‘O
cérebro’: Paulo Figueiredo articula sanções contra STF nos EUA
“Eu
abro a porta, eu sou o coração, mas você é o cérebro”, afirmou o deputado
federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ao influenciador Paulo Figueiredo,
em vídeo publicado na última terça-feira, 27 de maio, no canal de Figueiredo no
YouTube. A declaração se refere às articulações que ambos têm
feito nos Estados Unidos (EUA) para pressionar por sanções contra
autoridades e instituições brasileiras. “Você, Paulo, tem contribuído
muito”, elogiou o filho de Jair Bolsonaro (PL).
Neto de
um ex-presidente da ditadura, ex-sócio de Donald Trump e integrante da ala mais
radical do bolsonarismo, Paulo Figueiredo tornou-se o principal aliado de
Eduardo Bolsonaro na ofensiva internacional contra ministros do Supremo
Tribunal Federal (STF), especialmente Alexandre de Moraes. Ele contou, em março
do ano passado, também em seu canal no YouTube, que passou a frequentar o
Congresso americano logo após as eleições presidenciais de 2022, “em busca de
apoio”.
Figueiredo
atua nos EUA contra o STF enquanto é alvo no Brasil do inquérito das fake news,
além de ter sido denunciado pela Procuradoria-Geral da República por tentativa
de golpe, com pedido de prisão preventiva em aberto. A denúncia contra
Figueiredo está no chamado núcleo 5. Os outros quatro núcleos já
tiveram as denúncias analisadas pela primeira turma do STF, com 31 denunciados
se tornando réus. Os casos envolvendo Figueiredo estão sob relatoria de Moraes.
Já
Eduardo Bolsonaro passou a ser
investigado por coação e obstrução de justiça, após a Procuradoria-Geral da
República (PGR) apontar que ele está tentando interferir no processo criminal
contra o pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, e “perturbar os trabalhos
técnicos” do inquérito das fake news.
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Por que isso importa?
- A atuação de
Paulo Figueiredo e de aliados bolsonaristas podem levar a sanções contra
Alexandre de Moraes e membros do STF.
- Além disso, o
deputado licenciado é alvo de inquérito pela sua atuação nos EUA, o que
pode levar a denúncia e eventual condenação.
O
inquérito contra o parlamentar, que se licenciou do cargo em 20 de março de
2024, após decidir morar nos EUA por um período ainda indefinido, foi aberto
nesta segunda-feira, 26 de maio, pelo STF.
O
pedido da PGR à Corte ocorreu após o secretário de Estado
dos EUA, Marco
Rubio, afirmar em audiência no Parlamento americano, em 21 de maio, que está
analisando a possibilidade de aplicar punições a Alexandre de Moraes, com base
na Lei Magnitsky.
A
declaração foi feita em resposta a uma pergunta do deputado republicano Cory Mills sobre a
possível aplicação da legislação, que prevê sanções econômicas contra pessoas
envolvidas em violações de direitos humanos ou corrupção. “O senhor
consideraria sancionar o ministro da Suprema Corte Alexandre de Moraes sob a
Lei Magnitsky?”, perguntou Mills. Rubio respondeu: “Isso está sob análise e há
uma grande possibilidade de que isso aconteça”.
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Reunião antecedeu a fala contra Moraes no Congresso dos EUA
Uma
semana antes desta audiência, Mills, que preside o subcomitê de inteligência
das relações internacionais no Capitólio, havia se reunido com Paulo
Figueiredo, Eduardo Bolsonaro e o presidente da Comissão de Relações Exteriores
da Câmara dos Deputados, Filipe Barros (PL-PR). “Essa interação que dá
resultado no mundo real, não fica apenas no boca a boca”, disse Eduardo
Bolsonaro em vídeo gravado após o
encontro, que ocorreu em 14 de maio.
