quinta-feira, 22 de maio de 2025

Os EUA têm US$ 36 trilhões em dívida. O que isso significa e quem é o dono dela?

No domingo, um importante comitê do Congresso dos Estados Unidos aprovou o novo projeto de lei de redução de impostos do presidente Donald Trump, que pode ser aprovado na Câmara dos Representantes ainda esta semana.

O projeto de lei estende os cortes de impostos de Trump de 2017 e pode adicionar até US$ 5 trilhões à dívida nacional, aprofundando as preocupações após um recente rebaixamento das classificações de crédito dos EUA pela Moody’s na sexta-feira, que citou preocupações sobre a crescente dívida de US$ 36 trilhões do país.

Os EUA têm a maior dívida nacional do mundo e enfrentam preocupações crescentes sobre sua estabilidade fiscal a longo prazo.

<><> O que é dívida dos EUA?

A dívida é simplesmente o valor total que o governo dos EUA deve aos seus credores, atualmente totalizando US$ 36,2 trilhões. Isso representa 122% da produção econômica anual do país, ou Produto Interno Bruto (PIB), e cresce cerca de US$ 1 trilhão a cada três meses.

A maior relação dívida/PIB ocorreu durante a pandemia em 2020, quando atingiu 133%. Os EUA estão entre os 10 países do mundo com a maior relação dívida/PIB.

<><> Qual é o teto da dívida e por que ele continua aumentando?

Quando o governo gasta mais dinheiro do que arrecada, ele cria um déficit.

Para cobrir esse déficit, o governo toma mais dinheiro emprestado. Para garantir que o empréstimo esteja sujeito à aprovação legislativa, o Congresso dos EUA estabelece um limite para o valor que o governo pode tomar emprestado para financiar obrigações existentes, como Previdência Social, saúde e defesa. Esse limite é conhecido como teto da dívida.

Uma vez atingido o teto, o governo não pode tomar mais empréstimos, a menos que o Congresso aumente ou suspenda o limite. Desde 1960, o Congresso aumentou, suspendeu ou alterou os termos do teto da dívida 78 vezes, permitindo que os EUA tomassem mais empréstimos.

<><> O déficit federal sob diferentes presidentes

O déficit federal é a quantidade de dinheiro que o governo gasta a mais do que arrecada em um único ano. Um superávit federal significaria que os EUA estão arrecadando mais dinheiro do que gastando.

O déficit cresceu acentuadamente durante o primeiro mandato de Trump, especialmente em 2020, durante a pandemia de COVID-19, quando o governo gastou pesadamente enquanto a arrecadação tributária caiu devido à perda de empregos. Naquele ano, o déficit atingiu quase 15% de toda a economia (PIB).

Sob o ex-presidente Bill Clinton, houve um superávit federal, resultado de condições econômicas favoráveis, como o boom das pontocom, bem como aumentos de impostos que geraram mais receitas.

<><> O que são letras, notas e títulos do Tesouro?

Quando os EUA querem tomar dinheiro emprestado, eles recorrem ao Tesouro – o departamento financeiro do governo federal.

Para tomar dinheiro emprestado, o Tesouro vende vários tipos de títulos de dívida, como letras do Tesouro, notas do Tesouro e títulos do Tesouro para investidores.

Esses títulos são essencialmente empréstimos feitos por investidores ao governo dos EUA, com a promessa de pagá-los com juros.

Os títulos do Tesouro dos EUA são considerados há muito tempo um ativo seguro porque o risco de os EUA não pagarem seus investidores é muito baixo.

Diferentes títulos de dívida vencem em períodos diferentes – é quando a dívida é paga ao investidor.

  • As letras do Tesouro (T-bills) são de curto prazo e vencem em um ano
  • As notas do Tesouro (T-notes) são de médio prazo e têm vencimento entre 2 e 10 anos
  • Os títulos do Tesouro (T-bonds) são de longo prazo e vencem em 20 a 30 anos.

