quinta-feira, 1 de maio de 2025

Luís Nassif: O futuro está sendo construído e Lula esconde

O grande problema de países com déficit de informação, como o Brasil, é a pouca atenção que se dá a medidas estruturantes. De Temer a Bolsonaro, houve uma implosão, no setor público, de sistemas fundamentais para o desenvolvimento, como o de ciência e tecnologia, das empresas públicas, depenadas para gerar dividendos.

Hoje em dia tem-se o futuro sendo construído em várias instâncias, e um presidente da República que tem o mérito de abrir espaço para essas reconstruções, mas que padece de uma cegueira absoluta sobre os fatores de estímulo da opinião pública.

Há uma enorme demanda por alguém que aponte o futuro. Este está sendo construído em várias frentes – a Nova Indústria Brasil, do Ministério de Indústria e Comércio, a Transição Energética, da Fazenda, os financiamentos do BNDES em energias alternativas, da Finep (Financiadora de Estudos e Pesquisa) no aparelhamento dos laboratórios, da Petrobras no renascimento da indústria naval.

Nada disso ganha visibilidade. Do lado da mídia, porque já está empenhada no trabalho diuturno de desgastar o governo e há muito aboliu o conceito de relevância da cobertura. Da parte do governo por uma cegueira incompreensível. O presidente se esfalfa em inaugurações, em entrevistas para rádios do interior, para falar em pequenos benefícios para a população, e deixa de lado os fatores fundamentais de desenvolvimento.

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O curioso dessa história é que Lula acompanha de perto, com interesse, todos esses avanços estruturais, como ocorre com a área de ciência e tecnologia. Mas só se tornará um fator determinante de futuro, entendido pela opinião pública, quando se tornar peça central dos discursos do presidente.

Tem muita coisa avançando, por exemplo, do lado da ciência e tecnologia.

O conteúdo abaixo é de uma entrevista com a Ministra Luciana Santos, de Ciência, Tecnologia e Inovação, e foi organizado usando uma plataforma de Inteligência Artificial.

<><> 1) Sucesso da Conferência e Discurso de Lula

§  Impacto do Discurso de Lula (00:00:13)

▫ O discurso de Lula animou os participantes da 5a Conferência Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação (5a CNCTI), mas foi percebido como direcionado a um público específico.

▫ Lula pediu aos cientistas que elaborassem um plano para ciência e tecnologia, destacando a necessidade de um plano abrangente para o Brasil.

▫ A conferência foi vista como um sucesso, destacando a importância da ciência e tecnologia na soberania nacional.

§  Desafios Geopolíticos e Tecnológicos

▫ A disputa tecnológica é um dos pilares da geopolítica mundial, com a China ampliando sua capacidade de inovação.

▫ A China está avançando em áreas disruptivas como 5G, espaço e fusão nuclear.

§  Participação e Contribuições na Conferência

▫ A conferência não ocorria há 14 anos, com uma participação significativa de 2.500 a 3.000 pessoas presencialmente.

▫ O uso de inteligência artificial para sistematizar contribuições, com o livro Lilás e Violeta destacando estratégias e políticas públicas.

▫ A importância da participação regional e municipal na ciência e tecnologia, com exemplos de secretarias municipais pioneiras.

<><> 2) Políticas Públicas e Investimentos em Ciência e Tecnologia

§  Recomposição do Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia (00:12:04)

▫ A recomposição integral do fundo foi uma das decisões estruturantes para resgatar a relevância da política pública de ciência e tecnologia.

▫ O fundo é financiado por cadeias dinâmicas da economia, como recursos hídricos e petróleo.

▫ A importância de aumentar a capacidade de investimentos, com propostas para que big techs e o agro contribuam com o fundo.

§  Desafios e Soluções para a Inovação

▫ A burocracia e o medo de interpretações erradas do TCU (Tribunal de Contas da União) inibem a liberação de recursos para inovação.

▫ A necessidade de flexibilidade e uso do marco legal da ciência e tecnologia para estimular a inovação.

▫ A importância de programas como encomenda tecnológica e transferência tecnológica para aquecer a inovação.

§  Programas Estratégicos e Parcerias Internacionais

▫ Programas estratégicos incluem áreas como espacial e ciência nuclear, com projetos no PAC.

▫ A parceria com a China avança em áreas como mecanização da agricultura familiar e inteligência artificial.

▫ O desenvolvimento de soluções de IA para monitoramento ambiental e combate à fome, em colaboração com Embrapa e INPE.

<><> 3)      Iniciativas e Projetos Inovadores

§  Atração de Talentos e Combate à Fuga de Cérebros

▫ O programa Conhecimento Brasil visa atrair de volta cérebros brasileiros no exterior, com 2.500 interessados. Cerca de mil ficarão nos seus países atuais, mas trabalhando em temas brasileiros.

