quinta-feira, 15 de maio de 2025

Sudão, a guerra esquecida

A história dos últimos anos de guerra no Sudão está escrita no corpo de Fathia Arbab Ishaq. Uma guerra que não começa, mas continua. Fathia, que hoje tem oito anos, tinha quatro quando, em 2021, a tenda em que vivia com a família foi atacada por combatentes das Forças de Apoio Rápido (RSF) que invadiram o campo de deslocados de El Geneina. Dois anos depois, ela fugiu do Sudão com sua mãe, Huwaida Adurahman Adam, que agora tem trinta e seis anos, fugindo de um massacre que matou dois dos quatro filhos de Huwaida. Hoje, Fathia e sua mãe são duas dos setecentos mil refugiados que chegaram ao Chade vindos de Darfur.

Fathia vive em uma tenda, o chão é um cobertor e o banheiro é uma lata de água abastecida em um poço a um quilômetro de distância. Fathia, que viu seus irmãos morrerem diante de seus olhos, não vai à escola há dois anos, não come o suficiente porque não há comida para todos, se sustenta com muletas e caminha com a dignidade dos sobreviventes.

·        Um conflito sem fim

A guerra civil no Sudão eclodiu em 15 de abril de 2023, desde então o país tem sido palco de um conflito devastador entre o exército do general Abdel Fattah al-Burhane, que tomou o poder em 2021 durante um golpe de estado, e as RSF paramilitares, afiliadas ao seu ex-vice, Mohamed Hamdan Daglo. Ambas as forças que lutam pelo país foram acusadas de crimes de guerra. O massacre de El Geneina, do qual Fathia e sua mãe fugiram, é um deles.

Durante dois meses, entre a primavera e o verão de 2023, em El Geneina estavam combatendo de um lado os Masalit e outros grupos não árabes, apoiando o exército, e do outro lado as RSF e as milícias árabes aliadas. As Forças de Apoio Rápido sitiaram a cidade em maio, em meados de junho torturaram e mataram o governador masalit do estado de Darfur Ocidental, Khamis Abbakar, e em 22 de junho El Geneina caiu nas mãos da RSF.

As organizações humanitárias estimam que 10 mil pessoas foram mortas nos massacres, a maioria pertencente à população masalit. Aqueles que conseguiram escapar a tempo chegaram ao Chade. Para se salvarem, mas também para contar o que viram. Os abusos e a tortura, as valas comuns. Os homens agrupados e executados. A violência sistemática contra as mulheres. E seus filhos morrer sem poder fazer nada. Violência repetida, cotidiana, civis atacados, mortos, sequestrados, mulheres estupradas na frente de seus filhos ou mães enquanto tentavam chegar à fronteira mais próxima a pé. Huwaida também tem as mesmas memórias que todos. Enquanto fugia, viu homens retirados de carroças para serem separados das mulheres e depois executados na frente de todos. Os milicianos, diz ela, gritavam: "Não deixaremos nenhum masalit sobreviver, mataremos todos vocês".

·        A fuga

Em 2023, a guerra no Sudão eclodiu na capital Cartum, uma novidade para o país, palco de vários conflitos, mas quase sempre travados em áreas periféricas, como em Darfur no início dos anos 2000 ou aquele que levou à separação do Sudão do Sul. A primeira consequência de um conflito que começou em áreas urbanas e, portanto, mais densamente povoadas, foi um deslocamento em massa da população, um êxodo que rapidamente transformou o Sudão na maior (e esquecida) crise humanitária do mundo. Mais da metade da população, cerca de 25 milhões de pessoas, precisa de assistência humanitária e proteção, mas a carência de financiamentos e a insegurança deixaram grandes áreas do país inacessíveis. Até o momento, quase 13 milhões de pessoas foram forçadas a abandonar suas casas em todo o Sudão, incluindo quase 4 milhões que fugiram para países vizinhos.

