sexta-feira, 30 de maio de 2025

Filho de juiz de decisão em 16 minutos teve faculdade paga com dinheiro desviado da saúde, diz operador

Um operador investigado na operação Pote de Ouro, que apura desvio de dinheiro público na cidade de Itabaiana (PB), afirmou que parte dos valores desviados da saúde da cidade serviu para custear a faculdade de medicina do filho do juiz Glauco Coutinho Marques.

Como mostrou a coluna, Marques e sua esposa são investigados no caso por supostamente terem recebido uma “mesada” proveniente desses desvios. Ambos negam, por meio da defesa, qualquer envolvimento no suposto esquema e dizem que o curso foi pago por meio do Fies (leia mais abaixo).

O juiz, que deu uma decisão em 16 minutos, também é alvo da operação Retomada, que investiga o uso de decisões judiciais para fraudar descontos de aposentados.

Um documento da operação, do Ministério Público da Paraíba, ao qual a coluna teve acesso, mostra o depoimento do suposto operador do esquema. Nele, o investigado afirma ter sido informado que parte dos valores enviados à esposa de Glauco seria utilizado para “pagar a faculdade de medicina de um dos filhos dela”.

O interrogado afirmou que “desta forma, dos valores desviados por meio dos contratos forjados e cheques, cerca de seis a sete mil reais foram destinados mensalmente à ex-Secretária de Saúde [esposa de Glauco] para pagamento da faculdade de medicina do filho”.

Ao falar sobre os supostos repasses, o investigado disse ainda que o repasse dos valores a ex-secretária de Saúde sempre se dava por cheques emitidos pelo interrogado, “geralmente entre os valores de R$ 6.000,00 (seis mil reais) a R$ 7.000,00 (sete mil reais)”. E que, certa vez, “acumulou um mês e foi emitido pelo interrogado um cheque de R$ 13.800,00 (treze mil e oitocentos reais)”.

Pote de Ouro

A operação Pote de Ouro apura desvio de dinheiro público em Itabaiana (PB), a cerca de 70 km da capital João Pessoa, e cerca de 30km de Gurinhém, comarca onde Glauco atuava como juiz.

Segundo as apurações, a esposa do juiz, então Secretária de Saúde do município, faria parte da organização criminosa que desviou valores da Prefeitura. Ela teria tido uma colaboração “decisiva” no esquema, que teria levado ao repasse de verbas ilícitas inclusive ao marido, o juiz Glauco.

Durante a apuração dos possíveis valores desviados da administração pública, as autoridades descobriram alguns cheques depositados na conta de Glauco, “tendo as cártulas sido apresentadas na agência do Banco do Brasil em Gurinhém”.

Com o objetivo de esclarecer o possível envolvimento entre Glauco e os outros integrantes do esquema, foram solicitadas ao Ministério Público de Itabaiana informações acerca da existência de “possíveis documentos, que interessassem a essa investigação, e que tivessem sido apreendidos” encontrados pela operação Pote de Ouro.

Segundo consta no documento, o MP informou que, entre a documentação apreendida, “encontravam-se 02 (dois) cheques, de titularidade do ora requerido, o Juiz de Direito, Glauco Coutinho Marques”.

Nessa esteira, segundo a investigação, isso seria uma evidência de suposta relação de proximidade entre o juiz e o suposto “mentor da associação ilícita”.

Segundo os autos, Glauco chegou a ser ouvido e disse que os pagamentos se dariam em razão de uma dívida e tinha desconhecimento sobre a suposta origem ilícita dos valores.

<><> Decisão em 16 minutos

Como mostrou a coluna, o magistrado também é um dos investigados na operação Retomada e entrou na mira do Ministério Público da Paraíba após dar várias decisões em favor de associações. A defesa nega qualquer envolvimento do juiz.

O juiz é citado em documento da operação como “figura central” dos fatos investigados e contra quem recaem “as suspeitas de manipulação de atos de jurisdição”.

