Fumar
maconha pode causar doenças cardíacas precoces, diz estudo
Pessoas
saudáveis que fumavam maconha regularmente ou consumiam comestíveis com
tetrahidrocanabinol (THC) apresentaram sinais de doença cardiovascular precoce
semelhantes aos fumantes de tabaco, segundo um novo estudo de pequena escala.
"Até
onde sei, é o primeiro estudo que analisa o impacto do THC na função vascular
em humanos", afirma o autor sênior do estudo, Matthew Springer, professor
de medicina da Universidade da Califórnia, São Francisco.
"Estamos
observando uma janela para o futuro, mostrando as alterações precoces que podem
explicar por que fumar maconha tem sido associado a doenças cardíacas
posteriores", afirma Springer. "Parece que tanto o ato de fumar
quanto o próprio THC contribuem para essas alterações de maneiras
diferentes."
O THC é
o componente da maconha que provoca o efeito psicoativo. Pesquisas anteriores
em camundongos encontraram danos aos vasos sanguíneos que fornecem oxigênio
para órgãos vitais após exposição à fumaça da maconha, segundo Springer. No
entanto, não se sabia se a fumaça da maconha afetaria o sistema vascular
humano.
"Descobrimos
que a função vascular foi reduzida em 42% em fumantes de maconha e em 56% em
usuários de comestíveis com THC em comparação com não usuários", afirma a
autora principal do estudo, Leila Mohammadi, pesquisadora assistente em
cardiologia da Universidade da Califórnia, São Francisco, por e-mail.
A
pesquisa mostra apenas uma associação, diz Springer. "Podemos apenas
afirmar que os usuários de cannabis têm função vascular prejudicada, não que o
uso de cannabis causa função vascular prejudicada", diz o pesquisador por
e-mail.
As
descobertas sobre comestíveis com THC foram surpreendentes, segundo Andrew
Freeman, diretor de prevenção cardiovascular e bem-estar do National Jewish
Health em Denver.
"Será
que outras formas de maconha — chás, tinturas, comestíveis — talvez não sejam
tão inofensivas quanto pensávamos?", questiona Freeman, que não participou
do estudo. "Precisamos de estudos maiores para chegar a uma conclusão
melhor sobre essa descoberta."
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Risco de vasos sanguíneos danificados
Uma
única camada de células endoteliais reveste todos os vasos sanguíneos do corpo.
Quando funcionam adequadamente, essas células especializadas liberam
substâncias químicas como óxido nítrico que controlam o relaxamento e a
contração do canal, regulando assim o fluxo sanguíneo. Células endoteliais
saudáveis também participam do crescimento celular local e ajudam a prevenir a
coagulação sanguínea.
Quando
as células endoteliais estão inflamadas, o acúmulo de placas pode aumentar nas
artérias ao longo do tempo, potencialmente causando ataques cardíacos, derrames
e insuficiência cardíaca. Danos aos pequenos vasos sanguíneos também podem
causar doenças renais e pulmonares, comas, delírio e demência.
O
estudo, no entanto, não mediu placas, então os resultados não significam que os
vasos sanguíneos estavam atualmente bloqueados, segundo Springer.
"Os
vasos simplesmente não crescem em diâmetro em tempo real quando precisam passar
mais sangue, indicando uma parede vascular não saudável que pressagia doença
cardiovascular posterior", afirma o pesquisador.
Estudos
anteriores encontraram fortes ligações entre o uso de maconha e doenças
cardiovasculares posteriores. Um estudo de fevereiro de 2024 descobriu que
fumar, vaporizar ou comer maconha levou a um risco significativamente maior de
ataque cardíaco e derrame, mesmo que uma pessoa não tivesse condições cardíacas
preexistentes e não fumasse ou vaporizasse tabaco.
O risco
de derrame aumentou 42% e o risco de ataque cardíaco aumentou 25% se a cannabis
fosse usada diariamente, e o risco aumentava conforme o número de dias de uso
de maconha aumentava, descobriu o estudo.
Usar
maconha todos os dias pode aumentar o risco de doença arterial coronariana em
um terço em comparação com aqueles que nunca a utilizam, descobriu um estudo de
fevereiro de 2023.
A
Associação Americana do Coração aconselha as pessoas a se absterem de fumar ou
vaporizar qualquer substância, incluindo produtos de cannabis, devido ao
potencial dano ao coração, pulmões e vasos sanguíneos. Orientações divulgadas
em 2020 apontaram para estudos que descobriram que anormalidades do ritmo
cardíaco, como taquicardia e fibrilação atrial, poderiam ocorrer dentro de uma
hora após fumar maconha contendo THC.
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Pequeno estudo piloto
Os 55
participantes do estudo foram divididos em três grupos: pessoas que fumavam
(não vaporizavam) maconha três ou mais vezes por semana durante pelo menos um
ano, pessoas que consumiam comestíveis com THC pelo menos três vezes por semana
durante pelo menos um ano, e não usuários. Nenhuma das pessoas de 18 a 50 anos
no estudo era fumante ou vaporizador de tabaco, e todas tinham pouca exposição
à fumaça secundária do tabaco.
