sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Hoje o cerco é contra a Venezuela, amanhã será contra outros governos, diz ministro de Maduro

O ministro das Comunas e Movimentos Sociais da Venezuela, Ángel Prado, agradeceu o posicionamento do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação à eleição presidencial venezuelana realizada no último domingo (28) e fez um alerta para os movimentos progressistas da região.

Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato nesta quinta-feira (01), Prado denunciou a tática utilizada pelo candidato de direita derrotado no pleito, Edmundo González, que não reconheceu os resultados divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano, acusou o presidente reeleito, Nicolás Maduro, de cometer fraude eleitoral e convocou atos contra o governo. 

"Agradecemos o presidente Lula, outros líderes da região, Cuba revolucionária, México, Nicarágua, Honduras e outros países que defendem a verdade da Venezuela. Este é um momento importante, oportuno e histórico para que nossos governos progressistas atendam definitivamente às demandas do povo. Hoje o cerco é contra a Venezuela, amanhã será contra esses governos e contra esses processos que custaram tantas vidas, tanto sangue, tanto sacrifício e tantos anos de luta", disse.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esperou dois dias para se pronunciar sobre o resultado das eleições da Venezuela. A vitória de Nicolás Maduro para um terceiro mandato foi anunciada no domingo (28) e na terça-feira (30) o chefe do Executivo brasileiro disse que via o processo eleitoral com normalidade e pediu para que os envolvidos esperassem a divulgação das atas eleitorais antes de fazer acusações.

"Se tem um problema, como vai resolver? Apresenta a ata. Se houver dúvida entre oposição e situação sobre a ata, a oposição entra com recurso e vai esperar na Justiça correr o processo. Terá uma decisão que a gente tem que acatar", disse ele à Globonews

divulgação das atas eleitorais se tornou o principal tema envolvendo as eleições da Venezuela. A oposição afirma ter mais de 80% das atas e que isso garantiria a vitória de Edmundo González Urrutia.

Ao Brasil de Fato, o ministro venezuelano afirma que a narrativa adotada pelos opositores é uma tática política que envolve as atas e o procesos eleitoral.  

"Eles estão procurando uma matriz de opinião internacional, dizem que têm as atas e não se atreverão a mostrar as atas de todo o país, simplesmente porque não devem tê-las. É o órgão eleitoral que deve tê-las e as tornarão públicas no momento certo", afirmou Prado.

Na tarde de quarta-feira (31), o presidente Nicolás Maduro foi ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) apresentar um recurso de amparo pedindo que a Suprema Corte do país investigue os ataques sofridos pelo sistema eleitoral venezuelano. Segundo o CNE, atrasos na divulgação dos resultados ocorreram porque o órgão foi vítima de um "ataque hacker" na noite da eleição.

Além disso, Maduro afirmou que seu partido, o PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), irá divulgar 100% das atas eleitorais que possui.

“Como candidato vencedor das eleições e chefe de Estado, dou a cara, me submeto à Justiça. E já disse que, como líder revolucionário da Venezuela e filho do comandante Chávez, o Grande Polo Patriotico e o Partido Socialista Unido de Venezuela estão prontos para apresentar 100% das atas que estão nas nossas mãos e espero que a Sala Eleitoral faça o mesmo com cada candidato”, afirmou.

Eleição, suposta fraude e violência: como chegamos até aqui?

A votação no último domingo (28) ocorreu com tranquilidade, segundo as próprias autoridades eleitorais. Os resultados definitivos foram divulgados por volta da 1h da manhã da segunda-feira (29) pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Com 80% das urnas apuradas, o órgão deu vitória ao atual presidente Nicolás Maduro com 51,2% dos votos contra 44,2% de Edmundo González Urrutia, ex-diplomata de direita e principal candidato da oposição. Os resultados, segundo o CNE, já eram irreversíveis.

No palácio de Miraflores e rodeado por apoiadores, Maduro fez seu discurso da vitória, no qual agradeceu os eleitores e pediu respeito aos resultados eleitorais. "Haverá paz, estabilidade e justiça. Respeitem a decisão de 28 de julho", disse. Minutos depois, a oposição se manifestou e não reconheceu os resultados. González apareceu acompanhado de Maria Corina Machado, líder opositora que, por complicações com a Justiça, foi inabilitada de ocupar cargos públicos no país, e disse que era o vencedor da disputa.