Documento da operação obtido pela coluna mostra como um grupo de empresários, entidades, advogados e servidores atuava junto ao Judiciário para conseguir decisões favoráveis contra os interesses de aposentados.

O juiz foi responsável por uma decisão relâmpago que, por sua rapidez, chamou a atenção dos investigadores. No caso, ele levou apenas 16 minutos para decidir em um processo.

“Em alguns casos, aliás, tamanha foi a velocidade no curso do processo que, entre o protocolo inicial e o julgamento, passaram-se apenas poucos minutos, como ocorreu com o processo em que a petição inicial foi aviada às 11h10 do dia 08 de junho de 2024 (um sábado) e a sentença foi prolatada às 11h26 do mesmo dia”, diz um dos documentos da apuração.

Em fevereiro de 2025, no entanto, a Justiça anulou a decisão relâmpago. Ao analisar o mesmo processo e os mesmos documentos que Glauco Marques, a juíza verificou que “os possíveis associados, em sua maioria, não têm vínculo algum com a comarca de Gurinhém, sequer com o Estado da Paraíba, pois residem em outros Estados da Federação.”

<><> Defesa

A coluna procurou a defesa do juiz Glauco, que afirmou que “não há prova de pagamentos periódicos e a mensalidade do filho do casal foi subsidiada pelo FIES (contrato já anexado ao processo)”, o que reforçaria “a evidência” de que o interrogado teria produzido uma “narrativa inverídica perante as autoridades investigativas”.

Ainda, diz o advogado que as próprias testemunhas de acusação “disseram não conhecer o Sr Glauco e a sua esposa”.

Sobre os valores supostamente recebidos por Glauco, a defesa diz que “referem-se a pagamentos realizados como forma de quitação de empréstimos pessoais anteriormente contraídos pela sua esposa”.

Também destaca que tanto Glauco, quanto sua esposa, “jamais tiveram conhecimento da suposta origem ilícita dos cheques utilizados para tais pagamentos” e “sequer conhecem” o suposto operador do esquema que teria assinado os cheques.

“Reiteramos a confiança na Justiça e na elucidação dos fatos, certos de que a verdade prevalecerá”, disse.

Sobre a operação Retomada, que investiga os descontos contra aposentados, a defesa do juiz Glauco Marques afirmou que o juiz sempre esteve disponível para contribuir com a Justiça e nega todas as imputações feitas na representação do Ministério Público, que resultaram no afastamento do cargo de juiz.

O advogado também cita que o processo está sob sigilo, mas destaca que “não há uma única prova ou ao menos indícios que determinem qualquer ligação ou mesmo afetividade e amizade entre Glauco e os advogados das referidas associações”.

“O que se tem, na verdade, é um juiz que, em sua judicatura, homologou acordos entre a associação citada e seus próprios associados, e deferiu liminares que por vezes não foram sequer revogadas pelo Egrégio Tribunal de Justiça da Paraíba”, afirma.

De acordo com o advogado, após o cumprimento de “dezenas de cautelares, inclusive, buscas e apreensões, não se olvidou qualquer transação bancária efetivada em favor do juiz, ou mesmo conversas entre os envolvidos”.

A defesa diz ainda que, apesar das centenas possíveis ações identificadas pela investigação, pouco “mais de uma dezena destes processos” ficaram sob responsabilidade do juiz.

•        Venda de sentenças no STJ: veja os alvos da PF por morte de advogado

A Polícia Federal (PF) deflagrou, na manhã da quarta-feira (28/5), a 7ª fase da Operação Sisamnes, para investigar os mandantes e eventuais coautores do assassinato do advogado Roberto Zampieri, morto a tiros em dezembro de 2023, em Cuiabá (MT).

A ação tem como objetivo desarticular uma organização criminosa que praticava espionagem e homicídios por encomenda, com participação de militares ativos e da reserva.

Por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), foram cumpridos cinco mandados de prisão preventiva, quatro de monitoramento eletrônico e seis de busca e apreensão em Mato Grosso, São Paulo, Goiás e Minas Gerais.

