Brasil e Rússia: parceria entre IPEN e
MEPhi estimula pesquisas no setor nuclear no Brasil
A edição deste ano da
AtomExpo, maior fórum da indústria nuclear mundial, sediado na Rússia, terá
presença do Brasil, representado pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e
Nucleares (IPEN).
Em entrevista à
Sputnik Brasil, Isolda Costa, superintendente e diretora substituta do
instituto, aponta os resultados positivos da cooperação entre Brasil e Rússia
no setor.
O IPEN brasileiro foi
convidado para participar da AtomExpo, o principal fórum internacional do setor
de energia nuclear, que começa nesta segunda-feira (25) e vai até terça-feira
(26), em Sochi, na Rússia, e tem o apoio da Companhia Estatal de Energia Nuclear
da Rússia (Rosatom).
Atualmente, o IPEN tem
uma parceria com o Instituto de Engenharia Física de Moscou (MEPhI), com apoio
da Rosatom, com a qual o Brasil mantém um acordo bilateral de cooperação desde
2019. A parceria tem rendido bons resultados na formação técnica de estudantes
de doutorado brasileiros. Em fevereiro, três doutorandos brasileiros do IPEN
retornaram ao Brasil após concluir mestrado no MEPhi.
Em entrevista à
Sputnik Brasil, Isolda Costa, superintendente e diretora substituta do IPEN,
que já está em Sochi para o fórum, falou sobre os resultados positivos da
parceria do instituto com o MEPhi.
• Qual a função do IPEN?
Isolda destaca que o
IPEN atua em quatro áreas diversas. Uma delas é a produção de radiofármacos,
sendo responsável por 85% da demanda do país.
"Ele [IPEN]
atende 2 milhões de procedimentos por ano, atende mais de 430 clínicas e
hospitais, ou seja, é a principal instituição de radiofarmácia do país",
explica Isolda.
Além da produção de
radiofármacos, Isolda destaca que o IPEN também produz elementos combustíveis,
sendo responsável pela única fábrica do segmento integrada da América Latina,
"que produz todos os elementos combustíveis para todos os quatro reatores
de pesquisa do país".
"Isso representa
uma economia muito grande para o país, por conta da nossa autonomia em
introduzir elementos combustíveis para os reatores de pesquisa. Além da
produção, temos 11 centros de pesquisa, que são dedicados a diferentes tipos de
atividades, desde a área de materiais, saúde, biotecnologia, tecnologia das
radiações, engenharia nuclear", afirma a superintendente.
"Além de a gente
ter a pesquisa, que é reconhecida no país, [...] nós temos um serviço que faz
parte da nossa missão, que é receber material ou rejeito que tenha atividade, e
que seja de São Paulo e regiões em volta. Nós recebemos esses rejeitos, nós
acondicionamos e guardamos aqui no IPEN. Então, temos também serviço de
radioproteção", complementa.
Ela aponta que o IPEN
tem uma parceria com a Marinha, inclusive em projetos estratégicos nucleares.
"Nós temos uma
longa história de parceria com a Marinha, muito longa, desde o começo da nossa
história, porque nos anos 1980, o IPEN e a Marinha, eles participaram do
programa, era um plano nacional, um programa nacional nuclear, que era para
dominar todo o ciclo do combustível, desde a extração, o refinamento,
purificação, enriquecimento, até chegar no elemento combustível."
Ela acrescenta que
todo esse conhecimento que foi desenvolvido por meio dessa parceria fez do
Brasil um dos dez países do mundo que domina essa tecnologia. Ademais,
"também há no IPEN um reator de 100 Watts, chamado IPEN MB01, no qual o
'MB' é de Marinha do Brasil".
"Foi uma parceria
conjunta, em que os engenheiros das duas áreas trabalharam juntos e
desenvolveram, com tecnologia nacional, esse reator que está instalado no IPEN
há alguns anos. Ele serve como um reator para testar materiais, para fazer
testes hidráulicos, de neutrônica."
• Como é o intercâmbio entre o IPEN e o
MEPhi?