Almortada Mohamed também chegou ao Chade há dois anos, também vindo de El Geneina. Ele tem 23 anos e estudava engenharia no Sudão. Hoje, mora em uma cabana que está reforçando enquanto espera a chegada da estação chuvosa, e todas as manhãs veste uma das duas camisas que trouxe e vai a um centro de apoio fundado por outros jovens como ele que, sem a possibilidade de estudar e com o futuro em suspenso, uniram forças para criar um centro para alimentar as crianças menores. Alimentar – enfatiza Almortada – e não nutrir, porque a refeição que servem todas as manhãs, uma tigela cheia de caldo e um pouco de cereais, não contém nenhum dos alimentos que as crianças precisariam, mas pelo menos enche a barriga. Almortada fugiu com toda a família; todos conseguiram se salvar, mas não lhes resta mais nada: "Precisamos estudar, nos tratar, precisamos de um futuro e estamos em um limbo. Somos como animais numa armadilha, não podemos voltar para casa e aqui, mesmo sendo acolhidos, vivemos em um estado de abandono. O mundo nos esqueceu e, enquanto isso, no Sudão, as pessoas morrem de fome".

·        A fome

Segundo o PAM das Nações Unidas, a fome atingiu níveis catastróficos, tornando o Sudão o único lugar no mundo onde a fome foi oficialmente declarada em mais de um lugar no país: confirmada em 10 áreas e outras 17 estão em risco. Em algumas áreas, a assistência alimentar emergencial é a única barreira que impede a fome. Mas operações vitais estão cada vez mais limitadas pela insegurança e pela falta de dinheiro. O Plano Regional de Resposta a Refugiados de US$ 1,8 bilhão, liderado pelo ACNUR para 2025, que visava sustentar cinco milhões de refugiados e membros das comunidades anfitriãs, recebeu apenas 10% do financiamento. E quando não há dinheiro, não há comida, não há voos para transportar suprimentos da capital para a fronteira, e as pessoas morrem de fome. O Fundo Mundial de Alimentos reduziu as rações em áreas afetadas pela fome para 70% do necessário e para 50% em áreas em risco de fome. Em todo o país, quase 25 milhões de pessoas, ou seja, a metade da população, sofrem de fome extrema. Quase 5 milhões de crianças e mães que amamentam sofrem de desnutrição aguda.

As crianças desnutridas chegam todos os dias ao hospital em Adré, onde o MSF gerencia as operações no departamento pediátrico e também o apoio psicológico. Nos leitos, no fundo da sala que abriga 24 pessoas, há dois recém-nascidos que não passam de 1,5 quilo. Um tem seis meses, outro, sete. Se houvesse maquinário adequado, equipamentos suficientes, muitas das crianças que chegaram aqui devido a partos prematuros ou com doenças graves poderiam ter sido tratadas, mas a taxa de mortalidade continua muito alta e o hospital na capital, Ndjamena, fica a 900 quilômetros de distância. Mariam fugiu de Zalingei. Uma bomba atingiu uma casa vizinha e ela fugiu com seu filho, que agora tem quatro anos. Ela não conseguiu levar consigo nada além de um pouco de farinha e água. Ela caminhou dezenas de quilômetros porque não tinha condições financeiras para viajar nos comboios.

Na cama em frente, Hosna Mohmeed, 37, cuida de seu filho de dois anos, gravemente desnutrido. Mas Hosna não fugiu do Sudão; é um pai chadiano. Um agricultor como a esposa que se senta ao seu lado. Eles também não sabem como alimentar os três filhos e também precisam desesperadamente de comida e assistência médica. Hosna olha para o filho e tenta alimentá-lo com uma seringa cheia de leite. A criança vomita uma, duas vezes. Hosna diz: "O que há de errado, doutor? Não entendo o que há de errado."

E todos ficam em silêncio. Porque a resposta é uma só: fome.

¨      Milhões de pessoas vivem numa maiores crises humanitárias do mundo, informa MSF

guerra no Sudão com mais de dois anos e continua sem perspectiva de trégua. As pessoas permanecem invisibilizadas, bombardeadas, sitiadas, deslocadas e privadas de alimentos, cuidados médicos e serviços básicos vitais. Sessenta por cento dos 50 milhões de habitantes do país precisam de assistência humanitária, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). As pessoas estão enfrentando de forma simultânea crises de saúde e o acesso limitado a cuidados médicos.

Médicos Sem Fronteiras (MSF) reitera os apelos para que as partes em conflito e seus aliados garantam a proteção de civis, profissionais humanitários e equipes médicas. Pedimos ainda que as restrições ao transporte de suprimentos e da equipe humanitária sejam removidas, especialmente com a chegada da estação chuvosa.

