Sudão,
a guerra esquecida
A
história dos últimos anos de guerra no Sudão está escrita no
corpo de Fathia Arbab Ishaq. Uma guerra que não começa, mas continua.
Fathia, que hoje tem oito anos, tinha quatro quando, em 2021, a tenda em que
vivia com a família foi atacada por combatentes das Forças de Apoio Rápido (RSF)
que invadiram o campo de deslocados de El Geneina. Dois anos depois, ela
fugiu do Sudão com sua mãe, Huwaida Adurahman Adam, que agora
tem trinta e seis anos, fugindo de um massacre que matou dois dos quatro filhos
de Huwaida. Hoje, Fathia e sua mãe são duas dos setecentos mil refugiados que
chegaram ao Chade vindos de Darfur.
Fathia vive
em uma tenda, o chão é um cobertor e o banheiro é uma lata de água abastecida
em um poço a um quilômetro de distância. Fathia, que viu seus irmãos morrerem
diante de seus olhos, não vai à escola há dois anos, não come o suficiente
porque não há comida para todos, se sustenta com muletas e caminha com a
dignidade dos sobreviventes.
·
Um
conflito sem fim
A
guerra civil no Sudão eclodiu em 15 de abril de 2023, desde então o
país tem sido palco de um conflito devastador entre o exército do
general Abdel Fattah al-Burhane, que tomou o poder em 2021 durante um
golpe de estado, e as RSF paramilitares, afiliadas ao seu ex-vice, Mohamed
Hamdan Daglo. Ambas as forças que lutam pelo país foram acusadas de crimes de
guerra. O massacre de El Geneina, do qual Fathia e sua mãe
fugiram, é um deles.
Durante
dois meses, entre a primavera e o verão de 2023, em El
Geneina estavam combatendo de um lado os Masalit e outros grupos
não árabes, apoiando o exército, e do outro lado as RSF e as milícias
árabes aliadas. As Forças de Apoio Rápido sitiaram a cidade em maio,
em meados de junho torturaram e mataram o governador masalit do estado de
Darfur Ocidental, Khamis Abbakar, e em 22 de junho El Geneina caiu
nas mãos da RSF.
As
organizações humanitárias estimam que 10 mil pessoas foram mortas nos
massacres, a maioria pertencente à população masalit. Aqueles que
conseguiram escapar a tempo chegaram ao Chade. Para se salvarem, mas
também para contar o que viram. Os abusos e a tortura, as valas comuns. Os
homens agrupados e executados. A violência sistemática contra as mulheres. E
seus filhos morrer sem poder fazer nada. Violência repetida, cotidiana, civis
atacados, mortos, sequestrados, mulheres estupradas na frente de seus filhos ou
mães enquanto tentavam chegar à fronteira mais próxima a
pé. Huwaida também tem as mesmas memórias que todos. Enquanto fugia,
viu homens retirados de carroças para serem separados das mulheres e depois
executados na frente de todos. Os milicianos, diz ela, gritavam: "Não
deixaremos nenhum masalit sobreviver, mataremos todos vocês".
·
A
fuga
Em
2023, a guerra no Sudão eclodiu na capital Cartum, uma novidade
para o país, palco de vários conflitos, mas quase sempre travados em áreas
periféricas, como em Darfur no início dos anos 2000 ou aquele que
levou à separação do Sudão do Sul. A primeira consequência de um conflito
que começou em áreas urbanas e, portanto, mais densamente povoadas, foi um
deslocamento em massa da população, um êxodo que rapidamente transformou o
Sudão na maior (e esquecida) crise humanitária do mundo. Mais da metade da
população, cerca de 25 milhões de pessoas, precisa de assistência humanitária e
proteção, mas a carência de financiamentos e a insegurança deixaram grandes
áreas do país inacessíveis. Até o momento, quase 13 milhões de pessoas foram
forçadas a abandonar suas casas em todo o Sudão, incluindo quase 4 milhões que
fugiram para países vizinhos.