Os
pesquisadores realizaram um ultrassom na artéria principal do braço direito
superior em cada pessoa e, em seguida, aplicaram uma braçadeira de pressão
arterial extremamente apertada por cinco minutos
Após a
remoção do manguito, a artéria foi novamente examinada para verificar sua
capacidade de dilatação, ou alargamento, para lidar com o aumento do fluxo
sanguíneo, um processo que necessita da liberação de óxido nítrico para
ocorrer.
De
acordo com o estudo, os danos às células endoteliais que regulam a dilatação
estavam relacionados à dose. Participantes do estudo que usavam mais maconha
apresentavam maior risco de danos aos vasos sanguíneos que transportam oxigênio
para os órgãos do corpo.
"O
uso mais intenso de cannabis — seja fumada ou ingerida — está associado a uma
pior função vascular, destacando os riscos cardiovasculares que aumentam com
maior potência e frequência de uso", diz Mohammadi.
Testes
adicionais no pescoço e na coxa verificaram a rigidez das paredes dos vasos
sanguíneos de cada pessoa. Em comparação com pessoas que nunca usaram maconha,
os usuários de cannabis não pareciam ter rigidez adicional nas paredes dos
vasos sanguíneos, segundo o estudo.
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Os papéis do tabagismo e do THC
Uma
análise separada adicionou soro sanguíneo de fumantes de cannabis e usuários de
comestíveis a culturas de células endoteliais comercialmente adquiridas em
laboratório. O sangue de pessoas que consumiam comestíveis com THC não parecia
prejudicar as células — elas continuavam produzindo óxido nítrico
adequadamente. No entanto, as células endoteliais incubadas em soro de fumantes
de maconha liberaram 27% menos óxido nítrico do que aquelas tratadas com sangue
de não fumantes.
Essa
evidência é semelhante ao que é encontrado no tabaco, segundo Springer,
apontando para um estudo anterior de sua equipe que mostrou que células
endoteliais incubadas em soro de fumantes de tabaco liberaram 39% menos óxido
nítrico do que não fumantes.
"As
observações de que fumantes de maconha e usuários de THC têm função vascular
prejudicada podem levar as pessoas a concluir que o THC é responsável por tudo
isso e que a fumaça é irrelevante", diz Springer.
Segundo
Springer, essa seria uma conclusão precipitada, pois há razões para acreditar
que a fumaça da maconha é tão responsável quanto o THC pelos danos aos vasos
sanguíneos.
"Ratos
expostos à fumaça da maconha sem nenhum canabinoide também apresentaram
comprometimento vascular e cardíaco, além disso, sabe-se que a fumaça do tabaco
causa doenças cardíacas e não contém THC", diz Springer.
"Então
você não faz nenhum favor a si mesmo ao trocar o tabaco pela maconha. Fumar
maconha apenas te dá um duplo impacto — a fumaça e o THC", segundo o
pesquisador.
E
quanto a comestíveis, chás, tinturas e similares de maconha? "Nas pessoas,
existe uma zona ideal para tudo — muito não faz bem, pouco não faz bem, mas a
quantidade certa funciona bem", diz Freeman. "Precisamos de mais
investigações para ver se existe uma zona ideal a ser encontrada."
• Cirurgia vascular é aliada do tratamento
de cânceres: entenda melhor
A
cirurgia vascular tem papel estratégico no tratamento de cânceres que
comprometem estruturas vasculares importantes, como a aorta, veia cava,
artérias ilíacas e vasos viscerais. Nesses casos, é fundamental remover o tumor
e, ao mesmo tempo, garantir que a irrigação sanguínea da região seja
preservada. A ressecção vascular pode ser necessária em:
• tumores renais que invadem a veia cava;
• tumores ginecológicos ou urológicos
avançados que comprometem as artérias ilíacas;
• neoplasias hepáticas ou pancreáticas que
envolvem vasos viscerais;
• casos raros de tumores que atingem
diretamente a aorta.
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Reconstrução e restabelecimento do fluxo
Após a
retirada do segmento comprometido, o restabelecimento da circulação é feito por
meio de técnicas como:
• anastomose direta: reconexão das
extremidades do vaso, quando a retirada é pequena;
• enxertos: usados quando a ressecção é
extensa, podendo ser veias autólogas ou próteses sintéticas.
A
escolha depende da localização, extensão do tumor e condições clínicas do paciente.
Essas decisões são tomadas por uma equipe multidisciplinar, com o cirurgião
vascular atuando em sintonia com oncologistas, cirurgiões gerais, urologistas,
ginecologistas e anestesistas.
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Desafios e importância da abordagem em equipe
Além da
complexidade técnica, o controle do sangramento e a garantia de perfusão
adequada são aspectos críticos. A interrupção do fluxo sanguíneo pode
comprometer a função de órgãos vitais e aumentar riscos intraoperatórios. Por
isso, o sucesso depende não apenas da habilidade individual, mas da sincronia
entre especialidades.
A
atuação do cirurgião vascular em oncologia é essencial para que intervenções de
alta complexidade possam ser feitas com segurança. Mais do que remover tumores,
é preciso manter a funcionalidade dos tecidos e a vida do paciente em risco
mínimo.
Fonte:
CNN Brasil

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