete de que o lugar da mulher ainda é disputado todos os dias — sobretudo quando essa mulher é negra, com trajetória de luta, e ocupa um cargo de liderança", escreveu Manuela D'Ávila em suas redes sociais ao divulgar o link do abaixo-assinado. 

Segundo a organização Mulheres Em Luta, em poucas horas a petição online já ultrapassou as 10 mil assinaturas. 

"A violência política de gênero e raça não pode mais ser normalizada — nem ignorada. Nosso enxame está formado para enfrentar quem tenta silenciar mulheres na política. Nos solidarizamos com Marina Silva e todas as mulheres que, ao ocuparem espaços de poder, são alvo de ataques misóginos e racistas. Exigimos a cassação do senador Marcos Rogério (PL-RO), presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado Federal, que nesta terça-feira (27/5) disse para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, 'se colocar no seu lugar', em um momento de debate", diz texto do abaixo-assinado. 

<><> Entenda 

A ministra de Meio Ambiente, Marina Silva, abandonou audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado, na última terça-feira (27), onde compareceu como convidada, após ataques misóginos do líder do PSDB, Plínio Valério (PSDB-AM), e do presidente da comissão, Marcos Rogério (PL-RO). 

A agressão aconteceu pouco mais de dois meses após Valério dizer que queria "enforcá-la" durante cerimônia da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio), em 14 de março.

"Imagine o que é tolerar Marina 6 horas e dez minutos sem enforcá-la", disse o senador tucano, sobre a participação de Marina na CPI das ONGs, no Senado.

Na terça, Valério voltou à tona e desferiu novo ataque misógino na comissão, comandada pelo bolsonarista Marcos Rogério (PL-RO). Em sua intervenção, em meio a ataques de bolsonaristas, o tucano disse que queria separar "a ministra da mulher", porque  "mulher merece respeito, a ministra não".

Antes do ataque do tucano, Marina teve o microfone cortado diversas vezes por Rogério, que reclamou dizendo que gostaria que ela "fosse uma mulher submissa". "E eu não sou", rebateu a ministra.

"Me respeite, ministra, se ponha no teu lugar”, gritou Rogério, impedindo a ministra de falar e alegando que pediu que ela se colocasse em seu "lugar de ministra de Estado".

A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) acusando Marcos Rogério de machismo e de ter faltado com o respeito a Marina Silva. O líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE), também saiu em defesa da ministra e defendeu que ela abandonasse o colegiado em meio às confusões.

Ao final, Marina afirmou que só ficaria na comissão se o senador tucano lhe pedisse desculpas. "Sou uma mulher de luta e de paz. Mas nunca vou abrir mão da luta. Não é pelo fato de eu ser mulher que vou deixar as pessoas atribuírem a mim coisas que não disse", disse Marina.

Sem as desculpas, Marina levantou-se e foi embora, mesmo com ameaças de Valério, que dizia que iria convocá-la para novo depoimento.

¨      Por que tanto ódio contra a ministra Marina Silva? Por Milton Alves

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, foi o alvo de ataques machistas e de teor misógino, nesta terça-feira (27), em sessão da Comissão de Infraestrutura do Senado pelos parlamentares Plínio Valério (PSDB-AM), Omar Aziz (PSD-AM) e pelo presidente da comissão, senador Marcos Rogério (PL-RO).

As cenas grotescas e as falas chocantes de senadores da direita extrema e do extremo Centrão foram marcadas pelo mais abjeto machismo e gestos explícitos de misoginia –, e apenas revelam a superfície do ódio contra a ministra Marina Silva.

Marina Silva reagiu com altivez e exigiu respeito por sua condição de ministra de estado. “Após mais uma agressão do senador Plínio Valério, lhe dei a opção de pedir desculpas, mas ele se negou. Por isso me retirei da sessão. Não posso aceitar ser agredida e não posso me calar quando atribuem a mim responsabilidades que não são minhas.

A conduta do presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado, Marcos Rogério, além de inadequada e vulgar, também foi extremamente agressiva quando declarou em um tom de voz autoritário para a ministra: “Ponha-se no seu lugar”. Após as agressões e o desrespeito dos senadores, a ministra deixou a sala onde se realizava sessão da comissão.

O Ministério das Mulheres, em nota, manifestou repúdio aos atos de machismo ocorridos no Senado: “Um completo absurdo o que aconteceu nesta manhã com a ministra Marina Silva na Comissão de Infraestrutura do Senado. Ela foi desrespeitada e agredida como mulher e como ministra por diversos parlamentares – em março, um deles já havia inclusive incitado a violência contra ela”, afirma a nota assinada pela ministra Márcia Lopes.

As agressões contra Marina Silva provocaram uma ampla onda de solidariedade no país e no exterior. O presidente Lula, ministros, parlamentares de diversos partidos, movimentos sociais e ambientais defenderam a gestão da ministra e sua conduta na direção do Ministério do Meio Ambiente. Resultado: Marina saiu mais fortalecida politicamente a partir dos lamentáveis eventos de hoje.

<><> Por trás da campanha de ódio contra Marina

Nos últimos meses, a ministra do Meio Ambiente tem sido o objeto de ataques pesados do agronegócio, das mineradoras, das madeireiras ilegais, de lobistas das petroleiras, de organizações criminosas de contrabandistas de ouro e pedras preciosas e dos tradicionais grileiros de terras que atuam na Região Amazônica.