Almortada
Mohamed também chegou ao Chade há dois anos, também vindo
de El Geneina. Ele tem 23 anos e estudava engenharia no Sudão. Hoje,
mora em uma cabana que está reforçando enquanto espera a chegada da estação
chuvosa, e todas as manhãs veste uma das duas camisas que trouxe e vai a um
centro de apoio fundado por outros jovens como ele que, sem a possibilidade de
estudar e com o futuro em suspenso, uniram forças para criar um centro para
alimentar as crianças menores. Alimentar – enfatiza Almortada – e não
nutrir, porque a refeição que servem todas as manhãs, uma tigela cheia de caldo
e um pouco de cereais, não contém nenhum dos alimentos que as crianças
precisariam, mas pelo menos enche a barriga. Almortada fugiu com toda a
família; todos conseguiram se salvar, mas não lhes resta mais nada:
"Precisamos estudar, nos tratar, precisamos de um futuro e estamos em um
limbo. Somos como animais numa armadilha, não podemos voltar para casa e aqui,
mesmo sendo acolhidos, vivemos em um estado de abandono. O mundo nos esqueceu
e, enquanto isso, no Sudão, as pessoas morrem de fome".
·
A
fome
Segundo
o PAM das Nações Unidas, a fome atingiu níveis catastróficos,
tornando o Sudão o único lugar no mundo onde a fome foi oficialmente
declarada em mais de um lugar no país: confirmada em 10 áreas e outras 17 estão
em risco. Em algumas áreas, a assistência alimentar emergencial é a única
barreira que impede a fome. Mas operações vitais estão cada vez mais limitadas
pela insegurança e pela falta de dinheiro. O Plano Regional de Resposta a
Refugiados de US$ 1,8 bilhão, liderado pelo ACNUR para 2025, que
visava sustentar cinco milhões de refugiados e membros das comunidades
anfitriãs, recebeu apenas 10% do financiamento. E quando não há dinheiro, não
há comida, não há voos para transportar suprimentos da capital para a
fronteira, e as pessoas morrem de fome. O Fundo Mundial de
Alimentos reduziu as rações em áreas afetadas pela fome para 70% do
necessário e para 50% em áreas em risco de fome. Em todo o país, quase 25
milhões de pessoas, ou seja, a metade da população, sofrem de fome extrema. Quase
5 milhões de crianças e mães que amamentam sofrem de desnutrição aguda.
As
crianças desnutridas chegam todos os dias ao hospital em Adré, onde
o MSF gerencia as operações no departamento pediátrico e também o
apoio psicológico. Nos leitos, no fundo da sala que abriga 24 pessoas, há dois
recém-nascidos que não passam de 1,5 quilo. Um tem seis meses, outro, sete. Se
houvesse maquinário adequado, equipamentos suficientes, muitas das crianças que
chegaram aqui devido a partos prematuros ou com doenças graves poderiam ter
sido tratadas, mas a taxa de mortalidade continua muito alta e o hospital na
capital, Ndjamena, fica a 900 quilômetros de
distância. Mariam fugiu de Zalingei. Uma bomba atingiu uma casa
vizinha e ela fugiu com seu filho, que agora tem quatro anos. Ela não conseguiu
levar consigo nada além de um pouco de farinha e água. Ela caminhou dezenas de
quilômetros porque não tinha condições financeiras para viajar nos comboios.
Na cama
em frente, Hosna Mohmeed, 37, cuida de seu filho de dois anos, gravemente
desnutrido. Mas Hosna não fugiu do Sudão; é um pai chadiano. Um
agricultor como a esposa que se senta ao seu lado. Eles também não sabem como
alimentar os três filhos e também precisam desesperadamente de comida e
assistência médica. Hosna olha para o filho e tenta alimentá-lo com uma seringa
cheia de leite. A criança vomita uma, duas vezes. Hosna diz: "O que há de
errado, doutor? Não entendo o que há de errado."
E todos
ficam em silêncio. Porque a resposta é uma só: fome.
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Milhões de pessoas vivem numa maiores crises humanitárias
do mundo, informa MSF
A guerra no Sudão com mais de dois anos e continua sem
perspectiva de trégua. As pessoas permanecem invisibilizadas, bombardeadas,
sitiadas, deslocadas e privadas de alimentos, cuidados médicos e serviços
básicos vitais. Sessenta por cento dos 50 milhões de habitantes do país
precisam de assistência humanitária, de acordo com a Organização das
Nações Unidas (ONU). As pessoas estão enfrentando de forma simultânea crises de
saúde e o acesso limitado a cuidados médicos.
Médicos
Sem Fronteiras (MSF) reitera os apelos para que as partes em conflito
e seus aliados garantam a proteção de civis, profissionais humanitários e
equipes médicas. Pedimos ainda que as restrições ao transporte de suprimentos e
da equipe humanitária sejam removidas, especialmente com a chegada da estação
chuvosa.