▫ A importância de infraestrutura sofisticada para fixar talentos no país, uma das prioridades do MCTI.

▫ Planos para atrair cientistas dos EUA e Argentina, aproveitando contradições políticas internacionais.

§  Desenvolvimento de Infraestrutura de Pesquisa

▫ Expansão de infraestrutura de pesquisa com novos laboratórios e estações de luz.

▫ O laboratório NB4 será único no mundo, ligado a linhas de luz para manipulação de patógenos.

▫ A importância de infraestrutura avançada para antecipar pandemias e reduzir custos de extração de petróleo.

§  Inovação e Sustentabilidade no Setor Automotivo

▫ A Ceitec[i], reativada, muda sua rota tecnológica para o setor automotivo, focando em dispositivos de potência,.

▫ A transição para carbeto de silício como insumo para chips, visando eficiência e mercado latino-americano.

▫ A importância de reestruturar a radiofarmácia pública para garantir acesso a radiofármacos pelo SUS.

<><> 4)      Influência da Inteligência Artificial)

§  Impacto Global e Local

▫ A Inteligência Artificial (IA) é uma tecnologia transversal que influencia diversas cadeias globais.

▫ Iniciativas como o DeepSeek[ii] demonstraram a viabilidade de reduzir custos de infraestrutura em até dez vezes.

▫ O modelo colaborativo é destacado como uma alternativa ao modelo de concentração de recursos.

§  Soluções de IA para o Setor Público

▫ O plano é entregar 30 soluções de IA para o setor público até o final do ano.

▫ Essas soluções visam atender metas de curto e médio prazo, melhorando a eficiência dos serviços públicos.

§  Capacitação e Centros de Competência

▫ O Brasil possui centros de competência em IA, como o CGI[iii] e o NIC,[iv] que financiam pesquisas e capacitações.

▫ Pernambuco abriga dois centros importantes: o Porto Digital[v] e o César[vi], que são referências em inovação tecnológica.

▫ A formação de profissionais em TI é crucial para suprir o déficit de 500 mil vagas no setor.

<><> 5)      Desafios e Oportunidades na Tecnologia

§  Formação e Mercado de Trabalho

▫ A Brascom [vii]estima um déficit significativo de profissionais em áreas como IA, IoT, e segurança cibernética.[viii]

▫ Cursos de capacitação, como o de segurança cibernética, têm formado milhares de profissionais para o mercado.

§  Iniciativas para Mulheres na Ciência

▫ A participação feminina em áreas de engenharia e TI ainda é baixa, com apenas 16% de representação.

▫ Lançamos editais específicos, como o de 100 milhões do CNPq, incentivando a pesquisa e inovação lideradas por mulheres.

▫ A promoção da igualdade de gênero na ciência é uma prioridade, com foco em áreas estratégicas.

§  Desenvolvimento Regional e Inovação

▫ A desigualdade regional na infraestrutura de pesquisa é um desafio a ser enfrentado.

▫ Políticas assertivas são necessárias para estimular o desenvolvimento tecnológico no Nordeste.

▫ Iniciativas como o fortalecimento de universidades e institutos federais têm contribuído para o desenvolvimento regional.

<><> 6)      Cooperação Internacional e Sustentabilidade

§  Exploração e Preservação dos Oceanos

▫ O Brasil foi reconhecido pela UNESCO por sua cultura oceânica e iniciativas de pesquisa marinha.

▫ A exploração sustentável dos oceanos é vista como uma oportunidade econômica e científica.

▫ Projetos como a Olimpíada Oceânica promovem a educação e conscientização sobre a importância dos oceanos.

§  Parcerias Tecnológicas Internacionais

▫ A cooperação com países como França e Reino Unido é fundamental para o desenvolvimento de tecnologias avançadas.

▫ A transferência de tecnologia, como no caso do submarino nuclear, é um exemplo de parceria estratégica.

▫ A colaboração internacional fortalece a capacidade tecnológica e de inovação do Brasil.

§  Energia Renovável e Sustentabilidade

▫ A energia eólica offshore é uma área de crescente interesse e investimento no Brasil.

▫ Parcerias com empresas como a Petrobras são essenciais para o desenvolvimento de energias renováveis.

▫ A sustentabilidade é um foco central nas políticas de desenvolvimento tecnológico e econômico.

