Quer
viver por mais tempo e com saúde? Siga estas 7 regras simples respaldadas pela
ciência
Há
muito tempo os seres humanos tentam enganar a morte. E, nos últimos 40 anos,
essa obsessão coletiva pela longevidade levou a descobertas científicas
marcantes e a um setor antienvelhecimento em expansão.
Os
cientistas estão buscando novas intervenções para voltar no tempo, enquanto os
biohackers preocupados com a saúde estão se voluntariando como ratos de
laboratório – tomando medicamentos como a rapamicina e infusões de plasma de
“sangue jovem” na esperança de permanecerem eternamente jovens. Anualmente, um
estadunidense médio gasta mais de 6 mil dólares em ações de bem-estar.
Dentro
desse cenário, pode-se dizer que esses pesquisadores estão mais perto do que
nunca de decifrar o código do envelhecimento, mas o campo mais amplo da
longevidade está repleto de desinformação. Para esclarecer as coisas, o
nova-iorquino Eric Topol, cardiologista pioneiro e um dos cientistas mais
citados do mundo como referência na área, escreveu seu livro “Super Agers: An
Evidence-Based Approach to Longevity” (“Super Idosos: Uma Abordagem à
Longevidade Baseada em Evidências”, em tradução livre).
“A
ciência nos mostrou que é possível reverter o envelhecimento, e não apenas
prolongar a vida útil”, diz Topol, fundador e diretor do Scripps Research
Translational Institute (um centro de pesquisa científica que fica na
Califórnia, Estados Unidos). “Embora a ciência esteja avançando em alta
velocidade, os predadores também estão chegando, vendendo produtos ou serviços
que não foram comprovados, que são potencialmente perigosos ou que são um
desperdício de dinheiro.”
Em uma
conversa com a National Geographic, ele discute a tecnologia que está
revolucionando a maneira como envelhecemos, a pseudociência generalizada que
está se espalhando pelo movimento da longevidade e os “biohacks” mais poderosos
que podem transformar sua saúde.
Em um
mar de “especialistas” charlatães e influenciadores do bem-estar que lucram com
nosso medo da morte, Topol oferece um guia baseado em evidências para
envelhecer bem.
1.
Lembre-se de que os genes não são seu destino
Se o
histórico médico da sua família estiver repleto de doenças devastadoras, como
câncer, doenças cardíacas ou Alzheimer, seus genes podem parecer uma sentença
de morte. Mas, de acordo com Topol e dados longitudinais abrangentes, a
genética é responsável por apenas 20% da longevidade humana. Os outros 80%?
Escolhas de estilo de vida, circunstâncias do dia a dia e fatores ambientais.
“O
envelhecimento saudável não se trata, em grande parte, de uma história
genética”, diz Topol. “Você tem muito poder.”
Muitas
pessoas não adotam estilos de vida saudáveis porque têm uma atitude fatalista
em relação a sua herança genética, diz Topol. Mas as evidências sugerem que, se
as pessoas adotarem certos hábitos respaldados por dados (como os detalhados
abaixo), elas podem ganhar pelo menos cinco a sete anos a mais de vida
saudável, livre de doenças relacionadas à idade.
2. O
exercício é o “biohack” mais potente conhecido pela humanidade
Da
mídia social aos livros de autoajuda, os biohacks são abundantes.
Os
influenciadores, por exemplo, recomendam experimentar regimes de suplementos,
crioterapia, ressonâncias magnéticas de corpo inteiro, gotejamento intravenoso
de NAD+ (trata-se de dinucleotídeo de nicotinamida adenina, um suplemento que
costuma ser associado ao “rejuvenescimento”) e tratamentos com células-tronco,
para citar alguns.
A
maioria deles tem um preço elevado, mas as estratégias antienvelhecimento
realmente eficazes não precisam ser caras.
“O
exercício é nossa melhor defesa contra doenças relacionadas à idade”, diz
Topol. Algumas estimativas sugerem que um minuto de exercício vale cinco
minutos de vida saudável; sete minutos para exercícios de treinamento
intervalado de alta intensidade (HIIT). Ser ativo – definido como uma caminhada
rápida de pelo menos 150 minutos por semana – está associado a uma vida extra
de 4,5 anos.
