quarta-feira, 7 de maio de 2025


 

Pepe Escobar: Indo à Caxemira…e encontrando Alice no País das Maravilhas

Dois amplos tabus reinam sobre o  – agora destroçado – Ocidente Coletivo:

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1. Não conseguir definir o regime da Ucrânia como nazista. 

2. Não conseguir condenar o psicopatológico genocídio israelense em Gaza.

Esses tabus  estão inextricavelmente ligados às Guerras Eternas incessantemente desencadeadas  pelo Império do Caos/eixo sionista. 

Guerras Híbridas de menor monta, entretanto – mesmo implicando a horripilante perspectiva de virem a se nuclearizar – são deixadas à solta. Principalmente se elas fazem parte da atual guerra aos BRICS, uma subseção da guerra de facções do Ocidente contra a Maioria Global. 

Vamos, portanto, à Cachemira  – ao som do hipnótico riff de Jimmy Page. Tanto a Índia quanto o Paquistão vêm escalando a guerra de decibéis. A Turquia oferece as armas – ao Paquistão. Irã se ofereceu como mediador. Ninguém aceitou.  

O motivo da guerra é o mais suspeito possível. Um ônibus de turistas, todos do sexo masculino levando um bando viajantes animadíssimos passeia pela Caxemira sob controle da Índia. Entre os passageiros, há um tenente da Marinha Indiana de 26 anos, recém-casado – embora desacompanhado de sua mulher (que lua de mel é essa?) Um outro passageiro é nepalês. O ônibus é atacado por um obscuro bando de capangas separatistas frouxamente filiados ao grupo salafi-jihadista Lashkar-e-Taiba.

O Império está por toda a parte no front indiano. A atual Diretora de Inteligência Nacional dos Estados Unidos (DNI) Tulsi Gabbard antes era totalmente financiada pelos círculos do Primeiro-ministro Modi. O vice-presidente J.D. Vance, com seu delineador de olhos, visitou a Índia recentemente – cumprindo até mesmo o ritual da foto de família em frente ao Taj Mahal. Então, Modi visitou a Arábia Saudita –  a convite de  MbS. Após o ataque terrorista ao ônibus em Caxemira, fanáticos Hindutva partiram para uma onda de ciberataques. 

As táticas toscas falam do clássico Dividir para Dominar. Golpe duplo: uma nova versão da armamentização da Índia e a desestabilização de uma frente importantíssima da Iniciativa Cinturão e Rota (ICR) chinesa: o Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC). Uma obra-prima: dividir os BRICS de dentro para fora. 

Nada disso, é claro, legitima os horrendos militares paquistaneses, que jogaram na cadeia, sob acusações espúrias, o homem que vinha tentando trazer respeitabilidade ao Paquistão: Imran Khan.

Mais uma vez, cabe aos adultos na sala, qualquer sala  – a Rússia – desescalar. Essa tarefa, em termos ideais, ocorreria no âmbito da Organização de Cooperação de Xangai  (OCX) – da qual tanto a Índia quanto o Paquistão são membros, juntamente ao Irã. Moscou optou por tomar ela própria a iniciativa. 

O Chanceler Adjunto Andrey Rudenko se encontrou tanto com o Embaixador da Índia na Rússia, Vinay Kumar, quanto como Embaixador paquistanês na Rússia, Muhammad Khalid Jamali.

A terminologia russa é essencial: não houve apenas uma conclamação para que ambas as partes se “engajem em  um diálogo construtivo”. Moscou ressaltou que “estamos prontos a enfrentar juntos a ameaça terrorista global”. O termo operativo é “global”. Delhi e Islamabad parecem não estar captando a mensagem – ainda. 

<><> A Caxemira como  um volátil laboratório de guerra 

Como seria previsível, uma máquina infernal foi ligada. É como se o eixo anglo-sionista estivesse usando a Caxemira como um laboratório volátil para uma série de testes ao vivo – incluindo empurrar potências nucleares até às beiras da confrontação. E tudo isso tratado com uma despreocupação irresponsável – praticamente como uma atração secundária. 

Nada que venha do Sultão Erdogan e de seu aparato de inteligência pode ser visto como confiável. Na Síria, os agentes da MIT – os Cortadores de Cabeças S.A. congregados no Grande Idlibistão – acabaram instalados no poder em Damasco, com seu chefe de gangue amigo dos sionistas agora posando de presidente.

