Gutierres Fernandes Siqueira: Nem o Conclave
escapa da polarização
A polarização política
da sociedade contemporânea não respeita fronteiras — nem mesmo as da Igreja Católica. A cada novo Conclave, a imprensa especula
se o próximo papa será “conservador” ou “progressista”. Essa expectativa, longe
de ser infundada, reflete uma divisão real entre os cardeais e dentro do
próprio catolicismo global. Mas por que uma instituição milenar, cuja vocação é
a unidade, continua sendo atravessada por tensões que parecem pertencer à era
das redes sociais?
A
resposta passa por reconhecer que, dentro da tradição cristã, conservadorismo e
progressismo muitas vezes operam como verdadeiras "seitas". No
passado, "seita" era uma forma de nomear "partidos". Cada
um desses polos se apega a aspectos legítimos da fé — tradição e renovação —
mas os absolutiza, transformando-os em ídolos. O conservadorismo tende a
sacralizar costumes herdados, confundindo o eterno com o que foi historicamente
produzido em solo europeu. Já o progressismo, na ânsia de atualizar a fé, corre
o risco de dissolvê-la, relativizando seus fundamentos em nome da adaptação
cultural — transformando uma fé viva em mera ética humanista.
Essas
disputas não são novas. Desde os primeiros séculos do cristianismo, a Igreja
tem convivido com tensões entre permanência e mudança. A tradição cristã nunca
foi homogênea; sempre abrigou debates legítimos sobre como viver, interpretar e
anunciar o Evangelho. O problema não está
na divergência, mas na incapacidade de dialogar com maturidade e de submeter o
próprio ponto de vista à verdade revelada.
No
século XX, o Concílio Vaticano II foi um marco de
abertura e diálogo com o mundo moderno. Mas sua recepção foi desigual. Alguns o
viram como um novo Pentecostes — um refresco de ideias e posturas —,
enquanto outros o consideraram o início de uma crise de identidade. Desde
então, a Igreja vive um processo de fragmentação interpretativa.
A crise de autoridade — acentuada
pelos escândalos morais e pela ascensão das mídias digitais — ampliou essa
fragmentação. Em vez de um único magistério, hoje há “magistérios
paralelos”: youtubers, redes sociais e influenciadores que
formam verdadeiras bolhas teológicas. Além disso, a polarização
externa — cultural, política e ideológica — foi importada para dentro
da Igreja. O que deveria ser espaço de comunhão tornou-se arena de
disputa. Há quem veja o papa como traidor; outros, como salvador — conforme o
viés ideológico.
No
entanto, é preciso lembrar: unidade não é uniformidade. A catolicidade da
Igreja pressupõe uma pluralidade reconciliada, não um pensamento único. O
desafio é conviver com tensões sem romper a comunhão. É reconhecer que o corpo
de Cristo abriga diferentes vocações, culturas e ênfases teológicas.
A tradição não deve ser museu, nem a renovação, iconoclastia. Ambas exigem
discernimento espiritual nascido da humildade diante do Cristo vivo. A Igreja perde
quando se transforma em trincheira ideológica. Ela vence quando volta ao
essencial: Cristo como centro, a cruz como critério, e o amor como
método. Fora disso, resta apenas o ruído das facções — e nenhuma delas salvará
a fé.
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Conclave incerto, mas a Igreja não pode se fechar. Por
Paolo Rodari
O
sucessor de Bergoglio, quem quer que seja, não poderá trair essa profunda
convicção: a Igreja Católica deve ser uma casa para todos, sem pontes
levadiças em suas entradas, sem ninguém pedindo carteiras de identidade
especiais para aqueles que batem à porta. Essa é sua mensagem mais profunda.
Assim como Jesus sentava à mesa com os “pecadores”, todos podem se sentar à
mesa da Igreja. O momento do funeral do
Papa não
é secundário em vista do que vai acontecer em seguida, os dias das congregações
gerais que precedem o Conclave.
Joseph Ratzinger, em 2005, proferiu
uma homilia durante as exéquias de João Paulo II que
efetivamente o lançou para a eleição. Não é o caso de Re, é óbvio, mas as
palavras que ele proferiu na homilia de sábado traçam o caminho para um
conclave incerto sobre os nomes, mas não sobre os temas.