Eduardo
destacou ainda a proximidade entre Mills e Marco Rubio, já prevendo o que viria
a acontecer na audiência, no dia 21 de maio. “Vale lembrar também que ele
[Mills] é uma pessoa que se relaciona com o poder executivo aqui nos EUA. Não
deve demorar para ter encontros, inclusive, com o Secretário de Estado Marco
Rubio”, afirmou. “Fiquei realmente impressionado porque foi uma reunião com
grau de objetividade muito grande. E um deputado já familiarizado com a
situação do Brasil, o que mostra que todo esse trabalho de formiguinha, de
bater de porta em porta, já surtiu efeito”, acrescentou Paulo Figueiredo, no
vídeo.
Uma
semana depois, Rubio mais uma vez se referiu a sanções que podem alcançar o
Brasil, apesar de não ter citado o país. No X, ele mencionou a América
Latina, dizendo que na região, “na Europa, ou em qualquer lugar, os dias de
atitudes passivas com quem trabalha para minar os direitos dos americanos
acabaram”.
No
mesmo dia, em comunicado oficial, ele se
estendeu: “Hoje estou anunciando uma nova política de restrição de vistos que
se aplicará a cidadãos estrangeiros responsáveis pela censura da expressão
protegida nos EUA. É inaceitável que autoridades estrangeiras emitam ou ameacem
emitir mandados de prisão contra cidadãos ou residentes dos EUA por postagens
em redes sociais feitas em plataformas americanas enquanto estão fisicamente
presentes em solo americano”.
Rubio
ressaltou ainda, que é “inaceitável que autoridades estrangeiras exijam que
plataformas de tecnologia dos EUA adotem políticas globais de moderação de
conteúdo ou se envolvam em ações de censura que vão além de sua autoridade e
alcancem os EUA”. “Não toleraremos violações da soberania americana,
especialmente quando essas violações comprometerem o exercício do nosso direito
fundamental à liberdade de expressão”.
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Juntos nos EUA contra o Brasil
No dia
em que o deputado Cory Mills e o secretário de Estado Marco Rubio mencionaram a
possibilidade de aplicar a Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes, o deputado
brasileiro Filipe Barros sugeriu, por meio das redes sociais, que a provocação
de Rubio durante a audiência teria sido fruto da articulação dos bolsonaristas.
No
entanto, em entrevista concedida ontem à Agência Pública, Barros
afirmou ter “convicção” de que a fala de Rubio foi motivada pelas decisões de
Moraes que afetaram cidadãos e empresas dos EUA. “Não é uma reação ao
processo de 8 de janeiro. É uma reação às violações cometidas, por meio do
ministro Alexandre de Moraes, contra os direitos de cidadãos e empresas
norte-americanas.”
Segundo
Barros, nos encontros em que participou com a presença de Mills e do deputado
republicano Brian Mast foi debatido “o contexto político como um todo”. “E eu
percebi nas duas conversas a preocupação deles com a jurisdição
norte-americana”, reforçou.
A Pública apurou
ainda que Filipe Barros, junto à comitiva de parlamentares brasileiros da
Frente Parlamentar do Livre Mercado, que também esteve nos Estados Unidos no
início de maio, se reuniu com representantes da SpaceX, empresa do bilionário Elon Musk — que,
coincidentemente, ontem anunciou que vai deixar seu cargo na equipe dedicada a
cortes de custos no governo dos EUA.
Segundo
uma fonte que participou do encontro e pediu anonimato, havia forte indignação
entre os interlocutores norte-americanos: “Eles estão com muita raiva porque o
STF mexeu no bolso deles e não vão deixar barato. Esse era o clima na reunião”,
relatou a fonte, referindo-se ao bloqueio de R$ 18,3 milhões das contas da
Starlink e do X (ex-Twitter) por descumprimento de decisões judiciais
brasileiras.
Ainda
de acordo com essa fonte, embora as articulações de Eduardo Bolsonaro e Paulo
Figueiredo tenham influência, “a disputa principal do governo americano é,
de fato, em defesa das big techs atingidas por decisões do ministro Moraes”.
Em
fevereiro de 2025, Paulo Figueiredo chegou a sugerir em uma conversa com Elon
Musk, no X, o uso da Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes. Na ocasião, Musk
respondeu: “Interessante”.
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Herdeiro de Olavo de Carvalho
A
proposta de utilizar a legislação dos EUA contra Moraes ecoa uma antiga ideia
do ideólogo Olavo de Carvalho, falecido em 2022. Em 26 de agosto de 2020, Olavo
escreveu no X: “A Lei Magnitsky é
a maior ou única esperança de um Brasil livre de comunolarápios”.
