Traição
e morte fake: mistérios cercam chefão do PCC preso na Bolívia
Marcos
Roberto de Almeida, conhecido como Tuta e apontado como a maior liderança do
Primeiro Comando da Capital (PCC) nas ruas, tem uma vida no crime cercada de
mistérios, que vão desde a acusação de traição a uma morte fake, acobertada
pela facção para despistar as investigações. O criminoso foi preso pela Polícia
Federal (PF) em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, nessa sexta (16/5).
Antes
de trabalhar para a facção, Tuta foi adido comercial no Consulado de Moçambique
em Minas Gerais, entre 2018 e 2019. Ele recebia salário de R$ 10 mil para,
agregado à embaixada do país africano, tratar de temas importantes para o
intercâmbio comercial com o Brasil.
Tuta
foi demitido do consulado e chegou ao posto de maior chefão do PCC em
liberdade, em 2020. Ele teria sido expulso da facção dois anos depois por
enriquecer à custa da organização criminosa.
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Morte fake
O
Ministério Público de São Paulo (MPSP) chegou a anunciar que o criminoso foi
morto pelo tribunal do crime da facção após ordenar a morte de um membro sem
autorização da cúpula. No entanto, seu corpo nunca foi encontrado.
Conforme
apurado pelo Metrópoles, a história da morte de Tuta foi plantada pelo PCC para
despistar as investigações. Enquanto isso, o criminoso continuava liderando as
atividades do grupo diretamente da Bolívia.
Com
Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, isolado no sistema carcerário
federal, ele chegou a ser apontado como o substituto imediato do líder máximo
do PCC, como o preso é identificado pela Justiça.
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Condenado por lavar R$ 1 bi do PCC
Ausente
em seu julgamento, Tuta foi condenado a 12 anos de prisão por associação
criminosa e lavagem de dinheiro em 27 de fevereiro do ano passado. Ele é
acusado de lavar R$ 1 bilhão para o PCC.
Ele foi
denunciado pelo MPSP em setembro de 2020 após a deflagração da primeira fase da
Operação Sharks.
A ação
é resultado de investigações do Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime
Organizado (Gaeco), iniciadas em 2018 com a prisão de Robson Sampaio de Lima, o
Tubarão, condenado a 16 anos e 11 meses pelos mesmos crimes de Tuta.
Pagou
R$ 5 milhões à Rota
Em
janeiro deste ano, o Metrópoles mostrou que Tuta disse ter pagado R$ 5 milhões
a policiais da Rota, tropa de elite da Polícia Militar, em troca de informações
sigilosas que permitiram sua fuga durante a Operação Sharks.
O
pagamento teria sido feito de forma fracionada, com uma entrada de R$ 2 milhões
e o restante de forma parcelada.
A Rota
ficou encarregada de cumprir vários mandados de prisão expedidos no âmbito da
Operação Sharks, entre eles o de Tuta. Para a surpresa dos promotores, no
entanto, o chefão do PCC não foi localizado no endereço previsto.
Inicialmente,
houve a suspeita de que alguém do prédio do criminoso poderia ter vazado a
informação. Mais tarde, os promotores tiveram acesso a um áudio em que o
próprio Tuta conversava com um outro criminoso e dizia: “O pessoal da R
[suposta referência à Rota] salvou minha vida na Sharks”.
Segundo
investigações do Gaeco, os policiais militares envolvidos no esquema pertenciam
ao setor de Inteligência da Rota. Eles não realizavam patrulhamento ostensivo,
apenas o chamado “trabalho velado”.
Irritados,
os representantes do MPSP teriam levado o caso a José Augusto Coutinho, então
comandante da Rota, hoje número 2 na hierarquia da Polícia Militar. Segundo os
promotores, ele, no entanto, não tomou providências a respeito, abafando o
caso.
Questionada,
a Secretaria da Segurança Pública (SSP) não comentou sobre o assunto. A pasta
se limitou a dizer que a Polícia Militar “não compactua com desvios de conduta”
e que “toda denúncia é rigorosamente investigada pela Corregedoria da
instituição”.
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Prisão na Bolívia
• Tuta foi preso na tarde dessa sexta em
Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, por agentes da PF e da Fuerza Especial de
Lucha contra el Crimen (FELCC).
• O brasileiro, que estava foragido da
Justiça, foi preso por uso de documento falso.
• Ele permanece sob custódia das
autoridades bolivianas, aguardando os procedimentos legais que poderão resultar
em sua expulsão ou extradição ao Brasil.
• O criminoso estava na Lista de Difusão
Vermelha da Interpol, o que motivou a intensificação dos esforços para sua
localização e captura, segundo a PF.
