sexta-feira, 30 de maio de 2025

Mulher que processou trabalho após ser ‘zombada’ por pedir licença-maternidade de bebê reborn desiste da ação

A mulher, que acionou a Justiça do Trabalho na Bahia após ter a licença-maternidade para cuidar de seu bebê reborn negada e ser zombada por colegas dentro do estabelecimento em Salvador, desistiu da ação. O pedido ocorreu após a repercussão negativa do caso.

De acordo com a petição à qual o Terra teve acesso nesta quinta-feira, 29, a advogada Vanessa Homem, que representa a recepcionista, aponta que a ação pretendia a rescisão indireta do vínculo empregatícia, “em virtude dos abalo psíquico diário” que ela vem sofrendo em seu ambiente laboral por tratar como se filha “um objeto inanimado”. 

A defesa relata ainda que em menos de 24 horas da ação protocolada junto do TRT-5, a vida da trabalhadora virou “um verdadeiro inferno”, pois passou a receber centenas de solicitações em suas redes sociais, além de pessoas dizerem que ela e sua advogada deveriam “levar um surra”. 

“Entende-se  que as palavras-chave ‘bebê Reborn’ e ‘licença maternidade’ em uma mesma petição acarretou naqueles que fazem leitura dinâmica ou interpretam o que leem com único intuito de polemizar, assunto para suas pífias rodas de conversas por algum tempo, no entanto, o respeito à integridade física e ética dos profissionais envolvidos, bem como física e mental da reclamante [recepcionista] precisam ser respeitadas e preservadas”, declara Vanessa. 

A advogada também aponta que chegaram a ir até à sua casa de madrugada para buscar esclarecimentos e que precisou desativar suas redes sociais pelos ataques que recebeu. Devido à repercussão negativa, optaram pela desistência da ação. 

“Em  razão  da  grande  repercussão  midiática  que  a  causa  gerou nacionalmente e dos impactos provocados e risco de dano à integridade física da reclamante e da sua advogada, bem como, a imagem e a honra, requer, seja o processo colocado em segredo de justiça, bem como requer a desistência da presente ação renunciando aos prazos recursais”, pediu. 

O pedido ainda será apreciado pela Justiça. O Terra procurou o TRT-5, mas não teve retorno até o momento. 

<><> Entenda o caso

De acordo com a defesa, ela começou a trabalhar no local em abril de 2020 e pouco depois adquiriu a bebê reborn, batizada de ‘Olívia’. Ela "constituiu um legítimo afeto, profundo vínculo materno com sua filha reborn", que “é fruto da mesma entrega emocional, do mesmo investimento psíquico e do mesmo comprometimento afetivo que toda maternidade envolve", segundo o processo. 

Ainda conforme a advogada, o bebê não é “mero objeto inanimado", mas, sim filha, “portadora de nome, vestida com ternura, acolhida nos braços e no seio emocional da autora, que dela cuida, vela, embala e protege, como qualquer mãe".

A recepcionista teria, então, elaborado o requerimento de licença e protocolado junto à empresa, mas o pedido foi negado. Depois, a mulher teria sido alvo de "escárnio, zombaria e negação absoluta de direitos" por não ser considerada "mãe de verdade". 

Os advogados acrescentam que sua cliente passou a ser constrangida pelos colegas que afirmava que ela precisava de "psiquiatra, não de benefício". Ela seguiria trabalhando no local, mas não foi possível diante do "grave abalo à sua saúde mental e dignidade", ainda segundo a defesa.

O objetivo da defesa é conquistar a rescisão indireta do contrato de trabalho da mulher, com uma indenização de R$ 10 mil por danos morais, além de aviso prévio indenizado, com férias vencidas e proporcionais, liberação do FGTS e 40% da multa rescisória, entrega das guias para o seguro-desemprego e  pagamento do salário-família retroativo desde a data do requerimento administrativo.

•        Igreja tradicional de Salvador emite comunicado contra batismo de bebês reborn: 'rito solene destinado a pessoas reais'

A tradicional Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Salvador, publicou um comunicado sobre a não realização de batismos de bebês reborn, bonecos hiper-realistas que imitam um bebê real. A igreja fica localizada no Pelourinho e é uma das mais famosas da capital baiana.

"Os sacramentos da igreja são atos sagrados e devem ser tratados com o máximo de respeito. Por isso, não realizamos batismos nem qualquer atendimento religioso relacionado a bonecas reborn ou objetos semelhantes", publicou nas redes sociais.

O g1 tentou contato com a igreja para entender o que motivou a publicação do comunicado, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem.

<><> Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos

Uma das mais famosas de Salvador, a história da igreja começou há três séculos, com o surgimento da Irmandade dos Homens Pretos em 1685. A irmandade é responsável pela construção da igreja em 1704. Anos depois, em 1938, o conjunto arquitetônico foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Com fachada azul, que remete ao manto da santa que deu nome da igreja, o templo tem azulejos portugueses dos séculos XVIII e XIX com narrativas da devoção de Nossa Senhora do Rosário e de São Domingos.

Conforme contam os historiadores, o objetivo da irmandade em construir um templo não era apenas ter uma igreja para que fossem feitas celebrações cristãs, mas também um local para reuniões e encontros para que eles pudessem agir socialmente.