Pouco
mais de quatro anos depois, Figueiredo disse em um dos vídeos no seu canal do
YouTube que fica “absolutamente radiante de estar dando seguimento às ideias do
professor Olavo de Carvalho”.
“Você
acha que Olavo morreu? Olavo não morreu não, Olavo vive através de nós”,
destacou.
Figueiredo
segue uma trajetória semelhante à de Olavo de Carvalho. Assim como seu
professor, começou a ter visibilidade com atuação em veículos da grande mídia.
Enquanto Carvalho começou escrevendo colunas para grandes jornais, como a Folha
de S. Paulo, Figueiredo ficou anos na rádio Jovem Pan.
Ele
teria usado, inclusive, seu espaço na Jovem Pan, além de suas redes sociais,
para pressionar o comando do Exército a aderir o golpe, conforme a acusação da
PGR no processo da trama golpista.
Figueiredo
atualmente tem um programa no YouTube em que comenta sobre política. Ele mora
nos Estados Unidos desde 2016. Olavo de Carvalho viveu 17 anos no país. Ainda
seguindo os caminhos do “guru”, Figueiredo vende um curso sobre política e
história alinhado às ideias da extrema-direita, que foi oferecido a sete
deputados bolsonaristas às vésperas da posse de Donald Trump, em janeiro.
“Parabéns ao Paulo Figueiredo pelo seu curso “O Fim da América. Esse
comentarista é alguém que cada vez mais merece ser ouvido com atenção”,
escreveu no X Olavo de
Carvalho em 23 de março de 2021.
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Cúmplice de Eduardo Bolsonaro, Figueiredo se irrita e
recua após divulgar "lista de sancionados"
Em
êxtase com a medida anunciada pelo secretário de Estado dos EUA Marco Rubio, de
que o governo Donald Trump vai revogar os vistos para autoridades estrangeiras
que atuarem para “censurar” redes sociais de cidadãos e empresas americanas,
Paulo Figueiredo, neto do ditador João Baptista Figueiredo, acabou tropeçando
na própria ansiedade e teve que recuar após divulgar uma fake news nas redes
sociais.
Minutos
após o os EUA divulgarem o comunicado, que visa não só autoridades do Brasil e
nada tem a ver com as sanções pela Lei Magnitsky propaladas por Figueiredo e
Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o neto de Figueiredo, afoito, foi às redes e
divulgou "a lista de autoridades brasileiras cujas violações contra
cidadãos, residentes e empresas dos EUA já foram enviadas e documentadas em
detalhes ao Departamento de Estado dos EUA".
"Pela
nova diretriz do governo americano, estes indivíduos e seus familiares diretos
perdem o privilégio de entrada nos Estados Unidos da América. Estamos
trabalhando para submeter uma lista mais ampla que incluirá outros nomes,
incluindo os agentes, sub-procuradores, juízes auxiliares, dentre outros. Como
disse: tudo amplamente documentado", afirmou o cúmplice de Eduardo,
sinalizando que os nomes já teriam uma sanção imediata.
Na
lista, Figueiredo colocou os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF)
Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso [presidente da corte], Gilmar Mendes,
Edson Fachin, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Cristiano Zanin e Flávio Dino. O rol
inclui ainda o Procurador-Geral da República (PGR) Paulo Gonet, o senador
Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o diretor da Polícia Federal Andrei Passos e o
delegado Fabio Shor, que está à frente das investigações sobre o clã Bolsonaro.
A
mentira, no entanto, teve perna curta e uma hora depois, irritado com as
cobranças dos seguidores, Figueiredo voltou às redes para desmentir a própria
publicação, dizendo que a lista seria apenas de nomes que ele e Eduardo
informaram ao governo Trump - e não dos que já haviam sido sancionados.
"Sobre
a lista: eu não trabalho no governo americano. Eu simplesmente informo ao
governo - o que é um direito meu. O que eles fazem com isso, é problema
deles", escreveu, em tom de chilique.