Sem apresentar provas, os opositores alegaram uma "fraude eleitoral" e disseram ter atas de votação que supostamente comprovariam a divergência nos números. Após a postura de González e Machado, o dia seguinte foi de tensão e violência. Marchas foram registradas em redutos historicamente opositores de Caracas, capital venezuelana, e manifestantes chegaram a incendiar prédios e patrimônios públicos.

O governo denunciou as ações, responsabilizou os opositores pela violência e classificou o movimento como  uma "tentativa de golpe de Estado". Na noite da segunda-feira (29), Edmundo González e Maria Corina Machado voltaram a denunciar a existência de "fraude eleitoral" e, desta vez, deram números: supostamente, o candidato de direita teria vencido com mais de 6 milhões de votos.

Eles ainda alegaram estar em posse de mais de 70% das atas eleitorais que comprovariam este resultado e que esses documentos seriam disponibilizados em um site.

Até às 15h (horário de Brasília) do dia 1 de agosto, o CNE, por sua vez, ainda não havia divulgado a totalização dos resultados. Os números são aguardados por países como Brasil, Colômbia e México para uma posição final sobre o processo.

¨      Maduro pede que Justiça da Venezuela investigue ataque cibernético e ‘resolva’ questão das atas eleitorais

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, pediu nesta quarta-feira (31) que a Justiça venezuelana “resolva” a questão das atas eleitorais. O sistema eleitoral do país ainda não divulgou o resultado segmentado das mesas eleitorais da Venezuela por um suposto ataque cibernético contra o sistema do Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Maduro também disse que esse “ataque hacker” precisa ser investigado.

O CNE tem um período de 30 dias para publicar o resultado completo das eleições no Diário Oficial. As atas, no entanto, não são publicadas. O órgão anunciou no domingo (28) a vitória do presidente Nicolás Maduro por 51,2% dos votos contra 44,2% de Edmundo González Urrutia com 80% das urnas apuradas. O resultado foi indicado como irreversível pela Corte Eleitoral. 

“A Lei estabelece um período, o CNE estava sob ataque como todos puderam ver. A esta hora que estamos falando, está sob ataque cibernético o sistema, estão nesse momento os técnicos [trabalhando]. O Tribunal Supremo de Justiça que resolva tudo. Há um Tribunal Supremo de Justiça e esse tribunal tem a santa palavra de um processo sob ataque nunca antes visto. A verdade prevalecerá”, disse.

Maduro participou de uma entrevista coletiva no Tribunal Supremo de Justiça (TSJ). O presidente afirmou que “a Constituição é a garantia da paz” e que a Corte é responsável por resolver qualquer questão eleitoral. Ele disse também que vai desmobilizar as ações violentas de grupos da oposição.

Os atos começaram na segunda-feira (29), no dia seguinte às eleições.  As manifestações assumiram um caráter, seguindo a conduta das guarimbas em 2013 e 2017. Manifestantes da extrema direita têm apedrejado prédios públicos e incendiado sedes de partidos de esquerda. 

Durante a entrevista, Maduro também afirmou que há uma “campanha mundial para justificar o Golpe de Estado e a violência criminosa”. Ele lembrou das últimas guarimbas e citou o ex-deputado Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente em 2019, um ano depois da primeira reeleição de Nicolás Maduro. 

“A campanha mundial é para justificar o Golpe de Estado, a violência criminosa, para justificar que se imponha um 'Guaidó parte 2'. Não te parece conhecido esse filme?”, disse.

De acordo com ele, da mesma forma que a “fraude” envolvendo Guaidó foi comprovada, a Justiça também demonstrará o caráter criminoso de Edmundo González Urrutia. No domingo, a ex-deputada ultraliberal María Corina Machado contestou o resultado do pleito e disse, sem apresentar provas, que o candidato da Plataforma Unitária recebeu 6.275.182 de votos contra 2.759.256 de Maduro. Ela afirmou ainda que não vai reconhecer a contagem oficial do CNE.