“As
partes em conflito não estão apenas falhando em proteger os civis, mas
agravando ativamente seu sofrimento”, enfatiza Claire San Filippo, coordenadora de emergência de MSF. “Para
onde quer que você olhe no Sudão, encontrará necessidades esmagadoras,
urgentes e não atendidas. Milhões de pessoas estão recebendo quase nenhuma
assistência humanitária. Instalações médicas e profissionais de saúde continuam
sob ataque, e o sistema humanitário global não está conseguindo fornecer nem
uma fração do que é necessário.”
Conforme
as linhas de frente dos combates mudaram ao longo da guerra, especialmente
em Cartum e Darfur, os civis temiam ataques de retaliação de ambas as
partes em conflito. Nos últimos dois anos, tanto as Forças de Apoio
Rápido (RSF, na sigla em inglês) quanto as Forças
Armadas Sudanesas (SAF, em inglês) bombardearam de forma repetida e
indiscriminada áreas densamente povoadas.
As RSF
e as milícias aliadas ao grupo iniciaram uma campanha de brutalidade,
incluindo violência sexual sistemática, sequestros, assassinatos
em massa, saques de ajuda humanitária, aniquilamento de bairros inteiros
de civis e ocupação de instalações médicas. Ambos os lados cercaram cidades,
destruíram infraestruturas civis vitais e bloquearam a ajuda humanitária.
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Desnutrição no Sudão atinge níveis alarmantes
A fome generalizada está se alastrando – de acordo com
a ONU, o Sudão é atualmente o único lugar no mundo onde a fome foi
oficialmente declarada em vários locais. A primeira vez foi em agosto de 2024,
no acampamento de Zamzam, que reúne
pessoas deslocadas internamente. Desde então, a fome se espalhou para mais 10
áreas. E 17 regiões adicionais estão agora à beira do abismo. Sem uma resposta
imediata, centenas de milhares de vidas estão em risco.
Em
março, MSF apoiou campanhas de vacinação de vários antígenos para
crianças menores de 2 anos de idade em Darfur do Sul. As mais de 17 mil crianças em 11 das 14
localidades que receberam vacinas também foram examinadas para desnutrição. O
resultado mostrou que 7% delas estavam com desnutrição aguda grave e 30% com
desnutrição aguda.
Em
dezembro de 2024, durante uma distribuição de alimentos terapêuticos na
localidade de Tawila, em Darfur do Norte, equipes de MSF examinaram
mais de 9.500 crianças menores de 5 anos de idade e chegaram a uma
impressionante taxa de desnutrição aguda de 35,5%, com 7% das crianças sofrendo
de desnutrição aguda grave.
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Múltiplas emergências de saúde
O Sudão enfrenta
múltiplas emergências de saúde que se sobrepõem. As equipes
de MSF trataram mais de 12 mil pacientes — incluindo mulheres e
crianças — por lesões traumáticas diretamente resultantes de ataques violentos.
Durante a primeira semana de fevereiro de 2025, equipes de MSF em três áreas do
Sudão – Cartum, Darfur do Norte e Darfur do Sul –
atenderam enormes fluxos pacientes feridos de guerra.
Também
testemunhamos no Sudão uma das piores crises de saúde materno-infantil do
mundo. Em outubro de 2024, em duas instalações apoiadas por MSF em Nyala, capital de
Darfur do Sul, 26% das mulheres grávidas e lactantes que procuravam atendimento
estavam com desnutrição grave.
“Surtos
de sarampo, cólera e difteria estão se espalhando, impulsionados por
más condições de vida e campanhas de vacinação interrompidas. O apoio e os
cuidados de saúde mental para sobreviventes de violência sexual permanecem
dolorosamente limitados. Essas crises agravadas refletem não apenas a
brutalidade do conflito, mas as terríveis consequências do sistema público de
saúde em ruínas e de uma resposta humanitária fracassada”, alerta Marta
Cazorla, coordenadora de emergência de MSF.
Desde
abril de 2023, mais de 1,7 milhão de pessoas procuraram consultas médicas em
hospitais, instalações de saúde e clínicas móveis administradas por MSF ou
apoiadas pela organização. Mais de 320 mil pessoas foram admitidas em nossas
enfermarias de emergência.