<><> Quem detém a dívida dos EUA?

Três quartos da dívida dos EUA de US$ 36,2 trilhões, aproximadamente US$ 27,2 trilhões, são detidos internamente, dos quais:

  • US$ 15,16 trilhões (42%) são detidos por investidores e entidades privadas dos EUA, principalmente na forma de títulos de poupança, fundos mútuos e fundos de pensão.
  • US$ 7,36 trilhões (20%) são detidos por agências e fundos intragovernamentais dos EUA.
  • US$ 4,63 trilhões (13%) são detidos pelo Federal Reserve.

Entre os indivíduos, Warren Buffett, por meio de sua empresa Berkshire Hathaway, é o maior detentor não governamental de letras do Tesouro dos EUA, avaliadas em US$ 314 bilhões.

Investidores estrangeiros detêm o quarto restante, avaliado em US$ 9,05 trilhões (25%).

Nos últimos 50 anos, a parcela da dívida americana detida por entidades estrangeiras quintuplicou. Em 1970, apenas 5% pertenciam a investidores estrangeiros; hoje, esse número subiu para 25%.

<><> Quais países detêm a maior dívida externa?

Os países compram dívida dos EUA porque ela oferece um investimento seguro e estável para suas reservas em moeda estrangeira, ajuda a gerenciar as taxas de câmbio e fornece uma renda de juros confiável.

Os investidores estrangeiros detêm US$ 9,05 trilhões em dívida, dos quais:

  • O Japão detém US$ 1,13 trilhão
  • O Reino Unido detém US$ 779,3 bilhões, ultrapassando a China em março como o segundo maior detentor não americano de títulos do Tesouro
  • A China detém US$ 765,4 bilhões
  • As Ilhas Cayman (US$ 455,3 bilhões) detêm uma grande quantidade de dívida dos EUA porque são um paraíso fiscal
  • Canadá (US$ 426,2 bilhões)

Em resposta às tarifas de Trump, tanto o Japão quanto a China indicaram que usarão suas participações substanciais em títulos do Tesouro dos EUA como alavanca nas negociações comerciais com o governo Trump.

No início deste mês, o Ministro das Finanças japonês, Katsunobu Kato, disse que a enorme detenção de títulos do Tesouro dos EUA pelo Japão poderia ser uma “carta na mesa” nas negociações comerciais.

Da mesma forma, a China vem vendendo gradualmente títulos do Tesouro americano há anos. Em fevereiro, as reservas chinesas em títulos do Tesouro americano caíram para o menor nível desde 2009, refletindo os esforços para diversificar as reservas e as tensões comerciais em curso.

<><> O que a alta dívida dos EUA significa para o americano médio?

Se o governo dos EUA estiver gastando mais com o pagamento de juros da dívida, isso pode afetar os orçamentos e os gastos públicos, pois fica mais caro para o governo se sustentar.

O governo pode aumentar os impostos para gerar mais receita e pagar a dívida pública, aumentando os custos para a população em geral. O aumento da dívida também pode levar a taxas de juros mais altas, encarecendo hipotecas, financiamentos de veículos e dívidas de cartão de crédito.

¨      Tragédia ontem, farsa hoje: a história em uma guerra por tarifas

Donald Trump, ao anunciar tarifas globais sobre importações, sugeriu que o povo norte-americano deveria aceitar com coragem os impactos da medida. As dificuldades, segundo ele, são parte necessária de uma suposta revolução econômica que recolocaria os Estados Unidos no centro do mundo.

Curiosamente, algo semelhante, resguardadas as devidas proporções, foi dito por Adolf Hitler em seu bunker, em Berlim, quando tudo já estava perdido. Cercado por soviéticos, o líder nazista vociferou contra o povo alemão, acusando-o de fraqueza, de covardia, de ter traído seu projeto de domínio absoluto. Para ele, se a Alemanha fracassou, o povo deveria perecer junto com o Reich.

