Um novo plano para resolver a crise
imobiliária do México
Cercadas
por jacarandás roxos e tepozanes exuberantes, os calçadões do bairro de
Condesa, na Cidade do México, conectam um denso ambiente urbano onde torres de
apartamentos contemporâneas se erguem ao lado de prédios multifamiliares
atarracados, projetados em uma mistura de estilos arquitetônicos. Cercado por
cafés, sorveterias e galerias de arte movimentados, um parque público atrai
transeuntes que param para apreciar um show de jazz improvisado.
A maior
metrópole da América do Norte é o sonho de qualquer urbanista — mas também um
exemplo de advertência sobre ideias progressistas que deram errado.
No
início dos anos 2000, o governo da cidade, sob o então prefeito e futuro
presidente Andrés Manuel López Obrador (AMLO), embarcou em um ambicioso plano para conter a
expansão urbana, adensando os quatro distritos centrais onde se concentram os centros
principais de emprego: Cuauhtémoc, Miguel Hidalgo, Benito Juárez e Venustiano
Carranza. Ao mesmo tempo, programas de revitalização foram postos em prática
para melhorar a
infraestrutura de bairros negligenciados no centro da cidade, incluindo Condesa e Roma, que vinham perdendo
moradores desde o terremoto de 1985.
A
estratégia conseguiu atrair investimentos imobiliários para o centro da cidade.
Mas, com o relaxamento das leis de zoneamento e a implementação de incentivos,
o boom imobiliário resultante
elevou os preços e deslocou cerca de cem
mil moradores dos bairros centrais. A acessibilidade à moradia tornou-se a
principal causa do plano.
<><>
Construa melhor, não apenas mais
“Ogoverno
da cidade tem feito esforços significativos para melhorar o acesso à moradia
para moradores de baixa renda”, diz Anavel Monterrubio, professora de
sociologia urbana na Universidad Autónoma Metropolitana, referindo-se à Lei de
Habitação da Cidade do México, que foi criada em 2017. “A lei
é centrada na proteção do direito à moradia, mas uma desconexão entre as
políticas de planejamento urbano e seu impacto na moradia limita sua eficácia.”
O
deslocamento nos distritos centrais da cidade pode não ter sido a intenção de AMLO, mas a
gentrificação é frequentemente o resultado não intencional
de políticas progressistas bem-intencionadas executadas em uma estrutura
neoliberal — na qual o Estado se afasta da intervenção direta e, em vez disso,
depende de mecanismos de mercado para atingir objetivos sociais.
Dentro
dessa estrutura, a agenda de AMLO ajudou a abrir caminho para o magnata
mexicano Carlos Slim transformar cerca de 375
acres de terras industriais subutilizadas em um vibrante distrito de uso misto,
atraindo milhares de profissionais para viver, trabalhar e se divertir em um
enclave de luxo renomeado como Nuevo Polanco, no bairro de Miguel Hidalgo.
Hoje,
torres de escritórios e apartamentos se erguem na paisagem renovada do bairro,
onde marcos arquitetônicos icônicos abrangem uma série de lojas, entretenimento
e espaços culturais, incluindo o próprio Museo Soumaya de Slim — uma vitrine
para a riqueza do décimo nono homem mais rico do mundo, escondida atrás de um
véu de filantropia.
Na
última década, mais de 8.000 apartamentos foram construídos somente em
Nuevo Polanco, mas moradias no centro da cidade continuam fora do alcance da
maioria dos moradores da classe trabalhadora. Entre 2019 e 2024, os
aluguéis aumentaram 19% nos bairros
de Miguel Hidalgo e Benito Juárez, e 26% no distrito de Cuauhtémoc. Mesmo em
Venustiano Carranza — o mais acessível dos quatro
distritos centrais — os aluguéis registraram o maior aumento
na cidade no ano passado, com uma alta de 5,5%. No mesmo período de cinco anos,
o preço médio de uma casa na Cidade do México aumentou 36%.
Alguns
argumentam que a solução é simples: construir mais moradias. E, de fato, é
preciso mais oferta. Segundo estimativas da associação de construção do país,
da Câmara Mexicana da Indústria da Construção (CMIC) e da empresa de pesquisa
de mercado imobiliário Softec, pelo menos cem mil novas moradias precisam
ser construídas nos bairros
centrais da Cidade do México até 2030 para atender à demanda.
Mas em
uma cidade onde apenas uma em cada cinco famílias ganha um salário
digno — o suficiente para cobrir despesas básicas como alimentação, aluguel,
transporte e serviços públicos — deixar a construção de moradias para o livre
mercado dificilmente mitigará o deslocamento.
¨ Subsidiando o
deslocamento
“Amenos
que a moradia seja construída, ou fortemente influenciada pelo governo, ela
simplesmente não será acessível”, diz León Staines-Díaz, professor de
arquitetura e urbanismo no Tecnológico de Monterrey. “Como a terra é muito
cara, o Estado precisa desempenhar um papel. O livre mercado já teve uma
oportunidade, e tudo o que fez foi criar uma cidade insustentável.”