De
acordo com a ONU, mais de 13 milhões de pessoas foram deslocadas pelo
conflito no Sudão— muitas delas várias vezes. Destas, 8,9 milhões
permanecem deslocadas dentro do país, enquanto 3,9 milhões cruzaram para países
vizinhos. Muitas vivem em acampamentos superlotados ou abrigos improvisados,
sem acesso a comida, água, saúde ou senso de futuro. As pessoas dependem
inteiramente de organizações humanitárias — mas somente nos lugares onde essas
organizações trabalham.
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Instalações de saúde destruídas
De
acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 70% das
instalações de saúde em áreas afetadas pelos conflitos operam parcialmente ou
estão completamente fechadas, deixando milhões de pessoas sem acesso a cuidados
críticos em meio a uma das piores crises humanitárias da história mundial
recente.
Desde o
início da guerra, MSF registrou mais de 80 incidentes violentos contra nossa
equipe, infraestrutura, veículos e suprimentos. As clínicas foram saqueadas e
destruídas, os medicamentos roubados e os profissionais de saúde agredidos,
ameaçados ou mortos.
“Edifícios
foram destruídos, até camas foram saqueadas e medicamentos foram queimados até
que não restasse nada. De longe, parecia um hospital. Mas, quando você entrava,
era somente um abrigo para cobras e grama”, relata Muhammad Yusuf Ishaq
Abdullah, profissional de promoção de saúde de MSF em Tawila,
Darfur do Norte, sobre o estado em que se encontrava o hospital de Tawila após
ser saqueado, em junho de 2023. Esses ataques devem parar — o pessoal médico e
as instalações não são alvos.
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Estação chuvosa se aproxima
A
estação chuvosa que se aproxima ameaça piorar ainda mais uma situação já
catastrófica — interrompendo as rotas de abastecimento, inundando regiões
inteiras e isolando as pessoas. Também preocupam o período conhecido como pico
da fome, a desnutrição e a malária.
MSF
pede medidas imediatas de preparação antes da estação chuvosa. Mais passagens
de fronteira devem ser abertas, e as principais estradas e pontes devem ser
reparadas e mantidas acessíveis, especialmente em Darfur, onde as inundações
sazonais isolam as comunidades ano após ano.
As restrições
humanitárias devem ser cessadas, e o acesso desimpedido deve ser
garantido. MSF pede que a comunidade internacional — incluindo
doadores, governos e agências da ONU — trabalhem para permitir e
priorizar a entrega de ajuda, garantindo que a assistência não apenas chegue ao
país, mas que seja transportada com rapidez e segurança para as comunidades
mais atingidas e remotas. Sem um compromisso sério de superar as barreiras
políticas, financeiras, logísticas e de segurança que impedem a entrega, inúmeras
vidas permanecerão fora do alcance da ajuda.
As
pessoas do Sudão têm suportado esse horror há dois anos. Elas não
podem e não devem esperar mais!
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Porque tanta indiferença?
Se isso
fosse um filme, seu roteiro seria criticado por usar em excesso todos os
recursos dramáticos. Pilhagem, estupro, execuções e bombardeios. Os horrores de uma
guerra suja são
agravados por famílias levadas ao exílio, legiões de crianças famintas e uma epidemia
de cólera em meio a chuvas torrenciais.
No
entanto, esta é a realidade do Sudão após 17 meses de guerra .
Os Estados Unidos estimam que o
conflito matou mais de 150.000 civis. De acordo com
a Organização
Internacional para as Migrações, 11 milhões de pessoas foram deslocadas
dentro do país, um número exacerbado por inundações e fome. A fome assola 25
milhões de sudaneses, mais da metade da população, enquanto exércitos rivais
impedem a ajuda humanitária. As Nações Unidas a chamaram de “uma das
piores crises humanitárias” do nosso tempo.
Diante
da indiferença
internacional,
organizações humanitárias pediram ajuda e ação para “colocar
o Sudão de volta nos trilhos. (...) A comunidade internacional deve
se mobilizar”, pediu a UNICEF neste mês, argumentando que não havia
“nenhuma desculpa”.
Na França,
o tópico raramente é discutido. “O Sudão não está dentro da nossa
geografia política, e é mais coberto pela mídia árabe e anglo-saxônica”,
disse Thierry Vircoulon, pesquisador associado ao Instituto Francês de
Relações Internacionais. “Humanitários e jornalistas têm acesso limitado; o
Sudão é vasto, e a luta ocorre em várias frentes. É extremamente difícil
relatar a situação”.