¨      Em se plantando, tudo dá, e nada se requer

O primeiro passo do planejamento de um país é o levantamento dos fatores estratégicos de que dispõe. No caso brasileiro, um deles são os minerais estratégicos, as reservas de terras raras. O outro é o mercado de consumo interno, como plataforma para exportação para países vizinhos. O terceiro – no caso brasileiro – é a possibilidade de se produzir por aqui valendo-se de energia limpa, hoje em dia um diferencial precioso, especialmente para empresas europeias, submetidas a uma legislação ambiental mais severa.

Foi o que o Brasil fez na década de 50; e a China fez a partir da década de 90, em um movimento que a tornou a maior economia do planeta.

No início dos anos 2.000, por exemplo, a Embraer montou uma joint venture com uma empresa chinesa. Pelo acordo, ela iria transferir tecnologia para a empresa chinesa.

Na época, ponderei para Maurício Botelho, presidente da Embraer, que estava criando um concorrente. Sua resposta foi a de que os chineses aprenderiam de qualquer jeito. Pelo acordo, a Embraer poderia se beneficiar, pelo menos,  de alguns anos do mercado chinês.

Na época, a palavra de ordem de toda grande corporação mundial era ir para a China.

Obviamente não foi apenas esse movimento que gerou o milagre chinês. Houve um enorme investimento para enviar estudantes chineses para as melhores universidades dos Estados Unidos, absorver a tecnologia das empresas estrangeiras que se instalavam por lá.

Outro movimento foi abrir condições para que pequenos e médios empresários, muitos provenientes da área rural, se tornassem empreendedores, gozando de financiamento abundante, novas tecnologias criadas nas universidades, mão de obra barata e um enorme estímulo para exportar sua produção.

No começo da revolução industrial, a França tinha equipamentos muitos mais avançados que os ingleses. Mas a Inglaterra criou condições econômicas para que seus empreendedores – muitos vindo da área rural – deslanchassem.

Em meados dos anos 90, lembro de ter visto um gráfico sobre a produção científica na China e no Brasil. Os chineses tinham picos em algumas áreas específicas. Mas o Brasil tinha bom comportamento em todos os ramos pesquisados.

Desperdiçou-se esse enorme potencial, com o Brasil sujeitando-se a um modelo econômico totalmente amarrado ao capital financeiro.

Agora, tem-se ensaios de política industrial em vários ministérios do governo, mas não se resolveu a questão básica, primária: o que exigir de contrapartida dos parceiros comerciais?

Tempos atrás conversei com uma acadêmica ligada à China. Dizia ela que a China era acusada de apenas comprar terras e vender seus produtos no país. Ora, sabe-se que o Brasil tem uma importância geopolítica central para a inserção da China no sul Global. Mas até agora nada foi pedido para a China, me disse a fonte.

Apenas na semana passada o Ministro das Minas e Energia anunciou a intenção de definir regras para a exploração de minerais raros.

Os automóveis elétricos chineses estão invadindo o país. Qual a contrapartida pedida? Por que não se negociou com os chineses a capacitação de empresas nacionais para suprir o setor de autopeças dos veículos? Por que não se ousou exigir sociedade com empresas nacionais? Por que não se criou, como contrapartida para a exploração de terras raras, programas de transferência de tecnologia?

Se a soja brasileira será essencial, inclusive para substituir a norte-americana, porque não se negocia capital chines para, junto com o capital e a produção agro, montarem usinas de beneficiamento?

Em 2024 o Brasil exportou 97,3 milhões de toneladas de soja em grãos e apenas 2,34 milhões de toneladas de óleo de soja. Para este ano, prevê 100 milhões de toneladas. A soja em grão sai pelo equivalente a R$ 2,24 por quilo; e óleo de soja a R$ 6,84, três vezes mais.

Vamos a umas contas simples:

1.       O preço de soja em grão está pelo equivalente a R$ 2,4 o quilo. O preço do óleo em soja está em R$ 6,84, três vezes mais.

2.       O Brasil exporta 100 bilhões de quilos de soja e 2,34 bilhões de quilos de óleo de soja.

3.       O faturamento da soja em grão equivaleria a R$ 224 bilhões; e de óleo de soja a R$ 16 bilhões. No total, R$ 240 bilhões.

Suponha que o país conseguisse transformar a metade das exportações de soja em óleo de soja.

A conta ficaria assim:

1.       Exportação de soja em grão: R$ 112 bilhões

2.       Exportação de óleo de soja: R$ 342 bilhões.

3.       Total: R$ 454 bilhões ou 102% a mais de divisas.

Ou seja, o país simplesmente dobraria o faturamento das exportações de soja se conseguisse, ao menos.

Vale para todas as demais commodities.

O país tem tudo para ser grande. Falta apenas o essencial: pensar grande.

 

Fonte: Jornal GGN

 

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