quinta-feira, 1 de maio de 2025

Gutierres Fernandes Siqueira: Nem o Conclave escapa da polarização

polarização política da sociedade contemporânea não respeita fronteiras — nem mesmo as da Igreja Católica. A cada novo Conclave, a imprensa especula se o próximo papa será “conservador” ou “progressista”. Essa expectativa, longe de ser infundada, reflete uma divisão real entre os cardeais e dentro do próprio catolicismo global. Mas por que uma instituição milenar, cuja vocação é a unidade, continua sendo atravessada por tensões que parecem pertencer à era das redes sociais?

A resposta passa por reconhecer que, dentro da tradição cristã, conservadorismo e progressismo muitas vezes operam como verdadeiras "seitas". No passado, "seita" era uma forma de nomear "partidos". Cada um desses polos se apega a aspectos legítimos da fé — tradição e renovação — mas os absolutiza, transformando-os em ídolos. O conservadorismo tende a sacralizar costumes herdados, confundindo o eterno com o que foi historicamente produzido em solo europeu. Já o progressismo, na ânsia de atualizar a fé, corre o risco de dissolvê-la, relativizando seus fundamentos em nome da adaptação cultural — transformando uma fé viva em mera ética humanista.

Essas disputas não são novas. Desde os primeiros séculos do cristianismo, a Igreja tem convivido com tensões entre permanência e mudança. A tradição cristã nunca foi homogênea; sempre abrigou debates legítimos sobre como viver, interpretar e anunciar o Evangelho. O problema não está na divergência, mas na incapacidade de dialogar com maturidade e de submeter o próprio ponto de vista à verdade revelada.

No século XX, o Concílio Vaticano II foi um marco de abertura e diálogo com o mundo moderno. Mas sua recepção foi desigual. Alguns o viram como um novo Pentecostes — um refresco de ideias e posturas —, enquanto outros o consideraram o início de uma crise de identidade. Desde então, a Igreja vive um processo de fragmentação interpretativa. A crise de autoridade — acentuada pelos escândalos morais e pela ascensão das mídias digitais — ampliou essa fragmentação. Em vez de um único magistério, hoje há “magistérios paralelos”: youtubers, redes sociais e influenciadores que formam verdadeiras bolhas teológicas. Além disso, a polarização externa — cultural, política e ideológica — foi importada para dentro da Igreja. O que deveria ser espaço de comunhão tornou-se arena de disputa. Há quem veja o papa como traidor; outros, como salvador — conforme o viés ideológico.

No entanto, é preciso lembrar: unidade não é uniformidade. A catolicidade da Igreja pressupõe uma pluralidade reconciliada, não um pensamento único. O desafio é conviver com tensões sem romper a comunhão. É reconhecer que o corpo de Cristo abriga diferentes vocações, culturas e ênfases teológicas. A tradição não deve ser museu, nem a renovação, iconoclastia. Ambas exigem discernimento espiritual nascido da humildade diante do Cristo vivo. A Igreja perde quando se transforma em trincheira ideológica. Ela vence quando volta ao essencial: Cristo como centro, a cruz como critério, e o amor como método. Fora disso, resta apenas o ruído das facções — e nenhuma delas salvará a fé.

¨      Conclave incerto, mas a Igreja não pode se fechar. Por Paolo Rodari 

O sucessor de Bergoglio, quem quer que seja, não poderá trair essa profunda convicção: a Igreja Católica deve ser uma casa para todos, sem pontes levadiças em suas entradas, sem ninguém pedindo carteiras de identidade especiais para aqueles que batem à porta. Essa é sua mensagem mais profunda. Assim como Jesus sentava à mesa com os “pecadores”, todos podem se sentar à mesa da Igreja. O momento do funeral do Papa não é secundário em vista do que vai acontecer em seguida, os dias das congregações gerais que precedem o Conclave.

Joseph Ratzinger, em 2005, proferiu uma homilia durante as exéquias de João Paulo II que efetivamente o lançou para a eleição. Não é o caso de Re, é óbvio, mas as palavras que ele proferiu na homilia de sábado traçam o caminho para um conclave incerto sobre os nomes, mas não sobre os temas.