Também foram determinadas medidas cautelares, como recolhimento domiciliar noturno, proibição de contato entre investigados, entrega de passaportes e impedimento de saída do país.

<><> Quem são os alvos de prisão

A Polícia Civil de Mato Grosso atribuiu funções específicas aos suspeitos indiciados em 2024:

•        Aníbal Manoel Laurindo: produtor rural, apontado como suposto mandante do homicídio;

•        Coronel Luiz Cacadini: militar da reserva, suposto financiador do crime;

•        Antônio Gomes da Silva: identificado como suposto atirador, autor dos disparos que mataram o advogado

•        Hedilerson Barbosa: suposto intermediador e auxiliar do atirador; também seria o dono da pistola 9mm utilizada no assassinato;

•        Gilberto Louzada da Silva: envolvimento sob investigação.

<><> Crime

Roberto Zampieri foi morto com 10 tiros dentro do próprio carro, em frente ao escritório onde trabalhava, em Cuiabá. Segundo a Polícia Civil, ele foi surpreendido por um homem de boné, que disparou pelo vidro do passageiro e fugiu em seguida. O advogado já utilizava veículo blindado havia mais de cinco anos.

Durante as investigações, a PF identificou que o grupo criminoso se autodenominava “Comando C4”, ou “Comando de Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos”, e mantinha tabelas impressas com o “preço” de cada assassinato, conforme a função ou status da vítima.

As apurações sobre o homicídio também levaram à descoberta de um suposto esquema de venda de sentenças no Tribunal de Justiça de Mato Grosso e levantaram suspeitas sobre práticas semelhantes no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

•        TJ de Alagoas aposenta juíza investigada por favorecimento indevido

O Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ-AL) decidiu pela aposentadoria compulsória da juíza Emanuela Bianca Oliveira Porangaba.

Por 9 votos a 6, o plenário concluiu que ela favoreceu um escritório de advocacia em processos nos quais atuou como juíza substituta nas comarcas de Campo Alegre, São Luís do Quitunde e São José da Lage, e como juíza plantonista em Maceió, nos anos de 2022 e 2023.

A magistrada foi afastada pela Corregedoria do Tribunal em junho de 2024, após a instauração de processo administrativo disciplinar.

Os indícios apontaram inconsistências em documentos processuais, como erros de endereço em petições iniciais, e o direcionamento de processos para as unidades onde atuava como substituta, relacionados ao escritório Mousinho e Mousinho Advogados Associados.

De acordo com o corregedor-geral do Tribunal, Domingos de Araújo Lima Neto, foram analisados 16 processos despachados pela juíza entre 2022 e 2023, dos quais 13 apresentaram indicativo de direcionamento, com a utilização de domicílios falsos dos autores das ações. Os casos tratavam da transferência de veículos.

Durante esse período, advogados do escritório Mousinho e Mousinho Associados apresentaram endereços falsos para ingressar com ações que seriam analisadas pela magistrada. A juíza despachava decisões favoráveis, incluindo a exclusão de gravames registrados em documentos de veículos adquiridos pelos clientes do escritório.

<><> Irmãos atuavam no TJ

De acordo com o corregedor, a juíza não considerou as inconsistências na documentação relativa aos endereços, o que sugeria o seu conhecimento sobre o direcionamento das ações.

O escritório apontado na investigação pertence aos advogados Carlos Henrique Costa Mousinho e Diego Aurélio Costa Mousinho, filhos do promotor de Justiça Marcus Aurélio Gomes Mousinho.

O irmão do promotor, Marcello Mousinho Júnior, também foi citado pela Corregedoria por envolvimento no esquema.

•        Saiba quem é a juíza aposentada por favorecer escritório de advocacia

Aposentada compulsoriamente pelo Tribunal de Justiça de Alagoas (TJAL), a juíza Emanuela Bianca Oliveira Porangaba estava afastada das funções desde junho de 2024. Na época da decisão da Corregedoria-Geral de Justiça, ela integrava o colegiado de magistrados responsáveis pelo processo bilionário de falência da Laginha Agroindustrial, que pertencia ao empresário João Lyra, ex-deputado federal e pai de Tereza Collor.