• Audácia e mentira: como Tuta, chefão do
PCC, foi preso
Foragido
da Justiça brasileira desde 2020, Marcos Roberto de Almeida (foto em destaque),
conhecido como Tuta, foi preso nessa sexta-feira (16/5) em Santa Cruz de la
Sierra, na Bolívia. Apontado como um dos principais articuladores do braço
financeiro do Primeiro Comando da Capital (PCC), ele foi detido após se
apresentar espontaneamente a uma unidade policial boliviana utilizando um
documento falso em nome de “Maicon da Silva”.
A
tentativa de enganar as autoridades não durou muito. A falsidade do documento
foi identificada ainda no posto policial, o que levou ao acionamento da
Interpol e do oficial de ligação da Polícia Federal do Brasil em Santa Cruz de
la Sierra. Com a identidade verdadeira confirmada, Marcos Roberto foi preso por
agentes da Fuerza Especial de Lucha Contra el Crimen (FELCC), força de elite da
polícia boliviana.
Tuta
era procurado internacionalmente e constava na Lista de Difusão Vermelha da
Interpol. No Brasil, foi condenado a mais de 12 anos de prisão pelos crimes de
organização criminosa, lavagem de dinheiro e tráfico de drogas. De acordo com
investigações do Ministério Público de São Paulo, ele teria movimentado cerca
de R$ 1 bilhão em nome da facção. Conforme o Metrópoles revelou, ele também é
acusado de ter subornado policiais da Rota com R$ 5 milhões para evitar sua
prisão durante a Operação Sharks, deflagrada em 2020.
A
prisão foi resultado de uma ação coordenada entre a Polícia Federal, a Interpol
e as autoridades bolivianas. Agora, o caso segue para análise judicial. Uma
audiência está marcada para este domingo (19/5), quando a Justiça boliviana
decidirá se Tuta será imediatamente expulso do país ou se responderá
criminalmente por uso de documento falso em território boliviano.
Caso
seja expulso, o retorno ao Brasil poderá ocorrer em poucas horas, dependendo
apenas de ajustes logísticos entre os países. Se houver a necessidade de um
processo formal de extradição, o trâmite pode se estender, já que dependerá da
tramitação judicial na Bolívia.
Até o
momento, Tuta permanece sob custódia da FELCC, e o governo brasileiro acompanha
o caso por meio de suas representações diplomáticas e da cooperação policial
internacional.
• Comandante da PM teria ignorado denúncia
sobre Rota e chefão do PCC
O atual
comandante da Polícia Militar, coronel José Augusto Coutinho, teria ignorado a
informação de que, em 2020, o então líder do Primeiro Comando da Capital (PCC)
nas ruas, Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, pagou R$ 5 milhões a PMs do setor
de inteligência da Rota para escapar da Operação Sharks, do Ministério Público
de São Paulo.
Nessa
sexta-feira (16/5), cinco anos depois, Tuta foi preso em Santa Cruz de la
Sierra, na Bolívia, em um ação conjunta entre a Polícia Federal e autoridades
bolivianas. Ele está sob custódia das autoridades locais e aguarda a
confirmação oficial de identidade para ser extraditado.
Na
Sharks, o líder do PCC foi condenado a 12 anos e seis meses de prisão por
lavagem de dinheiro e associação criminosa. As investigações apontam que ele
teria atuado como operador financeiro da facção e participado da movimentação
de aproximadamente R$ 1 bilhão, oriundos do tráfico internacional de drogas.
Conforme
revelado pelo Metrópoles em janeiro, a propina de R$ 5 milhões paga por Tuta a
policiais foi descoberta por promotores do Gaeco em outubro de 2021, quando um
traficante do PCC foi recebido na sede do batalhão da Rota e delatou o esquema.
Na
ocasião, ele exibiu um áudio em que Tuta detalhava o pagamento e dizia: “O
pessoal da R [suposta referência à Rota] salvou minha vida na Sharks”. Ele
teria pagado R$ 2 milhões de “entrada” e parcelado o restante.
Diante
da descoberta, promotores do Gaeco levaram o caso ao então comandante da Rota,
José Augusto Coutinho, e cobraram providências. No entanto, “ninguém fez porra
nenhuma, ele não fez nada a respeito”.
O
envolvimento de policiais militares da Rota com o PCC só ganharia publicidade
em meio às investigações sobre a morte do inimigo da facção Vinícius Gritzbach,
morto com 10 tiros de fuzil no Aeroporto de Guarulhos, em novembro do ano
passado. Em sua delação, ele deu afirmou que PMs do batalhão faziam segurança
para chefões do PCC.
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Fuga da Sharks
• Em 2020, Tuta era um dos principais
alvos dos promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime
Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo, que investigavam as
movimentações financeiras da cúpula do PCC.
• A Rota ficou encarregada de cumprir
vários mandados de prisão expedidos no âmbito da operação, entre eles o de
Tuta. Para a surpresa dos promotores, no entanto, o chefão do PCC não foi
localizado no endereço previsto.