A junta compradora yankee de  Islamabad, de sua parte, talvez esteja se vendo cara a cara com o abismo – notícia que se qualifica como auspiciosa. Paralelamente, cresce o suspense quanto a se Modi irá ou não dar as caras na parada do Dia da Vitória, em 9 de maio, em Moscou – e o que ele dirá a seus anfitriões russos. 

Os membros dos BRICS Rússia e Irã querem que, o quanto antes, o Corredor Internacional de Transporte Norte/Sul (CITNS) esteja funcionando normalmente. O jogo se torna ainda mais complexo quando vemos que a investigação iraniana está finalmente começando a aceitar a hipótese de a horrenda explosão no porto Shahid Rajaee ter sido um ato de sabotagem ou um ataque de FPV.

Colocar ainda mais pressão sobre a China é uma real motivação para a montagem desse laboratório de guerra. Agora, Pequim não apenas tem que começar a se preocupar com a repetição explosiva do front Índia-Paquistão, mas também com novas provocações por parte do CIA/MI6 incentivando a conexão entre os paquistaneses e os salafi-jihadistas uigures.  

Não há a menor chance de Delhi vir a realmente entender as dificuldades geopolíticas de Pequim. Cenário perfeito para a gangue da Guerra Híbrida. 

Enquanto isso, no front dos BRICS, pelo menos, há sinas de algum grau de racionalidade – vindos, mais uma vez, do Grão-Mestre Lavrov.

Mesmo antes do encontro dos Chanceleres dos BRICS de inícios desta semana no Rio, Lavrov foi direto ao ponto no front financeiro e geoeconômico. Ele ressaltou que os BRICS vêm trabalhando vigorosamente na “Iniciativa de Pagamentos Transfronteiras” aprovada em 2024 na cúpula de Kazan; em uma infraestrutura de “pagamentos e liquidação”, em uma “empresa de resseguros” e em uma nova plataforma de investimentos. 

Ele, mais uma vez, teve que explicar à mídia ocidental – dos Estados Unidos ao Brasil – que “seria prematuro discutir uma transição para uma moeda única para os BRICS. Estamos trabalhando conjuntamente para criar uma infraestrutura de pagamentos e liquidação para efetuar pagamentos transfronteiras entre os países dos BRICS. Em particular, como eu já disse antes, isso inclui aumentar a participação das moedas nacionais em nossas transações”. 

Uma moeda comum dos BRICS – espectro que ronda o Trump 2.0 – só voltará à mesa “quando as condições financeiras e econômicas necessárias estiverem colocadas”. Até lá, a guerra aos BRICS, híbrida ou não, continuará implacável.

<><> Trumpty Dumpty

Passando da realidade à fantasia, foi divertidíssimo encontrar a conexão entre Caxemira e Alice no País das Maravilhas … em um ensaio chinês.

É necessária a suprema finesse chinesa – subvertendo a sabedoria taoísta com um toque de pós-modernismo – para identificar “o senhor do mundo” (sua própria terminologia) jogando a todos, virtualmente a todo o planeta, no buraco do coelho. 

Nessa selva de espelhos narrativos, portanto, Trump deve ser percebido como uma combinação de todos os personagens: o Coelho Branco, Humpty Dumpty (“Quando eu uso uma palavra, ela significa exatamente aquilo que quero que signifique, nem mais nem menos”), o Chapeleiro Louco, a Rainha de Copas (“Cortem-lhe a cabeça!”) 

O que, sem dúvida, ilustra a intersecção da guerra comercial (desencadeada pelo “senhor do mundo”) e da guerra genocida (plenamente legitimada pelo “senhor do mundo”). Com um truque a mais: a realidade tem um jeito de ser ainda mais esquisita que próprio Lewis Carroll.

Entra em cena o curioso caso do USS Truman, um gigantesco porta-aviões repentinamente possuído pelo espírito de Ayrton Senna e lançando-se a uma fechadíssima curva como se fosse um Maserati Gran Turismo Stradale bem no meio do Mar Vermelho – só para um F-18E Super Hornet protestar contra a manobra e mergulhar de cabeça no fundo do oceano.  

Pelo menos essa foi a narrativa vendida pelo Comando Central dos Estados Unidos (CENTCOM) à opinião pública global. A culpa é daqueles malditos mísseis houthi!

