sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Luís Nassif: Se a Venezuela cair nas mãos da ultradireita, haverá ampliação do terremoto Milei

Há uma discussão infindável e inócua sobre a Venezuela, especialmente nos grupos de esquerda.

Ficam discutindo sobre vícios e virtudes do governo Maduro, quando o buraco é muito mais embaixo: qual o papel da Venezuela na estratégia geopolítica do Brasil para o continente.

Críticos e admiradores, olhai os Estados Unidos e sua geopolítica. Não se julgam países por suas virtudes ou defeitos, mas por seu papel na estratégia geopolítica nacional.

Não fosse por isso, não teriam apoiado os massacres de Netanyahu – um psicopata que é defendido, no Brasil, pela Conib e pela Federação Israelita de São Paulo, com o mesmo empenho com que setores liberais da Alemanha Nazista defenderam o início de Hitler. E há muito tempo teriam levantado o boicote à Cuba e à própria Venezuela.

O que está em jogo é a posição do Brasil na América do Sul, no BRICS e no realinhamento geopolítico com a China.

Se a Venezuela cair nas mãos da ultradireita, haverá uma ampliação do terremoto Milei. E um fortalecimento da ultradireita em todo continente, inclusive no Brasil. É simples assim.

Mais que isso, fica sancionado o poder de retaliação dos Estados Unidos, que mantém a economia da Venezuela sob mais de 90 sanções. Antes desse boicote, a Venezuela acumulava o maior superávit da balança comercial brasileira.

O que está em jogo é isso, não os defeitos e virtudes de Maduro, um autocrata da pior espécie.

Não há lógica em defender ou criticar virtudes e defeitos de Maduro, que não pode servir de exemplo para nenhum partido da esquerda democrática. Muito menos sancionar o golpe que a ultradireita vem tentando há anos.

Quando defende o processo eleitoral, mas não defende Maduro, Lula está agindo como age um Departamento de Estado. Interessa ao Brasil que a Venezuela não seja entregue à ultradireita. Simples assim.

Parafraseando um dito caipira, entre “nhô ruim” e “nhô pior”, que se fique com “nhô ruim”.

 

¨      Beto Almeida: EUA rechaçam o modelo bolivariano porque ele desafia a doutrina ‘A América para os americanos’

O saudoso Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, autor dos livros “Quinhentos Anos de Periferia” e de “Desafios Brasileiros na era dos Gigantes”, com sua aguda lucidez dizia: “para os EUA não basta que um país eleja seu presidente pelo voto para considerá-lo democrático, também precisa governar como eles querem” .

Ele deu esta declaração ao programa Latitud Brasil, da Telesur.

Hoje, com postura inevitavelmente fascista da oposição venezuelana teleguiada desde Washington, rejeitando a mais esta derrota eleitoral, vemos novamente a confirmação daquelas palavras.

Essa declaração de Guimarães, aparentemente singela, na realidade expressa que os EUA não admitem regimes que não sejam submissos aos seus interesses vitais. E, no caso, o modelo bolivariano é um questionamento permanente, vivo, pedagógico e corajoso à renovada pretensão do Império do norte de impor a Doutrina Monroe, atualizada para os dias de hoje, com seu colonizador dístico “A América para os americanos”. Ou seja, ajoelhem-se!

Com 25 anos de vida, a Revolução Bolivariana cometeu o “atrevimento” de nacionalizar o petróleo e, mais que isso, de utilizá-lo, pela primeira vez na história, em favor das massas espoliadas, as verdadeiras donas dessa riqueza.

Isso bastou para que Hugo Chávez fosse considerado maldito, maldição que alcança o seu sucessor, Nicolás Maduro, que já foi alvo de um frustrado atentado contra sua vida.

O petróleo venezuelano que antes enriquecia uma oligarquia nos EUA e uma minoria na Venezuela, passa a servir como alavanca para a erradicação do analfabetismo venezuelano, construção de mais de 5 milhões de moradias populares numa população total de 30 milhões de habitantes, e, também, para alcançar a soberania alimentar com o que 95% do que se come na pátria de Bolivar, já é hoje produzido internamente, quase uma plena auto suficiência alimentar.

Nada disso é “América para os Americanos”. E a Doutrina Monroe vai sendo enterrada pelo povo venezuelano à medida que o modelo bolivariano vai se consolidando.

A reação da oligarquia fascista venezuelana à esta nova derrota para o chavismo não surpreende.

Tampouco surpreende a reação da OEA, o Ministério das Colônias como rotulada por Che Guevara, imaginando que tem alguma representatividade perante o povo da Venezuela.