• Inicialmente, houve a suspeita de que
alguém do prédio do criminoso poderia ter vazado a informação. Mais tarde, os
promotores tiveram acesso a um áudio em que o próprio Tuta conversava com um
outro criminoso e dizia: “O pessoal da R [suposta referência à Rota] salvou
minha vida na Sharks”.
• Os policiais da Rota envolvidos no
esquema integrariam o setor de Inteligência do batalhão e eram responsáveis
pelo chamado “trabalho velado”.
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Rumores sobre morte
Antes
de ser identificado como liderança do PCC nas ruas, Tuta atuou como adido
comercial no Consulado de Moçambique em Minas Gerais entre 2018 e 2019. À
época, recebia salário formal e trabalhava com temas ligados ao intercâmbio
econômico entre Brasil e África. O vínculo foi encerrado após seu nome aparecer
em processos judiciais ligados à lavagem de dinheiro.
Tuta
teria perdido espaço dentro da facção em 2022, após ser acusado de decisões
unilaterais e enriquecimento pessoal. Desde então, surgiram rumores sobre um
possível sequestro e execução ordenados pelo chamado “tribunal do crime” do
PCC. No entanto, não havia confirmação oficial sobre seu paradeiro até a prisão
desta sexta-feira.
• Quem é Tuta, considerado sucessor de
Marcola no PCC e preso pela PF na Bolívia
A
Polícia Federal, em colaboração com agentes da Fuerza Especial de Lucha contra
el Crimen (FELCC), da Bolívia, prendeu na sexta-feira (16/5) um brasileiro
conhecido como o membro mais importante em liberdade do PCC (Primeiro Comando
da Capital) e possível sucessor de Marcola na liderança da facção.
Marcos
Roberto de Almeida, o Tuta, estava na Lista de Difusão Vermelha da Interpol, “o
que motivou a intensificação dos esforços para sua localização e captura”,
informou a PF, em nota.
Ele foi
preso após apresentar um documento falso na cidade de Santa Cruz de la Sierra.
"A
prisão do Tuta é extremamente importante para o Brasil porque ele é um dos
criminosos mais perigosos e procurados do país. É um golpe importante no PCC
devido à posição de liderança que ele ocupa. Resta saber se vão conseguir
trazê-lo para o Brasil porque há interesse de resgatá-lo", diz Rafael
Alcadipani, professor da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo.
"Outro
ponto é, se uma vez no Brasil, ele vai falar tudo o que ele sabe. Porque ele
sabe muito. Sobre envolvimento de policiais e autoridades com o crime. Isso
seria muito importante para desarticular os tentáculos da facção."
Para
Alcadipani, a prisão de Tuta não deve ter grande influência sobre a operação do
PCC já que a estrutura da facção é formada de várias camadas para diminuir um
impacto no dia a dia das ações criminosas.
A PF
afirma que Tuta “foi identificado como um dos principais articuladores de um
esquema internacional de lavagem de dinheiro”.
A
polícia diz que ele foi recentemente condenado por associação criminosa e
lavagem de capitais, com pena superior a 12 anos de reclusão.
“O indivíduo
permanece sob custódia das autoridades bolivianas, aguardando os procedimentos
legais que poderão resultar em sua expulsão ou extradição ao Brasil.”
Segundo
a Agência Brasil, neste domingo (18/5) está prevista a realização de uma
audiência judicial na Bolívia para definir se Tuta será expulso imediatamente
ou responderá por uso de documento falso no país.
Em caso
de expulsão, o retorno ao Brasil pode ocorrer nos próximos dias a depender da
logística entre os dois países.
Se for
necessário um processo formal de extradição, a Polícia Federal estima que
levará mais tempo por conta dos trâmites na justiça boliviana.
O
promotor Lincoln Gakiya, do Ministério Publico do Estado de São Paulo, disse em
2023 que o grupo chegou a enviar ao exterior cerca de R$ 1,2 bilhão.
A
organização do PCC produz até uma espécie de censo para quantificar não apenas
os membros de suas fileiras, mas também de siglas rivais e se esforça para
repeti-lo a cada 15 dias.
"Se
você tem alguém que vai para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD ou
castigo), ele é transferido de prisão e fica em isolamento. Isso vai impactar
nas atividades da facção naquela unidade durante algum tempo até repor essa
pessoa. O que consegui identificar é que há pelo menos a intencionalidade de
uma periodicidade quinzenal", diz a pesquisadora Camila Nunes Dias.
Uma
pesquisa DataFolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em
2024, mostrou que 14% dos brasileiros dizem sofrer com a presença de facções
criminosas ou milícias em suas vizinhanças. Em capitais, esse percentual chega
a 20%.
Fonte:
Metrópoles/BBC News Brasil

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