Sinodalidade, maior colegialidade, abertura ao mundo, um olhar proativo sobre os temas da moral sexual e os temas eticamente sensíveis, nenhuma ruptura com a tradição, mas aberturas aos desafios que o mundo já assumiu para si, a discussão sobre a obrigatoriedade do celibato para os sacerdotes, a reforma do papado, o acolhimento de todos, a paz no mundo, esses são alguns dos desafios de que aquele que se sentará no trono de Pedro não poderá se desviar de forma alguma. Mas, acima de tudo, o estilo de governo. Francisco não mudou a doutrina da Igreja, é certo. Sobre ela, ele se manteve um conservador. Mas o estilo da proximidade e da normalidade, desde aquele “boa noite” proferido na noite de 13 de abril de 2013, quando ele apareceu vestido de branco na loggia central da basílica do Vaticano, marca um novo ritmo.

O muro de separação entre o pontífice e o povo foi definitivamente derrubado. E não haverá mais volta. “Apesar de sua fragilidade e sofrimento finais, o Papa Francisco escolheu trilhar esse caminho de doação até o último dia de sua vida terrena”, lembrou Re no sábado, que chamou Bergoglio de “papa entre o povo”. E essa doação não poderá deixar de ser seguida também por aquele que o substituirá.

O conclave que será aberto daqui a poucos dias continua sendo um dos mais incertos da época contemporânea. Se em 2005 Ratzinger e Martini eram as figuras principais, e se em 2013 Bergoglio e Scola de fato catalisaram os votos dos cardeais desde o início, hoje tudo é menos decifrável.

Parolin Tagle são certamente dois nomes papais. Mas com eles muitos outros. A idade contará, o futuro papa não poderá ser jovem demais, mas também terá que ser ponderada a propensão de encarnar a Igreja nos desafios da época sem perder a identidade. Tanto Tagle quanto Parolin têm essas características, sendo o primeiro mais carismático e o segundo mais comedido e moderado.

Pizzaballa e Zuppi também são figuras bem vistas e que transmitem autoridade, inclusive por terem trabalhado em cenários difíceis, em Jerusalém o primeiro, em Moçambique na época do acordo de paz o segundo.

Francisco nunca declarou ter favoritos. Ele sempre confiou o futuro, como costumava dizer, ao Espírito Santo, mas também a cardeais que quis nomear “pescando-os” de todas as partes do mundo. A maioria deles não se conhece. Agora começam os dias decisivos de confronto, para se conhecer uns aos outros, se olhar e decidir sobre o futuro. Nessa fase, os aqueles com mais de 80 anos também terão um peso decisivo. Os cardeais Bagnasco, Bertone, Ruini, Re e muitos outros tentarão ajudar os eleitores a criar um consenso para a personalidade certa.

Em 2013, foram primeiramente Maradiaga e Kasper que pressionaram por Bergoglio, sua ação durante o conclave, até mesmo nos intervalos para o almoço e o jantar. Depois, é claro, Bergoglio fez sua parte que surpreendeu o colégio de cardeais durante uma congregação geral que precedeu o próprio conclave. Ele contou que via Jesus como que aprisionado, e quem o mantinha acorrentado era a própria Igreja. Ele precisava libertá-lo. Foi esse discurso a chave que levou à eleição. Isso também terá que acontecer nessas próximas horas. A partir dos discursos dos papáveis, tudo ficará mais claro.

¨      Antes de escolher um novo papa, os cardeais farão política, Por Thomas J. Reese

Quando um papa renuncia ou morre, a lei da Igreja determina que os cardeais se reúnam em Roma dentro de 15 a 20 dias para eleger um novo papa. Por motivos sérios, o início do conclave pode ser adiado por mais cinco dias, mas não mais. Na era das viagens de jato, isso dá tempo suficiente para cardeais de todo o mundo chegarem a Roma, a menos que seus governos os impeçam de ir. Os prelados da Igreja acreditam que adiar a eleição pode gerar incerteza e confusão se a Igreja ficar sem liderança por um longo período. Além disso, um longo atraso pode levar a um conflito maior sobre a escolha do papa, à medida que as facções se organizam e começam a fazer campanha para seus candidatos favoritos.

O tempo que antecede o conclave não é desperdiçado. Os cardeais fazem muita política em particular, em reuniões informais e jantares que antecedem o conclave.

Com a morte do papa, todas as principais autoridades do Vaticano perdem seus cargos, exceto o Cardeal Kevin Farrell, o camerlengo, que é responsável pelas finanças e pela administração ordinária durante o interregno. O Cardeal Angelo De Donatis, chefe da Penitenciária Apostólica, um tribunal encarregado de perdoar pecados reservado ao papa, também permanece no cargo para que o perdão esteja sempre disponível. E o vigário para Roma, Cardeal Baldassare Reina, permanece para cuidar pastoralmente do povo de Roma. Embora fazer campanha abertamente para ser papa seja desencorajado e contraproducente, é comum que um cardeal promova seu candidato favorito entre os outros cardeais. Um cardeal pode ser um "fazedor de reis" se não for candidato, mas tiver a confiança dos outros cardeais.

Em séculos passados, os governos tentavam influenciar as eleições. Antigamente, as vidas dos cardeais podiam ser ameaçadas para forçá-los a votar em um candidato específico. Votos também podiam ser comprados com dinheiro, mas isso não acontece hoje, apesar do que foi retratado no filme "Conclave", de 2024. Tais ações não invalidariam uma eleição, mas a lei da Igreja estabelece que um papa não está vinculado a nenhuma promessa que tenha feito antes de sua eleição.

O que os cardeais levarão em conta ao escolher um novo papa? Cada cardeal leva em conta três fatores principais.

Primeiro, ele busca alguém que seja um bom papa — alguém que concorde com os valores e a visão do cardeal para a Igreja. Assim como os eleitores em outras eleições, um cardeal busca alguém que, em geral, concorde com ele.

Em segundo lugar, ele busca alguém com quem possa ter um bom relacionamento. Idealmente, ele quer um de seus amigos cardeais como papa, alguém que o ouça. Personalidade e relacionamentos pessoais são importantes, assim como habilidades linguísticas.

Terceiro, um cardeal quer alguém que seja bem recebido em seu país de origem, ou pelo menos alguém que não cause problemas no país do cardeal. Não é de surpreender que cardeais de diferentes partes do mundo tenham preocupações diferentes em relação aos candidatos.

Por exemplo, cardeais americanos não gostariam de um papa que não entendesse a crise dos abusos sexuais e dissesse coisas estúpidas como "isso é uma criação da mídia". Cardeais de países com muitos muçulmanos também não gostariam de um papa que dissesse coisas estúpidas sobre o islamismo. Cardeais da África desconfiariam de qualquer pessoa com uma "agenda gay". Cardeais do Sul Global estão preocupados com a globalização. Cardeais do Norte estão preocupados com o ecumenismo. “Toda política é local”, como disse Tip O'Neill, e isso inclui a Igreja Católica.

Eventos atuais também podem impactar a eleição. Se o mundo estiver em crise, os cardeais podem recorrer a um diplomata experiente com atuação no cenário internacional. Se o Vaticano estiver falido ou em meio a um escândalo financeiro, eles podem procurar um gestor financeiro e um captador de recursos. Idade e saúde também são critérios, dependendo se o cardeal deseja um pontificado curto ou longo.

Antes do conclave, os cardeais se reúnem no que é chamado de “congregações gerais” para se preparar para o conclave e discutir as principais questões enfrentadas pela igreja. Apenas cardeais com menos de 80 anos podem participar de um conclave, mas todos os cardeais podem participar das congregações gerais. Em 2013, eles se reuniram sete vezes em um período de cinco dias.

Nas primeiras reuniões da congregação geral, os cardeais revisam as regras para um conclave e prestam juramento de observá-las e manter o sigilo do conclave. Eles também lidam com as questões financeiras e logísticas do conclave e definem uma data para o seu início. O documento do Vaticano que rege os conclaves, “Universi Dominici Gregis” (“De todo o rebanho do Senhor”), também faz com que os cardeais selecionem “dois eclesiásticos conhecidos por sua sã doutrina, sabedoria e autoridade moral” que apresentarão aos cardeais duas meditações sobre os problemas que a Igreja enfrenta e sobre “a necessidade de discernimento cuidadoso na escolha do novo papa”. A primeira meditação é dada antes do início do conclave, enquanto a segunda ocorre logo antes da primeira votação. Uma vez resolvidas essas questões administrativas, os cardeais falam sobre o estado da igreja.

Embora os discursos dos cardeais na congregação geral não sejam discursos de campanha, eles dão aos cardeais a oportunidade de avaliar cada orador como um possível candidato. Cerca de 100 cardeais discursaram em 2013, mas o Cardeal Jorge Mario Bergoglio se destacou por resumir sucintamente as questões enfrentadas pela Igreja em menos tempo do que qualquer outro cardeal. Embora alguns cardeais tenham ignorado o limite de tempo, Bergoglio terminou cedo. Os debates de 2013 abrangeram uma ampla gama de tópicos: diálogo inter-religioso, ecumenismo, colegialidade, a Cúria do Vaticano, escândalos eclesiásticos e o desejo de uma ênfase mais positiva no amor e na misericórdia na evangelização. Esses se tornaram temas centrais do pontificado do Papa Francisco.

A Sala de Imprensa do Vaticano divulgou em termos gerais os temas discutidos nas congregações gerais, mas jornais italianos divulgaram as sessões com mais detalhes em 2013. Embora os vazamentos tenham vindo, sem dúvida, de cardeais italianos, os cardeais americanos foram responsabilizados e instruídos a interromper as coletivas de imprensa durante esse período. Os americanos foram silenciados e os cardeais italianos continuaram a vazar informações. Com as companhias aéreas conseguindo transportar cardeais a Roma rapidamente, alguns têm defendido o início do conclave mais cedo. Acho que isso seria um erro. Os cardeais, especialmente os mais novos, precisam de tempo para se conhecerem melhor e trocarem opiniões. O tempo que antecede o conclave é valioso para reuniões e discussões informais, bem como para discussões nas congregações gerais. Eleger um papa é um exercício importante demais para ser apressado.

¨      “Conclave aberto e sem favoritos. O sucessor terá que falar ao povo”, diz  Andrea Riccardi

Nos olhos as imagens das centenas de milhares de pessoas que atravessam Roma. Na mente, a expectativa pela escolha do sucessor que, em poucos dias, fechará os cardeais eleitores na Capela Sistina. Mas, antes disso, Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio, reflete sobre o que as imagens de Roma estão dizendo: “Estou impressionado com o luto muito grande, nesses termos talvez inesperado, que está acompanhando a despedida do Papa Francisco”, em entrevista para Alberto Infelise.

<><> Eis a entrevista.

·        Não se esperava uma reação popular tão maciça?

Muitos davam uma imagem desbotada e cansada de Francisco. Mas o que estamos vendo nos fala da popularidade de Francisco e de um povo que sentiu sua figura. E isso levanta a questão de seu legado, da busca por um sucessor que saiba falar com o povo. Francisco evidentemente tocou as pessoas com sua grande energia, suas ações, sua simpatia e sua capacidade de compaixão, que o levaram a habitar o coração das pessoas e a superar as barreiras ideológicas.

·        Esse legado será um tema que contará no próximo Conclave?

Não sei se será um tema dentro do Conclave. É um Conclave novo, de cardeais que não se conhecem, representando uma Igreja grande, diversa e também contraditória, especialmente de conflitualidade entre países. É a Igreja da complexio oppositorum, uma Igreja global na qual vive a complexidade das oposições, das diversidades, o que não significa a Igreja dos conflitos. Mas certamente há um tema que diz respeito à afirmação da Igreja nacional em uma época em que o tema dos nacionalismos existe.

·        Até que ponto os alinhamentos regionais contarão?

Há obviamente diferenças de áreas geopolíticas, mas nenhuma delas pode eleger o papa sozinha. As mesmas áreas geográficas se dividem internamente. Foi o próprio Francisco que nomeou cardeais norte-americanos mais próximos de si, já que outros dessa área pareciam estar distantes dele. Mas não se pode falar de cardeais propriamente bergoglianos como antigamente se falava de montinianos. Será necessário buscar um núcleo de coesão entre as interpretações do legado de Francisco e as pressões das diferentes áreas culturais e geográficas.

·        Esse parece ser um dos Conclaves mais abertos dos últimos quarenta e sete anos. Um dos papáveis também é jesuíta. Dois papas jesuítas, um após o outro, seriam possíveis?