Sinodalidade, maior
colegialidade, abertura ao mundo, um olhar proativo sobre os temas da moral
sexual e os temas eticamente sensíveis, nenhuma ruptura com a tradição, mas
aberturas aos desafios que o mundo já assumiu para si, a discussão sobre a
obrigatoriedade do celibato para os
sacerdotes,
a reforma do papado, o acolhimento de todos, a paz no mundo, esses são alguns
dos desafios de que aquele que se sentará no trono de Pedro não poderá se
desviar de forma alguma. Mas, acima de tudo, o estilo de
governo. Francisco não mudou a doutrina da Igreja, é certo. Sobre
ela, ele se manteve um conservador. Mas o estilo da proximidade e da
normalidade, desde aquele “boa noite” proferido na noite de 13 de abril de 2013,
quando ele apareceu vestido de branco na loggia central da basílica
do Vaticano, marca um novo ritmo.
O muro
de separação entre o pontífice e o povo foi definitivamente derrubado. E não
haverá mais volta. “Apesar de sua fragilidade e sofrimento finais, o Papa
Francisco escolheu trilhar esse caminho de doação até o último dia de sua
vida terrena”, lembrou Re no sábado, que
chamou Bergoglio de “papa entre o povo”. E essa doação não poderá
deixar de ser seguida também por aquele que o substituirá.
O
conclave que será aberto daqui a poucos dias continua sendo um dos mais
incertos da época contemporânea. Se em
2005 Ratzinger e Martini eram as figuras principais, e se
em 2013 Bergoglio e Scola de fato catalisaram os votos dos
cardeais desde o início, hoje tudo é menos decifrável.
Parolin e Tagle são certamente dois
nomes papais. Mas com eles muitos outros. A idade contará, o futuro papa não
poderá ser jovem demais, mas também terá que ser ponderada a propensão de
encarnar a Igreja nos desafios da época sem perder a identidade.
Tanto Tagle quanto Parolin têm essas características, sendo
o primeiro mais carismático e o segundo mais comedido e moderado.
Pizzaballa e Zuppi também
são figuras bem vistas e que transmitem autoridade, inclusive por terem
trabalhado em cenários difíceis, em Jerusalém o primeiro, em
Moçambique na época do acordo de paz o segundo.
Francisco nunca
declarou ter favoritos. Ele sempre confiou o futuro, como costumava dizer, ao
Espírito Santo, mas também a cardeais que quis nomear “pescando-os” de todas as
partes do mundo. A maioria deles não se conhece. Agora começam os dias decisivos
de confronto, para se conhecer uns aos outros, se olhar e decidir sobre o
futuro. Nessa fase, os aqueles com mais de 80 anos também terão um peso
decisivo. Os cardeais Bagnasco, Bertone, Ruini, Re e
muitos outros tentarão ajudar os eleitores a criar um consenso para a
personalidade certa.
Em
2013, foram primeiramente Maradiaga e Kasper que
pressionaram por Bergoglio, sua ação durante o conclave, até mesmo nos
intervalos para o almoço e o jantar. Depois, é claro, Bergoglio fez
sua parte que surpreendeu o colégio de cardeais durante uma congregação geral
que precedeu o próprio conclave. Ele contou que via Jesus como que aprisionado,
e quem o mantinha acorrentado era a própria Igreja. Ele precisava libertá-lo.
Foi esse discurso a chave que levou à eleição. Isso também terá que acontecer
nessas próximas horas. A partir dos discursos dos papáveis, tudo ficará mais
claro.
¨
Antes de escolher um novo papa, os
cardeais farão política, Por Thomas J. Reese
Quando
um papa renuncia ou morre, a lei da Igreja determina que os cardeais se reúnam
em Roma dentro de 15 a 20 dias para eleger um novo papa. Por motivos sérios,
o início do conclave pode ser adiado por mais cinco dias, mas não
mais. Na era das viagens de jato, isso dá tempo suficiente para cardeais de
todo o mundo chegarem a Roma, a menos que seus governos os impeçam de ir. Os
prelados da Igreja acreditam que adiar a eleição pode gerar incerteza e
confusão se a Igreja ficar sem
liderança por um longo período. Além disso, um longo atraso pode levar a um
conflito maior sobre a escolha do papa, à medida que as facções se organizam e
começam a fazer campanha para seus candidatos favoritos.
O tempo
que antecede o conclave não é desperdiçado. Os cardeais fazem muita
política em particular, em reuniões informais e jantares que antecedem o
conclave.
