INGERÊNCIA
ESTRANGEIRA?: Trump envia chefe de departamento de sanções ao Brasil
Mais de
três meses depois de o presidente Donald Trump tomar posse novamente, o governo
dos Estados Unidos decidiu enviar um representante do Departamento de Estado
norte-americano ao Brasil. O chefe interino da coordenação de sanções
internacionais, David Gamble, chegOU ao Brasil nesta segunda-feira (5/5). É a
primeira vez que um representante do Departamento de Estado, equivalente a um
ministério das Relações Exteriores, vem ao Brasil desde a posse de Trump, em
janeiro de 2025.
Sua
chegada ao país acontece em um momento de esfriamento das relações entre
Estados Unidos e Brasil e em meio à expectativa de que ele se encontre com
membros da oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu filho, o senador Flávio
Bolsonaro (Republicanos-RJ).
A
chegada de Gamble e de uma comitiva liderada por ele ao Brasil foi divulgada
pelo portal Metrópoles e confirmada pela BBC News Brasil.
Segundo
nota divulgada pela Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, a delegação
liderada por Gamble virá ao Brasil para participar de reuniões bilaterais sobre
organizações criminosas transnacionais e discutir programas de sanções
direcionados ao combate ao terrorismo e ao tráfico de drogas.
Apesar
de, oficialmente, a pauta da reunião ser sobre as ações de combate ao crime
organizado e terrorismo, a BBC News Brasil apurou que, até o domingo (04/05),
não havia previsão de reuniões entre a comitiva e os órgãos brasileiros
responsáveis por essa área.
Procurada,
a Embaixada dos Estados Unidos não divulgou a agenda da comitiva. Diante disso,
o que se sabe sobre a vinda do primeiro enviado do governo Trump ao Brasil?
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O que a comitiva fará no Brasil?
A nota
divulgada pela Embaixada dos Estados Unidos afirma que a delegação vai ter
reuniões bilaterais sobre combata organizações criminosas transnacionais e
terrorismo. A nota não informa quantos integrantes a comitiva tem, com que
órgãos irá se reunir e nem quanto tempo passará no país.
"O
Departamento de Estado dos Estados Unidos enviará uma delegação a Brasília,
chefiada por David Gamble, chefe interino da Coordenação de Sanções. Ele
participará de uma série de reuniões bilaterais sobre organizações criminosas
transnacionais e discutirá os programas de sanções dos EUA voltados ao combate
ao terrorismo e ao tráfico de drogas", diz a nota.
No
entanto, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), principal
responsável federal pelo combate ao crime organizado e o terrorismo, disse à
BBC News Brasil, por meio de sua assessoria de imprensa, que não há reuniões
previstas entre representantes da pasta e a comitiva norte-americana.
Procurado,
o Ministério das Relações Exteriores (MRE) não respondeu aos questionamentos da
reportagem.
A
assessoria internacional da Presidência da República, comandada pelo diplomata
Celso Amorim, também não tem reuniões agendadas com a comitiva.
Se do
lado do governo brasileiro, não há informações oficiais sobre a agenda da
delegação norte-americana, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro
(PL-SP) disse, em uma postagem no X (antigo Twitter) que Gamble irá se
encontrar com seu pai, Jair Bolsonaro, e seu irmão, Flávio Bolsonaro.
Procurada,
a assessoria de Jair Bolsonaro disse que havia a possibilidade de um encontro
entre Bolsonaro e Gamble, mas não confirmou a reunião.
Questionada
sobre este suposto encontro, a Embaixada dos Estados Unidos não divulgou a
agenda da comitiva.
O líder
do PL na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante (SP), disse à BBC News
Brasil que parlamentares de oposição estão tentando levar Gamble a participar
de um encontro privado com deputados e senadores para tratar da situação
política brasileira.
"O
encontro ainda não está confirmado, mas esperamos que ele possa nos atender
para que a gente fale sobre o que está acontecendo no Brasil", diz o
parlamentar.
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Sanções a Alexandre de Moraes?
Desde
que a vinda da comitiva norte-americana foi confirmada, surgiram rumores de que
um dos assuntos a serem discutidos por Gamble e sua equipe no Brasil seriam
sanções a membros do STF como o ministro Alexandre de Moraes, relator de
diversos processos que tramitam contra Bolsonaro na Corte e dos casos
relacionados aos atos de 8 de janeiro de 2023.