Emanuela Porangaba ingressou na magistratura em 2008, foi titular da 21ª Vara Cível da Capital e atuou como juíza substituta e plantonista em Maceió e no interior do estado entre 2022 e 2023. Foi nesse período que ocorreram as irregularidades apontadas pelo corregedor-geral de Justiça, desembargador Domingos de Araújo Lima Neto.

De acordo com o relatório da Corregedoria, a magistrada ignorou inconsistências e erros em petições iniciais, autorizou transferências de titularidade de veículos sem a devida comprovação documental e direcionou processos para comarcas onde atuava como substituta. O esquema teria causado um prejuízo de R$ 1,7 milhão a instituições financeiras.

Os casos não tinham relação direta com o processo de falência da Laginha Agroindustrial, mas as decisões beneficiavam principalmente o escritório de advocacia de Carlos Henrique Costa Mousinho e Diego Aurélio Costa Mousinho, filhos do promotor de Justiça responsável pela ação bilionária, Marcus Aurélio Gomes Mousinho. O irmão do promotor, Marcello Mousinho Júnior, também foi citado pela Corregedoria por envolvimento no esquema.

Segundo o relatório, advogados ligados ao escritório Mousinho & Mousinho Advogados Associados chegaram a inventar endereços falsos para dar entrada em ações que seriam analisadas pela magistrada. Emanuela Porangaba ignorava a ausência de comprovantes de residência e proferia decisões favoráveis aos requerentes, principalmente com a exclusão de gravames registrados na documentação de veículos adquiridos pelos clientes do escritório.

“A mera prática reiterada de falta de prudência e os fortes indícios de favorecimento consciente às partes por meio de decisão judicial já são suficientes para a consumação das infrações disciplinares, sendo irrelevante se a eventual conduta da magistrada chegou a causar efetivos prejuízos financeiros”, anotou o corregedor.

<><> Falência

Avaliada em R$ 3 bilhões e com dívidas fiscais e trabalhistas de aproximadamente R$ 4 bilhões, a massa falida da Laginha Agroindustrial reúne três usinas de açúcar e etanol. O processo de falência se arrasta há 20 anos na Justiça alagoana e, em maio, 13 dos 17 desembargadores do TJAL se declararam impedidos de julgar o caso. Em dezembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que o processo deve ser julgado pelo próprio TJAL.

•        PF investiga fraude de R$ 7 milhões em precatórios e benefícios no DF

A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quarta-feira (28/5) a terceira fase da Operação Falsídia, com o objetivo de desarticular um grupo criminoso responsável por fraudes no levantamento de precatórios judiciais.

As investigações revelaram que, por meio de procurações falsas em nome de beneficiários legítimos, os suspeitos conseguiram sacar indevidamente mais de R$ 7 milhões junto à Caixa Econômica Federal.

Além dos precatórios, a operação identificou também fraudes no levantamento de benefícios previdenciários, resultando em um desvio adicional de R$ 495 mil por meio de documentos falsificados.

Nesta etapa, foram cumpridos seis mandados de busca e apreensão, abrangendo as cidades de Taguatinga, Ceilândia, Planaltina e Samambaia, no Distrito Federal, além de um mandado em Minaçu, Goiás.

Os alvos incluem integrantes do grupo criminoso envolvidos na identificação dos precatórios e na lavagem de dinheiro, além de um ex-funcionário de instituição financeira suspeito de facilitar os saques fraudulentos.

Os investigados poderão responder por crimes como estelionato qualificado, falsificação de documento público, falsidade ideológica, uso de documento falso e associação criminosa, entre outros que possam ser identificados no curso da apuração.

A Operação Falsídia teve início em 2023 e, nas fases anteriores, já resultou em prisões em flagrante e no cumprimento de diversos mandados de busca e apreensão contra suspeitos de levantar, de forma fraudulenta, valores milionários em precatórios.

 

Fonte: Metrópoles

 

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