sábado, 24 de maio de 2025

Os prós e contras do novo medicamento para tratar Alzheimer

No último dia 22 de abril, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do donanemabe, um medicamento inovador para o tratamento da doença de Alzheimer em estágios iniciais. Considerado um avanço, trata-se de uma terapia imunológica que tem o objetivo de reduzir os depósitos de proteína no cérebro associadas à condição.

A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência – representa cerca de 70% dos casos. No Brasil, o cenário é especialmente preocupante: segundo o Relatório Nacional sobre a Demência (RENADE), divulgado em setembro de 2024 pelo Ministério da Saúde, oito em cada dez pacientes não recebem diagnóstico e, consequentemente, ficam sem tratamento.

O diagnóstico é clínico e tem início a partir da queixa do próprio paciente ou de um familiar próximo, que observa episódios recorrentes de esquecimento e dificuldades de memória. A partir daí, devem ser realizados testes específicos para avaliar as funções cognitivas e o grau de comprometimento da autonomia nas atividades diárias.

Ainda de acordo com o relatório, cerca de 8,5% da população brasileira com 60 anos ou mais têm algum tipo de demência – o que representa cerca de 2,71 milhões de casos. Com o envelhecimento progressivo da população, a perspectiva se torna mais alarmante: estima-se que o número de casos de demência no país quase triplique até 2050. Diante desse cenário, a busca por alternativas que ofereçam benefícios mais substanciais e acessíveis aos pacientes é cada vez mais necessária.

•        Como age o donanemabe

O Alzheimer se manifesta por uma progressiva deterioração da memória, da linguagem, do comportamento e da capacidade de realizar tarefas do dia a dia. A condição está associada ao acúmulo anormal de duas proteínas no cérebro: tau e beta-amiloide, que provocam a morte dos neurônios e levam ao avanço do quadro neurodegenerativo ao longo dos anos.

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O anticorpo monoclonal recém-aprovado pela Anvisa atua diretamente na remoção das placas de beta-amiloide no cérebro. “Diferentemente dos medicamentos inibidores de acetilcolinesterase, como donepezila, rivastigmina e galantamina, que aumentam a disponibilidade de acetilcolina, um neurotransmissor fundamental para memória, cognição e aprendizado, o donanemabe é considerado um avanço na área porque age na raiz do problema, em vez de somente aliviar os sintomas cognitivos”, explica a neurologista Polyana Piza, gerente do programa de Neurologia do Hospital Israelita Albert Einstein.

Desenvolvido pela farmacêutica Eli Lilly, sediada nos Estados Unidos, o donanemabe será comercializado sob o nome de Kisunla. Estudos demonstraram que, com 76 semanas de uso, ele pode reduzir em até 35% a progressão do Alzheimer em pacientes nos estágios iniciais da doença.

•        Potenciais riscos

Apesar dos resultados promissores, o donanemabe pode ter seu uso limitado por trazer poucos benefícios para indivíduos com quadros moderados ou graves. Estudos mostram que a remoção das placas amiloides não é suficiente para reverter os quadros de demência já estabelecidos.

Além disso, embora sejam raros, o medicamento apresenta alguns riscos, em especial o aumento de taxas de ARIA (Anormalidades de Imagem Relacionadas à Amiloide), efeito colateral associado a pequenas hemorragias e áreas de inchaço no cérebro e até a morte. Nos ensaios com o medicamento, 1,6% dos participantes que receberam donanemabe apresentou eventos graves de ARIA, com três óbitos.

Casos mais graves de Alzheimer tendem a ser mais frequentes em pessoas que carregam o gene apolipoproteína E ε4 (ApoE ε4). Localizado no cromossomo 19, esse gene é considerado um importante biomarcador de risco genético para a condição. Atualmente, é possível realizar o teste genético do ApoE ε4 somente em laboratórios privados.

Os estudos evidenciam que pessoas sem cópias do gene ApoE ε4 apresentam um risco significativamente menor de efeitos colaterais graves ao usar a medicação, com uma taxa de apenas 0,8% e registro de uma única fatalidade. Justamente por isso, para um paciente ser considerado elegível ao tratamento com esse tipo de fármaco, é necessário passar por uma avaliação criteriosa.

Essa triagem inclui testes genéticos para identificar a presença do ApoE ε4, além de exames de imagem, como o PET amiloide, que confirmam o acúmulo da proteína no cérebro. “O risco de pequenas hemorragias cerebrais também torna o medicamento contraindicado para quem usa anticoagulantes, o que é muito comum em idosos e pode limitar ainda mais a elegibilidade para o donanemabe”, destaca Piza.

Foi exatamente esse risco de efeitos adversos graves, como sangramentos cerebrais e mortes, que levou o Comitê de Medicamentos para Uso Humano (CHMP), da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), a emitir um parecer negativo sobre a autorização do donanemabe na Europa.

Em seu relatório, a agência reconheceu que o medicamento é eficaz na remoção das placas de beta-amiloide, mas avaliou que os benefícios clínicos obtidos até agora são modestos. Diante disso, concluiu que os riscos potenciais à saúde dos pacientes superam as vantagens terapêuticas oferecidas, inviabilizando sua aprovação no território europeu.

A associação Alzheimer Europe lamentou o parecer negativo. Em nota publicada em seu site, cita que o medicamento foi aprovado por outras autoridades regulatórias do mundo, entre elas a Food and Drug Administration (FDA), dos EUA, e outras no Reino Unido, no Japão e na China (na época, a Anvisa ainda não havia aprovado o medicamento no Brasil).