Bem, o CENTCOM vem sendo implacavelmente humilhado pelas Forças Armadas do Iêmen – 21 MQ9-Reapers foram esmagados, e o número continua subindo – enquanto zero objetivos militares são alcançados. O Pentágono não conseguiu conter os houthis, não garantiu “liberdade de navegação” no Mar Vermelho para navios rumando a Israel. Sua vingança: incessante bombardeio de civis iemenitas.

E tudo isso porque o “senhor do mundo” começou uma guerra ilegal – contra gente guiada por clareza moral e espiritual  – para proteger o genocídio perpetrado pelos seus amiguinhos de regime psicopatológicos. Bem-vindos ao “o Senhor do Mundo” vai ao País das Maravilhas – ao som daquele hipnótico riff de “Kashmir”. 

¨      Após 80 anos, a ordem mundial do pós-guerra está desabando?

Em 8 de maio de 1945, a Wehrmacht, Forças Armadas da Alemanha nazista, capitulou. Poucos dias antes, Adolf Hitler se suicidara no Führerbunker de Berlim. Assim chegava ao fim a Segunda Guerra Mundial, iniciada em 1º de setembro de 1939 com a invasão alemã da Polônia. Pelo menos na Europa, pois na Ásia o conflito ainda prosseguiu por alguns meses, até a capitulação do Japão.

O balanço da guerra superou em horror tudo o que a humanidade já vira: cerca de 6 milhões de judeus assassinados pelo regime nacional-socialista, 60 milhões de mortes em todo o mundo, outros milhões de desaparecidos ou deslocados, amplas áreas da Europa devastadas.

Durante a guerra, os Aliados ocidentais – Estados Unidos, Reino Unido e França – haviam cooperado com a União Soviética, alcançando vitória juntos. Assim, com a queda da Alemanha nazista, estabeleceu-se no continente uma nova ordem bipolar, que perduraria por mais de quatro décadas.

Antes mesmo que o conflito acabasse, já despontavam tensões: as potências ocidentais se comprometiam com a democracia, buscando uma aliança livre com as nações vencidas; enquanto a URSS submeteu ao regime comunista todos os países ocupados ao longo sua campanha militar.

Em 1947, o presidente americano Harry S. Truman anunciou: os EUA se propunham a "apoiar os povos livres que estejam resistindo à tentativa de subjugação por minorias armadas ou por pressões externas". A intenção dessa "doutrina Truman", como ficou conhecida, era conter a expansão soviética. E a Europa ficou dividida em uma metade soviética oriental e uma ocidental, dominada pelos EUA.

<><> Promessa de paz, guerra na Ucrânia, Trump

A Alemanha se transformou no ponto focal dessa dicotomia: em breve uma fronteira atravessava o país e Berlim. Estava inaugurada a Guerra Fria: a dissuasão mútua entre os dois blocos militares nucleares – o da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), liderado pelos EUA, e o do Pacto de Varsóvia, dominado pela URSS – cuidou para que o conflito não se deflagrasse abertamente. Porém por diversas vezes o mundo esteve à beira de uma guerra atômica.

Enquanto Estado-membro da Otan, a parcela ocidental do país dividido, República Federal da Alemanha (RFA), pôde se fiar na proteção dos EUA até o fim da confrontação Leste-Oeste em 1989-1991, com a reunificação alemã e a dissolução da URSS.

Durante alguns anos, pareceu que todo continente, inclusive a Rússia, se desenvolveria de forma pacífica e democrática. Cada vez mais países antes pertencentes à liga soviética aderiram à Otan. Também a Ucrânia independente recebeu a promessa de, em algum momento, poder se filiar à aliança atlântica.

Porém o mais tardar desde a invasão em grande escala pela Rússia, em 24 de fevereiro de 2022, essas ilusões se desfizeram. Estava derrubado um dos princípios da ordem vigente, de que as fronteiras só seriam modificadas de maneira pacífica. Do outro lado, o atual presidente dos EUA, Donald Trump, coloca em questão a proteção transatlântica: se os outros membros da Otan "não pagarem, não vou defendê-los", declarou expressamente.

"Estamos em meio a uma reviravolta histórica, comparável às grandes cesuras políticas do século 20, em especial as de 1945 e de 1989-91", analisa o historiador Norbert Frei, da Universidade de Jena.