Atualmente, o templo católico preserva a história relacionada à diáspora negra. Nas missas de terça-feira, as músicas cantadas são acompanhadas do som dos atabaques.

<><> Confira comunicado publicado nas redes sociais:

"Os sacramentos da Igreja são atos sagrados e devem ser tratados com o máximo respeito. O batismo, em especial, é um rito solene destinado a pessoas reais, marcando o início da vida cristã.

Por isso, não realizamos batismos nem qualquer atendimento religioso relacionado a bonecas "reborn" ou objetos semelhantes. A nossa fé está centrada na vida e dignidade humanas. Agradecemos a compreensão".

¨      Bebês reborn: 'Universo é encantador, mas temos que discernir real do imaginário', diz colecionadora

Há seis anos, a designer Elisângela Sant'Anna aprecia e coleciona a arte reborn. De acordo com os termos utilizados no mercado reborn, a moradora de Brasília se considera "mãe" de 26 bonecas que se assemelham fielmente aos traços humanos.

O número de bonecas "adotadas" por Elisângela já chegou a 36. Por algumas, ela conta que pagou até R$ 5 mil.

"O universo dos bebês reborn é encantador, mas a gente tem que discernir o real do imaginário. Assim como cada ser humano é único, cada bebê também é singular. As mãozinhas, os cílios e os traços, cada boneco é único, mas não deixa de ser um brinquedo", diz Elisângela Sant'Anna.

Elisângela faz referência à polemica que tomou conta das redes sociais, a partir da publicação de conteúdos de "mães reborn" que viralizaram nas redes sociais. São situações em que as bonecas são tratadas como bebês reais, levadas ao médico, amamentadas, ou mesmo "ganham vida" em uma simulação de parto.

"Há quem exagere, o que atrapalha o universo reborn. É evidente que alguns usuários querem tirar a essência da arte e viralizar na internet, porém de forma negativa. Trato meus bebês como se fossem reais, mas não tenho fanatismo", diz Elisângela.

<><> Multa por levar bebê reborn no banco dianteiro do carro

A designer de Brasília, que é mãe de dois filhos, conta que chegou a ouvir comentários negativos da família sobre a "adoção dos bebês", e que as opiniões foram motivo até de sessões de terapia. No entanto, ela diz que aprendeu a lidar com as críticas e a entender o lugar das bonecas na própria vida.

"Tenho um carinho muito grande por eles [os bebês reborn]. Quando chego em casa, de um dia cansativo, e vejo aquele tanto de criancinha me olhando me encho de felicidade. Mas não sou apegada, já cheguei a doar alguns para ajudar amigos", diz a brasiliense.

Elisângela também coleciona situações inusitadas, como quando levou uma multa, expedida pelo Departamento de Trânsito (Detran- DF), por estar com o bebê reborn no banco do passageiro. Mesmo recorrendo, o Detran não considerou a justificativa, diz a designer, que acabou pagando a multa.

<><> O que são os bebês reborn

O termo "reborn" se origina do inglês "renascido", que remete ao processo de customização de bonecas antigas feitas pelas mães inglesas, durante a Segunda Guerra Mundial. Os brinquedos se popularizaram na década de 1990, nos Estados Unidos.

Os bebês hiper-realistas imitam as características de um recém-nascido. Traços como o formato da boca, cílios e mãos delicados são priorizados durante a produção e alguns modelos chegam a ter cabelos humanos.

<><> Por que os bebês reborn viraram polêmica no Brasil

"Mães reborn" passaram a compartilhar nas redes sociais conteúdos polêmicos que acabaram viralizando. O tema também virou pauta de propostas políticas em algumas regiões do país:

•        Em abril, um grupo de mulheres promoveu um encontro de "mães e bebês reborn" no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Após a reunião, repercutiu muito na internet um vídeo publicado em 2022 pela influenciadora Sweet Carol, no qual ela simula o parto de uma bebê reborn.

•        Em 7 de maio, vereadores do Rio de Janeiro aprovaram um projeto para criar o Dia da Cegonha Reborn, que tem o objetivo de homenagear as artesãs que confeccionam as bonecas.

•        No dia 15 de maio, um deputado federal apresentou à Câmara um projeto de lei que prevê multar em mais de R$ 30 mil quem usar bebê reborn para furar filas no Brasil. Na mesma data, outros dois parlamentares apresentaram propostas referentes ao tema.

•        Também em 15 de maio, a prefeitura de Curitiba divulgou um alerta dizendo: "Mães de bebê reborn não têm direito ao banco preferencial".

<><> Mercado de bebês reborn no Distrito Federal

Há 10 anos, a brasiliense, Michelly Souza, abriu uma loja na região do Gama para vender a arte reborn. Ela conta que conheceu o trabalho em 2003 e que seis anos depois fez um curso para aprender a fazer as bonecas.

Desde o início, a ideia era customizar os brinquedos para uso próprio, diz ela. No entanto, ela conta que as bonecas chamavam tanta atenção que ela acabou conquistando clientes em um ramo onde não imaginava empreender.

"Eu trabalhava com roupas, mas a procura por bebês reborn era tão grande que eu deixei de me dedicar ao vestuário e resolvi abrir uma loja. Além da loja física, sempre vendi de forma online, o que me ampliou as oportunidades", diz Michelly.

 

Fonte: Terra/g1

 

Nenhum comentário: