Argentina
não tem cálculo de inflação coerente, diz economista
O
economista Fidel Lerner, consultor financeiro argentino residente no Brasil, analisou
alguns aspectos dos primeiros meses do governo do ultradireitista Javier Milei.
A Opera Mundi, o especialista disse que na Argentina não é um cálculo de
inflação “coerente”, que a base do que utilizado vem de uma fórmula de 2004,
ainda governo de Néstor Kirchner, “quando muitos serviços básicos (gás, luz e
água) eram subsidiados”.
Entre
os temas mais importantes abordados na conversa está o sucesso midiático do
mandatário argentino e a estabilidade da sua imagem segundo as pesquisas,
apesar dos muitos protestos contra o seu governo nas últimas semanas. De acordo
com Lerner, “do ponto de vista comunicacional, Milei é muito eficiente”.
“O
Milei é uma figura que ganhou notoriedade como comentarista de economia em
programas de celebridades, ele não falava de economia seriamente. Falava
bobagens em programas de debate que não exigiam conhecimento mais aprofundado,
e para um público que também não era muito exigente”, recorda o economista.
A
capacidade do presidente argentino de lidar com os meios explicaria como ele
consegue vender a imagem de alguém que conseguiu domar a inflação no país,
apesar de que, na prática, Lerner considera que essa versão “é uma falácia”.
Leia
a entrevista:
·
muitos meios de imprensa do Brasil afirmam que o governo
de Milei na Argentina é um grande sucesso, que estaria recuperando
economicamente o país e conseguindo resultados, especialmente no combate à
inflação. O que tem de mito e de verdade nessa narrativa?
Fidel
Lerner: o
Milei mudou muita coisa na Argentina, e o relato que nós vemos na imprensa
daqui se agarra nesse preceito, de que o Milei mudou muita coisa, levou a
doutrina neoliberal à sua máxima expressão. Mas ele não mudou o essencial.
Continua sendo uma economia capitalista, extremamente dependente da exportação
de commodities.
A
questão da inflação na Argentina é uma falácia, porque não há um cálculo de
inflação que seja coerente. Ela é medida através de uma cesta básica cujo
padrão é o mesmo desde 2004.
Por
exemplo, o cálculo da inflação segundo essa cesta padrão de 2004 considera que
o peso de serviços básicos como luz, água e gás correspondem a 5% do gasto
familiar dos argentinos. Esse cálculo foi estabelecido em um tempo onde esses
serviços eram subsidiados pelo governo, estamos falando do período em que do
Néstor (Kirchner, presidente da Argentina entre 2002 e 2007).
Porém,
é preciso lembrar que o governo do (Mauricio) Macri (2015 e 2019), acabou com
esses subsídios. A eletricidade teve um aumento acima de 700% nesse período. A
água e o saneamento básico subiram mais de 500%, e o gás, mais 400%.
No
governo do (Alberto) Fernández (2019 e 2023), se recuperou parte daqueles
subsídios, mas não tudo. Só que com o Milei, os subsídios voltaram a cair e os
serviços voltaram a ter aumentos enormes.
Com
tudo isso significa o gasto familiar com esses serviços passou a ser de mais de
30% da renda familiar, mas o peso disso no cálculo da inflação é de apenas 5%.
Ou seja, o cálculo da inflação durante o governo Milei não está considerando
corretamente os aumentos que mais tiveram peso na vida dos argentinos durante o
seu governo.
Ainda
assim, houve uma certa contenção em outros preços. O problema é o preço que se
pagou por essa contenção dos preços.
·
Qual foi o preço que se pagou?
Uma das
consequências foi o aumento brutal do desemprego no país, que teve aumento de
mais de 10% durante o primeiro ano de governo, especialmente após a aprovação
da Lei de Bases. As aposentadorias, que representam uma parte importante da
renda de muitas famílias na Argentina, perderam mais de 20% dos seus
rendimentos. Por isso as grandes marchas que têm
sacudido o país este ano começaram com protestos dos aposentados, que depois passaram
a ser apoiados por outros setores.
Atualmente,
mais de 70% dos aposentados da Argentina recebem o valor mínimo, que não cobre
o gasto mensal, ainda mais considerando que o governo também cortou subsídios
para medicamentos de uso contínuo, o que é muito importante para essas pessoas
que, em muitos casos, dependem desses remédios.
Existem
outros índices indicando um aumento da pobreza, mas esse é um tema controverso,
porque o governo sabe como manipular alguns índices que medem a pobreza, não
todos, mas só com o aumento do desemprego e da situação dos aposentados, além
do aumento das contas em serviços básicos de água, luz e gás, nós já podemos
ver um panorama ruim para o cidadão comum.
·
Como explicar então os índices de popularidade do seu
governo?
Do
ponto de vista comunicacional, o Milei é muito eficiente. Ele nasceu nesse
meio. Milei é uma figura que ganhou notoriedade como comentarista de economia
em programas de celebridades, ele não falava de economia seriamente. Falava
bobagens em programas de debate que não exigiam conhecimento mais aprofundado,
e para um público que também não era muito exigente.
Mesmo
agora como presidente ele mostra que sabe
usar essa estratégia.
No começo do governo, a inflação ainda estava muito alta, mas para dizer que
isso não era culpa das suas políticas, ele disse que suas medidas teriam,
supostamente, impedido o país de cair em uma inflação de mais de 10.000%.
O
cálculo dele foi absurdo, uma conta de estúpido. Normalmente, o parâmetro para
você projetar uma possível evolução da inflação é pegar um índice mensal,
multiplicar por 12 e projetar a inflação do ano a partir disso.
Mas ele
justificou a suposta inflação de 10.000% dizendo que teria calculado a inflação
de um dia e multiplicado por 365. Não existe inflação de um dia, nenhum
economista sério aceita um cálculo desses. Mas do ponto de vista
comunicacional, isso funciona.
Esse é
só um exemplo. Há outros casos em que ele dá declarações terríveis, até
vergonhosas para alguém que se diz especialista em economia, mas ele se agarra
na imagem que construiu na televisão. Muita gente que via seus programas
acredita mesmo que ele é um gênio da economia, e essas pessoas não têm
capacidade de questionar esses absurdos que ele diz, como o da inflação de
10.000%.
·
Milei prometeu, em seus primeiros meses de mantado, que
se seu projeto tiver continuidade para além do seu período presidencial, até
2039 a Argentina será uma das maiores economias do mundo. Como você vê o
projeto dele a longo prazo?
O
projeto econômico do Milei tem como objetivo transformar a Argentina num país
exportador de minerais sem valor agregado, exportador de petróleo e gás, e de
alimentos, mas também esses de uma forma limitada. E nada mais que isso.
É um
projeto que não foi pensado por ele, foi encomendado pelos países do hemisfério
norte e pensado para que a Argentina se pareça cada vez mais ao que podemos
chamar de uma colônia moderna, não como eram as colônias do passado, ou como a
própria Argentina nos tempos de colônia, porque agora estamos em um sistema
econômico capitalista, mas é pensado com o mesmo sentido, de que as riquezas
são retiradas do país a um preço muito baixo, e o país não recebe nada em
troca, ou recebe muito pouco. A médio ou longo prazo, o efeito disso pode ser
terrível.
·
O governo argentino está fechando um novo acordo de
empréstimo com o FMI, ainda sem ter quitado aquele que foi adquirido pelo
governo do Macri, em 2018. Como isso muda a situação do país e do governo?
Esse
caso se tornou um escândalo, em primeiro lugar, pela forma como esse empréstimo
foi adquirido, através de um decreto presidencial. A Argentina tem uma longa
história de empréstimos com o FMI, longa e triste história, cada um dos
episódios fez o país ficar mais pobre do que quando começou, nenhum deu certo,
e não é surpresa, esses empréstimos não são feitos para que os países se
recuperem, e sim para que eles se tornem mais dependentes economicamente.
Mas neste caso atual existe um
problema:
depois do último empréstimo adquirido pelo Macri, que você mencionou na sua
pergunta, o governo Fernández aprovou uma lei para reforçar os mecanismos que
obrigam o presidente a ter a aprovação do Congresso no caso de pedir um novo
empréstimo em organismos financeiros. As leis já existiam mas foram reforçadas
para casos de empréstimos internacionais, para dificultar casos como o do
empréstimo pedido pelo Macri.
Esse
reforço consistia em estabelecer que, além de necessitar da aprovação do
Congresso, os novos acordos precisavam cumprir ao menos uma de três condições:
diminuir o valor, melhorar os prazos de pagamento ou reduzir os juros sobre o
empréstimo. O acordo que ele fez em março com o FMI não cumpre nenhum desses
requisitos.
Ou
seja, ficou mais difícil para o Milei usar essa mesma opção. Então, ele
apresentou um decreto de urgência para estabelecer que as leis impulsionadas
pelo Fernández não valem especificamente para este novo caso. Como foi um
decreto de urgência, precisou da aprovação de uma das casas legislativas, e
conseguiu o quórum necessário na Câmara dos Deputados.
Estamos
falando em mais de US$ 10 bilhões (R$ 57 bilhões), para um país que já tinha
mais de US$ 40 bilhões (R$ 226 bilhões) adquiridos do empréstimo pedido pelo
Macri no passado.
·
Durante o governo do Alberto Fernández, a Argentina
obteve um crédito de US$ 15 bilhões (R$ 85 bilhões) da China, e o governo
anterior pretendia, a longo prazo, trocar uma dívida com a China por uma com o
Banco do BRICS. Como ficou essa situação depois que o governo do Milei decidiu
se afastar do BRICS e da China?
Os
Estados Unidos enviaram recentemente o seu secretário do Tesouro (Scott
Bessent) à Argentina, para se reunir com a equipe econômica do Milei. O governo
comemorou o fato de ele dizer que pretende voltar no ano que vem, mas, na
realidade, o secretário deixou um recado muito claro e preocupante para a
Argentina: ele disse que, quando voltar, o país deve ter se livrado
definitivamente dessa dívida com a China. E isso não é possível, porque tanto o
governo anterior (de Alberto Fernández) quanto o atual gastaram recursos
daquele crédito.
Também
há muitos investimentos da China na Argentina, incluindo duas represas na
Patagônia e um projeto nuclear que vinha sendo desenvolvido em cooperação com
os chineses. Os avanços em todos esses projetos estão em dúvida com essa
situação.
·
Como você avalia esse distanciamento entre os governos do
Brasil e da Argentina, devido às diferenças entre Lula e Milei? E como isso
afeta a Argentina?
O
Brasil é o maior parceiro comercial da Argentina. O segundo é a China. Os
Estados Unidos ocupam o quarto ou o quinto lugar, não lembro ao certo, mas
certamente é um fluxo de comércio bem abaixo do que temos com os brasileiros e
com os chineses.
Então,
essa prioridade extrema que o governo do Milei dá aos Estados Unidos é
prejudicial, porque as economias dos dois países não são complementares, são
concorrentes. No caso do Brasil, também somos concorrentes em alguns casos, mas
existe uma relação histórica que é benéfica para ambos os países e que precisa
ser preservada.
A
Argentina precisa do Brasil, mas também precisa se livrar dessa política do
Milei de prioridade máxima aos Estados Unidos, que não é boa para a economia do
país, é uma relação na qual o país perde muito mais do que ganha.
¨
ARGENTINA, UM ANO E MEIO DEPOIS DE MILEI. Por Luismi
Uharte
Já se
passou menos de um ano e meio desde que Javier Milei venceu as
eleições presidenciais na Argentina, no final de 2023, supostamente contra
todas as previsões, derrotando o candidato peronista, Sergio Massa, e após ter
eliminado na primeira rodada a candidata da direita tradicional, Patricia
Bullrich. É tempo suficiente para avaliar o que aconteceu até agora:
identificar as chaves de sua vitória, as principais medidas do governo, o apoio
substancial que possui e as perspectivas a médio prazo. Neste primeiro artigo,
vamos abordar dois temas: as chaves de sua vitória e um balanço de seu projeto
de governo.