Isolda explica que a
cooperação técnica entre o IPEN e o MEPhi é uma "é uma conquista da
internacionalização do IPEN, sob a coordenação do doutor Niklaus Wetter".
"Eles
desenvolveram já há alguns anos essa cooperação para a formação, porque tudo
que nós fazemos de parceria, no sentido de formação de recursos humanos,
envolvendo países, outros países, a gente faz isso dentro de um programa que a
gente chama de internacionalização. Ele está ligado ao programa de
pós-graduação. Então, isso é algo que é muito importante para as pós-graduações
no país, que elas façam essas parcerias internacionais para desenvolvimento de
conhecimentos específicos."
Ela sublinha que a
Rússia está entre os países que demonstraram interesse nessa parceria,
especificamente por parte do MEPhi.
"Esse tipo de
parceria é algo que nós temos muito interesse, inclusive para o desenvolvimento
de tecnologias específicas. Então, o que aconteceu nesse caso, especificamente,
foi que houve o interesse bastante grande do MEPhi em se fazer esse convênio, a
ponto de eles oferecerem as instalações deles lá na Rússia para que os nossos
alunos ficassem lá hospedados durante um ano e meio, fazendo parte desse
programa", explica Isolda.
Ele afirma que todos
os alunos que fizeram parte do programa já retornaram ao Brasil, e que o IPEN
agora trabalha "para tornar essa parceria em uma dupla titulação".
"O que significa
que após a aprovação nas comissões de pós-graduação da Universidade de São
Paulo, lembrando que o nosso programa é associado à Universidade de São Paulo,
então, após essa aprovação, a gente terá a dupla titulação. O aluno terá tanto
a titulação que é válida no Brasil como a que é válida lá na Rússia. Então, nós
estamos trabalhando nesse momento para isso, para virar essa parceria, esse
convênio que nós temos com algumas universidades em uma dupla titulação."
• Qual será o papel do IPEN na AtomExpo?
Questionada sobre as
expectativas para a participação do IPEN na AtomExpo, Isolda afirma que a
presença do instituto no fórum traz boas oportunidades, tanto para o evento
quanto para o instituto brasileiro.
"Eu vou para
conhecer. Eu não tenho nenhuma apresentação. Eu tenho, certamente, a
possibilidade de conversar com pessoas lá no evento que, talvez, surja essa
oportunidade. Mas eu acho que o que é importante para eles e para nós, para
eles é que haja uma representação da instituição, a principal instituição que
atua na área nuclear no país, que é a Comissão Nacional de Energia Nuclear. E,
para nós, é também conhecer as oportunidades de fazer novas parcerias e como
que nós, brasileiros, podemos ter, também, benefícios dessas cooperações",
afirma.
Isolda acrescenta que
a participação do IPEN no evento traz a oportunidade de "estreitar essas
relações".
"É principalmente
isso. É um evento de dois dias, é um evento que eu acho que a finalidade
principal é isso. Eu estou indo com o espírito de conhecer, completamente
aberta ao que eu vou conhecer lá", conclui Isolda.
Rosatom apresenta linha de usinas
nucleares flutuantes no fórum Atomexpo na Rússia
A empresa russa
Rosatom, líder mundial no setor de energia nuclear, apresentou uma série de
novas usinas nucleares flutuantes no Fórum Internacional Atomexpo, que acontece
no território federal de Sirius, no sudoeste da Rússia, de 25 a 26 de março.
A Rosatom oferece ao
mercado mundial a usina nuclear flutuante PEB-100 com dois reatores RITM-200M e
capacidade total de 100 megawatts. Os PEB-100 foram projetados para uma vida
útil de 60 anos.
Para o mercado
nacional, a corporação apresentou as usinas nucleares flutuantes PEB-106 e
PEB-180, com capacidade de geração de 106 e 180 megawatts, respectivamente, e
vida útil de 40 anos.
As usinas nucleares
flutuantes constituem uma das principais linhas de trabalho da Rosatom no campo
da energia nuclear de baixa potência. Em 2019, a Rosatom construiu a primeira
usina nuclear flutuante do mundo, denominada Akademik Lomonosov, que atualmente
fornece eletricidade à cidade russa de Pevek, localizada no Círculo Polar
Ártico. A empresa iniciou a construção de uma segunda unidade em agosto de 2022
e tem mais três em andamento.