Com a
morte do papa, todas as principais autoridades do Vaticano perdem
seus cargos, exceto o Cardeal Kevin Farrell, o camerlengo, que é
responsável pelas finanças e pela administração ordinária durante o interregno.
O Cardeal Angelo De Donatis, chefe da Penitenciária Apostólica, um
tribunal encarregado de perdoar pecados reservado ao papa, também permanece no
cargo para que o perdão esteja sempre disponível. E o vigário para Roma,
Cardeal Baldassare Reina, permanece para cuidar pastoralmente do povo
de Roma. Embora fazer campanha abertamente para ser papa seja desencorajado e
contraproducente, é comum que um cardeal promova seu candidato favorito entre
os outros cardeais. Um cardeal pode ser um "fazedor de reis" se não
for candidato, mas tiver a confiança dos outros cardeais.
Em
séculos passados, os governos tentavam influenciar as eleições. Antigamente, as
vidas dos cardeais podiam ser ameaçadas para forçá-los a votar em um candidato
específico. Votos também podiam ser comprados com dinheiro, mas isso não
acontece hoje, apesar do que foi retratado no filme "Conclave", de 2024. Tais
ações não invalidariam uma eleição, mas a lei da Igreja estabelece que um papa
não está vinculado a nenhuma promessa que tenha feito antes de sua eleição.
O que
os cardeais levarão em conta ao escolher um novo papa? Cada cardeal leva em
conta três fatores principais.
Primeiro,
ele busca alguém que seja um bom papa — alguém que concorde com os valores e a
visão do cardeal para a Igreja. Assim como os eleitores em outras eleições, um
cardeal busca alguém que, em geral, concorde com ele.
Em segundo lugar,
ele busca alguém com quem possa ter um bom relacionamento. Idealmente, ele quer
um de seus amigos cardeais como papa, alguém que o ouça. Personalidade e
relacionamentos pessoais são importantes, assim como habilidades linguísticas.
Terceiro,
um cardeal quer alguém que seja bem recebido em seu país de origem, ou pelo
menos alguém que não cause problemas no país do cardeal. Não é de surpreender
que cardeais de diferentes partes do mundo tenham preocupações diferentes em
relação aos candidatos.
Por
exemplo, cardeais americanos não gostariam de um papa que não entendesse a
crise dos abusos sexuais e dissesse coisas estúpidas como "isso é uma
criação da mídia". Cardeais de países com muitos muçulmanos também não
gostariam de um papa que dissesse coisas estúpidas sobre o islamismo. Cardeais
da África desconfiariam
de qualquer pessoa com uma "agenda gay". Cardeais do Sul Global estão
preocupados com a globalização. Cardeais do Norte estão preocupados com o
ecumenismo. “Toda política é local”, como disse Tip O'Neill, e isso inclui a Igreja Católica.
Eventos
atuais também podem impactar a eleição. Se o mundo estiver em crise, os
cardeais podem recorrer a um diplomata experiente com atuação no cenário
internacional. Se o Vaticano estiver falido ou em meio a um escândalo
financeiro, eles podem procurar um gestor financeiro e um captador de recursos.
Idade e saúde também são critérios, dependendo se o cardeal deseja um
pontificado curto ou longo.
Antes
do conclave, os cardeais se reúnem no que é chamado de “congregações
gerais” para se preparar para o conclave e discutir as principais questões
enfrentadas pela igreja. Apenas cardeais com menos de 80 anos podem participar
de um conclave, mas todos os cardeais podem participar das congregações gerais.
Em 2013, eles se reuniram sete vezes em um período de cinco dias.
Nas
primeiras reuniões da congregação geral, os cardeais revisam as regras para um
conclave e prestam juramento de observá-las e manter o sigilo do conclave. Eles
também lidam com as questões financeiras e logísticas do conclave e definem uma
data para o seu início. O documento do Vaticano que rege os
conclaves, “Universi Dominici Gregis” (“De todo o rebanho do
Senhor”), também faz com que os cardeais selecionem “dois eclesiásticos
conhecidos por sua sã doutrina, sabedoria e autoridade moral” que apresentarão
aos cardeais duas meditações sobre os problemas que a Igreja enfrenta e sobre
“a necessidade de discernimento cuidadoso na escolha do novo papa”. A primeira
meditação é dada antes do início do conclave, enquanto a segunda ocorre logo
antes da primeira votação. Uma vez resolvidas essas questões administrativas,
os cardeais falam sobre o estado da igreja.