O paralelismo é incômodo, mas didático. Não se trata de igualar os fatos históricos. A comparação, aqui, tem função conceitual.

A Segunda Guerra Mundial começou com o ataque alemão à Polônia; a “guerra” de Trump, com a imposição de barreiras comerciais a vários países, principalmente à China. De um lado, tanques e blitzkrieg; de outro, tarifas e narrativas. O exagero é deliberado, mas ajuda a iluminar a continuidade de certas estruturas de pensamento autoritário.

O fascismo não é apenas um regime histórico, é também uma forma de organização social e subjetiva. Nele, a população é vista como massa funcional ao projeto do líder. A identidade coletiva se constrói pela obediência. O amor à pátria não é carinho pelo povo, mas instrumento de poder.

A Escola de Frankfurt, especialmente Theodor Adorno e Max Horkheimer, analisou esse fenômeno em profundidade. O autoritarismo moderno, segundo eles, não emerge apenas pela força bruta, mas por uma adesão emocional da sociedade ao discurso de força, ordem e pureza. O fascista não precisa amar o povo, basta dominá-lo.

Sigmund Freud, com o texto “Psicologia das massas e a análise do eu”, de 1921, já havia percebido o mecanismo psíquico que permite tal adesão. Na massa, o indivíduo rebaixa o pensamento crítico e transfere seu ideal de ego ao líder. A multidão não pensa, repete. Freud chamava isso de identificação “libidinal”: todos se amam porque todos amam o mesmo chefe.

Erich Fromm ampliou essa análise. Em personalidades autoritárias, como Hitler, o amor à nação é apenas uma fantasia narcisista. Quando o povo não mais corresponde, é descartado. Trump, com menos virulência verbal, mas igual desapego, também sugere que o sofrimento da população é aceitável, desde que o projeto não seja interrompido.

O povo, nessa lógica, é meio, não fim. É instrumento de glória para o projeto de poder. A coragem exigida não é para enfrentar a injustiça, mas para suportar as consequências dela. Em nome da nação, sacrifica-se a própria nação.

O neofascismo contemporâneo conserva essa essência. Disfarçado sob o verniz da legalidade e do marketing, defende a disciplina, o nacionalismo, o culto ao empreendedorismo, a criminalização da pobreza e o rechaço à solidariedade internacional. Em vez de fardas pardas, ostentam-se camisetas com as cores da bandeira nacional. Em vez de campos de extermínio, nos EUA trumpistas, erguem-se muros fiscais e sanitários.

Jair Bolsonaro, no Brasil, representa outro desdobramento desse neofascismo, travestido de populismo moralizante. Apoiado por um discurso antissistêmico, atacou instituições democráticas enquanto exaltava armas, autoritarismo, valores nacionalistas e a lógica da obediência cega (não à toa, seus seguidores são chamados de “gado”).

Paradoxalmente, os Estados Unidos, historicamente defensores do livre comércio, adotam políticas protecionistas sob a administração Trump, enquanto a China se apresenta como promotora da liberalização comercial, buscando consolidar sua influência econômica global.

Gramsci alertava que, nos momentos de “crise orgânica” — ruptura prolongada entre a base social, real, e a superestrutura, da ideologia —, as velhas estruturas de domínio buscam soluções autoritárias travestidas de vontade popular. Assim, o novo fascismo não nega a democracia, apenas a esvazia. Promete “liberdade”, mas, em verdade, exige obediência.

Enquanto a História é reescrita em memes, e discursos histéricos são convertidos em slogans, urge resgatar o pensamento crítico. A educação deve oferecer à juventude a chave para compreender as engrenagens do poder. O fascismo não retorna com tanques, mas com promessas de grandeza nacional.

Entre o bunker e a Casa Branca, entre o colapso e a retórica, o fio condutor é o mesmo: a instrumentalização do povo em nome de um projeto de dominação. Contra isso, pensar continua sendo um ato de resistência.