Países como Peru – dirigido por uma golpista que mantém preso o presidente eleito, Pedro Castilho. – que não reconhecem a vitória de Maduro, registram o ridículo em que se metem.

Panamá, Chile, Uruguai, Equador, são meras províncias dos EUA, sem independência ou autoridade para qualquer opinião respeitável.

Aos poucos o povo bolivariano vai tomando as ruas de Caracas, como o fez durante a campanha eleitoral, com responsabilidade cívica, em caráter pacífico e democrático, mas revelando sua elevada consciência de que, apesar das duras sanções e sacrifícios a que foi submetido, pela Guerra dos EUA contra a Venezuela, foi feita a escolha na urnas, rejeitando o retrocesso a ser uma colônia petroleira, e optando por seguir construindo uma Nação Soberana.

O próprio presidente Lula, com alguma demora, declara que “não houve nada de anormal na eleição venezuelana”, e acrescentou que é preciso cessar as ingerências de outros países sobre a Venezuela, bem como sobre Cuba e sobre o Irã. Bem lembrado.

Venezuela paga caro por ter a maior riqueza petroleira do mundo e por não entregá-la ao império.

Também paga caro por manter a saúde e a educação como atividades públicas e gratuitas, tendo recebido aí ao apoio de Cuba socialista.

Além disso, Venezuela também paga caro por haver resistido a esta guerra econômica dos EUA, com hiperinflação induzida, desorganização da moeda e do abastecimento e indução da emigração.

A intenção era provocar o desânimo, a frustração, a irritação dos venezuelanos para com o seu próprio governo, levando-o a uma derrota eleitoral. Mas, a resposta veio nas urnas.

Todo tipo de crueldade foi imposto à Venezuela, mas o FMI chegou ao cúmulo de negar um empréstimo de 5 milhões de dólares para a compra de vacinas anti-covid. Mas os amigos leais da Venezuela, Rússia, China e Cuba, lhe proporcionaram vacinas para defender-se da pandemia.

E, mesmo sob privações materiais gigantescas, a Venezuela enviou ao Brasil um enorme carregamento de oxigênio solidário, salvando milhares e milhares de vida de brasileiros no Amazonas.

O governo e a sociedade brasileira deveriam realizar um ato de gratidão para com esta generosa doação do governo Nicolás Maduro.

Certamente, Venezuela seguirá sendo alvo de sabotagens, sanções e de preconceitos políticos, até mesmo em certos círculos de progressistas. Nesses grupos, é muito mais fácil arrancar apoios ilimitados aos imperialistas Biden e Kamala do que a Maduro, que enfrenta o Império.

Em relação a Maduro há enorme má vontade, superexigências e centenas de objeções e avaliações injustas.

Ninguém se lembra de que se trata de um presidente de origem obreira, extremamente leal a Hugo Chávez e a seu povo.

Enquanto isso, a Revolução Bolivariana vai democratizando o crédito, expandindo a produção voltada para o mercado interno, gerando empregos , normalizando o abastecimento, recuperando os setores mais afetados pela Guerra de Obama-Trump-Biden.

Além disso, mostrando ao mundo que “a esperança está nas ruas”, como dizia Chávez. E, assim, indicando que a confiança no povo e em sua mobilização sistemática é que permitem que Venezuela siga a passo de vencedores, unindo-se ao grupo de países que também resistem a sanções imperiais e atuam para construir um mundo multipolar, sem submissão ao Império, em perigosa decadência.

 

¨      ‘A Venezuela está enfrentando o Império; isso não pode ser desconsiderado pelo Brasil’, afirma Paulo Nogueira Batista Jr

Um breve comentário sobre a situação na Venezuela.

A situação é complexa, difícil de avaliar de fora.

Mas há um pano de fundo que parece claro: a crise econômica da Venezuela é produto em larga medida de um regime de sanções que foi imposto ao país pelos Estados Unidos e acompanhado pelos europeus.

O país sofreu enorme quantidade de sanções, teve inclusive as suas reservas internacionais bloqueadas e roubadas pelos europeus e pelos americanos.

Isso provocou muita instabilidade no país e explica não toda a crise — porque há certamente problemas internos de gestão da economia por parte do governo Maduro.

Mas é impossível entender a dificuldade econômica da Venezuela sem levar em conta esse regime de sanções.

Não vamos esquecer que a Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo.

Isso desperta cobiça dos americanos, dos europeus, sobretudo dos americanos declaradamente, inclusive pelo Donald Trump.

Eles estão procurando desestabilizar um governo que estatizou o setor, atingiu os interesses de corporações americanas e europeias.