Topol
diz que o exercício é tão eficaz porque tem um impacto positivo em uma
infinidade de sistemas corporais: coração, cérebro, pâncreas, músculo
esquelético, trato gastrointestinal, fígado, gordura corporal, microbioma
intestinal e vasos sanguíneos periféricos. Foi demonstrado que ele reduz a
inflamação e a mortalidade por todas as causas ao longo da vida.
Para
maximizar os benefícios, no entanto, é preciso ir além dos exercícios aeróbicos
e incorporar o treinamento de força à sua rotina. Levantar pesos ajuda a evitar
a perda óssea, preservar os músculos, melhorar o equilíbrio, diminuir a
inflamação e reduzir a dor nas articulações.
Topol
sugere cerca de 150 minutos por semana ou mais de atividade física moderada,
como dança ou ioga (ou 75 minutos ou mais de atividade física vigorosa, como
natação) e treinamento de resistência pelo menos duas vezes por semana. Se você
não puder ir à academia, faça alguns “lanches” de exercícios, como flexões,
sentar-se na parede ou fazer lunges ao longo do dia.
3. Siga
esta dieta baseada em evidências para obter longevidade
Um
padrão alimentar supera os outros em termos de envelhecimento saudável: a dieta
mediterrânea. Essa dieta consiste em “comer o arco-íris”, consumindo muitas
frutas, vegetais, grãos integrais, legumes, proteínas magras e gorduras
saudáveis.
Diversos
estudos nutricionais, inclusive um publicado na revista científica “Nature” em
março de 2025, mostram que esse caleidoscópio de alimentos ricos em nutrientes
e minimamente processados reduz a inflamação, diminui o colesterol, melhora a
pressão arterial e ajuda no controle da glicose.
Com o
passar do tempo, a alimentação mediterrânea reduz o risco de algumas das
principais doenças fatais, como doenças cardíacas, câncer, diabetes e
Alzheimer.
Quanto
à quantidade de proteína magra necessária, Topol recomenda cerca de 1,2 gramas
de proteína por quilograma de peso corporal, o que, segundo ele, é inferior à
ingestão superalta de proteína comum nos círculos de biohacking.
E
existe um grupo de comida a ser evitada? Os alimentos ultraprocessados – que no
caso dos Estados Unidos representam 60% da ingestão diária de energia dos
americanos, diz Topol.
Esses
alimentos, que dominam as prateleiras dos supermercados, têm sido associados a
mais de 30 problemas de saúde, principalmente doenças cardíacas, diabetes tipo
2 e problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade.
Eles
não apenas excluem os nutrientes benéficos em nossos pratos, mas os alimentos
ultraprocessados também podem causar danos diretos por meio de inflamação,
perturbação do microbioma intestinal e picos de açúcar no sangue. Cozinhar em
casa e trocar alimentos embalados por outros minimamente processados pode
ajudar a evitar esses efeitos.
O jejum
intermitente e a restrição calórica simples também se mostram promissores no
aumento da vida útil, principalmente em estudos com animais. Mas os cientistas
ainda não descobriram os efeitos exatos em seres humanos, portanto, essas
abordagens ainda não são amplamente recomendadas.
4.
Durma – e profundamente
O sono
permite a renovação biológica, ajudando o cérebro e o corpo a se recuperarem
das atividades realizadas durante as horas de vigília. Porém, à medida que
envelhecemos, tendemos a dormir menos – e isso tem um custo alto.
Alguns
especialistas sugerem que a falta de sono altera fundamentalmente o mecanismo
biológico do envelhecimento, deixando fora de sintonia a configuração interna
de restauração e reparo do nosso corpo.
Dormir
demais ou de menos pode provocar efeitos colaterais que incluem um risco maior
de morte prematura, problemas cardíacos, câncer, diabetes tipo 2, problemas
imunológicos, obesidade, mal de Alzheimer, pressão alta, derrame e piora da
saúde mental – decorrentes de perturbações metabólicas, celulares e hormonais.
Enquanto
dormimos, o sistema glinfático do cérebro também elimina as toxinas e os
resíduos metabólicos. Sem descanso profundo suficiente, os subprodutos tóxicos
permanecem e podem aumentar o risco de doenças cerebrais.
Para
dormir melhor, Topol recomenda manter uma programação consistente de sono e
vigília, visando a sete horas por noite, além de praticar exercícios
regularmente e não comer muito perto da hora de dormir.
5. Use
seus “músculos sociais” – ou seja, evite a solidão
A
solidão não prejudica apenas a mente; ela pode encurtar nossas vidas.
