Mulher
que processou trabalho após ser ‘zombada’ por pedir licença-maternidade de bebê
reborn desiste da ação
A
mulher, que acionou a Justiça do Trabalho na Bahia após ter a
licença-maternidade para cuidar de seu bebê reborn negada e ser zombada por
colegas dentro do estabelecimento em Salvador, desistiu da ação. O pedido
ocorreu após a repercussão negativa do caso.
De
acordo com a petição à qual o Terra teve acesso nesta quinta-feira, 29, a
advogada Vanessa Homem, que representa a recepcionista, aponta que a ação
pretendia a rescisão indireta do vínculo empregatícia, “em virtude dos abalo
psíquico diário” que ela vem sofrendo em seu ambiente laboral por tratar como
se filha “um objeto inanimado”.
A
defesa relata ainda que em menos de 24 horas da ação protocolada junto do
TRT-5, a vida da trabalhadora virou “um verdadeiro inferno”, pois passou a
receber centenas de solicitações em suas redes sociais, além de pessoas dizerem
que ela e sua advogada deveriam “levar um surra”.
“Entende-se
que as palavras-chave ‘bebê Reborn’ e ‘licença maternidade’ em uma mesma
petição acarretou naqueles que fazem leitura dinâmica ou interpretam o que
leem com único intuito de polemizar, assunto para suas pífias rodas de
conversas por algum tempo, no entanto, o respeito à integridade física e ética
dos profissionais envolvidos, bem como física e mental da reclamante
[recepcionista] precisam ser respeitadas e preservadas”, declara Vanessa.
A
advogada também aponta que chegaram a ir até à sua casa de madrugada para
buscar esclarecimentos e que precisou desativar suas redes sociais pelos
ataques que recebeu. Devido à repercussão negativa, optaram pela desistência da
ação.
“Em
razão da grande repercussão midiática que
a causa gerou nacionalmente e dos impactos provocados e risco de
dano à integridade física da reclamante e da sua advogada, bem como, a imagem e
a honra, requer, seja o processo colocado em segredo de justiça, bem como
requer a desistência da presente ação renunciando aos prazos recursais”,
pediu.
O
pedido ainda será apreciado pela Justiça. O Terra procurou o TRT-5, mas não
teve retorno até o momento.
<><>
Entenda o caso
De
acordo com a defesa, ela começou a trabalhar no local em abril de 2020 e pouco
depois adquiriu a bebê reborn, batizada de ‘Olívia’. Ela "constituiu um
legítimo afeto, profundo vínculo materno com sua filha reborn", que “é
fruto da mesma entrega emocional, do mesmo investimento psíquico e do mesmo
comprometimento afetivo que toda maternidade envolve", segundo o
processo.
Ainda
conforme a advogada, o bebê não é “mero objeto inanimado", mas, sim filha,
“portadora de nome, vestida com ternura, acolhida nos braços e no seio
emocional da autora, que dela cuida, vela, embala e protege, como qualquer
mãe".
A
recepcionista teria, então, elaborado o requerimento de licença e protocolado
junto à empresa, mas o pedido foi negado. Depois, a mulher teria sido alvo de
"escárnio, zombaria e negação absoluta de direitos" por não ser
considerada "mãe de verdade".
Os
advogados acrescentam que sua cliente passou a ser constrangida pelos colegas
que afirmava que ela precisava de "psiquiatra, não de benefício". Ela
seguiria trabalhando no local, mas não foi possível diante do "grave abalo
à sua saúde mental e dignidade", ainda segundo a defesa.
O
objetivo da defesa é conquistar a rescisão indireta do contrato de trabalho da
mulher, com uma indenização de R$ 10 mil por danos morais, além de aviso prévio
indenizado, com férias vencidas e proporcionais, liberação do FGTS e 40% da
multa rescisória, entrega das guias para o seguro-desemprego e pagamento
do salário-família retroativo desde a data do requerimento administrativo.
• Igreja tradicional de Salvador emite
comunicado contra batismo de bebês reborn: 'rito solene destinado a pessoas
reais'
A
tradicional Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Salvador, publicou
um comunicado sobre a não realização de batismos de bebês reborn, bonecos
hiper-realistas que imitam um bebê real. A igreja fica localizada no Pelourinho
e é uma das mais famosas da capital baiana.
"Os
sacramentos da igreja são atos sagrados e devem ser tratados com o máximo de
respeito. Por isso, não realizamos batismos nem qualquer atendimento religioso
relacionado a bonecas reborn ou objetos semelhantes", publicou nas redes
sociais.
O g1
tentou contato com a igreja para entender o que motivou a publicação do
comunicado, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem.
<><>
Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos
Uma das
mais famosas de Salvador, a história da igreja começou há três séculos, com o
surgimento da Irmandade dos Homens Pretos em 1685. A irmandade é responsável
pela construção da igreja em 1704. Anos depois, em 1938, o conjunto
arquitetônico foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan).
Com
fachada azul, que remete ao manto da santa que deu nome da igreja, o templo tem
azulejos portugueses dos séculos XVIII e XIX com narrativas da devoção de Nossa
Senhora do Rosário e de São Domingos.
Conforme
contam os historiadores, o objetivo da irmandade em construir um templo não era
apenas ter uma igreja para que fossem feitas celebrações cristãs, mas também um
local para reuniões e encontros para que eles pudessem agir socialmente.
Atualmente,
o templo católico preserva a história relacionada à diáspora negra. Nas missas
de terça-feira, as músicas cantadas são acompanhadas do som dos atabaques.