Além disso, parlamentares vinculados ao agronegócio e ex-parlamentares, como o neobolsonarista Aldo Rebelo, realizam uma atividade sistemática de desconstrução das ações de defesa ambiental do ministério, do Ibama e de seus profissionais.

Marina Silva enfrenta uma reiterada e sórdida campanha financiada e organizada sob a capa de “desenvolvimento da Amazônia”, mas que na verdade opera pela manutenção do modelo agroexportador, que transforma o país num “fazendão” das commodities. É o antigo e continuado projeto de ocupação predatória da Amazônia e do saque de suas riquezas. Um velho filme que já vimos na extração do ouro da Serra Pelada, no Pará, na exploração do manganês na Serra do Navio, no Amapá, no criminoso Projeto Jari e na violenta construção da Rodovia Transamazônica, pela ditadura militar, que varreu do mapa tribos inteiras.

O ódio contra Marina vem de longe, desde os tempos do “empate”, uma forma de luta dos seringueiros organizados pelo líder ambiental e defensor da Amazônia, Chico Mendes, assassinado a mando de fazendeiros da região de Xapuri no Acre. Marina é a herdeira direta dessa luta, sempre esteve identificada com a luta pela sobrevivência dos povos da floresta.

No Senado, estava em pauta temas sensíveis e de forte impacto ambiental na Região Amazônica: A proposta de criação de quatro unidades de conservação marítimas no Amapá, a controversa defesa da exploração de petróleo na Foz do Amazonas, o Projeto de Lei do Licenciamento Ambiental e a extensão da BR-319, que liga Porto Velho a Manaus, que desencadeou uma ampla devastação de mata nativa ao longo da rodovia.

A ministra afirmou que a criação de unidades de conservação marinha na Margem Equatorial, no Amapá, não impede a pesquisa de petróleo na região e sustentou a defesa da política ambiental do Governo Federal, que reduziu o desmatamento na Amazônia e protege os demais biomas. E defendeu ainda um novo fundo de florestas tropicais para remunerar os proprietários que preservam áreas florestais.

Como um homem de ascendência amazônica, além da solidariedade política para Marina Silva, rogo para as divindades guardiãs da Floresta Amazônica — o sábio Curupira, que protegia o guerrilheiro Osvaldão no Araguaia, a astuta Matinta Perera, o ágil Mapinguari e a gigante Cobra Norato — que protejam a ministra da sanha criminosa dos que cobiçam vorazmente as riquezas da Amazônia e desprezam o seu povo.

¨      Pelo fim da violência contra as mulheres no Congresso. Por Reimont Otoni

Em 1808, quando a família real portuguesa chegou ao Brasil, estabelecendo-se no Rio de Janeiro, as 10 mil melhores casas do lugar foram tomadas e ocupadas pelos nobres, que mandavam pintar nas fachadas a sigla PR (Príncipe Regente) e enxotavam os moradores, obrigados a deixar tudo para trás, sem qualquer indenização. Logo, a sigla ficou conhecida como “Ponha-se na Rua”.

Ouso imaginar que o sentido prepotente da arcaica e caduca expressão deu origem a outras tão semelhantes, como a “Ponha-se no seu lugar", que eu acreditava extinta, mas foi proferida nesta terça-feira (27/05), em pleno Senado Federal, contra uma ministra de Estado, a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente. 

Como lembra o sociólogo e pesquisador José Almino de Alencar, a frase, carregada de todo o tipo de preconceito – de classe, origem, gênero e raça -, ainda é “frequentemente invocada para ilustrar o comportamento das classes dominantes ou privilegiadas no Brasil, país tão marcado por seu passado escravagista e pelas enormes diferenças socioeconômicas”.

Vergonhosamente, essa arrogância misógina faz parte da rotina do atual Congresso Nacional, onde as mulheres são diariamente desrespeitadas, onde diariamente enfrentam tentativas de silenciamento. Isso acontece com as parlamentares do campo progressista e com ministras de Estado. 

Dos ataques infantilóides e desprovidos de senso aos gritos e intimidações grosseiras, nada falta no empenho de alguns deputados e senadores da bancada do desvario em humilhar e desqualificar as vozes femininas.

A audiência com a presença de Marina Silva repetiu o repertório incivilizado, incluindo desligar o microfone da ministra!

O repugnante espetáculo foi protagonizado pelos senadores Marcos Rogério (PL), Omar Aziz (PSD) e Plínio Valério (PSDB), que não permitiram que a ministra, maior autoridade na sala, falasse sobre o tema para o qual foi convidada pela Comissão de Serviços de Infraestrutura. Quiseram que ela se calasse! Marina Silva não se calou!O trio repetiu uma prática instalada no Congresso pelo então parlamentar Jair Bolsonaro, que por três vezes agrediu e atacou a deputada federal Maria do Rosário, chegando ao absurdo de dizer "não estupro você, porque não merece". A frase criminosa, dita pela primeira vez em 2003, no Salão Verde da Câmara, propagou uma cultura de violência contra as mulheres que hoje invade as redes sociais, as escolas e contamina e corrompe parte da nossa juventude.

Porque nada foi feito em 2003, chegamos a esse ponto. É preciso interromper essa escalada. Os três senadores precisam ser exemplarmente punidos, para dar um recado aos agressores de mulheres disfarçados de congressistas. 

À ministra Marina Silva, minha total solidariedade e admiração.

 

Fonte: Brasil 247Fórum

 

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