sexta-feira, 30 de maio de 2025

Estudo consegue prever quando sintomas do Alzheimer genético surgirão

Cientistas do Centro de Pesquisa do Cérebro e Doenças VIB-KU Leuven, na Bélgica, desenvolveram um modelo capaz de prever com precisão a idade em que uma pessoa com predisposição genética para Alzheimer começará a apresentar sintomas. O estudo, publicado em 26 de abril na revista Molecular Neurodegeneration, foca em uma forma rara da doença: o Alzheimer familiar.

Esse tipo hereditário da doença, que representa uma pequena parcela dos casos, é causado por mutações nos genes APP, PSEN1 e PSEN2. Embora essas alterações genéticas já sejam conhecidas, ainda havia muitas dúvidas sobre como exatamente elas influenciam o início e a progressão da doença.

Mutações que funcionam como contadores regressivos

A equipe analisou centenas de mutações nesses três genes e identificou uma relação clara entre algumas delas e a idade em que os primeiros sintomas costumam aparecer. Segundo os pesquisadores, essas mutações funcionam quase como relógios biológicos, determinando com certa precisão quando o cérebro começará a ser afetado.

“Podemos medir a contribuição exata de cada gene e até mesmo prever quando os primeiros sintomas aparecerão”, explicou Sara Gutiérrez Fernández, primeira autora do estudo, em comunicado.

Essas previsões foram possíveis porque as mutações alteram a produção dos chamados peptídeos Aβ (amiloide beta), fragmentos de proteína que se acumulam no cérebro e formam placas — uma das marcas do Alzheimer. Quanto maior a proporção de peptídeos Aβ longos em relação aos curtos, mais cedo a doença costuma se manifestar.

<><> Alvo promissor para tratamentos

A produção desses peptídeos é controlada por uma enzima chamada γ-secretase. O estudo mostrou que mudanças sutis nesse processo podem ter impacto significativo. Segundo os dados, uma alteração de apenas 12% no perfil dos fragmentos pode adiar o início dos sintomas em até cinco anos.

A descoberta abre caminho para terapias que possam modular a ação da γ-secretase, incentivando a produção de formas mais curtas e menos tóxicas dos peptídeos Aβ.

Ferramenta pode ajudar no diagnóstico e em estratégias personalizadas

Além de entender melhor como a doença se desenvolve, os cientistas criaram uma ferramenta que ajuda a avaliar o risco de uma mutação causar Alzheimer familiar. Ela também permite identificar pessoas que carregam modificadores genéticos ou que foram expostas a fatores ambientais capazes de influenciar a idade em que os sintomas aparecem.

Com isso, os médicos poderão, no futuro, traçar estratégias mais personalizadas de diagnóstico, monitoramento e tratamento para quem tem risco genético.

“Nossa expectativa é que esse modelo abra caminho para intervenções mais eficazes, tanto no Alzheimer familiar quanto em formas mais comuns da doença”, afirma Sara.

•        Passar muito tempo sentado aumenta risco de Alzheimer, mostra estudo

O Alzheimer afeta milhões de pessoas em todo o mundo, comprometendo a memória, o raciocínio e a autonomia de quem convive com a doença. Um novo estudo aponta que o tempo que adultos mais velhos passam sentados pode estar relacionado à piora da saúde cerebral e ao risco de desenvolver a condição.

Segundo os pesquisadores da Universidade de Pittsburgh e do Centro Médico da Universidade Vanderbilt, ambos nos Estados Unidos, pessoas que passam muitas horas do dia sentadas — mesmo aquelas que fazem exercícios regularmente — têm maior probabilidade de apresentar declínio cognitivo e encolhimento em áreas do cérebro envolvidas com a memória e o raciocínio.

O estudo foi publicado na última terça-feira (13/5), na revista Alzheimer’s & Dementia: The Journal of the Alzheimer’s Association. O trabalho foi financiado pela Associação de Alzheimer e pelo Instituto Nacional do Envelhecimento dos EUA.