“As partes em conflito não estão apenas falhando em proteger os civis, mas agravando ativamente seu sofrimento”, enfatiza Claire San Filippo, coordenadora de emergência de MSF. “Para onde quer que você olhe no Sudão, encontrará necessidades esmagadoras, urgentes e não atendidas. Milhões de pessoas estão recebendo quase nenhuma assistência humanitária. Instalações médicas e profissionais de saúde continuam sob ataque, e o sistema humanitário global não está conseguindo fornecer nem uma fração do que é necessário.”

Conforme as linhas de frente dos combates mudaram ao longo da guerra, especialmente em Cartum e Darfur, os civis temiam ataques de retaliação de ambas as partes em conflito. Nos últimos dois anos, tanto as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) quanto as Forças Armadas Sudanesas (SAF, em inglês) bombardearam de forma repetida e indiscriminada áreas densamente povoadas.

As RSF e as milícias aliadas ao grupo iniciaram uma campanha de brutalidade, incluindo violência sexual sistemática, sequestros, assassinatos em massa, saques de ajuda humanitária, aniquilamento de bairros inteiros de civis e ocupação de instalações médicas. Ambos os lados cercaram cidades, destruíram infraestruturas civis vitais e bloquearam a ajuda humanitária.

<><> Desnutrição no Sudão atinge níveis alarmantes

fome generalizada está se alastrando – de acordo com a ONU, o Sudão é atualmente o único lugar no mundo onde a fome foi oficialmente declarada em vários locais. A primeira vez foi em agosto de 2024, no acampamento de Zamzam, que reúne pessoas deslocadas internamente. Desde então, a fome se espalhou para mais 10 áreas. E 17 regiões adicionais estão agora à beira do abismo. Sem uma resposta imediata, centenas de milhares de vidas estão em risco.

Em março, MSF apoiou campanhas de vacinação de vários antígenos para crianças menores de 2 anos de idade em Darfur do Sul. As mais de 17 mil crianças em 11 das 14 localidades que receberam vacinas também foram examinadas para desnutrição. O resultado mostrou que 7% delas estavam com desnutrição aguda grave e 30% com desnutrição aguda.

Em dezembro de 2024, durante uma distribuição de alimentos terapêuticos na localidade de Tawila, em Darfur do Norte, equipes de MSF examinaram mais de 9.500 crianças menores de 5 anos de idade e chegaram a uma impressionante taxa de desnutrição aguda de 35,5%, com 7% das crianças sofrendo de desnutrição aguda grave.

<><> Múltiplas emergências de saúde

O Sudão enfrenta múltiplas emergências de saúde que se sobrepõem. As equipes de MSF trataram mais de 12 mil pacientes — incluindo mulheres e crianças — por lesões traumáticas diretamente resultantes de ataques violentos. Durante a primeira semana de fevereiro de 2025, equipes de MSF em três áreas do Sudão – Cartum, Darfur do Norte e Darfur do Sul – atenderam enormes fluxos pacientes feridos de guerra.

Também testemunhamos no Sudão uma das piores crises de saúde materno-infantil do mundo. Em outubro de 2024, em duas instalações apoiadas por MSF em Nyala, capital de Darfur do Sul, 26% das mulheres grávidas e lactantes que procuravam atendimento estavam com desnutrição grave.

“Surtos de sarampo, cólera e difteria estão se espalhando, impulsionados por más condições de vida e campanhas de vacinação interrompidas. O apoio e os cuidados de saúde mental para sobreviventes de violência sexual permanecem dolorosamente limitados. Essas crises agravadas refletem não apenas a brutalidade do conflito, mas as terríveis consequências do sistema público de saúde em ruínas e de uma resposta humanitária fracassada”, alerta Marta Cazorla, coordenadora de emergência de MSF.

Desde abril de 2023, mais de 1,7 milhão de pessoas procuraram consultas médicas em hospitais, instalações de saúde e clínicas móveis administradas por MSF ou apoiadas pela organização. Mais de 320 mil pessoas foram admitidas em nossas enfermarias de emergência.