Só um parêntese aqui.

Não existe corporação global, empresa transnacional. O que existe sobretudo — com algumas poucas exceções — são as empresas de determinados países que têm atuação internacional.

Então, quando uma empresa americana dita global é atingida nos seus interesses, o governo americano se solidariza com ela.

Vamos então fechar esse parêntese e ter clareza quanto a isso.

Em resumo: nós temos um país vizinho nosso que, com todos os seus problemas, seus defeitos, erros políticos que o governo Maduro possa ter cometido, é um país que está enfrentando o império.

Então, isso não pode ser desconsiderado. Qual é o papel do Brasil?

No meu modesto modo entender não é ficar ditando regras para a Venezuela, se metendo no processo interno da Venezuela.

Não é isso que nós temos que fazer. Nós temos que respeitar o país vizinho, respeitar o processo político que esse país está seguindo.

Não vamos agora querer ser paladinos da democracia à la Estados Unidos, metendo o bedelho em todos os assuntos internos dos nossos países, sobretudo, volto a dizer, num país que está enfrentando a pressão do Império.

 

¨      Retroceder jamais, Por Alex Solnik

Um governo autoritário, pressionado por outros países a provar que não o é, como no caso da Venezuela, costuma reagir dobrando a aposta, jamais retrocedendo, e tudo indica que dessa vez não será diferente.

Maduro já definiu a insistência de parte da comunidade internacional em pedir as atas da eleição e os protestos comandados pela dupla de opositores como “um complô” contra ele e disse que não vai hesitar em levantar o povo para “uma nova revolução”.

Como ele já controla os três Poderes da República, e atribui à oposição os enfrentamentos que resultaram em mortes, sequestros e prisões, endurecer mais o regime significa fechar os partidos políticos e suspender as eleições, já que seriam a origem da violência.

Fará isso em nome da pacificação do país.

Pode ser um passo arriscado, mas não há dúvida que Maduro sempre terá Moscou e Pequim ao seu lado.

 

¨      A eleição venezuelana, a nota do PT e a hipocrisia da oposição brasileira. Por Chico Vigilante

Bastou uma nota do Partido dos Trabalhadores se posicionando a respeito do resultado das eleições na Venezuela para os analistas políticos de plantão darem início a uma série de comentários infundados e estúpidos nos veículos de comunicação. Pior ainda são os partidos sem propostas, como o PSDB, atacar e criticar, de forma hipócrita, o Partido dos Trabalhadores. Ora, que moral o PSDB tem para falar de eleição?

Para quem tem a memória mais fresca, o partido do PSDB, por meio do Aécio Neves, não reconheceu a vitória da Dilma, mesmo ciente da conquista democrática. Montaram um esquema com a extrema direita para inviabilizar e derrubar o governo Dilma com manifestações patrocinadas a preço de ouro. O pretexto era o aumento de passagem no valor de vinte centavos, algo que não havia sido concedido pela Dilma. Qual a moral que essas pessoas têm?

Maior ainda é a hipocrisia total da extrema direita brasileira, representada por alguns partidos, alguns até com ministério no governo Lula. Deveriam ter moral, recusar e sair do governo; mas permanecem. Por qual motivo?

Os que criticam o governo pela proximidade com o Maduro são os mesmos que não reconheceram a vitória do Lula e que incentivaram grupos de baderneiros para se concentrarem nas portas dos quartéis; incentivaram o bloqueio das estradas federais para que não houvesse abastecimento no Brasil e tentaram aplicar um golpe no País. Foram eles que tentaram implodir a rodoviária, o aeroporto e as torres de alta tensão em Brasília para colocar as pessoas na escuridão e jogá-las contra um presidente eleito democraticamente.

Portanto, essa gente não tem moral alguma para contestar a nota do PT, muito menos contestar o governo de Lula. Essa gente deveria ter vergonha na cara e apresentar propostas para o País. Bando de hipócritas que não merecem o respeito da população.

O PT com mais de 43 anos de idade é um partido adulto, maduro, sabe o que quer, respeita a democracia e, acima de tudo, as escolhas do povo. O problema da eleição na Venezuela deve ser resolvido pelo povo venezuelano. O Brasil deve ajudar no processo de negociação para pacificar o país e não permitir uma guerra civil no país vizinho.

 

¨      Venezuela: buscando respostas para algo que ainda não consegui entender. Por Valter Pomar

Muitos dos governos, grupos e pessoas que não reconheceram (ainda) o resultado das eleições venezuelanas, reconheceram desde o início o resultado das eleições russas.