Tudo é possível, até mesmo dois jesuítas se sucedendo. No momento, não há candidatos hegemônicos. Em geral, não se tende a insistir na mesma área geográfica. Depois de um polonês, tivemos um alemão e depois um argentino. O verdadeiro problema é encontrar o homem que represente a síntese, ou pelo menos um ponto de síntese. Em minha modesta opinião, um homem sozinho precisará ser ajudado, e talvez seja necessário pensar que essa ajuda seja fortalecida.

·        O senhor acha que um fortalecimento do Sínodo também poderia fortalecer o papa?

Essa é uma das grandes questões: como dar continuidade ao processo sinodal na Igreja. E essa é uma das áreas em que se manifestam as diferenças entre os possíveis candidatos. Não apenas se o continuar, mas como continuar. O sínodo certamente não deve limitar o poder do papa, mas talvez seja necessário introduzir uma sinodalidade permanente, uma espécie de pequeno conselho do papa. E, além disso, o papa não é apenas o papa da Cúria, mas é um evangelizador.

·        Francisco foi um evangelizador?

Francisco foi um grande evangelizador. Os católicos se sentiram encorajados com seu papado e até mesmo o mundo muçulmano foi tocado por sua mensagem. Em Jacarta, vi muçulmanos rezando na grande mesquita por sua saúde. Ele foi um grande missionário e um grande evangelizador. João Paulo II disse: 'Não sou apenas o sucessor de Pedro, sou também o sucessor de Paulo’. A Igreja deve comunicar o Evangelho na Europa e no resto do mundo.

·        O senhor acredita que existe uma figura assim entre os cardeais que entrarão no Conclave?

Um cardeal me disse há muitos anos que quando um papa escolhe um novo cardeal, ele o escolhe pensando que um dia ele poderia ser seu sucessor. Acredito que neste Conclave haverá vários cardeais dignos de serem sucessores de Francisco.

·        Há, como sempre, a questão da idade do escolhido. Um papa mais jovem tem potencialmente mais anos de reinado pela frente, um papa mais idoso menos.

Quando se falava do jovem cardeal Siri como possível sucessor de Pio XII, se falava sobre a possibilidade de ter um padre eterno e não apenas um santo padre. Além das brincadeiras, existe um problema de energias. Um papa mais jovem é um papa mais enérgico, mas este é um mundo que consome tudo. Acredito que a idade não será o único fator de discriminação. Ratzinger foi escolhido também porque todos tinham ficado chocados com o fim de um papa eterno e escolheram alguém que era muito parecido. Na sucessão de Bento, uma atitude anti-italiana e anticurial também desempenhou um papel importante.

·        O senhor ainda acredita que existe um preconceito anti-italiano?

Não acredito que exista mais um preconceito anti-italiano, mas também nenhuma abertura especial. O verdadeiro ponto crucial é encontrar um papa que saiba como fazer de Roma um centro manso e acolhedor, que saiba como ser um evangelizador no mundo. Um papa que tenha uma grande força de fé. Porque sem esta última, o jogo é por demais pesado.

·        Muitos estão apostando na lotopapa: considera isso possível ou que faz sentido neste momento?

Eu realmente acho que não, até porque muitas vezes a lotopapa só tem a função de queimar nomes.

·        Acredita que o novo papa estará em continuidade com Francisco ou será, de alguma forma, uma ruptura em relação a ele?

Penso em um eleito de continuidade que, no entanto, introduzirá modificações, acréscimos que são de seu caráter. Afinal de contas, na Igreja Católica não existe algo como a ruptura. Podem coexistir impulsos de espírito revolucionário e, ao mesmo tempo, de continuidade.

·        Que papa foi Bergoglio?

Bergoglio era fiel à tradição, mas tinha grandes aberturas em certos temas. E o fundamental para ele foi a grande abertura pastoral da misericórdia.

·        Foi isso que o tornou tão amado?

Exatamente. É por isso que estamos assistindo nessas horas a um luto maior do que se esperava. A mensagem e a humanidade desse Papa foram mais longe do que pensávamos.

 

Fonte: IHU/Il Manifesto/America/La Stampa

 

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