sábado, 31 de maio de 2025

Mutação genética em esperma doado espalha câncer hereditário em 8 países da Europa

O esperma de um homem portador de uma mutação genética rara ligada ao câncer foi usado para conceber dezenas de crianças em oito países da Europa. Após anos da doação, crianças passaram a desenvolver câncer e os pais buscaram os laboratórios de fertilização, que descobriram o caso.

O homem fez a doação do esperma em 2008 e, entre esse período e 2015, o material foi utilizado por 47 famílias. Dessas tentativas, nasceram 67 crianças, e dez delas já receberam diagnóstico de câncer, incluindo casos de leucemia e linfoma não Hodgkin.

O caso está sendo relatado por especialistas em genética humana, que pedem mais regras para os processos de fertilização. Em uma conferência realizada na semana passada, em Rouen, na França, especialistas alertaram para o risco de disseminação anormal de doenças hereditárias.

•        Entenda o caso

A história veio à tona quando duas famílias entraram em contato com as clínicas de fertilidade onde fizeram os procedimentos, relatando que os filhos haviam sido diagnosticados com um tipo de câncer ligado a uma variante genética rara.

Com o relato, a clínica solicitou a análise genética do doador. Esse tipo de triagem é feito antes da doação, mas, nesse caso, a variante que causou a doença ainda era desconhecida na época.

➡️ Após a nova análise, o Banco Europeu de Esperma, que havia fornecido o material, confirmou que a variante em um gene chamado TP53 estava presente em parte do esperma do doador.

O TP53 fornece instruções para a produção de uma proteína supressora de tumores, impedindo que as células cresçam e se dividam muito rápido ou de forma descontrolada.

As alterações nesse gene causam a síndrome de Li-Fraumeni, uma das predisposições hereditárias mais graves ao câncer e ligada a tumores em crianças e adolescentes.

➡️ A variante foi encontrada em 23 crianças, 10 das quais foram diagnosticadas com câncer, incluindo casos de leucemia e linfoma não Hodgkin.

<><> O que está sendo feito com as crianças

As crianças que foram detectadas com câncer estão passando por tratamento.

Após a descoberta do caso, todos os filhos gerados com o esperma que continha essa mutação estão passando por uma bateria de exames genéticos para o rastreio da doença e sendo acompanhadas por especialistas.

<><> O alerta dos especialistas

O que os especialistas alertam é que é preciso endurecer as regras sobre a “migração” internacional de esperma. Nesse caso, há pelo menos 48 famílias afetadas em oito países diferentes, o que pode causar uma disseminação anormal de doenças hereditárias.

Atualmente, as leis sobre doação de esperma variam entre os países europeus. Bancos de esperma privados geralmente limitam a doação de um mesmo doador a até 75 países no mundo.

➡️ Pela lei francesa, há um limite de dez nascimentos por doador. No entanto, pode haver até 15 nascimentos na Alemanha e na Dinamarca. No Reino Unido, o mesmo doador pode ser usado por 12 e 10 famílias, respectivamente. Em nível europeu ou internacional, isso pode representar um número elevado de nascimentos.

O caso foi relatado na França, onde há crianças concebidas com o gene. Pesquisadores do país alertam que é necessário estabelecer regras mais rígidas e um melhor controle da importação de esperma para garantir um limite de nascimentos.

“Precisamos de regulamentação adequada em nível europeu para tentar evitar que isso aconteça novamente e para implementar medidas que garantam um limite mundial no número de descendentes concebidos do mesmo doador”, disse Edwige Kasper, especialista em predisposição genética ao câncer no Hospital Universitário de Rouen, na França.

•        O que é glioblastoma, câncer que vitimou influenciadora aos 19 anos

A influenciadora Anna Grace Phelan morreu aos 19 anos em decorrência de um câncer cerebral em estágio terminal. O anúncio foi feito no sábado (24) pela família da norte-americana, que deixou uma mensagem na conta dela no TikTok.

Anna Grace foi diagnosticada em setembro do ano passado com glioblastoma, um tumor agressivo e incurável, e mostrava sua rotina de cuidados nas redes sociais.

O glioblastoma é um tipo de câncer que surge com o crescimento de células no cérebro ou na medula espinhal. Esse tipo de tumor pode ocorrer em qualquer idade, apesar de ser mais comum em adultos mais velhos.

Os sintomas do glioblastoma incluem dor de cabeça, principalmente pela manhã, náuseas e vômitos, confusão ou dificuldade para compreensão de informações, perda de memória, mudanças de comportamento, irritabilidade, alterações na visão, dificuldade de fala, fraqueza muscular, problemas de equilíbrio ou coordenação e convulsões.

De acordo com a Mayo Clinic, organização sem fins lucrativos da área de serviços médicos e de pesquisas médico-hospitalares dos Estados Unidos, a causa do glioblastoma ainda não é conhecida, mas entre os fatores de risco estão o envelhecimento, exposição à radiação e síndromes hereditárias.

<><> Novo estudo descobre como proteína afeta crescimento de células de câncer

Um estudo publicado recentemente na revista Oncotarget descobriu como uma proteína chamada p53 pode impactar no crescimento de células cancerígenas e na resistência de tratamentos para o câncer. A descoberta abre novas possibilidades para o desenvolvimento de terapias eficazes contra uma série de tumores, incluindo o colorretal, que representa 10% de todos os tipos de câncer no mundo.

