Brasil tem tudo para ser líder de
descarbonização e potência verde, mas precisa querer, diz Paul Polman
Com a matriz elétrica
95% limpa e a energética mais da metade vinda de fontes renováveis, isso dá ao
Brasil a oportunidade de desenvolver uma indústria menos poluente que pode ser
referência ao mundo. Somado ao potencial do país nas soluções baseadas na natureza,
reflorestamento e geração de crédito de carbono, o Brasil é o que tem mais
potencial, hoje, para ser o primeiro país no mundo net zero, ou seja, que
consegue absorver da atmosfera a mesma quantidade de carbono que emite.
“O Brasil é muito
privilegiado, com energia limpa, biodiversidade e áreas florestais preservadas.
Mas também tem a responsabilidade para com os outros países do sul global de
aproveitar essa oportunidade que lhe é dada e se tornar um líder na nova economia”,
comenta Paul Polman, ex-CEO da Unilever, ativista e coautor do livro Net
Positive, durante sua fala no Fórum de Finanças Climáticas, evento promovido
por sete entidades e que antecede as discussões da reunião dos ministros das
Finanças e presidentes do Banco Central do G20, em São Paulo. “O Brasil pode
mostrar que essa transição pode ser feita. Mas precisa querer”, acrescenta o
executivo.
Ele cita que há um
problema global de falta de liderança, falta de uma potência que mostre aos
demais que é possível fazer a descarbonização da economia e ter desenvolvimento
econômico e social, e que o Brasil é o país com maior capacidade para ocupar
esse lugar. Elogiou o Plano de Transformação Ecológica, lançado no ano passado
pelo Ministério da Fazenda em parceria com outros ministérios.
Centrado em seis eixos
- financiamento sustentável, desenvolvimento tecnológico, bioeconomia,
transição energética, economia circular e infraestrutura e adaptação às
mudanças do clima - o Plano visa criar bases regulatórias, estruturais e
operacionais para desenvolver iniciativas dos setores privado e público e do
terceiro setor.
“Você tem um plano de
transformação ecológica muito lindo, não vi nenhum país que possa dizer que
pode ser positivo e fazer reparação a um tão baixo custo. Um plano que acelera
o PIB, dobra o crescimento e cria empregos para 3 milhões de pessoas no mínimo;
é tudo que precisamos”, diz.
Entre as medidas do
Plano de Transformação Ecológico estão a regularização do mercado regulado,
estímulo à pesquisa e inovação tecnológica em universidades, a ampliação de
áreas de concessões florestais, incentivos para a substituição de frotas de
ônibus por modelos elétricos, estímulo à reciclagem e direcionamento de
recursos a obras públicas para reduzir riscos de desastres naturais.
Governo e empresas
estão prontos para transformar o Brasil. Pense em quanto os desastres
climáticos impactam o PIB nacional, e quantos empregos podem ser gerados a
partir das mudanças. O Brasil está tão perto de se tornar a maior economia
descarbonizada do mundo, mas depende de vocês decidirem se querem — Paul Polman
Para ele, a principal
crise que o mundo precisa superar para avançar na agenda climática é a falta de
liderança. Ele acredita que o Brasil pode ocupar esse papel. “Espero que
consigam alcançar a liderança e colocar as pessoas certas juntas. Precisam fazer
o que falam e se colocar a serviço dos outros. Fazendo isso, nós todos seremos
beneficiados”, comenta Polman.
Em sua última fala,
ele destacou que há mais de 20 anos visita o Brasil e sempre ouviu que é o
“país do futuro”, futuro que não chega nunca.
“Não tem país melhor
para resolver isso que o Brasil, mas a pergunta é se quer fazer parte disso ou
não. Há 20 anos que viajo pro Brasil, acho que vocês precisam resolver os
problemas que têm que ser resolvidos, mas acho que agora é hora de dizer que o
Brasil é o país do futuro hoje”, disse e foi muito aplaudido pela audiência,
formado de autoridades públicas, empresários, representantes de organizações do
terceiro setor e acadêmicos.