De
fato, uma limitação fundamental da estratégia de densificação de AMLO,
conhecida como Bando 2, era que o governo havia há muito tempo se afastado da construção
de moradias. Desde o início da década de 1990, o papel do INFONAVIT — um fundo
federal de habitação criado em 1972 para
reunir as contribuições dos empregadores para a moradia dos trabalhadores —
havia sido reduzido ao
financiamento hipotecário. A construção pública foi deixada de lado e a
habitação tornou-se uma mercadoria.
“As
pessoas pensavam que o mercado resolveria o problema”, diz Staines-Díaz, “a
intervenção do governo era mal vista.”
Embora
o Bando 2 visasse incentivar a construção de moradias populares em bairros bem
conectados e com infraestrutura existente — transporte público, escolas,
parques públicos e mercados —, na prática, o setor privado respondeu de forma
diferente. Embora empréstimos a juros baixos do INFONAVIT estivessem
disponíveis para os trabalhadores da cidade, casas populares continuaram a ser
construídas nas periferias urbanas. Enquanto isso, torres de luxo proliferavam nos bairros bem
atendidos dos distritos centrais. A especulação financeira aumentou e um
“cartel” imobiliário surgiu em meio à
crescente concentração do mercado.
Em
2019, com a intensificação dos apelos por ações
contra a gentrificação no centro da cidade, Claudia Sheinbaum, então prefeita
da Cidade do México, apresentou uma iniciativa para incentivar incorporadoras
privadas a construir entre 7.500 e 10.000 casas populares em áreas em processo
de gentrificação até 2024.
A
iniciativa concedeu isenção taxas e impostos de desenvolvimento para projetos
que se comprometessem a vender um terço das unidades construídas abaixo dos
preços de mercado. Também acelerou as aprovações de licenças e direcionou o
investimento público para melhorias na infraestrutura dos bairros.
Mas o
programa teve um desempenho abaixo do esperado. Até o final de 2024, apenas 253
unidades populares haviam sido aprovadas — em apenas três torres de
apartamentos — de acordo com informações obtidas pela Jacobin por
meio de um pedido de acesso à informação.
<><>
Um planejamento para além do mercado
“As
incorporadoras querem mais densidade, não incentivos, porque é aí que está o
retorno do investimento”, diz Monterrubio, cujo trabalho de pesquisa se
concentra nas limitações do planejamento urbano que prioriza a acumulação de
capital em detrimento do direito à moradia. “É por isso que as incorporadoras
não se deixaram influenciar pelo programa.”
Quando
as regulamentações de uso do solo são flexibilizadas para permitir edifícios
mais altos, o valor potencial desses terrenos aumenta. Isso, por sua vez, eleva
os preços dos terrenos e agrava o abismo entre os bairros criados para os ricos
e a redução do número de opções disponíveis para as classes trabalhadoras que
os atendem, explica Monterrubio.
“A
desregulamentação cria enclaves de riqueza e pobreza porque aumenta o valor da
terra, e o valor da terra impacta o custo da moradia.” Como resultado, o
direito à moradia — consagrado na Constituição do
México — continua sendo, em grande parte, uma aspiração.
“O
direito à moradia só é garantido para quem pode pagar por ela, seja rico ou
pobre”, diz Monterrubio. “Na minha perspectiva, isso não será resolvido pelo
desenvolvimento privado, mas pela participação significativa do governo.”
Reverter
o impacto de quatro décadas de uma política urbana orientada pelo
mercado não
será fácil, especialmente quando a intervenção governamental no livre mercado
é vista com
desconfiança. Mas iniciativas federais recentes oferecem um vislumbre de
esperança.
Em
outubro, a presidente Sheinbaum apresentou um plano ambicioso para
construir um milhão de casas populares em todo o país antes do final de seu
mandato, em 2030.
Desta
vez, a construção não ficará à mercê de incorporadores imobiliários privados.
Graças
a uma recente reforma na estrutura
regulatória da INFONAVIT, a subsidiária do governo federal adquirirá terrenos que já
contam com uma estrutura de serviços básicos em áreas bem conectadas e
construirá moradias sociais para trabalhadores de baixa renda pela primeira vez
em três décadas.
Na
Cidade do México, o plano de Sheinbaum deve produzir 26.000
casas populares nos próximos cinco anos e mitigar o deslocamento no centro da
cidade.
“Os
governos federal e da Cidade do México têm uma visão compartilhada”, disse a
nova prefeita da Cidade do México, Clara Brugada, em uma coletiva de imprensa
em fevereiro. “Ambos queremos proteger o direito à moradia e combater a
gentrificação. Esses projetos habitacionais nos ajudarão a alcançar esse
objetivo.”