De acordo com a ONU, mais de 13 milhões de pessoas foram deslocadas pelo conflito no Sudão— muitas delas várias vezes. Destas, 8,9 milhões permanecem deslocadas dentro do país, enquanto 3,9 milhões cruzaram para países vizinhos. Muitas vivem em acampamentos superlotados ou abrigos improvisados, sem acesso a comida, água, saúde ou senso de futuro. As pessoas dependem inteiramente de organizações humanitárias — mas somente nos lugares onde essas organizações trabalham.

<><> Instalações de saúde destruídas

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 70% das instalações de saúde em áreas afetadas pelos conflitos operam parcialmente ou estão completamente fechadas, deixando milhões de pessoas sem acesso a cuidados críticos em meio a uma das piores crises humanitárias da história mundial recente.

Desde o início da guerra, MSF registrou mais de 80 incidentes violentos contra nossa equipe, infraestrutura, veículos e suprimentos. As clínicas foram saqueadas e destruídas, os medicamentos roubados e os profissionais de saúde agredidos, ameaçados ou mortos.

“Edifícios foram destruídos, até camas foram saqueadas e medicamentos foram queimados até que não restasse nada. De longe, parecia um hospital. Mas, quando você entrava, era somente um abrigo para cobras e grama”, relata Muhammad Yusuf Ishaq Abdullah, profissional de promoção de saúde de MSF em Tawila, Darfur do Norte, sobre o estado em que se encontrava o hospital de Tawila após ser saqueado, em junho de 2023. Esses ataques devem parar — o pessoal médico e as instalações não são alvos.

<><> Estação chuvosa se aproxima

A estação chuvosa que se aproxima ameaça piorar ainda mais uma situação já catastrófica — interrompendo as rotas de abastecimento, inundando regiões inteiras e isolando as pessoas. Também preocupam o período conhecido como pico da fome, a desnutrição e a malária.

MSF pede medidas imediatas de preparação antes da estação chuvosa. Mais passagens de fronteira devem ser abertas, e as principais estradas e pontes devem ser reparadas e mantidas acessíveis, especialmente em Darfur, onde as inundações sazonais isolam as comunidades ano após ano.

As restrições humanitárias devem ser cessadas, e o acesso desimpedido deve ser garantido. MSF pede que a comunidade internacional — incluindo doadores, governos e agências da ONU — trabalhem para permitir e priorizar a entrega de ajuda, garantindo que a assistência não apenas chegue ao país, mas que seja transportada com rapidez e segurança para as comunidades mais atingidas e remotas. Sem um compromisso sério de superar as barreiras políticas, financeiras, logísticas e de segurança que impedem a entrega, inúmeras vidas permanecerão fora do alcance da ajuda.

As pessoas do Sudão têm suportado esse horror há dois anos. Elas não podem e não devem esperar mais!

¨      Porque tanta indiferença?

Se isso fosse um filme, seu roteiro seria criticado por usar em excesso todos os recursos dramáticos. Pilhagem, estupro, execuções e bombardeios. Os horrores de uma guerra suja são agravados por famílias levadas ao exílio, legiões de crianças famintas e uma epidemia de cólera em meio a chuvas torrenciais.

No entanto, esta é a realidade do Sudão após 17 meses de guerra . Os Estados Unidos estimam que o conflito matou mais de 150.000 civis. De acordo com a Organização Internacional para as Migrações, 11 milhões de pessoas foram deslocadas dentro do país, um número exacerbado por inundações e fome. A fome assola 25 milhões de sudaneses, mais da metade da população, enquanto exércitos rivais impedem a ajuda humanitária. As Nações Unidas a chamaram de “uma das piores crises humanitárias” do nosso tempo.

Diante da indiferença internacional, organizações humanitárias pediram ajuda e ação para “colocar o Sudão de volta nos trilhos. (...) A comunidade internacional deve se mobilizar”, pediu a UNICEF neste mês, argumentando que não havia “nenhuma desculpa”.

Na França, o tópico raramente é discutido. “O Sudão não está dentro da nossa geografia política, e é mais coberto pela mídia árabe e anglo-saxônica”, disse Thierry Vircoulon, pesquisador associado ao Instituto Francês de Relações Internacionais. “Humanitários e jornalistas têm acesso limitado; o Sudão é vasto, e a luta ocorre em várias frentes. É extremamente difícil relatar a situação”.