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Chaves da vitória
Para
entender a vitória de Milei, é preciso destacar que um conjunto de
fatores, alguns conjunturais e outros de caráter mais estrutural, configuraram
uma espécie de tempestade perfeita que possibilitou o triunfo de um candidato
praticamente desconhecido, que liderava um partido novo, alheio ao sistema dos
partidos tradicionais, e que trazia consigo um programa ultra, que a princípio
parecia marginal na centralidade política do país.
Entre
os fatores conjunturais destacam-se especialmente dois: a alta inflação e os
efeitos da pandemia. Ambos configuraram uma bomba-relógio em um contexto de
grande mal-estar social após os dois últimos governos: o
de Macri (direita convencional) e o de Alberto Fernández (progressista-peronista).
A profunda decepção que o mandato de Fernández provocou no campo progressista,
como indicam diversas pessoas entrevistadas, abriu a porta para a chegada do
partido de Milei, La Libertad Avanza.
A alta e crescente
inflação que
a população vinha sofrendo há mais de uma década — nos dois últimos anos
de Cristina F. Kirchner, e nos mandatos
de Macri e Fernández — foi um fator fundamental. Os
impactos no cotidiano, especialmente das classes populares, foram devastadores
e múltiplos, pois não só implicaram o deterioramento das condições materiais de
vida, mas também provocaram impactos de ordem sociológica — ruptura da
sociabilidade — e emocional — incerteza, angústia, raiva. A lembrança do pesadelo
da hiperinflação dos anos 80 também pairava na memória histórica. Por isso,
para freá-la, “as pessoas estão dispostas a qualquer coisa”, como destaca o
cientista político Sergio Morresi. A “astúcia” do
peronismo em apresentar como candidato presidencial aquele que havia sido o
último ministro da Economia, Sergio Massa, considerado por amplos setores
sociais como o “símbolo” do fracasso na luta contra a inflação, foi a
cereja do bolo.
A
pandemia foi outro fator de grande impacto, já que a longa quarentena impediu
que um alto percentual da classe trabalhadora informal saísse para “trabalhar”
— e que não recebeu salário, ao contrário da parcela dos trabalhadores formais.
Embora tenham recebido um auxílio, este foi considerado muito precário. De
fato, como aponta Gonzalo Armúa, dirigente do Frente Patria Grande,
“pediam às pessoas que não saíssem de casa, mas isso era irreal, porque
precisavam sair para conseguir o básico. Isso gerou muita revolta.”
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Fatores estruturais
A crise
da classe política é um fator estrutural de grande relevância, que não era
novo, pois tinha suas origens no Argentinazo de 2001, com aquele lema
inesquecível “¡Que se vayan Todos!”. Um slogan que na época foi capitalizado
pela esquerda, mas que hoje se volta contra ela, abrindo a porta para a extrema
direita. Com uma hábil estratégia discursiva, Milei — professor,
economista, comentarista — prometia combater a “casta”, em um contexto em que a
sociedade percebia a classe política como corrupta, privilegiada e incapaz.
Milei soube se projetar como o símbolo da mudança diante de uma ordem cada vez
mais deslegitimada.
Outro
fator estrutural é o avanço silencioso da direita nos últimos anos. Diversas
pesquisas, segundo Morresi, apontam para mudanças sociológicas, sobretudo
entre os jovens nas zonas rurais do interior do país. Os resultados dessas
pesquisas mostram reivindicações de forte caráter conservador: contra o
público, anti-feministas, linha dura, etc. Se a isso somarmos um contexto
internacional de ascensão das extremas direitas, a síntese era que havia
terreno fértil para que uma candidatura como a de Milei vencesse.
A nova direita
argentina,
motosserra em punho, em pouco mais de um ano implementou um programa de governo
que deve ser analisado em vários níveis: o quê?, como?, para onde?
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O que fez?
As
medidas aplicadas por Milei desde o início de seu governo foram numerosas e
contundentes. O ponto de partida foi o Decreto de Necessidade e Urgência
(DNU), aprovado apenas dez dias após assumir seu mandato, em 20 de dezembro de
2023, que concedia ao presidente poderes especiais para legislar acima
do Congresso por dois anos. Esse decreto, com seus 336 artigos,
propunha uma mudança radical no modelo econômico e no papel do Estado.