¨
Sheinbaum repudia ameaças de Trump sobre enviar tropas ao
México contra narcotráfico. Por Victor Farinelli
Em
coletiva realizada nesta segunda-feira (05/05), a presidente do México, Claudia
Sheinbaum,
repudiou as declarações do seu homólogo estadunidense Donald Trump sobre o
possível envio de tropas militares ao território do México, com a desculpa de
“combater carteis do narcotráfico”.
A crítica da mandatária mexicana foi
uma resposta a afirmações feitas por Trump em uma entrevista a meios do seu
país, publicadas no último sábado (03/05), quando ele disse que primeiro iria
enviar as tropas e só depois perguntar como elas poderiam ajudar o país
vizinho.
Sheinbaum
disse que chegou a se comunicar com o homólogo no domingo (04/05) e que teria
manifestado, nessa conversa, que “nosso território é inviolável, nossa
soberania é inviolável, nunca aceitaremos a presença do exército dos Estados
Unidos em nosso território”.
A
mandatária também criticou a estratégia comunicacional de Trump, de apresentar
medidas através de declarações à imprensa, quando se trata de políticas que
envolvem outros países.
“Disse
ao presidente Trump que devemos abordar as questões por meios a partir de uma
comunicação direta, coordenada, aberta e oficial, não por meio de declarações
unilaterais pela imprensa”, explicou a líder mexicana.
Em
outro trecho da coletiva, Sheinbaum voltou a propor um aumento do controle
sobre o fluxo de armas dos Estados Unidos ao México, já que essas armas abastecem os
cartéis do narcotráfico em seu país.
Não é a
primeira vez que a presidente do México defende a ideia de reforçar o controle
de armas contra o narcotráfico. Em nenhuma dessas vezes houve resposta por
parte da Casa Branca.
<><>
‘Medo dos carteis’
Por sua
vez, o presidente estadunidense se referiu ao diálogo com Sheinbaum novamente
através de suas redes sociais, assegurando que “as medidas que conversamos são
visando o melhor para os Estados Unidos e também para o México”.
Ele
também criticou a homóloga, dizendo que “a presidente do México é uma mulher
adorável, mas ela tem tanto medo dos cartéis que não consegue nem pensar
direito”.
Trump
concluiu sua mensagem dizendo que os líderes do narcotráfico “são pessoas
horríveis que têm matado pessoas a torto e a direito, e têm feito uma fortuna
vendendo drogas e destruindo nosso povo (dos Estados Unidos)”.
¨
Trump diz que EUA
precisam ‘desesperadamente’ da Groênlandia e não exclui uso de força militar
Em
entrevista para o canal NBC transmitida neste domingo (04/05),
o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que seu projeto de anexar a Groenlândia continua
vigente e com alta prioridade, a ponto de que ele não descarta o uso de força
militar para poder atingir esse objetivo.
Segundo
o mandatário norte-americano, os Estados Unidos “precisam desesperadamente” da
ilha para “garantir a segurança” do país e do mundo.
Perguntado
sobre a possibilidade de usar força militar para conquistar a Groenlândia, Trump admitiu que
não exclui essa opção. “Não digo que farei, mas não excluo nada, pois
precisamos da Groenlândia para garantir a segurança internacional”, afirmou o
presidente estadunidense.
Trump
também alegou que “a Groenlândia é composta por uma população muito pequena, a
qual nós cuidaremos e amaremos”.
Atualmente,
a Groenlândia é um território autônomo da Dinamarca, que realizou uma eleição
meses atrás, formando um novo governo, o qual tem
promovido uma campanha de união nacional contra o que considera “ameaças à
soberania” do território, por parte dos Estados Unidos.
<><>
Alcatraz
Neste
mesmo domingo, em mensagens publicadas nas redes sociais, o presidente dos
Estados Unidos anunciou que reativará a penitenciária de Alcatraz, localizada
na linha do mesmo nome, que fica na Baía de São Francisco.
“Quando
éramos uma nação mais séria, no passado, não hesitávamos em prender os
criminosos mais perigosos e mantê-los longe de qualquer pessoa que pudessem
prejudicar. Não toleraremos mais esses criminosos em série que espalham
sujeira, derramamento de sangue e caos em nossas ruas”, disse Trump.
A
polêmica prisão de Alcatraz funcionou entre os anos de 1934 e 1963, período em
que ficou marcada por abrigar alguns dos criminosos mais famosos dos Estados
Unidos, como Al Capone, Robert Stroud e Bumpy Johnson, entre outros.
Também
é recordada por casos de fugas épicas e pelo sistema de segregação racial que mantinha,
que entregava condições bem piores aos detentos afro-americanos que as detentos
brancos. Fechada em 1963, atualmente é um dos museus mais conhecidos e
visitados do país.
AJUDE-NOS
A CONTINUAR
PRECISAMOS
DE SUA COLABORAÇÃO
PIX
75981805156 (Francklin R. de Sá)
SUA
CONTRIBUIÇÃO É IMPORTANTE
Fonte: Por Ximena González – Tradução Pedro
Silva, em Jacobin Brasil/Opera Mundi

Nenhum comentário:
Postar um comentário