sábado, 31 de maio de 2025

Canja, chás e vitamina C: o que realmente funciona para combater resfriado?

A temporada de frio está chegando e, com ela, o maior risco de infecções respiratórias, como resfriado, gripe e Covid-19. É nesse período que receitas e remédios caseiros se popularizam e passam a ser mais frequentes nas casas das pessoas, como a canja, chás, sucos com própolis ou alho, entre outras "iguarias". Mas será que elas realmente funcionam?

De acordo com o otorrinolaringologista Bruno Borges de Carvalho Barros, bebidas quentes, como chás e leite, podem ajudar a trazer uma sensação de conforto e alívio aos sintomas do resfriado. No entanto, não apresentam efeitos diretos ao processo infeccioso.

"Não há evidências de que qualquer tipo de chá tenha alguma propriedade diretamente sobre os sintomas. O efeito principal é promovido pela hidratação e pelo alívio da congestão pelo vapor", explica Barros. "No entanto, o chá de camomila é associado ao relaxamento, o de hortelã à sensação de frescor nas narinas, e o de gengibre ao alívio da dor local", acrescenta.

Outros chás, como o verde, também podem ajudar na hidratação e a fortalecer a imunidade, de acordo com o nutrólogo Mateus Drumond.

"O chá-verde é rico em catequinas, com propriedades antioxidantes e potencial imunomodulador. Ou seja, pode ajudar a fortalecer a imunidade e fornecer hidratação", afirma à CNN.

O especialista ressalta que é importante evitar adicionar açúcar, que pode promover inflamação, no preparo dos chás. "Mel, em pequenas quantidades, pode ser usado por suas propriedades antimicrobianas, mas deve ser evitado em dietas Fodmap [que restringe o consumo de alguns tipos de carboidratos]", afirma.

<><> Sopas e canjas ajudam?

Assim como as bebidas quentes, alimentos como sopas e canjas podem ajudar a promover o conforto e o alívio temporário dos sintomas da gripe e do resfriado, mas não possuem propriedades diretas contra a infecção.

"O alívio ocorre por mecanismos de suporte, como hidratação, conforto térmico e propriedades anti-inflamatórias de alguns ingredientes", afirma Drumond.

O nutrólogo explica que a canja de galinha pode promover efeitos anti-inflamatórios leves devido a compostos liberados durante o cozimento -- como a cisteína, presente no frango. "Já o calor da sopa ajuda a aliviar a congestão nasal, melhora a hidratação e fornece eletrólitos (como o sódio do sal), importantes durante a infecção", afirma.

No entanto, o especialista reforça: essas receitas podem ajudar a aliviar sintomas, mas não eliminam o vírus. "A hidratação e o repouso são os principais benefícios", reitera.

<><> O alho realmente ajuda a combater a infecção?

Outro ingrediente muito presente em receitas caseiras contra gripe e resfriado é o alho. No entanto, também faltam evidências científicas robustas que suportem os efeitos do alimento no combate à inflamação.

"Há poucos estudos e estes são baseados no alho em forma de suplemento. O cozimento dele pode reduzir sua eficácia", afirma Barros.

Nesses poucos estudos, o benefício do alho pode estar relacionado a um composto chamado alicina, que possui propriedades antimicrobianas e imunomoduladoras. Porém, mais estudos são necessários para demonstrar a eficácia do ingrediente na prevenção e combate a infecções.

<><> Suplementação de vitamina C funciona? Quando é necessária?

Suplementos de vitamina C também costumam se popularizar nessa época do ano. No entanto, a necessidade de suplementar esse nutriente pode variar de uma pessoa para outra.

"A suplementação de vitamina C tem efeito preventivo limitado na população geral, mas pode ser eficaz em pessoas sob estresse físico intenso, como, por exemplo, atletas", explica Drumond. Mesmo nesses casos, o nutrólogo afirma que é importante priorizar fontes alimentares da vitamina, como acerola, caju, laranja, kiwi, tomate, brócolis e espinafre, por exemplo.