<><> Conflito fratricida

A gênese desta guerra é um conflito fratricida entre o general Abdel Fattah Al-Burhan, chefe do exército regular, e o general Mohammed Hamdan Daglo, também conhecido como Hemetti, líder das Forças de Apoio Rápido (RSF). O primeiro é apoiado pelo antigo regime islâmico e pelas elites de Cartum, enquanto o último vem das milícias árabes Janjaweed envolvidas no genocídio de Darfur duas décadas atrás.

Juntos, os dois generais derrubaram o governo democrático de transição estabelecido após a queda da ditadura islâmica de Omar Al-Bashir em 2021. No entanto, suas ambições entraram em conflito, levando à guerra em 15-04-2023. A rivalidade desencadeou milícias locais, levando a conflitos locais e tensões étnicas.

Inicialmente, as grandes potências não conseguiram entender a seriedade da situação. “Ninguém imaginou que essa guerra duraria”, disse Roland Marchal, sociólogo e pesquisador do CNRS, o Centro Nacional de Pesquisa Científica da França. “Para o presidente americano, Joe Biden, a África nunca foi uma prioridade. As respostas diplomáticas dos EUA foram inconsistentes, enquanto os europeus permaneceram passivos, seguindo o exemplo, mas divididos. Desde o início, o silêncio da China, o principal parceiro comercial do Sudão, e da Rússia limitou a resposta ocidental ao Sudão”.

<><> Influência regional

Essa lacuna permitiu outros tipos de intervenções. As ambições dos dois generais rivais são cimentadas pelo apoio de atores regionais atraídos pela importância estratégica de um país localizado entre o Sahel e o Mar Vermelho. “A situação se tornou particularmente complexa com as rivalidades entre as nações da Península Arábica”, continua o especialista. "Ao fornecer recursos adicionais sem enfrentar quaisquer sanções, essas nações permitiram que a guerra persistisse. Sua retórica e apelos por desescalada não refletiam a realidade no terreno, complicando ainda mais os esforços para entender esse conflito e atrasando qualquer resolução”.

Enquanto EgitoArábia SauditaTurquiaRússia e, recentemente, Irã apoiaram as forças governamentais, o general Hemetti recebeu apoio crucial dos Emirados Árabes Unidos e também estabeleceu laços com a Rússia por meio do contrabando de ouro e do Grupo Wagner.

“Com o envolvimento de russos e iranianos ao lado do exército regular, uma aliança está surgindo que pode refletir fraturas internacionais e complicar ainda mais as coisas”, explicou Marchal. A Rússia, por sua vez, está de olho em uma base naval em Port Sudan, no Mar Vermelho, levantando preocupações dentro do bloco ocidental. Por enquanto, as coalizões rivais emaranhadas impedem qualquer resolução para a guerra. “Ambos os lados continuarão lutando enquanto tiverem os meios, graças aos seus aliados”, disse Vircoulon.

<><> Comércio de armas

Para alimentar a luta, o comércio de armas é rei. “Um fluxo constante de armas está sustentando o conflito”, alertou a Anistia Internacional. Apesar de um embargo, armas estão sendo entregues ao Sudão, particularmente Darfur, da China, Rússia, Sérvia, Turquia, Emirados Árabes Unidos e Iêmen.

Em meio ao caos crescente, tentativas de mediação estão em andamento. Desde 14 de agosto, negociações têm sido realizadas em Genebra, iniciadas pelos Estados Unidos. No entanto, o general Al-Burhan, que lidera o exército, se recusa a sentar-se em frente ao seu inimigo. No entanto, ele permitiu a abertura do posto de fronteira chadiano em Adré, e 15 caminhões cruzaram recentemente para entregar ajuda humanitária a Darfur.

No barril de pólvora do Sudão, a luta continua, com ondas de choque alimentando a instabilidade regional. De acordo com Thierry Vircoulon, “é uma luta até a morte pelo poder”, uma luta que está destruindo o Sudão.

 

Fonte: Por Francesca Mannocchi, no La Stampa - tradução de Luisa Rabolini, em IHU/MSF/La Croix Internacional 

 

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