Teve muxoxos e questionamentos, mas não aconteceu nenhum movimento de efetivo questionamento em relação a reeleição de Putin.

Será porque acham que o sistema eleitoral russo é o último processo mais democrático do que o da Venezuela?

Será que acham Putin um democrata?

Suspeito que o motivo real é mais pragmático: no caso da Rússia, não daria em nada questionar. 

Já no caso da Venezuela, questionar pode dar em alguma coisa: no melhor dos casos, derrubar o governo; no pior dos casos, deixar o governo na defensiva e acumular forças para o que virá em seguida.

Entendo que a direita brasileira, Cavernícola à cabeça, adote esta tática. Afinal, eles não têm nada a perder e tem tudo a ganhar.

Mas até agora não consegui entender por quais motivos uma parte da esquerda brasileira adota esta tática.

Certamente, há os que agem para ter 1 minuto de destaque nos meios de comunicação da direita. Mas vou partir da hipótese otimista, segundo a qual esta postura é marginal (no sentido de mega minoritária).

Certamente, também existem os que estão motivados pelos mais sublimes valores democráticos, combinada com o inegável direito à dúvida, mais uma propensão a dar lições aos outros sobre como fazer a coisa certa, adicionada a visão crítica que muita gente tem acerca da Venezuela, de Chávez e especialmente de Maduro.

Embora exista quem atue movido pelas supracitadas pulsões, a verdade é que a maior parte da esquerda brasileira já demonstrou, por inúmeras vezes, que é extremamente capaz de equilibrar suas dúvidas, seus princípios e suas preferências, com altas doses de pragmatismo. 

Assim sendo, fico pensando qual seria a variável pragmática envolvida na postura de quem cobra enfaticamente de Maduro algo que só a justiça eleitoral pode dar; algo que a justiça eleitoral venezuelana sempre deu, mas nos prazos e nas formas previstas em lei.

Será que é para enfatizar que somos pela democracia, evitando que a extrema-direita agarre esta bandeira?

Se for isso, é pragmatismo de tiro curto. Pois as relações entre a direita brasileira e a direita venezuelana são antigas; assim como são antigas as relações entre a esquerda brasileira e a venezuelana. Uma derrota de Maduro, digamos o que digamos, será uma derrota nossa.

Será que é para manter a direita gourmet em situação confortável, sem ter que explicar por qual motivo coabita um governo com (supostamente) bolivarianos radicais?

Se for isso, também é fórmula passageira. Pois mais cedo ou mais tarde a situação vai exigir uma definição. E aí voltaremos ao mesmo problema existente no ponto de partida, com o prejuízo de termos ficado encima do muro. Se não reconhecermos, vitória da direita. Se reconhecermos, a direita nos acusará do mesmo que antes, pouco importa o que digam as atas e os números.

Será que é para não se isolar dos demais governos da região ou do hemisfério ocidental? 

Se for isso, digamos que é dar milho ao bode. Pois dada a correlação de forças atualmente existente, esta será a primeira de muitas vezes em que teremos que fazer escolhas que nos colocarão em conflito com eles. Salvo, é claro, se a lógica for achar melhor uma péssima concessão do que uma difícil divergência. 

Por mais que vire e revire o problema, não encontro uma resposta adequada. Repetindo, acho que tem pessoas que agem motivadas pelo holofote, outras motivadas por certa soberba, outras por restrições a Maduro & cia., outras motivadas por dúvidas sobre o processo eleitoral, outras para defenderem sua concepção de democracia.

Compreendo essas posições, embora discorde delas.

O que não consigo entender é por qual motivo pragmático uma parte da esquerda está adotando posições que - mesmo não sendo esta a sua intenção - na prática estão contribuindo para legitimar uma intentona golpista, promovida por gente abertamente fascista.

Procuro a razão pragmática por trás desta postura, mas não acho.

E talvez seja porque não exista. 

Talvez estejamos diante de um daqueles casos em que, incrivelmente, há muitas emoções envolvidas e bem pouco pragmatismo.

Ou talvez, numa versão mais simplória, não fizemos a devida reflexão sobre o que estava acontecendo e sobre o que poderia acontecer. 

E, como decorrência, vamos definindo nossa posição ao longo do processo, sendo jogados para cá ou para lá, a partir das ações e reações daqueles que de fato estão protagonizando a situação.

No final das contas, pode ser só isso. Como diria um amigo cubano, no hay qué pedirle pera al olmo.

Mas é possível pedir um pouco de pragmatismo. Pelo menos isto.

 

Fonte: Viomundo/Brasil 247

 

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