¨      UE corta projeções de crescimento por tarifas dos EUA

A Comissão Europeia revisou significativamente para baixo suas projeções de crescimento econômico para a União Europeia (UE) em 2025 e 2026, citando os efeitos negativos das tarifas comerciais elevadas impostas pelos Estados Unidos e um cenário de incerteza persistente. Segundo a Previsão Econômica da Primavera de 2025, divulgada nesta segunda-feira (19), o crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) do bloco de 27 países foi ajustado para 1,1% em 2025 e 1,5% em 2026, abaixo das estimativas anteriores de 1,5% e 1,8%, respectivamente, apresentadas na Previsão do Outono de 2024.

<><> Impacto das tarifas dos EUA e incerteza comercial

A Comissão Europeia destacou que a revisão reflete principalmente os efeitos das altas tarifas comerciais e da imprevisibilidade gerada pelas recentes mudanças abruptas na política comercial norte-americana.

“Este é um rebaixamento considerável em relação à última previsão, em grande parte devido ao impacto do aumento das tarifas e à maior incerteza causada pelas mudanças recentes na política comercial dos EUA, além da indefinição sobre a configuração final dessas tarifas”, afirmou o órgão executivo da UE.

A zona do euro, composta pelos 20 países que utilizam a moeda única, também teve suas expectativas reduzidas: o crescimento agora está projetado em 0,9% em 2025 e 1,4% em 2026, abaixo das estimativas anteriores.

<><> Inflação deve cair mais rápido, mas riscos persistem

Em meio ao cenário desafiador, uma notícia positiva é que a inflação na zona do euro deve atingir a meta de 2% do Banco Central Europeu (BCE) até meados de 2025, mais cedo do que o previsto anteriormente. A inflação média no bloco deve recuar de 2,4% em 2024 para 1,7% em 2026, seguindo uma trajetória semelhante em toda a UE.

A Comissão atribuiu essa desinflação mais rápida ao efeito moderador das tensões comerciais, que compensaram as pressões de alta nos preços de alimentos e na demanda de curto prazo.

<><> Exportações sob pressão e riscos à vista

O comércio exterior da UE também sofre com o cenário global desfavorável. As exportações totais do bloco devem crescer apenas 0,7% em 2025, enquanto as vendas de bens podem sofrer nova contração devido a:

  • Crescimento global mais lento;
  • Queda acentuada no comércio mundial;
  • Perda de competitividade dentro do bloco;
  • Maior incerteza nas relações comerciais.

A Comissão alertou que os riscos econômicos continuam inclinados para o lado negativo. Uma possível fragmentação do comércio global poderia prejudicar ainda mais o crescimento e reacender pressões inflacionárias. Além disso, desastres climáticos mais frequentes representam uma ameaça constante.

O relatório destacou ainda que:

  • Uma escalada das tensões comerciais entre UE e EUA poderia reduzir o PIB e aumentar a inflação;
  • Conflitos comerciais entre os EUA e outros grandes parceiros (como China) podem ter efeitos em cascata na economia europeia;
  • Instabilidade no setor financeiro não bancário pode se espalhar para os bancos, afetando o crédito;
  • Se a inflação persistir nos EUA, o Federal Reserve (Fed) pode elevar juros novamente, impactando as condições financeiras globais e a demanda por exportações europeias.

<><> Cenário desafiador pela frente

A revisão das projeções pela Comissão Europeia reforça os desafios que a UE enfrenta em um ambiente de comércio global volátil e políticas protecionistas. Enquanto a inflação mostra sinais de controle, o crescimento econômico mais fraco e a incerteza geopolítica exigirão medidas cautelares dos governos e do BCE nos próximos meses.

“A economia europeia está em um momento delicado, onde decisões externas — especialmente dos EUA — podem definir se teremos uma recuperação lenta ou novos ventos contrários”, concluiu um analista do mercado financeiro ouvido pela reportagem.

 

Fonte: Al Jazeera/ICL Notícias/Xinhua

 

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