•        Alto custo

Outro ponto é que o alto custo do medicamento pode limitar o acesso à droga e dificultar sua viabilidade em larga escala. O donanemabe ainda não foi precificado no Brasil, por isso não está disponível nem na rede privada, nem pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Procurada pela Agência Einstein, a Eli Lilly informou que ainda não existe estimativa de preço no país, mas que “vai trabalhar para garantir a disponibilidade do produto o mais rápido possível.” No momento, diz a empresa, a prioridade é definição de preço pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), vinculada à Anvisa.

Na avaliação de Polyana Piza, o donanemabe representa uma inovação importante no tratamento da doença de Alzheimer, oferecendo uma nova opção terapêutica, apesar da melhora clínica ainda ser modesta. “A aprovação desse medicamento pode estimular a busca por diagnósticos precoces, já que ele é mais eficaz em estágios iniciais da doença, o que é crucial para maximizar os benefícios e retardar a progressão da doença”, diz a neurologista do Einstein.

•        Dormir pouco aumenta o risco de desenvolver Alzheimer, diz estudo

Precisa de mais um motivo para priorizar seu sono? Não passar tempo suficiente nos dois estágios profundos do sono — sono de ondas lentas e movimento rápido dos olhos, ou sono REM — pode acelerar a deterioração de partes do cérebro associadas à doença de Alzheimer, segundo um novo estudo.

Déficits no sono de ondas lentas e REM parecem encolher partes do cérebro conhecidas como indicadores precoces de deterioração cognitiva e doença de Alzheimer, disse a autora principal do estudo, Gawon Cho, pesquisadora pós-doutoral em medicina interna na Escola de Medicina de Yale em New Haven, no estado norte-americano de Connecticut.

“Descobrimos que o volume de uma parte do cérebro chamada região parietal inferior diminuiu em pessoas com sono REM e sono profundo inadequados”, disse Cho. “Essa parte do cérebro sintetiza informações sensoriais, incluindo informações visuoespaciais, então faz sentido que ela mostre neurodegeneração no início da doença.”

O neurologista preventivo Richard Issacson, que estabeleceu uma das primeiras clínicas de prevenção de Alzheimer nos Estados Unidos, disse em um e-mail que sua experiência clínica tratando adultos em risco de Alzheimer confirma as descobertas do estudo.

“Também descobrimos que as métricas do sono mais profundo previam a função cognitiva, então entre isso e os volumes cerebrais, é real”, disse Issacson, que é diretor de pesquisa no Instituto de Doenças Neurodegenerativas na Flórida.

<><> O que acontece no cérebro durante o sono profundo

Durante o sono profundo, o cérebro elimina toxinas e células mortas enquanto também repara e restaura o corpo para o dia seguinte. Durante o sono REM, o cérebro está ocupado processando emoções, consolidando memórias e absorvendo novas informações. Faz sentido que ter um sono profundo e REM de qualidade seja a chave para nossa capacidade de funcionar.

Adultos precisam de cerca de sete a oito horas de sono para serem saudáveis, enquanto adolescentes e crianças mais jovens precisam de muito mais. No entanto, dados mostram que mais de 1 em cada 3 adultos americanos não dormem o suficiente, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.

Especialistas dizem que a maioria dos adultos deve passar entre 20% e 25% de sua noite em sono profundo, e o mesmo vale para o sono REM. Adultos mais velhos requerem menos, enquanto bebês precisam de muito mais — na verdade, bebês podem passar cerca de 50% de seu sono em REM.

Para piorar a situação, os estágios mais profundos do sono diminuem com a idade, disse Cho.

<><> Você consegue dormir mais profundamente?

O sono profundo tende a vir logo após adormecermos, enquanto o sono REM aparece mais tarde na noite, pela manhã. Portanto, se você vai dormir tarde e acorda cedo, está reduzindo suas chances de passar tempo suficiente em um ou ambos os estágios.

“Quanto mais tempo você fica na cama, mais a pessoa dorme e, falando de modo geral, quanto mais tempo a pessoa dorme, mais sono REM e profundo ela terá”, disse Isaacson.

No entanto, você tem que fazer mais do que apenas ficar deitado na cama por mais tempo — você também precisa ter um sono tranquilo e ininterrupto regularmente, dizem os especialistas. Se você fizer isso, há uma recompensa adicional — um estudo de fevereiro de 2023 descobriu que bons hábitos de sono acrescentaram quase cinco anos à expectativa de vida de um homem e quase 2,5 anos à vida de uma mulher.

Mas não perca a esperança. A boa notícia é que você pode facilmente treinar seu cérebro para dormir melhor seguindo o que é chamado de “higiene do sono”. É importante ir para a cama no mesmo horário na maioria das noites e acordar no mesmo horário na maioria das manhãs — mesmo nos fins de semana e feriados.

Certifique-se de que seu ambiente de sono seja o ideal — quanto mais frio e escuro, melhor — e bloqueie o ruído ou experimente uma máquina de som. Evite bebidas alcoólicas antes de dormir — pode parecer que você está adormecendo mais facilmente, mas quando seu fígado terminar de metabolizar o álcool às 3 da manhã, seu corpo acordará, dizem os especialistas.

Crie uma rotina de sono, sem luzes azuis ou distrações, pelo menos uma hora antes de dormir. Tente meditação, yoga, tai chi, banhos quentes — qualquer coisa que relaxe você é ótimo.

“Como melhorar seu sono? Acho que as pessoas realmente precisam fazer sua parte para melhorar seu próprio sono”, disse Cho. “Não existe um único medicamento que melhore o sono em geral.”

 

Fonte: CNN Brasil

 

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