Evidências crescentes sugerem que o isolamento social pode ser tão perigoso
quanto fumar meio maço de cigarros por dia. Ele está associado a um risco maior
de doenças cardiovasculares, demência, derrame, depressão, ansiedade e morte
precoce.
“Os
seres humanos dependem da conexão social”, diz Topol. “Mas à medida que
envelhecemos, muitas vezes 'entramos em uma caverna' e nos isolamos
socialmente, o que está associado a resultados ruins.”
Manter
relacionamentos sólidos – mesmo que seja apenas com uma ou duas pessoas – ajuda
a combater o estresse crônico, que pode nos deixar doentes. A conexão também
pode ajudar a melhorar a autoestima e a automotivação, dois fatores que
contribuem para hábitos mais saudáveis.
Topol
aconselha sair para a natureza, escolher um hobby ou participar de música ou
artes com outras pessoas – atividades que também promovem a longevidade.
6.
Evite os agressores tóxicos externos
Além de
adicionar hábitos saudáveis, é fundamental cortar os ruins, como fumar e beber.
As
maiores ameaças ambientais a serem evitadas? Poluição do ar, toxinas como
pesticidas, microplásticos e produtos químicos para sempre. Esses fatores são
sorrateiramente difundidos, portanto, evitá-los pode parecer uma batalha
impossível.
Mas
pequenas mudanças fazem a diferença: Topol sugere trocar o plástico de sua
cozinha por alternativas de vidro ou madeira, usar purificadores de ar e
filtros de água e comprar produtos orgânicos.
Enquanto
isso, evite produtos ou serviços não testados e cuja eficácia não tenha sido
comprovada. Até 2030, o mercado de longevidade deverá atingir 44,2 bilhões de
dólares. As pessoas estão desesperadas por maneiras de se sentirem melhor, o
que as torna os principais alvos dos empreendedores voltados para a
longevidade; 95% dos americanos com mais de 60 anos têm pelo menos uma doença
crônica.
“As
empresas de longevidade são muito boas em promoção, marketing e uso da mídia
social para negar a verdade, as evidências e os dados”, diz Topol. “A
comunidade médica perdeu a confiança das pessoas, e a única maneira de
recuperá-la com o tempo é ter evidências convincentes que superem a
pseudociência.”
Topol
adverte para ter cuidado ao avaliar hacks de bem-estar sem evidências sólidas,
incluindo vitaminas e suplementos. Em vez disso, concentre-se nas tecnologias
emergentes, nas mudanças de estilo de vida e nos tratamentos que são
respaldados pela ciência.
7.
Aproveite a revolução tecnológica da longevidade
Armados
com inteligência artificial, big data e bilhões de dólares em financiamento de
pesquisa, cientistas acadêmicos e startups de longevidade estão buscando
inúmeras inovações para desbloquear o envelhecimento.
Os
cientistas estão em vários estágios de desenvolvimento de técnicas de previsão
médica mais precisas, como os “relógios de órgãos”, que detectam e previnem
doenças muito antes do aparecimento dos sintomas.
Ou os
novos medicamentos para eliminar células “zumbis” que causam inflamação;
imunoterapias que ajustam a função imunológica para combater melhor as doenças
e reprogramação epigenética para tornar as células antigas jovens novamente.
Também
há evidências de que os medicamentos GLP-1 para perda de peso podem ajudar a
reduzir algumas das condições mais intratáveis da humanidade relacionadas à
idade.
Essa
revolução tecnológica deixa Topol “muito otimista” em relação ao futuro de
nossa saúde coletiva.
“Vamos
progredir contra as doenças relacionadas à idade como nunca vimos antes”, diz
Topol. “E não precisamos reverter o envelhecimento. Só precisamos identificar
quem está em risco, colocá-los em trilhas de vigilância e nos antecipar à
doença-alvo.”
Embora
talvez não vejamos o fim das doenças nas próximas duas décadas, como alguns
preveem, podemos envelhecer com mais saúde do que nunca.
E não
precisamos esperar que essas tecnologias cheguem ao mercado – fazer mudanças no
estilo de vida agora pode acrescentar anos saudáveis à nossa existência. Muitas
das doenças mais devastadoras do envelhecimento levam mais de 20 anos para se
instalarem, portanto, nunca é cedo ou tarde demais para começar.
Fonte:
National Geographic Brasil

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