<><>
Confira comunicado publicado nas redes sociais:
"Os
sacramentos da Igreja são atos sagrados e devem ser tratados com o máximo
respeito. O batismo, em especial, é um rito solene destinado a pessoas reais,
marcando o início da vida cristã.
Por
isso, não realizamos batismos nem qualquer atendimento religioso relacionado a
bonecas "reborn" ou objetos semelhantes. A nossa fé está centrada na
vida e dignidade humanas. Agradecemos a compreensão".
¨
Bebês reborn: 'Universo é encantador, mas temos que
discernir real do imaginário', diz colecionadora
Há seis
anos, a designer Elisângela Sant'Anna aprecia e coleciona a arte reborn. De
acordo com os termos utilizados no mercado reborn, a moradora de Brasília se
considera "mãe" de 26 bonecas que se assemelham fielmente aos traços
humanos.
O
número de bonecas "adotadas" por Elisângela já chegou a 36. Por
algumas, ela conta que pagou até R$ 5 mil.
"O
universo dos bebês reborn é encantador, mas a gente tem que discernir o real do
imaginário. Assim como cada ser humano é único, cada bebê também é singular. As
mãozinhas, os cílios e os traços, cada boneco é único, mas não deixa de ser um
brinquedo", diz Elisângela Sant'Anna.
Elisângela
faz referência à polemica que tomou conta das redes sociais, a partir da
publicação de conteúdos de "mães reborn" que viralizaram nas redes
sociais. São situações em que as bonecas são tratadas como bebês reais, levadas
ao médico, amamentadas, ou mesmo "ganham vida" em uma simulação de
parto.
"Há
quem exagere, o que atrapalha o universo reborn. É evidente que alguns usuários
querem tirar a essência da arte e viralizar na internet, porém de forma
negativa. Trato meus bebês como se fossem reais, mas não tenho fanatismo",
diz Elisângela.
<><>
Multa por levar bebê reborn no banco dianteiro do carro
A
designer de Brasília, que é mãe de dois filhos, conta que chegou a ouvir
comentários negativos da família sobre a "adoção dos bebês", e que as
opiniões foram motivo até de sessões de terapia. No entanto, ela diz que
aprendeu a lidar com as críticas e a entender o lugar das bonecas na própria
vida.
"Tenho
um carinho muito grande por eles [os bebês reborn]. Quando chego em casa, de um
dia cansativo, e vejo aquele tanto de criancinha me olhando me encho de
felicidade. Mas não sou apegada, já cheguei a doar alguns para ajudar
amigos", diz a brasiliense.
Elisângela
também coleciona situações inusitadas, como quando levou uma multa, expedida
pelo Departamento de Trânsito (Detran- DF), por estar com o bebê reborn no
banco do passageiro. Mesmo recorrendo, o Detran não considerou a justificativa,
diz a designer, que acabou pagando a multa.
<><>
O que são os bebês reborn❓
O termo
"reborn" se origina do inglês "renascido", que remete ao
processo de customização de bonecas antigas feitas pelas mães inglesas, durante
a Segunda Guerra Mundial. Os brinquedos se popularizaram na década de 1990, nos
Estados Unidos.
Os
bebês hiper-realistas imitam as características de um recém-nascido. Traços
como o formato da boca, cílios e mãos delicados são priorizados durante a
produção e alguns modelos chegam a ter cabelos humanos.
<><>
Por que os bebês reborn viraram polêmica no Brasil❓
"Mães
reborn" passaram a compartilhar nas redes sociais conteúdos polêmicos que
acabaram viralizando. O tema também virou pauta de propostas políticas em
algumas regiões do país:
• Em abril, um grupo de mulheres promoveu
um encontro de "mães e bebês reborn" no Parque do Ibirapuera, em São
Paulo. Após a reunião, repercutiu muito na internet um vídeo publicado em 2022
pela influenciadora Sweet Carol, no qual ela simula o parto de uma bebê reborn.
• Em 7 de maio, vereadores do Rio de
Janeiro aprovaram um projeto para criar o Dia da Cegonha Reborn, que tem o
objetivo de homenagear as artesãs que confeccionam as bonecas.
• No dia 15 de maio, um deputado federal
apresentou à Câmara um projeto de lei que prevê multar em mais de R$ 30 mil
quem usar bebê reborn para furar filas no Brasil. Na mesma data, outros dois
parlamentares apresentaram propostas referentes ao tema.
• Também em 15 de maio, a prefeitura de
Curitiba divulgou um alerta dizendo: "Mães de bebê reborn não têm direito
ao banco preferencial".
<><>
Mercado de bebês reborn no Distrito Federal
Há 10
anos, a brasiliense, Michelly Souza, abriu uma loja na região do Gama para
vender a arte reborn. Ela conta que conheceu o trabalho em 2003 e que seis anos
depois fez um curso para aprender a fazer as bonecas.
Desde o
início, a ideia era customizar os brinquedos para uso próprio, diz ela. No
entanto, ela conta que as bonecas chamavam tanta atenção que ela acabou
conquistando clientes em um ramo onde não imaginava empreender.
"Eu
trabalhava com roupas, mas a procura por bebês reborn era tão grande que eu
deixei de me dedicar ao vestuário e resolvi abrir uma loja. Além da loja
física, sempre vendi de forma online, o que me ampliou as oportunidades",
diz Michelly.
Fonte: Terra/g1

Nenhum comentário:
Postar um comentário