<><> Mais tempo parado, mais risco cerebral

A pesquisa acompanhou 404 adultos com 50 anos ou mais, todos participantes do Projeto Vanderbilt de Memória e Envelhecimento. Cada um deles usou, por sete dias, um dispositivo no pulso que mediu continuamente o nível de atividade física.

Com esses dados, os cientistas puderam avaliar com precisão o tempo que cada pessoa passou em comportamento sedentário, isto é, sentada ou deitada, em repouso.

Ao longo de sete anos, os pesquisadores compararam essas informações com exames de ressonância magnética do cérebro e testes de cognição realizados periodicamente.

Os resultados revelaram que pessoas que passaram mais tempo em repouso apresentaram maior risco de alterações cerebrais associadas à doença de Alzheimer. Essas mudanças ocorreram mesmo entre aquelas que praticavam exercícios físicos regularmente.

“Reduzir o risco de Alzheimer não se resume a fazer exercícios uma vez por dia. Mesmo quem se exercita deve evitar passar longos períodos sentado”, afirmou Marissa Gogniat, professora de neurologia na Universidade de Pittsburgh e principal autora do estudo, em comunicado.

<><> Maior impacto para quem já tem risco genético

As associações entre sedentarismo e neurodegeneração foram ainda mais fortes entre os participantes que carregavam o alelo APOE-e4, uma variação genética já conhecida por aumentar o risco de Alzheimer. Ou seja, permanecer muito tempo sentado pode ser especialmente prejudicial para quem já tem predisposição genética à doença.

“Nosso estudo mostrou que reduzir o tempo sentado pode ser uma estratégia promissora para prevenir a neurodegeneração e o subsequente declínio cognitivo. É fundamental para a saúde cerebral fazer pausas ao longo do dia e se movimentar para aumentar nosso tempo ativo”, escreveram os autores.

A professora de neurologia Angela Jefferson, coautora do artigo, reforçou a importância de olhar para os hábitos cotidianos. “É fundamental estudar as escolhas de estilo de vida e o impacto que elas têm na saúde cerebral à medida que envelhecemos”, destacou.

•        Mulher culpa TDAH por esquecimentos mas descobre Alzheimer aos 48 anos

A influenciadora canadense Rebecca Luna, de 48 anos, achou que os lapsos de memória que vinha sofrendo eram frutos do estresse e de seu diagnóstico de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), acompanhado há uma década.

Porém, a influenciadora começou a ter esquecimentos mais frequentes e graves: em um deles, procurou por mais de uma hora pela chave do carro, que estava ligado. Em outro, deixou uma panela no fogo e foi ao centro da cidade, quase incendiando o apartamento.

Rebecca esqueceu o nome de outras mães da mesma escola da filha e também como se iniciavam os programas no computador com os quais ela trabalhava todo dia. Todos os sinais eram causados, na verdade, pelo Alzheimer precoce.

<><> Diagnóstico inesperado e confirmação

Alarmada com os sintomas, ela pediu para seu psiquiatra fazer um teste cognitivo. O exame foi repetido três vezes, e Rebecca reprovou em todos. Ela foi encaminhada para fazer exames de imagem do cérebro para entender o que estava acontecendo e, logo após a ressonância, já recebeu do neurologista informações sobre como lidar com o Alzheimer de início precoce.

“Foi chocante, eu não acreditava que na minha idade pudesse estar recebendo aquele diagnóstico”, conta ela no TikTok.

A confirmação do Alzheimer veio por meio da pontuação de atrofia temporal medial, uma avaliação visual usada para diagnósticos aproximados de demência baseado no acúmulo de emaranhados de proteínas no cérebro. Os índices revelavam uma atrofia superior à esperada em pessoas idosas.

<><> Alzheimer em pessoas jovens

Ainda que mais frequente em idosos, o Alzheimer não é exclusivo das faixas etárias mais altas. A forma precoce da doença representa cerca de 5% dos casos e costuma ser confundida com estresse, depressão ou alterações hormonais, dificultando o diagnóstico.

