quinta-feira, 22 de maio de 2025

Bolsonaro sabia que não houve fraude e pressionou para adiar relatório sobre lisura das urnas, diz ex-comandante da FAB

O ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Júnior afirmou nesta quarta-feira (21) que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sabia que não havia fraudes no processo eleitoral e pressionou pelo adiamento de um relatório que atestava a lisura das urnas eletrônicas.

O brigadeiro deu as declarações durante depoimento à Primeira Turma na ação que apura uma tentativa de golpe articulada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados.

Baptista Júnior é ouvido na condição de testemunha de acusação da Procuradoria-Geral da República (PGR) e de defesa dos réus Jair Bolsonaro, do ex-comandante da Marinha Almir Garnier dos Santos, e do ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira.

Ao ser questionado pelo procurador-geral, Paulo Gonet, sobre se Bolsonaro tinha informações de que não havia indícios de fraudes no sistema eleitoral, o ex-comandante da Aeronáutica respondeu:

"Sim, [Bolsonaro foi informado disso] através do ministro da Defesa. Além de reuniões que eu falei, o ministro da Defesa que despachava sobre esse assunto".

Na sequência, o Baptista Júnior foi indagado se o ex-presidente tentou interferir na divulgação de um relatório que confirmava a lisura das urnas.

"Sim. [...] eu ouvi que sim [pressionou pelo adiamento da divulgação], certamente outras testemunhas poderão dar isso com mais precisão", respondeu o militar.

<><> Brigadeiro confirma reunião com teor golpista

Baptista Júnior confirmou, durante o depoimento, a realização de uma reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada, após o segundo turno das eleições de 2022, sobre "hipóteses de atentar contra o regime democrático, por meio de algum instituto previsto na Constituição".

Segundo Baptista Júnior, na reunião com teor golpista, foram debatidos mecanismos como operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), ou implementação de um Estado de Defesa ou de Sítio.

Baptista Júnior também confirmou que, no encontro realizado na primeira quinzena de novembro, o então comandante do Exército general Freire Gomes ameaçou prender Bolsonaro, caso o plano fosse levado adiante.

O ex-comandante da Aeronáutica disse também que, no dia 14 de dezembro, no Ministério da Defesa, foi realizada outra reunião, em que Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da Defesa, apresentou uma minuta golpista aos comandantes das Forças Armadas.

Conforme Baptista Júnior, nesse encontro, Paulo Sérgio Nogueira afirmou: "Trouxe aqui um documento para vocês lerem". O ex-comandante da Aeronáutica, contudo, disse que deixou o encontro sem ler a minuta golpista.

"Com base em tudo o que estava acontecendo, perguntei: 'O documento prevê a não assunção no dia 1º de janeiro do presidente eleito [Lula]?'. Ele, [Paulo Sérgio Nogueira], disse: 'Sim'. Eu disse que não aceitava nem receber esse documento. Me levantei e fui embora", declarou.

O ex-comandante da Aeronáutica disse que, nessa reunião em dezembro, o ex-comandante da Marinha almirante Almir Garnier afirmou que colocava as tropas à disposição da trama golpista.

Baptista Júnior também declarou que, por ter resistido à iniciativa golpista, sofreu muitos ataques, que teriam sido ordenados pelo ex-ministro da Casa Civil Walter Souza Braga Netto – então candidato à vice-presidência na chapa de Bolsonaro.

O ex-comandante da FAB disse também que as medidas golpistas não foram adiante porque não houve uma adesão "unânime" das Forças Armadas.

<><> Primeiros depoimentos

As testemunhas de acusação da ação penal que mira a cúpula do governo Bolsonaro começaram a ser ouvidas na segunda-feira (19), com os depoimentos de:

•        Éder Lindsay Magalhães Balbino, dono de uma empresa que teria auxiliado na produção de um material com suspeitas infundadas sobre as urnas eletrônicas;

•        Clebson Ferreira de Paula Vieira, servidor que teria elaborado planilhas que supostamente foram utilizadas por Anderson Torres para mapear a movimentação de eleitores no segundo turno das eleições de 2022;

•        Adiel Pereira Alcântara, ex-coordenador de inteligência da Polícia Rodoviária Federal, que teria atuado para dificultar o deslocamento de eleitores nas eleições de 2022; Marco

•        Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército;

<><> Denúncia

A Procuradoria-Geral da República (PGR) enviou ao STF uma denúncia, em 26 de março, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 33 pessoas por golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.

