Podemos e União Brasil devem ser poupados
em caso de cassação de Moro
Mesmo em uma eventual
condenação do senador Sergio Moro (União Brasil-PR) por abuso de poder
econômico na pré-campanha ligada à eleição de 2022, os partidos Podemos e União
Brasil não sofreriam punição, de acordo com os advogados de PT e PL, que
encabeçam o processo contra o ex-juiz da Lava Jato na Justiça Eleitoral do
Paraná.
Os partidos sustentam
que Moro fez gastos excessivos de novembro de 2021 a junho de 2022, quando
Podemos e União Brasil o abrigavam na condição de pré-candidato. As despesas
consideradas abusivas pelo PT e PL foram pagas pelos partidos políticos,
Podemos e União Brasil.
Apesar disso, PT e PL
dizem que a ação que tramita contra Moro se limita aos candidatos da chapa, ou
seja, o senador e seus dois suplentes. Assim, eventual condenação dos políticos
neste processo não alcançaria Podemos e União Brasil.
"A pena se limita
aos candidatos no caso do processo do Moro. Em outros casos, se houver
participação ou autoria direta, dirigentes e administradores de campanha também
podem sofrer sanções. A punição por abuso de poder econômico se aplica a
pessoas físicas", diz o advogado do PT, Luiz Eduardo Peccinin.
O advogado do PL,
Bruno Cristaldi, reforça a tese. Ele lembra que a ação "não tem como
investigado nenhum partido político". "Eventual condenação [de Moro]
não poderia avançar sobre eles [Podemos e União Brasil]", afirma.
Tanto Podemos quanto
União Brasil foram obrigados a fornecer notas fiscais e informações sobre
gastos ligados à pré-campanha de Moro. O material representa a maior parte dos
elementos colhidos no âmbito da ação.
Moro se filiou ao
Podemos em novembro de 2021 de olho na disputa presidencial. Mas, em março de
2022, abandonou o partido, anunciando filiação à União Brasil e a possibilidade
de uma pré-candidatura ao Senado por São Paulo.
Quase três meses
depois, a Justiça Eleitoral de São Paulo barrou a mudança de domicílio
eleitoral (do Paraná para São Paulo) e Moro acabou optando pela candidatura ao
Senado pelo Paraná, entrando de fato em campanha entre agosto e outubro de
2022.
Para os partidos
opositores, os gastos de pré-campanha, voltados inicialmente para a disputa ao
Palácio do Planalto, tornaram-se "desproporcionais" e
"suprimiram as chances dos demais concorrentes" ao Senado no Paraná.
Já a defesa de Moro
nega que tenha feito gastos excessivos e sustenta que as despesas realizadas
entre novembro de 2021 até início de junho de 2022 nem poderiam ser
consideradas, já que o pré-candidato almejava outros cargos no período.
O TRE (Tribunal
Regional Eleitoral) do Paraná marcou para abril o julgamento. A definição
ocorreu após o presidente Lula (PT) ter escolhido o advogado José Rodrigo Sade
para a cadeira de juiz do TRE-PR.
A nomeação de Sade,
que figurava em uma lista tríplice encaminhada pelo TSE (Tribunal Superior
Eleitoral) ao presidente da República no início do mês, foi publicada no Diário
Oficial. Ele vai tomar posse no TRE no dia 6 de março.
O TRE-PR incluiu o
processo que tramita na corte contra Moro na pauta da sessão do dia 1º de abril
e também reservou mais duas sessões, 3 e 8 de abril, para a continuidade do
julgamento, caso seja necessário.
• União Brasil pode adiar definição de
novo presidente; entenda disputa no partido
O presidente do União
Brasil, Luciano Bivar, tenta adiar a convenção do partido que deve oficializar
o advogado Antônio Rueda como seu sucessor no cargo. A crise na sigla escalou
nesta quarta-feira, 28, e Bivar chegou a sugerir que tem denúncias contra integrantes
da legenda, mas sem apresentar provas.
A convenção está
prevista para esta quinta-feira, 29. Mesmo que Rueda seja eleito o novo
presidente, o mandato de Bivar à frente do União termina somente em 31 de maio.
A mudança no comando da sigla foi definida no final do ano passado, após uma
série de embates internos. O União foi formado em 2022 a partir da fusão entre
os antigos DEM e PSL, mas as duas alas nunca se acertaram. O União Brasil tem
uma das maiores bancadas da Câmara, com 59 deputados.
Durante entrevista
coletiva na sede do partido, em Brasília, Bivar carregava nesta quarta-feira,
28, uma pasta com a inscrição “denúncias”. O deputado disse que não poderia
revelar o conteúdo dos documentos. De acordo com ele, há uma investigação
interna na sigla coordenada pelo Departamento Jurídico.
“As chapas (para a
convenção nacional do partido) ainda não foram examinadas em suas minúcias.
Então, a gente não pode dizer ainda sobre um posicionamento do partido com
relação à legalidade das chapas”, afirmou o presidente do partido. De acordo
com ele, três chapas foram inscritas.