“Embora o maior fator de risco seja a idade, existe a forma precoce do Alzheimer, que pode afetar pessoas com menos de 60 anos. Nesses casos, é importante um diagnóstico preciso para diferenciá-lo de outras condições”, explica o neurologista Edson Issamu Yokoo, da rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.

O diagnóstico precoce é essencial para garantir um tratamento mais eficaz e uma melhor qualidade de vida ao paciente. “Os primeiros sinais incluem esquecimentos frequentes, dificuldade em executar tarefas cotidianas, mudanças de comportamento e desorientação no tempo e no espaço. Caso esses sintomas sejam percebidos, é fundamental procurar um neurologista ou geriatra para avaliação clínica e exames complementares”, orienta Yokoo.

<><> Mudança de rotina e adaptação

Rebecca tem vivido dias de adaptação e reestruturação desde o diagnóstico. Entre medicamentos, terapias e momentos de confusão, ela tenta manter autonomia enquanto ainda consegue. “Sei que o meu prognóstico é de sobreviver pelos próximos 8 anos, então estou fazendo o meu melhor para viver plenamente”, escreveu em sua campanha no GoFundMe, em que busca arrecadar fundos para manter suas filhas.

Desacostumada a pedir ajuda, a mãe solo decidiu compartilhar publicamente a vida com Alzheimer nas redes sociais. A divulgação dos vídeos se tornou um ponto de virada para ela. O vídeo publicado no TikTok viralizou e acumulou mais de dois milhões de visualizações em poucas semanas.

“Postei porque queria encontrar pessoas na mesma situação”, explicou. O retorno foi imediato. Comentários com conselhos práticos e mensagens de apoio vieram de todas as partes. Rebecca passou a compartilhar atualizações frequentes.

O impacto da história foi sentido por milhares de internautas, alguns com parentes diagnosticados, outros apenas tocados pela franqueza. “Enquanto puder, vou continuar alimentando as redes para contribuir no entendimento da doença”, conclui ela.

•        SUS amplia tratamento para pacientes com quadro grave de Alzheimer

O Ministério da Saúde determinou a ampliação do uso do medicamento donepezila para pacientes com forma grave da Doença de Alzheimer via Sistema Único de Saúde (SUS). A medida foi publicada no Diário Oficial da União nesta quinta-feira (15) e deve beneficiar 10 mil pessoas no primeiro ano.

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Antes da nova medida, o medicamento era oferecido na rede pública de saúde apenas para paciente com formas leves ou moderadas da doença. O remédio ajuda a preservar as funções cognitivas e a capacidade funcional.

Em nota, a pasta informou que, a partir de agora, pacientes com forma grave da doença poderão usar a donepezila em conjunto ou não com a memantina, medicação já disponibilizada pelo SUS.

“O cuidado contínuo por meio desses medicamentos auxilia na redução de sintomas da doença, como confusão mental, apatia e alterações de comportamento nos pacientes”, destacou o comunicado.

A demanda para ampliação do uso da donepezila é do próprio Ministério e surgiu durante o processo de atualização do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) da doença de Alzheimer.

<><> Como o exame de sangue identifica a Doença de Alzheimer?

O teste analisa proteínas no sangue, como beta-amiloide e tau, para indicar a presença da doença, com resultados em cerca de 20 dias. (Foto: Banco de imagens)

<><> Doença de Alzheimer

A doença de Alzheimer é uma condição neurodegenerativa progressiva que atinge a memória, o comportamento e a autonomia dos pacientes. Embora não haja cura, o tratamento pode contribuir para a redução do ritmo da perda de capacidades.

Estudos apresentados à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) apontam que a continuidade do uso da donepezila pode melhorar sintomas como agitação, apatia e confusão, além de adiar a necessidade de institucionalização.

 

Fonte: Saúde e Ciência

 

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