·
Dinheiro disponível
No discurso, um ponto
abordado por Polman, e que permeia a maior parte dos debates do fórum, é o da
atração de dinheiro para desenvolver os projetos necessários para chegar às
metas do Acordo de Paris. Muitos estudos apontam para valores diferentes, mas Polman
cita a cifra de US$ 1,7 trilhão para se referir à necessidade de investimento.
Para o Brasil, as pesquisas apontam para algo em torno de US$ 150 bilhões por
ano na próxima década, número bastante citado nos painéis. É um número próximo
ao que o ministério da Fazenda estima para o Plano de Transformação Ecológica -
entre US$ 130 a US$ 160 bilhões de investimentos anuais nos próximos 10 anos,
principalmente em infraestrutura.
Para Polman, achar
dinheiro não é um problema. “Nós temos muito dinheiro no mundo que não sabe o
que fazer”, diz, e comenta que trilhões estão sendo, por exemplo, usados para
“países jogarem bombas uns dos outros”, se referindo aos conflitos geopolíticos
em andamento.
O problema principal,
diz, é que a humanidade está criando problemas em uma velocidade mais rápida do
que investe nas soluções. Isso, na linha final, é o que tem levado muitas
pessoas à situação de insegurança alimentar e condição de pobreza.
“É isso que queremos?
Queremos empresas com impacto positivo na sociedade. Se precisamos entre US$
1,5 trilhão e US$ 2,4 trilhões, nem é tanto assim, o que precisamos não são
promessas de governos, são de compromissos implementados”, pontua.
Para ele, é importante
achar formas criativas para alavancar uma parte desse dinheiro, usando dinheiro
não-reembolsável, por exemplo, de filantropia ou recursos concessionários, para
minimizar riscos e atrair o capital do setor privado.
Ø
Mais floresta, mais economia: Brasil busca
oportunidades globais com "bioeconomias"
Paralela à vasta
economia da soja e da pecuária da Amazônia brasileira – apontadas como algumas
das principais impulsionadoras do desmatamento no bioma –, existe um sistema
mais antigo e mais sustentável de famílias e cooperativas que produzem produtos
florestais, incluindo o açaí, borracha e ingredientes farmacêuticos.
Essa bioeconomia, com legiões de pequenos produtores, incluindo
comunidades indígenas, recebe apenas uma fração do fluxo de investimento
canalizado para a expansão da soja e do gado.
À medida em que o
Brasil tenta proteger a sua floresta tropical em rápido desaparecimento,
reduzir a desigualdade e construir uma economia mais sustentável, encontrar
formas de direcionar o investimento para a expansão da bioeconomia – ou
das bioeconomias, no plural, dada a diversidade da aplicação em potencial
no cenário nacional – pode ser a melhor oportunidade para proteger a Amazônia e
o seu povo, apontam especialistas reunidos no painel "As Bioeconomias do
Brasil: oportunidades no contexto global", realizado nesta terça-feira
(27) durante o Fórum de Finanças
Climáticas.
A Floresta Amazônica intacta
tem um valor econômico quatro vezes maior do que a mesma terra transformada em
pasto para gado, se forem considerados benefícios como a contribuição da
floresta para a produção de chuvas, ar puro e um clima estável, segundo
trabalho do cientista Carlos Nobre, referência em mudanças climáticas.
Hoje, apenas 22% do
crédito rural subsidiado canalizado através dos bancos públicos do Brasil vai
para apoiar negócios de bioeconomia. Ainda mais importante é persuadir os
bancos privados do Brasil de que a bioeconomia é um bom investimento - uma
mudança que pode ser encorajada com novos incentivos e políticas
governamentais, e através de investimentos filantrópicos que comprovem o caso.
Os créditos de carbono
poderiam desempenhar um papel importante no pagamento da restauração de terras
– mas emitir créditos para proteger as florestas existentes é mais complicado,
com os mercados de carbono não regulamentados e a propriedade da terra muitas
vezes pouco clara.
Fonte: Um só Planeta
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