Segundo Bivar, a
primeira chapa, cadastrada por Rueda, não continha o nome dele – ou seja, o
deputado seria deixado completamente de fora das decisões do partido. Bivar tem
apoio de alguns deputados, mas não de governadores e outros integrantes da
legenda. O secretário-geral do União, ACM Neto, é adversário de Bivar.
A Coluna do Estadão
teve acesso ao documento que mostra a chapa inscrita com Rueda no comando. A
lista inclui, por exemplo, o apoio do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do
ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, do líder do União na Câmara, Elmar Nascimento
(BA), e também do líder no Senado, Efraim Filho (PB).
Embora não tenha dito
com todas as letras que as supostas denúncias que carregava eram contra Rueda,
nem apresentado provas, o presidente do União deu a entender que seu possível
sucessor estaria envolvido nos supostos esquemas ilícitos.
“Essas denúncias são
de toda a sorte, são incríveis. São denúncias de que o partido não pode estar
na mão de alguém que queira usá-lo a título de fazer negócios”, disse o
deputado. “Denúncias têm aqui. Eu não posso colocar uma denúncia sem antes ver
a procedência dela. Certamente eu vou abrir uma investigação sobre isso. Como
as denúncias são graves, eu posso até levar ao Ministério Público.”
Segundo a coluna do
jornalista Lauro Jardim, em O Globo, Elmar relatou a deputados que Bivar teria
ameaçado de morte familiares de Rueda durante uma conversa por telefone. “Sou
um cara pacífico”, respondeu Bivar na entrevista coletiva. “Foi picotado um estado
emocional de parte a parte”, emendou, em referência a um suposto áudio da
conversa mostrado por Elmar.
Bivar e Elmar divergem
internamente com frequência, e o presidente da sigla já havia tentado tirar o
deputado baiano da liderança na Câmara em novembro de 2022. Naquele mês, a
sigla decidiu declarar apoio à candidatura de Arthur Lira (PP-AL) à reeleição na
presidência da Casa, em acordo costurado por Elmar, contra a vontade de Bivar,
que pretendia lançar seu próprio nome ao posto.
Na campanha eleitoral
de 2022, houve reclamações no União sobre a destinação de recursos dos fundos
eleitoral e partidário, o que desgastou Bivar. Vários diretórios regionais do
partido também racharam nos últimos meses. Bivar é egresso do PSL, enquanto ACM
Neto e Elmar eram do DEM.
Ø
Do Val repassa dinheiro do Senado para site
bolsonarista que o elogia
O senador Marcos do Val, do
Podemos do Espírito Santo, tem direcionado verba da cota parlamentar para um site de viés bolsonarista e
que publica artigos elogiosos à sua atuação no Congresso. Do Val repassa
quantia mensal para o portal desde fevereiro de 2023.
Ao todo, Do Val gastou
R$ 18.000 com a Direta Consultoria e Publicidade Eireli, nome verdadeiro do
site Jornal Opinião ES, criado em julho de 2020 e situado em Cachoeiro de
Itapemerim. O repasse dos recursos públicos é descrito como “contratação de
serviços de apoio ao parlamentar”.
As notas fiscais
enviadas ao Senado para
justificar o reembolso do dinheiro apontam que a empresa faz “assessoria e
trabalhos técnicos e de apoio ao exercício do mandato parlamentar”. O dono do
site, Alan Fardin Simonato, é identificado no portal como editor-chefe e
jornalista.
Entre as últimas
publicações de Simonato está um texto intitulado: “Como um ‘bom nazista’, Lula
ataca os judeus e o Estado de Israel”. Em outro, ele escreveu que a Rede Globo “militou” ao
informar que havia menos de 750 mil pessoas na manifestação de Bolsonaro, na
Avenida Paulista, e sugeriu que o jornalismo do grupo midiático “se assemelha
mais a uma assessoria de imprensa de uma ditadura”.
Para além dos textos
com viés bolsonarista, chama a atenção que Simonato dedica espaço no site para
elogiar Do Val, investigado no STF por obstruir apurações sobre os atos golpistas do 8 de Janeiro.
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Um dos textos fala do
“papel decisivo” de Do Val para desvendar “a verdade por trás dos ataques do 8
de Janeiro”. O articulista também publicou que o senador “lidera o avanço no
combate à corrupção” e destacou o repasse de emendas de Do Val para o Espírito
Santo.
Simonato também
escreveu sobre senadores que questionaram “excessos do STF” em relação a Do Val
e sobre a parceria entre o parlamentar e a família Bolsonaro.
A assessoria de Do Val
declarou que firmou o contrato “para a realização de trabalhos técnicos
especializados de apoio ao parlamentar no Espírito Santo, especialmente no
interior do sul do estado”. O gabinete disse que o “contrato é no valor de R$
1.500 mensais, o que reflete a política de austeridade, economia e cuidado com
os recursos públicos”.
A coluna pediu para Do
Val enviar os documentos que comprovam a prestação de serviços técnicos pela
empresa, mas não obteve retorno.
Fonte:
FolhaPress/IstoÉ/Metrópoles
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