No trabalho, pesquisadores do Sidney Kimmel Comprehensive Cancer Center e da Johns Hopkins University School of Medicine estudaram a proteína p53, conhecida como proteína protetora do código genético humano.

Essa proteína desempenha um papel importante na prevenção do câncer, interrompendo o crescimento celular descontrolado. No entanto, muitos cânceres sofrem mutação ou suprimem a ação da p53, permitindo que tumores se desenvolvam ou resistam ao tratamento.

No estudo, pesquisadores restauraram a função da proteína p53 em células de câncer colorretal, o que levou a um crescimento celular mais lento, aumento do envelhecimento celular (senescência) e maior sensibilidade à radioterapia. Essas descobertas sugerem que o status da proteína p53 influencia a progressão do câncer e a resposta ao tratamento, tornando-a um alvo promissor para novas terapias.

Para Pedro Morgan, radiologista especialista em imagem oncológica na CDPI, a resistência ao tratamento é um dos maiores desafios na luta contra o câncer. A pesquisa sugere que, ao restaurar ou ativar a função da p53 em células tumorais, seria possível não apenas retardar o crescimento do tumor, mas também tornar as células mais vulneráveis aos métodos tradicionais, como a radioterapia.

“Esse estudo oferece uma nova perspectiva no tratamento do câncer, destacando o papel da p53 na regulação do carcinoma e como sua restauração pode melhorar os resultados das terapias, especialmente quando os tumores já adquiriram resistência. E ao associar essa evolução genômica aos exames de imagem, como a ressonância magnética e a tomografia computadorizada, para acompanhamento da resposta terapêutica do tumor colorretal, podemos observar inclusive a resposta das células em nível molecular, permitindo uma personalização terapêutica”, afirma Morgan.

O trabalho também examinou as células hTERT-RPE1, um tipo de célula humana não cancerosa utilizada em pesquisas. Quando o gene TP53 foi rompido nessas células, elas cresceram mais rapidamente e se tornaram mais resistentes à radiação, reforçando a ideia de que a proteína p53 ajuda a prevenir o crescimento cancerígeno.

O estudo identificou ainda dois novos genes regulados pela p53 que podem ser importantes para novos tratamentos. O primeiro, ALDH3A1, ajuda a desintoxicar substâncias nocivas e pode afetar a resistência das células cancerígenas ao estresse oxidativo. A segunda, NECTIN4, é uma proteína encontrada em muitos casos agressivos, incluindo os de bexiga e mama.

“Com resultados como esses, é possível indicar tratamentos e medicamentos mais adaptados às características genéticas e moleculares de cada tumor. Ao entender como diferentes tumores atuam na p53 e em outras células, conseguimos criar abordagens terapêuticas mais eficazes, minimizando os efeitos colaterais e melhorando a qualidade de vida dos pacientes”, afirma Gustavo Guida, geneticista do laboratório Sérgio Franco.

•        O que é estar em remissão do câncer? Entenda estágio e relação com a cura

Recentemente, casos de remissão de câncer de personalidades da mídia como a modelo Vera Viel, 49, e a influenciadora Isabel Veloso, 18, despertaram dúvidas e interesse sobre o que realmente significa o estágio.

O termo, frequentemente associado a uma boa resposta ao tratamento, nem sempre é sinônimo de cura.

"Para se tornar cura, eu preciso ficar cinco anos sem sinal da doença", explicou Veloso nos stories do Instagram. Vera Viel, esposa de Rodrigo Faro, relatou que segue em remissão do câncer após realizar novos exames. "Continuo em remissão do câncer para toda honra e toda glória de Deus".

"Em termos de fácil entendimento, a remissão pode ser parcial ou completa, temporária ou permanente. Isso significa que os sinais e sintomas do câncer estão reduzidos ou ausentes", explica Ramon Andrade de Mello, médico oncologista do Centro Médico Paulista High Clinic Brazil e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia.

"A remissão parcial tem muita relação com a regressão da doença, ou seja, ela é a diminuição do tamanho de um tumor ou da extensão da doença no corpo, em resposta ao tratamento, o que diminui também os sintomas", complementa o profissional. "Já a remissão completa é o desaparecimento de todos os sinais da doença em resposta ao tratamento. Isso nem sempre significa que o câncer foi curado, mas é uma boa notícia."

O médico explica que a cura realmente significa permanecer em remissão completa por cinco anos ou mais.

“Mesmo assim, algumas células cancerosas podem permanecer no corpo, por isso o acompanhamento médico é importante", esclarece. “O mais importante para pensarmos em cura para o câncer é diagnosticar precocemente a doença. A cura também está atrelada ao tipo de tumor, de forma que alguns são mais agressivos e com maiores chances de metástases que outros. E existem alguns tumores que têm altas taxas de cura, até mesmo quando diagnosticados em fases avançadas", diz o especialista.

É necessário acompanhamento médico regular ainda após o tratamento do câncer, segundo o oncologista. “O objetivo é detectar a possibilidade de recidiva ou novos problemas. Essas consultas médicas regulares acontecem independentemente dos sintomas. O paciente passa por exames físicos e outros que podem incluir análises laboratoriais e de imagem”, conclui Ramon.

 

Fonte: g1/CNN Brasil

 

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