O chefe da Agência
Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, descreveu como muito
importante o papel da empresa russa Rosatom em vários projetos internacionais
de energia nuclear.
Falando por
videoconferência na sessão de abertura do fórum Atomexpo 2024, Grossi destacou
que se trata de "um evento muito importante no calendário internacional de
eventos de relevância global relacionados com a energia nuclear", e que a
sua nova edição assume grande significado agora que o mundo inteiro busca
alternativas e soluções inovadoras na área energética para enfrentar o desafio
do aquecimento global.
"Tenho de
reconhecer o papel muito importante que a Rosatom está desempenhando, não só na
Federação da Rússia, mas também a nível internacional, através de uma série de
projetos bem conhecidos e extremamente bem-sucedidos, com os quais tive a
oportunidade de me familiarizar durante minhas visitas. Neste contexto [os
projetos na] Turquia, Egito, Bangladesh vêm à mente, tantas conquistas pelas
quais gostaria de parabenizá-los novamente", disse Grossi.
Por sua vez, o
diretor-geral da Rosatom, Aleksei Likhachev, alertou que a atual politização da
indústria global de energia nuclear pode implicar riscos de um acidente
nuclear.
"As tentativas de
dividir a energia nuclear em 'má' e 'boa', 'certa' e 'errada' só trará danos
[...]. E o que é mais importante, prejudicará a segurança", declarou
Aleksei Likhachev, presidente da Rosatom.
O responsável da
Rosatom sublinhou que enquanto "a lealdade política e as cores da bandeira
prevalecerem sobre o profissionalismo na escolha dos fornecedores de tecnologia
nuclear, este será o caminho para um futuro acidente".
Segundo os
organizadores, representantes de 75 países vão participar da 13ª edição do
fórum Atomexpo, que será realizado nos dias 25 e 26 de março no território
federal de Sirius, na costa russa do mar Negro.
Atomexpo é um dos
maiores fóruns internacionais na área de energia nuclear pacífica, realizado na
Rússia a cada dois anos. Delegações de mais de 50 países participaram da edição
anterior de 2022.
• Chefe da Rosatom adverte contra
politização e divisão da energia nuclear em 'ruim' e 'boa'
Aleksei Likhachev
falou na abertura do maior fórum internacional sobre energia nuclear, onde
defendeu o "profissionalismo" em vez da "lealdade política e as
cores da bandeira" na área da energia nuclear.
A politização do setor
de energia nuclear global criará riscos de acidentes nucleares, alertou nesta
segunda-feira (25) o presidente da corporação estatal russa Rosatom.
"As tentativas de
dividir a energia nuclear em 'ruim' e 'boa', em 'certa' e 'errada', só trarão
prejuízos […]. O mais importante é que elas prejudicarão a segurança",
disse Aleksei Likhachev na abertura do ATOMEXPO 2024, o maior fórum internacional
sobre energia nuclear.
Assim que "a
lealdade política e as cores da bandeira, em vez do profissionalismo,
prevalecerem na escolha dos fornecedores de tecnologia nuclear — esse é o
caminho para um futuro acidente, acreditem em mim", sublinhou o chefe da
Rosatom durante a sessão plenária.
De acordo com ele,
"nada pode impedir o desenvolvimento da tecnologia nuclear. Nada deterá o
trabalho internacional da corporação estatal Rosatom. Nada deterá o
desenvolvimento de nosso país".
O alto funcionário
também deu sua opinião sobre a tecnologia de fusão nuclear, que acredita que
vai chegar em meados deste século.
"É óbvio que na
virada de 2050 aparecerá em um dos países, incluindo a Rússia; esperamos por
isso. Ainda não […] atraente economicamente, mas [a] já comercial [usina de
energia de] fusão nuclear."
O tema desta edição do
ATOMEXPO é o estado atual do setor nuclear global e tendências para seu
desenvolvimento futuro.
Fonte: Sputnik Brasil
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