"A ordem transatlântica, estabelecida após a Segunda Guerra Mundial sobretudo pelos EUA, de que a Alemanha se beneficiou especialmente – primeiro no âmbito da coesão europeia ocidental, mas também após o fim do conflito Leste-Oeste e a integração da Europa Oriental –, se desintegra diante dos nossos olhos." Segundo seu colega Manfred Görtemaker, da Universidade de Potsdam, a presidência Trump mostrou que, "confiando nos americanos, os europeus negligenciaram sua própria proteção".

O magnata republicano, de fato, destruiu uma ilusão, porém não foi o primeiro presidente dos EUA a exigir do velho continente mais gastos próprios com defesa: já em 2016 o democrata Barack Obama criticava que "a Europa às vezes tem sido autocomplacente demais com sua defesa".

Entretanto Trump vai muito mais longe: no contexto da guerra na Ucrânia, ele agora praticamente se coloca do lado da Rússia. Como condição para um armistício, Kiev não terá direito nem à sua integridade territorial, nem de se filiar à Otan, impõe. Quem se alegra é seu colega russo: "Todo o sistema de segurança euroatlântico está se esfacelando diante dos nossos olhos", comentava Vladimir Putin já em 2024.

<><> O que esperar do novo governo alemão?

Na Alemanha, há quem tenha esperanças de um retorno à velha ordem transatlântica, passado esse período da política americana. Norbert Frei é cético de que seja uma expectativa realista: "É difícil dizer, no momento, o que ainda vai sobrar de uma presidência trumpista – e ainda mais se ainda será possível reconstruir alguma coisa depois."

O professor tem um conselho para Berlim: "Desde a política de Konrad Adenauer [chanceler federal da RFA de 1949 a 1963] de vinculação incondicional ao Ocidente, a Alemanha está solidamente ancorada na Europa. E agora ela devia tudo fazer para que a União Europeia possa existir política, econômica e militarmente, se necessário mesmo sem os EUA."

Esse é também o ponto de vista do novo chanceler federal, Friedrich Merz: logo após as eleições gerais, o democrata-cristão afirmou que a Europa devia se tornar independente de Washington, no tocante à política de segurança.

Entretanto Manfred Görtemaker tem ressalvas: "A independência em relação aos EUA é uma total ilusão", um caminho próprio europeu não funcionará, "já que a dissuasão atômica deve seguir sendo garantida pelos americanos".

"Portanto, o que faz sentido é o retorno a uma cooperação entre os EUA e a Europa, sobre a base de um novo cálculo real-político", postula o historiador de Potsdam. Ele torce para que Merz vá a Washington o mais breve possível e "que essa cooperação, que no passado sempre funcionou bem, de fato continue".

Portanto o grande impasse diante do qual se encontra o novo governo alemão, segundo os analistas ouvidos pela DW, é: mais Europa como substituto para uns Estados Unidos em que não se pode mais confiar, 80 anos após o fim da Segunda Guerra; ou cerrar fileiras com Washington sobre novas bases?

¨      Merz é eleito chanceler da Alemanha após derrota na primeira votação

O líder conservador alemão Friedrich Merz foi eleito chanceler pelo Parlamento da Alemanha nesta terça-feira (6), em um segundo turno, após sua nova aliança com os sociais-democratas de centro-esquerda ter sofrido uma derrota surpreendente na primeira tentativa.

fracasso de Merz em obter apoio parlamentar na primeira tentativa foi uma novidade para a Alemanha do pós-guerra e um constrangimento para um homem que prometeu reavivar o crescimento econômico em um momento de turbulência global.

A aliança CDU/CSU venceu as eleições federais de fevereiro e garantiu um acordo de coalizão com os sociais-democratas de centro-esquerda.

O acordo delineou planos para reativar o crescimento, como a redução de impostos corporativos e a redução dos preços da energia.

Também promete forte apoio à Ucrânia e maiores gastos militares.

Merz, de 69 anos, que iniciou sua carreira política como parlamentar europeu em 1989, ainda precisa demonstrar suas habilidades de liderança no executivo político, já que sua nomeação marca sua primeira vez em um cargo governamental.

Apenas um ministro do governo anterior manterá o cargo: o ministro da Defesa, Boris Pistorius. O restante do gabinete de Merz é composto por novos membros, muitos com experiência no setor privado.

 

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Fonte: Brasil 247/DW Brasil


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