Embora
os discursos dos cardeais na congregação geral não sejam discursos de campanha,
eles dão aos cardeais a oportunidade de avaliar cada orador como um possível
candidato. Cerca de 100 cardeais discursaram em 2013, mas o Cardeal Jorge Mario
Bergoglio se
destacou por resumir sucintamente as questões enfrentadas pela Igreja em menos
tempo do que qualquer outro cardeal. Embora alguns cardeais tenham ignorado o
limite de tempo, Bergoglio terminou cedo. Os debates de 2013
abrangeram uma ampla gama de tópicos: diálogo inter-religioso, ecumenismo,
colegialidade, a Cúria do Vaticano, escândalos eclesiásticos e o desejo de uma
ênfase mais positiva no amor e na misericórdia na evangelização. Esses se
tornaram temas centrais do pontificado do Papa Francisco.
A Sala
de Imprensa do Vaticano divulgou em termos gerais os temas discutidos
nas congregações gerais, mas jornais italianos divulgaram as sessões
com mais detalhes em 2013. Embora os vazamentos tenham vindo, sem dúvida, de
cardeais italianos, os cardeais americanos foram responsabilizados e instruídos
a interromper as coletivas de imprensa durante esse período. Os americanos
foram silenciados e os cardeais italianos continuaram a vazar informações. Com
as companhias aéreas conseguindo transportar cardeais a Roma rapidamente,
alguns têm defendido o início do conclave mais cedo. Acho que isso
seria um erro. Os cardeais, especialmente os mais novos, precisam de tempo para
se conhecerem melhor e trocarem opiniões. O tempo que antecede o conclave é
valioso para reuniões e discussões informais, bem como para discussões nas
congregações gerais. Eleger um papa é um exercício importante demais para ser
apressado.
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“Conclave aberto e sem
favoritos. O sucessor terá que falar ao povo”, diz Andrea Riccardi
Nos
olhos as imagens das centenas de milhares de pessoas que atravessam Roma.
Na mente, a expectativa pela escolha do sucessor que, em poucos dias, fechará
os cardeais eleitores na Capela Sistina. Mas, antes
disso, Andrea Riccardi, fundador da
Comunidade de Santo Egídio, reflete sobre o que as imagens de Roma estão
dizendo: “Estou impressionado com o luto muito grande, nesses termos talvez
inesperado, que está acompanhando a despedida do Papa
Francisco”,
em entrevista para Alberto Infelise.
<><>
Eis a entrevista.
·
Não se esperava uma
reação popular tão maciça?
Muitos davam uma imagem desbotada e cansada
de Francisco. Mas o que estamos vendo nos fala da popularidade de
Francisco e de um povo que sentiu sua figura. E isso levanta a questão de seu
legado, da busca por um sucessor que saiba falar com o povo. Francisco evidentemente
tocou as pessoas com sua grande energia, suas ações, sua simpatia e sua
capacidade de compaixão, que o levaram a habitar o coração das pessoas e a
superar as barreiras ideológicas.
·
Esse legado será um tema
que contará no próximo Conclave?
Não sei
se será um tema dentro do Conclave. É um Conclave novo,
de cardeais que não se conhecem, representando uma Igreja grande, diversa
e também contraditória, especialmente de conflitualidade entre países. É a
Igreja da complexio oppositorum, uma Igreja global na qual
vive a complexidade das oposições, das diversidades, o que não significa
a Igreja dos conflitos. Mas certamente há um tema que diz respeito à
afirmação da Igreja nacional em uma época em que o tema dos nacionalismos
existe.
·
Até que ponto os
alinhamentos regionais contarão?
Há
obviamente diferenças de áreas geopolíticas, mas nenhuma delas pode eleger o
papa sozinha. As mesmas áreas geográficas se dividem internamente. Foi o
próprio Francisco que nomeou cardeais norte-americanos mais próximos
de si, já que outros dessa área pareciam estar distantes dele. Mas não se pode
falar de cardeais propriamente
bergoglianos como antigamente se falava de montinianos. Será necessário buscar
um núcleo de coesão entre as interpretações do legado de Francisco e as
pressões das diferentes áreas culturais e geográficas.
·
Esse parece ser um dos
Conclaves mais abertos dos últimos quarenta e sete anos. Um dos papáveis também
é jesuíta. Dois papas jesuítas, um após o outro, seriam possíveis?