Na
postagem em que anunciou a ida da equipe do Departamento de Estado ao Brasil,
Eduardo Bolsonaro fez uma menção direta a Alexandre de Moraes.
"Quando
eu disse que a batata do Alexandre de Moraes estava esquentando aqui nos
Estados Unidos, pode ter certeza de que está esquentando de verdade. Se Deus
quiser, os violadores sistemáticos de direitos humanos [...] vão ser
punidos", disse o parlamentar licenciado.
Ele não
afirmou diretamente, porém, que o objetivo oficial da visita seria discutir
sanções a Alexandre de Moraes.
Sanções
norte-americanas a Alexandre de Moraes são uma das pautas mais defendidas por
Eduardo Bolsonaro e outros militantes de direita radicados nos Estados Unidos.
Eles argumentam que Moraes e outros integrantes do STF estariam conduzindo uma
perseguição judicial contra Bolsonaro e contra outros políticos e militantes de
direita no Brasil.
"Eu
não peço sanção ao povo brasileiro, nada sobre tarifas (comerciais). Mas no
caso do Alexandre de Moraes, acho que ele se enquadra para sofrer 'sanções OFAC
(a sigla do escritório de controle de ativos estrangeiros dos EUA)', como
aconteceu com o pessoal do Tribunal Penal Internacional (TPI)", disse
Eduardo Bolsonaro à BBC News Brasil, em fevereiro deste ano, pouco depois de se
mudar para os Estados Unidos com sua família.
Os
primeiros sinais de que a ofensiva de Eduardo Bolsonaro teriam dado resultado
surgiram ainda em fevereiro, quando Alexandre de Moraes foi processado
pessoalmente pela empresa de mídia de Trump, a Trump Media & Technology
Group (TMTG), em conjunto com a rede Rumble, que havia sido bloqueada no Brasil
por ordem de Moraes.
A ação,
movida na Flórida, questionou o poder do ministro para tomar decisões sobre
conteúdos postados na Rumble e sobre a monetização destes conteúdos.
O
processo foi iniciado horas depois de a Procuradoria-Geral da República (PGR)
denunciar Jair Bolsonaro como suposto líder de uma organização criminosa que
teria planejado a ruptura democrática do Brasil após as eleições de 2022. Em
abril, o STF aceitou a denúncia e transformou Bolsonaro e outras sete pessoas
em réus. A defesa de Bolsonaro rebate as acusações e diz que ele é inocente.
Ainda
não há data prevista para o início do julgamento de Bolsonaro.
Em
outra frente, parlamentares republicanos lideram, na Câmara dos Representantes
dos Estados Unidos (equivalente à Câmara dos Deputados, no Brasil) um projeto
batizado de 'No Censors on our Shores Act'', ou "Lei Sem Censores dentro
de nossas Fronteiras", em tradução livre.
O
projeto prevê a deportação ou a proibição de entrada em território
norte-americano de autoridades estrangeiras que tenham infringido a Primeira
Emenda da Constituição dos Estados Unidos, que trata da liberdade de expressão.
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Quem é David Gamble?
David
Gamble é servidor de carreira do serviço diplomático norte-americano e comanda,
interinamente, a estratégia do Departamento de Estado sobre sanções
internacionais.
As
sanções são medidas adotadas por governos contra países, empresas ou pessoas
físicas que, em tese, representam ameaças de segurança nacional ou que violam
acordos internacionais.
Antes
de assumir este posto, ele atuou como conselheiro econômico nas Filipinas e
como diretor de assuntos sobre Rússia e Ásia Central no Conselho de Segurança
Nacional dos Estados Unidos.
Um dos
exemplos mais recentes do uso de sanções norte-americanas aconteceu em abril
deste ano, quando o governo anunciou medidas contra pessoas e empresas que
teria ligações com o programa nuclear iraniano.
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Como estão as relações entre Brasil e EUA?
As
relações entre os dois governos são consideradas frias neste momento, segundo
analistas políticos e pelo assessor para assuntos internacionais da Presidência
da República, Celso Amorim. Em entrevista à BBC News Brasil em abril, Amorim
disse que ainda não havia conseguido contato com seu homólogo no governo
norte-americano.