Vale ressaltar, porém, que a suplementação de vitamina C tem pouco efeito para combater uma infecção respiratória já ativa, segundo Barros.

Além da vitamina C, outros nutrientes podem ser interessantes no combate às infecções respiratórias, como a vitamina D, que regula a resposta imune adaptativa, de acordo com Drumond, e a vitamina A, essencial para a integridade das mucosas na barreira contra os vírus.

A vitamina E também exerce um papel importante na proteção das células imunológicas. No caso dos minerais, temos o ferro, selênio e magnésio como participantes da resposta imune.

"No entanto, é importante ressaltar que somente em casos de baixa ingesta ou absorção a reposição se torna necessária", afirma Barros. "O importante é ter uma dieta equilibrada que já vai nos suprir com as vitaminas e minerais necessários", finaliza.

•        Influenza A é a principal causa de mortes por SRAG em idosos no Brasil

O boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgado na quinta-feira (15) faz uma alerta sobre o vírus da influenza A, causador da gripe, que se tornou a principal causa de mortalidade por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em idosos e uma das três principais causas de óbitos entre as crianças.

Foi registrado também um aumento nas hospitalizações por influenza A em diversas partes do país, com níveis moderados a altos de incidência em estados do Centro-Sul e nas regiões do Norte e Nordeste.

Em alguns estados das regiões Centro-Oeste e Sudeste, o número de casos de SRAG em crianças pequenas, associado ao Vírus Sincicial Respiratório (VSR) vem apresentando sinais de desaceleração ou até de reversão.

“Apesar disso, ainda não é o momento de relaxar os cuidados nessas regiões, já que a incidência de casos continua alta ou moderada”, avalia a pesquisadora do InfoGripe Tatiana Portella.

A especialista chama a atenção que a mortalidade por SRAG nas crianças pequenas se aproxima da observada nos idosos. A principal causa de mortalidade por SRAG nos idosos é o vírus da influenza A, seguida pela Covid-19. Já nas crianças, o VSR permanece como a principal causa de mortalidade por SRAG, seguido pelo rinovírus e pela influenza A.

Tatiana Portella orienta que as pessoas dos grupos mais vulneráveis se vacinem contra o vírus da influenza o quanto antes. Os pesquisadores do InfoGripe reforçam que a vacina é a ação mais eficaz para prevenir hospitalizações e mortes causadas pela doença.

“Além disso, reforçamos a importância do uso de máscaras em unidades de saúde, locais com maior aglomeração de pessoas e, principalmente, em caso de aparecimento de sintomas de gripe ou resfriado”, alertou a pesquisadora.

<><> Casos de SRAG

O boletim mostra sinal de aumento de casos de SRAG em diversos estados, tanto nas tendências de longo prazo (últimas 6 semanas) quanto nas de curto prazo (últimas 3 semanas). Esse cenário se deve ao crescimento de SRAG nas crianças pequenas, associado principalmente ao VSR, e na população de jovens, adultos e idosos, associado ao vírus da influenza A.

O VSR mantém uma incidência expressiva tanto de incidência quanto de mortalidade por SRAG em crianças pequenas. Outros vírus de destaque nessa faixa etária são o rinovírus e a influenza A. A influenza A, além de ser a principal causa de mortalidade por SRAG entre os idosos, é uma das três principais razões de óbitos por SRAG em crianças pequenas.

<><> Estados

Ao todo, 15 das 27 unidades da federação apresentam incidência de SRAG em nível de alerta, risco ou alto risco, com sinal de crescimento na tendência de longo prazo: Acre, Amazonas, Bahia, Ceará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins.

Outros oito estados também apresentam incidência de SRAG em níveis de alerta, risco ou alto risco, porém sem sinal de crescimento de longo prazo: Amapá, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Pará, Sergipe e Rio Grande do Norte.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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