Tudo é possível, até mesmo dois jesuítas se
sucedendo. No momento, não há candidatos hegemônicos. Em geral, não se tende a
insistir na mesma área geográfica. Depois de um polonês, tivemos um alemão e
depois um argentino. O verdadeiro problema é encontrar o homem que represente a
síntese, ou pelo menos um ponto de síntese. Em minha modesta opinião, um homem
sozinho precisará ser ajudado, e talvez seja necessário pensar que essa ajuda
seja fortalecida.
·
O senhor acha que um
fortalecimento do Sínodo também poderia fortalecer o papa?
Essa é
uma das grandes questões: como dar continuidade ao processo sinodal na
Igreja.
E essa é uma das áreas em que se manifestam as diferenças entre os possíveis
candidatos. Não apenas se o continuar, mas como continuar. O sínodo certamente
não deve limitar o poder do papa, mas talvez seja necessário introduzir
uma sinodalidade permanente, uma
espécie de pequeno conselho do papa. E, além disso, o papa não é apenas o papa
da Cúria, mas é um
evangelizador.
·
Francisco foi um
evangelizador?
Francisco foi
um grande evangelizador. Os católicos se sentiram encorajados com seu papado e
até mesmo o mundo muçulmano foi tocado por sua mensagem. Em Jacarta, vi muçulmanos
rezando na grande mesquita por sua saúde. Ele foi um grande missionário e um
grande evangelizador. João Paulo II disse: 'Não sou
apenas o sucessor de Pedro, sou também o
sucessor de Paulo’. A Igreja deve comunicar o Evangelho na Europa e
no resto do mundo.
·
O senhor acredita que
existe uma figura assim entre os cardeais que entrarão no Conclave?
Um cardeal me disse há muitos anos que quando
um papa escolhe um novo cardeal, ele o escolhe pensando que um dia ele poderia
ser seu sucessor. Acredito que neste Conclave haverá vários cardeais
dignos de serem sucessores de Francisco.
·
Há, como sempre, a
questão da idade do escolhido. Um papa mais jovem tem potencialmente mais anos
de reinado pela frente, um papa mais idoso menos.
Quando
se falava do jovem cardeal Siri como possível
sucessor de Pio XII, se falava sobre a
possibilidade de ter um padre eterno e não apenas um santo padre. Além das
brincadeiras, existe um problema de energias. Um papa mais jovem é um papa mais
enérgico, mas este é um mundo que consome tudo. Acredito que a idade não será o
único fator de discriminação. Ratzinger foi escolhido
também porque todos tinham ficado chocados com o fim de um papa eterno e
escolheram alguém que era muito parecido. Na sucessão de Bento, uma
atitude anti-italiana e anticurial também desempenhou um papel importante.
·
O senhor ainda acredita
que existe um preconceito anti-italiano?
Não acredito que exista mais um preconceito
anti-italiano, mas também nenhuma abertura especial. O verdadeiro ponto crucial
é encontrar um papa que saiba como fazer de Roma um centro manso e acolhedor,
que saiba como ser um evangelizador no mundo. Um papa que tenha uma grande
força de fé. Porque sem esta última, o jogo é por demais pesado.
·
Muitos estão apostando
na lotopapa: considera isso possível ou que faz sentido neste
momento?
Eu realmente acho que não, até porque muitas
vezes a lotopapa só tem a função de queimar nomes.
·
Acredita que o novo papa
estará em continuidade com Francisco ou será, de alguma forma, uma ruptura em
relação a ele?
Penso
em um eleito de continuidade que, no entanto, introduzirá modificações,
acréscimos que são de seu caráter. Afinal de contas, na Igreja Católica não existe algo
como a ruptura. Podem coexistir impulsos de espírito revolucionário e, ao mesmo
tempo, de continuidade.
·
Que papa foi Bergoglio?
Bergoglio era fiel à tradição, mas tinha
grandes aberturas em certos temas. E o fundamental para ele foi a grande
abertura pastoral da misericórdia.
·
Foi isso que o tornou
tão amado?
Exatamente. É por isso que estamos assistindo
nessas horas a um luto maior do que se esperava. A mensagem e a humanidade
desse Papa foram mais longe do que pensávamos.
Fonte: IHU/Il
Manifesto/America/La Stampa

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