Em
2022, Trump declarou apoio à reeleição de Jair Bolsonaro e usou suas redes
sociais para chamar o então candidato petista de "esquerdista radical
lunático".
Lula,
por sua vez, Lula disse torcer pela vitória da então vice-presidente e
candidata Kamala Harris, principal adversária de Trump, mas eleições
norte-americanas, em 2024.
Após a
vitória do republicano, Lula fez uma postagem em suas redes sociais
parabenizando o norte-americano.
"Meus
parabéns ao presidente Donald Trump pela vitória eleitoral e retorno à
presidência dos Estados Unidos. A democracia é a voz do povo e ela deve ser
sempre respeitada", escreveu Lula no X.
"O
mundo precisa de diálogo e trabalho conjunto para termos mais paz,
desenvolvimento e prosperidade. Desejo sorte e sucesso ao novo governo",
completou o presidente brasileiro.
Apesar
disso, Lula e Trump não se falaram por telefone, como é comum entre
chefes-de-Estado, desde que o norte-americano tomou posse.
Em
público, porém, os dois vêm divergindo em uma série de assuntos como a
regulação das redes sociais, em que Lula é a favor e Trump é contrário.
Em
abril, uma nota divulgada pelo MRE indicou que Lula teria manifestado
solidariedade ao governo da Dinamarca em meio às declarações de Donald Trump
sobre uma possível tomada de controle sobre a Groenlândia, território autônomo
no Ártico sob controle do país europeu.
As
relações entre os dois países sofreram um forte abalo em abril deste ano,
quando Trump anunciou tarifas sobre produtos importados de diversos países,
inclusive do Brasil.
A
tarifa imposta ao Brasil foi de 10% sobre uma série de produtos, encarecendo as
exportações brasileiras aos Estados Unidos. Nas semanas que anteciparam o
anúncio das tarifas, Lula disse que o Brasil poderia usar de
"reciprocidade" contra as taxas impostas pelos EUA a produtos
brasileiros.
Nenhuma
retaliação brasileira, no entanto, foi anunciada até o momento.
Desde
então, enviados do governo brasileiro vêm tentando negociar com representantes
norte-americanos. Essas negociações são lideradas pela equipe do
vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que também é ministro do
Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Os dois
presidentes chegaram a estar no mesmo local durante o velório do Papa
Francisco, mas não houve encontro entre eles.
• Eduardo Bolsonaro lança fake News sobre
sanções, enquanto governo Trump silencia
O
governo de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, desmentiu que a viagem
de David Gamble ao Brasil, coordenador do escritório de sanções do Departamento
de Estado, teria como objetivo punir o país, conforme divulgado pelo
ex-deputado federal radicado nos EUA, Eduardo Bolsonaro.
Conforme
a Casa Branca, a visita foi organizada pelo governo Lula, a fim de estabelecer
cooperação entre ambos os países no combate ao crime organizado.
Segundo
o 03, como é conhecido Eduardo no clã Bolsonaro, Gamble estaria no país para
adotar medidas contra autoridades brasileiras, em especial contra o ministro do
Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, relator dos processos contra os
golpistas do 8 de janeiro.
Durante
a viagem, que faz parte da agenda oficial de cooperação entre Brasil e EUA, o
funcionário do governo norte-americano terá
encontros no Itamaraty,
Ministério da Justiça e outros órgãos federais.
Questionado
sobre eventuais desdobramentos além da agenda oficial de Gamble no país, o
Departamento de Estado não se pronunciou até o mesmo sobre a missão ao Brasil,
sobre as declarações do deputado licenciado ou sobre encontros com a família
Bolsonaro. A informação também não foi comentada pela embaixada dos EUA.
Em
abril, a cooperação Brasil e EUA contra gangues estrangeiras resultou na prisão
de 18 brasileiros, suspeitos de participar de ações do PCC no exterior.
E, há
uma semana, a Polícia Federal formalizou um acordo para o combate ao crime
organizado, em que Brasil e EUA se comprometeram a trocar informações –
parceria anunciada pelo governo Trump.
Ainda
que o Brasil esteja aberto ao diálogo com o governo Trump, especialmente diante
da polêmica sobre as tarifas impostas pelos EUA sobre produtos importados, uma
eventual sanção imposta em resposta à atuação do ministro Alexandre de Moraes
seria vista como um ataque às instituições brasileiras e demandaria reações.