A
medida “bem-sucedida” por excelência foi a redução da inflação, às custas de
uma brutal redução salarial. Os principais afetados foram aqueles que dependem
de um salário, sobretudo os funcionários públicos, um setor social que, em
grande parte, segundo Daniel Feierstein, sociólogo
da Universidade de Buenos Aires, não constituía a base de Milei, além de
ser um componente da classe trabalhadora em retração percentual devido ao
aumento constante do trabalho informal.
A
selvagem redução dos gastos públicos é um dos eixos centrais do programa
governamental. Reivindicando o velho dogma ultraliberal da austeridade fiscal,
o corte massivo de programas sociais foi acompanhado pela desinvestimento
estatal em obras públicas, ciência, etc. Por sua vez, as demissões em massa de
funcionários públicos foram draconianas. Até o momento, cerca de 35.000 pessoas
perderam seus empregos. Paralelamente, a criação do Ministério da “Desregulação
do Estado” trouxe a semi-demolição da estrutura ministerial, eliminando mais da
metade dos ministérios (11 dos 20). Isso foi acompanhado por uma política
anti-sindical, como denunciam delegados do sindicato
estatal ATE entrevistados. A perseguição a representantes sindicais
está sendo combinada com ameaças de demissão para quem tente se filiar,
ressaltam do ATE.
No
plano econômico, o recente acordo com o FMI é a decisão mais
importante por duas razões. Em primeiro lugar, porque implicará novamente um
grande endividamento acompanhado de cortes drásticos. Em segundo lugar, porque
ativa o tradicional mecanismo de acumulação de capital que a oligarquia
argentina usa para receber dólares, apropriá-los e depois praticar a fuga de
capitais.
O
ataque às políticas de memória e reparação da ditadura é outro frente aberto
por Milei. Rompendo o consenso de quatro décadas, ele não apenas questionou o
genocídio, mas também está tentando sufocar os centros de memória, reduzindo ao
mínimo seu pessoal, como lembra a historiadora Paula Klachko. Em nossa visita ao
icônico Museu da Memória ESMA, situado na sinistra Escola de Mecânica
da Armada, foi exatamente isso que o pessoal nos transmitiu.
Os
impactos de tudo isso já são evidentes nas condições de vida de alguns setores sociais:
perda do poder de compra da massa assalariada, sendo especialmente doloroso
entre os aposentados e aposentadas; aumento exponencial de pessoas dormindo na
rua… Há outros impactos que ainda não se percebem, mas que serão sentidos a
médio prazo e serão devastadores, segundo Feierstein, como a deterioração da
malha viária ou do sistema científico do país.
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Como ele está fazendo isso?
As
inúmeras medidas aplicadas por Milei desde o início de seu governo
operam sob a lógica da “doutrina do choque” (Naomi Klein), pela sua
profundidade e rapidez, buscando nocautear o campo popular e progressista. Isso
é combinado com um aumento da repressão sob o guarda-chuva do ‘Protocolo
Bullrich’, instrumento legal para reprimir com contundência os protestos
sociais. A violência desproporcional empregada semanalmente contra as
mobilizações de aposentados e aposentadas é o exemplo mais paradigmático.
Neofascismo? O mais novo e
preocupante no modo de agir de Milei e seu governo é o salto
qualitativo na forma de se relacionar com o adversário político, o que abriu o
debate sobre seu possível caráter neofascista. Para o filósofo
ítalo-argentino Rocco Carbone, Milei se diferencia da direita tradicional
(do ‘macrismo’) porque não reconhece o antagonista político. Ele suprime seus
direitos, representando uma experiência política não democrática, como ele
expõe em seu livro Fascismo psicotizante. Isso explica o discurso de ódio
contra o diferente que caracteriza a política comunicativa presidencial e a
política da “crueldade” como dispositivo de gestão governamental. Como
diz Gervasio Ramos, “não apenas se demite as pessoas de seus empregos,
deixando uma família sem renda, como também se zombam publicamente delas”.
Fonte:
Opera Mundi/El Salto

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