Maduro, por sua vez, disse que os responsáveis por contestar o pleito e incentivar as pessoas a irem às ruas têm que estar presos. “Essas pessoas têm que estar atrás das grades, não pode haver um novo Leopoldo Lopez, um novo Guaidó. Não é paz para o chavismo, mas para toda a população. O que deve passar com Urrutía e Machado eu te diria, como chefe de Estado, que haja Justiça, que eles deveriam em vez de esconder-se, apresentar-se à procuradoria e dar a cara”, disse. 

A entrevista de Maduro foi dada logo depois de ele apresentar um recurso de amparo no Tribunal Supremo de Justiça (TSJ). A medida é uma ferramenta para pedir à Justiça o cumprimento da Constituição em determinada situação. Ou seja, é um instrumento para questionar ações ou omissões de qualquer um dos Poderes. Neste caso, o pedido é para que a Sala Eleitoral da Corte investigue os ataques “o mais rápido possível”. 

A divulgação das atas eleitorais é o principal tema envolvido nas eleições da Venezuela. A oposição afirma ter mais de 70% das atas e que isso garantiria a vitória de Edmundo González Urrutia. Antes mesmo da divulgação dos resultados, a ex-deputada ultraliberal María Corina Machado já havia dito que "González Urrutia teve 70% dos votos e Nicolás Maduro 30%”. 

Outros governos têm afirmado que não é possível ter qualquer segurança sobre as denúncias da oposição sem que as atas sejam divulgadas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a questão será completamente resolvida depois que forem divulgadas as atas

"Se tem um problema, como vai resolver? Apresenta a ata. Se houver dúvida entre oposição e situação sobre a ata, a oposição entra com recurso e vai esperar na Justiça correr o processo. Terá uma decisão que a gente tem que acatar", disse Lula à Globonews.

Ainda nesta quarta, Maduro disse que o Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV) vai divulgar 100% das atas eleitorais recolhidas pelos seus fiscais em breve e pediu calma para esperar a auditoria dos resultados. Ele se colocou à disposição para prestar depoimento à Justiça venezuelana e, se preciso, ser investigado sobre o procedimento eleitoral. 

Cada partido pode ter um fiscal em cada uma das cerca de 30 mil mesas eleitorais para conferir as atas de votação daquela mesa. Ele fica com uma cópia da ata eleitoral e pode levar ao partido. Essa tem sido uma das acusações da oposição, afirmando que tem suas atas eleitorais, que divulgou em um site próprio. 

 

¨      Recuperação econômica da Venezuela é invejável, diz Juliane Furno

O conjunto de saídas encontradas pelo governo de Nicolás Maduro para superar os imensos obstáculos gerados pelas sanções econômicas impostas unilateralmente pelos EUA contra a Venezuela "é invejável". A declaração foi feita pela economista Juliane Furno nesta quinta-feira (1) ao Brasil de Fato. 

"O plano de recuperação da Venezuela é invejável", disse ela sobre a nação sul-americana, que viu um aumento em seu PIB de mais de 5% em 2023.

"A Venezuela saiu de uma inflação mensal de 97% em junho de 2018 para 1% em junho deste ano. É o segundo país que mais cresceu na América Latina ano passado, o que mais deve crescer neste ano. E estamos falando de um país que convive com 930 sanções."

A economista, que é professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, esteve recentemente de férias na Venezuela e diz ter ficado impressionada com a "normalidade" que presenciou nas ruas de Caracas. 

"A imprensa noticiou o desabastecimento, mas não a recuperação. Fiquei chocada que lá tinha de tudo, gente brincando na praça, tomando sorvete. Uma cidade [Caracas] absolutamente normal", disse.

Surpreendentemente, um dos motivos para o crescimento econômico foi uma consequência das próprias sanções, segundo Furno. O que era designado para asfixiar a Venezuela, obrigou o governo a buscar soluções mais sustentáveis e diversificadas

"As sanções são péssimas, mas levaram o governo Maduro a fazer o que Chávez não fez: diversificar sua economia, que era totalmente dependente da venda de petróleo. Hoje eles produzem 90% dos alimentos que consomem, um país que não produzia nem um quilo de arroz", completa.

 

Fonte: Brasil de Fato

 

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