No
início da noite desta quarta-feira (28), Figueiredo voltou ao tema nas redes
para tentar consertar a fake news, mantendo a esperança dos seguidores, em uma
espécie de "mais 72 horas", que ganhou notoriedade diante dos pedidos
de golpistas que acampavam em frente aos quartéis generais do Exército após a
derrota de Bolsonaro para Lula, em 2022.
"Acabo
de perguntar se será divulgada lista brasileiros afetados pela decisão do
Departamento de Estado dos EUA. A resposta que recebi foi a seguinte: 'Nada
relacionado a vistos será público. Quando chegar a hora, os indivíduos
sancionados serão notificados no aeroporto'", escreveu, dando bug na
cabeça dos extremistas e virando chacota entre seguidores.
"Cada
um diz uma coisa diferente, um fala que não vai divulgar, ou disse que acaba de
anuncia", comentou um apoiador, com emojis de gargalhadas.
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Financiador de morte de advogado era “patriota” da turma
de Bolsonaro na AMAN. Por Denise Assis
Etevaldo
Luiz Caçadini é um coronel, oficial, portanto, do Exército Brasileiro, formado
pela Academia Militar de Agulhas Negras – AMAN -, em 1977, na turma de Jair
Messias Bolsonaro. Essa turma se intitulou: “Turma Tiradentes”, cujo lema era o
do alferes Joaquim da Silva Xavier: “Se dez vidas tivesse, dez vidas daria”
(pela pátria).
Eram
também da Turma de 1977 o general Lorena Cid (pai de Mauro Cid) e o general
Leal Pujol, que veio a ser comandante do Exército, entre 11 de janeiro de 2019
e 20 de abril de 2021, tendo sido o primeiro colocado da turma de cavalaria
naquele ano. Nesse período, embora pelo que se saiba tenha se mantido distante
das confabulações, nasceram os grupos radicais os “patriotas” que englobam
desde Walter Barga Netto, até Augusto Heleno, passando por Paulo Sergio de
Oliveira, que também galgou o posto de comandante da Arma, tendo substituído o
general Pujol em 20 de abril de 2021, e permanecendo no cargo até 31 de março
de 2022, quando deixou o posto para assumir o ministério da Defesa.
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A
afinidade da “família militar” levou de roldão para a trama golpista os mais
próximos a Bolsonaro. E veio nesse grupo Etevaldo Luiz Caçadini, que agora
surge no noticiário policial, como o financiador do assassinato do advogado
Roberto Zampieri.
O
coronel está entre os signatários de uma manifestação política coletiva de
oficiais da reserva, - algo no mínimo antiético para não dizer, em tese, ilegal
-, publicada em 26 de maio de 2020. Na época o comandante do exército era o
general Pujol, que a rigor deveria ter punido os da ativa que assinaram o
documento, mas nada fez. Deixou florescer a rebeldia nas tropas, que culminou
na formação de uma estrutura de poder: uma ABIN informal, investigações à
margem da lei, um sistema próprio de comunicação (o chamado “gabinete do
ódio”)...
A crise
resvalou para uma nota ameaçadora do general Augusto Heleno, que havia
confrontado o Supremo Tribunal Federal (STF), em que o presidente de então era
alvo de inquérito por supostas interferência na Polícia Federal.
Para os
mais atentos, é possível que vejam, por exemplo, semelhança entre o arsenal
utilizado pelo grupo “paramilitar” - com tabela e um estafe integrado por
garotas/garotos de programa, técnicos em tecnologia e outros profissionais
usados para atrair e monitorar suas vítimas, com gradação de valores na tabela
dos assassinos: pessoas comuns, 50 mil; senadores, 100 mil e ministros do
Supremo 250 mil -, e o usado na Operação Copa.
O
arsenal planejado pelo grupo incluía cinco fuzis com silenciador, 15 pistolas
com silenciador, lança-rojão de ombro, minas magnéticas, explosivos com
detonação remota, placas frias e até veículos para fuga, como Doblós e carros
médios. Parte dessas armas foi apreendida pela PF em Minas Gerais.
Fonte: Por
Alice Maciel, Maria Martha Bruno, Laura Scofield, na Agencia Pública/Fórum/Brasil
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