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Conflito fratricida
A
gênese desta guerra é um conflito fratricida entre o general Abdel Fattah
Al-Burhan, chefe do exército regular, e o general Mohammed Hamdan Daglo,
também conhecido como Hemetti, líder das Forças de Apoio Rápido (RSF). O
primeiro é apoiado pelo antigo regime islâmico e pelas elites
de Cartum, enquanto o último vem das milícias
árabes Janjaweed envolvidas no genocídio de Darfur duas décadas
atrás.
Juntos,
os dois generais derrubaram o governo democrático de transição estabelecido
após a queda da ditadura islâmica de Omar Al-Bashir em 2021. No
entanto, suas ambições entraram em conflito, levando à guerra em 15-04-2023. A
rivalidade desencadeou milícias locais, levando a conflitos locais e tensões
étnicas.
Inicialmente,
as grandes potências não conseguiram entender a seriedade da situação. “Ninguém
imaginou que essa guerra duraria”, disse Roland Marchal, sociólogo e
pesquisador do CNRS, o Centro Nacional de Pesquisa Científica da França.
“Para o presidente americano, Joe Biden,
a África nunca foi uma prioridade. As respostas diplomáticas dos EUA
foram inconsistentes, enquanto os europeus permaneceram passivos, seguindo o
exemplo, mas divididos. Desde o início, o silêncio da China, o principal
parceiro comercial do Sudão, e da Rússia limitou a resposta
ocidental ao Sudão”.
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Influência regional
Essa
lacuna permitiu outros tipos de intervenções. As ambições dos dois generais
rivais são cimentadas pelo apoio de atores regionais atraídos pela importância
estratégica de um país localizado entre o Sahel e o Mar
Vermelho. “A situação se tornou particularmente complexa com as rivalidades
entre as nações da Península Arábica”, continua o especialista. "Ao
fornecer recursos adicionais sem enfrentar quaisquer sanções, essas nações
permitiram que a guerra persistisse. Sua retórica e apelos por desescalada não
refletiam a realidade no terreno, complicando ainda mais os esforços para
entender esse conflito e atrasando qualquer resolução”.
Enquanto Egito, Arábia Saudita, Turquia, Rússia e,
recentemente, Irã apoiaram as forças
governamentais, o general Hemetti recebeu apoio crucial
dos Emirados Árabes Unidos e também estabeleceu laços com a Rússia
por meio do contrabando de ouro e do Grupo Wagner.
“Com o
envolvimento de russos e iranianos ao lado do exército regular, uma aliança
está surgindo que pode refletir fraturas internacionais e complicar ainda mais
as coisas”, explicou Marchal. A Rússia, por sua vez, está de olho em uma
base naval em Port Sudan, no Mar Vermelho, levantando preocupações
dentro do bloco ocidental. Por enquanto, as coalizões rivais emaranhadas
impedem qualquer resolução para a guerra. “Ambos os lados continuarão lutando
enquanto tiverem os meios, graças aos seus aliados”, disse Vircoulon.
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Comércio de armas
Para
alimentar a luta, o comércio de armas é rei. “Um
fluxo constante de armas está sustentando o conflito”, alertou a Anistia
Internacional. Apesar de um embargo, armas estão sendo entregues ao Sudão,
particularmente Darfur, da China, Rússia, Sérvia, Turquia, Emirados Árabes Unidos
e Iêmen.
Em meio
ao caos crescente, tentativas de mediação estão em andamento. Desde 14 de
agosto, negociações têm sido realizadas em Genebra, iniciadas
pelos Estados Unidos. No entanto, o general Al-Burhan, que lidera o
exército, se recusa a sentar-se em frente ao seu inimigo. No entanto, ele
permitiu a abertura do posto de fronteira chadiano em Adré, e 15 caminhões
cruzaram recentemente para entregar ajuda humanitária a Darfur.
No
barril de pólvora do Sudão, a luta continua, com ondas de choque
alimentando a instabilidade regional. De acordo com Thierry Vircoulon, “é
uma luta até a morte pelo poder”, uma luta que está destruindo o Sudão.
Fonte:
Por Francesca Mannocchi, no La Stampa - tradução
de Luisa Rabolini, em IHU/MSF/La Croix Internacional

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