• A mentira de Dudu Bananinha
Eduardo
Bolsonaro, que se licenciou de seu mandato de deputado federal e está vivendo
desde o início do ano nos Estados Unidos para conspirar junto ao governo de
Donald Trump contra o Brasil, anunciou que o chefe do Escritório de Coordenação
de Sanções do Departamento dos EUA desembarcará em Brasília na próxima
segunda-feira (5).
O
objetivo da vinda de David Gamble ao Brasil, segundo Eduardo Bolsonaro, seria
discutir sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal
Federal (STF). O filho de Jair Bolsonaro tem articulado retaliações dos EUA
contra o magistrado por sua atuação frente ao inquérito da tentativa de golpe
de Estado.
De
acordo com o deputado licenciado, David Gamble se reunirá com o senador Flávio
Bolsonaro (PL-RJ) e, possivelmente, com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
"Essa
semana agora vai estar em Brasília o coordenador para fins de sanções do State
Department, que é o equivalente ao Ministério das Relações Exteriores no
Brasil. Quando eu disse que a batata do Alexandre de Moraes estava esquentando
aqui nos Estados Unidos, pode ter certeza que ela está esquentando de verdade.
Aqui não tem tic-tac não. Se Deus quiser, os violadores sistemáticos de
direitos humanos, que inclusive levaram à morte do Clezão e fazem tantas outras
atrocidades, vão ser punidos e os Estados Unidos, Deus queira, vai retornar a
ser o país que exporta democracia e liberdade, e não como o governo anterior,
que exportava censura, ainda mais sob o título de combate à
desinformação", disse Eduardo Bolsonaro em vídeo divulgado nas redes
sociais nesta sexta-feira (2).
"Que
Deus abençoe essa missão e que o Ocidente volte a ser um local onde se
preservam as liberdades, onde você realmente tenha os valores democráticos no
coração e não sejam repúblicas de banana se curvando as novas táticas
socialistas e de esquerda, que incluem inclusive a lawfare dentro dos
tribunais", prosseguiu.
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Conspiração contra o Brasil
Eduardo
Bolsonaro tem se aliado a parlamentares da extrema direita estadunidense para
pressionar o governo dos EU a impor retaliações contra o ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do inquérito sobre a
tentativa de golpe, e até mesmo sanções contra o Brasil.
O
objetivo é claro: constranger Moraes e o governo Lula com o respaldo dos EUA,
tentando influenciar o curso da investigação sobre a tentativa de golpe. A
intenção final é livrar Jair Bolsonaro da prisão e reabilitá-lo politicamente
para um eventual retorno ao Palácio do Planalto. Além disso, Eduardo Bolsonaro
aposta na imposição de sanções norte-americanas contra o Brasil como forma de
enfraquecer a gestão de Lula e pavimentar o caminho para que seu pai volte ao
poder.
Caso
Alexandre de Moraes, de fato, seja alvo das sanções, poderiam ser aplicadas
punições como a proibição da entrada do ministro nos EUA e até mesmo algum tipo
de bloqueio financeiro.
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Moraes: "Não somos colônia"
Em
fevereiro deste ano, o ministro Alexandre de Moraes respondeu, durante sessão
do STF, à provocação do governo Trump por meio do Departamento de Estado dos
EUA, que havia acusado o magistrado de “praticar censura” contra plataformas
digitais estadunidenses e cidadãos.
Em sua
fala, Moraes destacou que o Brasil é uma República independente desde 1822.
"É importante que todos nós reafirmemos nossos compromissos com a defesa
da democracia, dos direitos humanos, da igualdade entre as nações e do nosso
juramento integral de defesa da Constituição brasileira, pela soberania do
Brasil, pela independência do Poder Judiciário e pela cidadania de todos os
brasileiros e brasileiras”, disse.
"Deixamos
de ser colônia em 7 de setembro de 1822. E, com coragem, estamos construindo
uma República independente e cada vez melhor. Uma República independente e
democrática com a Constituição de 1988. E construindo com coragem, pois, como
sempre lembrado pela nossa eminente ministra Cármen Lúcia, citando Guimarães
Rosa, 'o que a vida quer da gente é coragem'", concluiu Alexandre de
Moraes.
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Fonte:
BBC News Brasil/UOL/Fórum/Metrópoles

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