De acordo com a PGR, a organização tinha como líderes o então presidente da República Jair Bolsonaro e seu então candidato a vice-presidente, Braga Netto.

Segundo a denúncia, aliados a outras pessoas, entre civis e militares, eles tentaram impedir de forma coordenada que o resultado das eleições presidenciais de 2022 fosse cumprido. Os acusados foram divididos em núcleos pela PGR.

Bolsonaro e Mauro Cid integram o chamado núcleo crucial do golpe. Além deles, também integram o grupo:

•        Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin;

•        Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;

•        Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;

•        Augusto Heleno, ex-ministro do GSI;

•        Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;

•        Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro.

•        Ex-comandante da FAB confirma reunião de teor golpista com Bolsonaro e que general ameaçou prender ex-presidente

O ex-comandante da Aeronáutica Carlos Almeida Baptista Júnior confirmou nesta quarta-feira (21) a realização de uma reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada, após o segundo turno das eleições de 2022, sobre "hipóteses de atentar contra o regime democrático, por meio de algum instituto previsto na Constituição".

Segundo Baptista Júnior, na reunião com teor golpista, foram debatidos mecanismos como operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), ou implementação de um Estado de Defesa ou de Sítio.

O brigadeiro fez a confirmação durante depoimento à Primeira Turma na ação que apura uma tentativa de golpe articulada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados.

Baptista Júnior também confirmou que, no encontro realizado na primeira quinzena de novembro, o então comandante do Exército general Freire Gomes ameaçou prender Bolsonaro, caso o plano fosse levado adiante.

"O general Freire Gomes é polido, é isso que ele falou. Com muita tranquilidade e muita calma, mas colocou, que, se ele [Bolsonaro] fizesse isso ele teria que prender [o então presidente]", relatou Baptista Júnior ao ser questionado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.

Baptista Júnior é ouvido na condição de testemunha de acusação da Procuradoria-Geral da República (PGR) e de defesa dos réus Jair Bolsonaro, do ex-comandante da Marinha Almir Garnier dos Santos, e do ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira.

O ex-comandante da Aeronáutica disse também que, no dia 14 de dezembro, no Ministério da Defesa, foi realizada outra reunião, em que Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da Defesa, apresentou uma minuta golpista aos comandantes das Forças Armadas.

Conforme Baptista Júnior, nesse encontro, Paulo Sérgio Nogueira afirmou: "Trouxe aqui um documento para vocês lerem". O ex-comandante da Aeronáutica, contudo, declarou que deixou o encontro sem ler a minuta golpista.

"Com base em tudo o que estava acontecendo, perguntei: 'O documento prevê a não assunção no dia 1º de janeiro do presidente eleito [Lula]?'. Ele, [Paulo Sérgio Nogueira], disse: 'Sim'. Eu disse que não aceitava nem receber esse documento. Me levantei e fui embora", declarou.

O ex-comandante da Aeronáutica disse que, nessa reunião em dezembro, o ex-comandante da Marinha almirante Almir Garnier afirmou que colocava as tropas à disposição da trama golpista.

Baptista Júnior também declarou que, por ter resistido à iniciativa golpista, sofreu muitos ataques, que teriam sido ordenados pelo ex-ministro da Casa Civil Walter Souza Braga Netto – então candidato à vice-presidência na chapa de Bolsonaro.

O ex-comandante da FAB disse também que as medidas golpistas não foram adiante porque não houve uma adesão "unânime" das Forças Armadas.

<><> Bolsonaro sabia que não havia fraudes, diz militar

Ao ser questionado pelo procurador-geral, Paulo Gonet, sobre se Bolsonaro tinha informações de que não havia indícios de fraudes no sistema eleitoral, o ex-comandante da Aeronáutica respondeu:

"Sim, [Bolsonaro foi informado disso] através do ministro da Defesa. Além de reuniões que eu falei, o ministro da Defesa que despachava sobre esse assunto".

Na sequência, o Baptista Júnior foi indagado se o ex-presidente tentou interferir na divulgação de um relatório que confirmava a lisura das urnas.

"Sim. O relatório foi entregue no dia 9. Eu ouvi que sim [Bolsonaro pressionou pelo adiamento da divulgação], certamente outras testemunhas poderão dar isso com mais precisão", respondeu o militar.

•        Bolsonaro ignorou alerta de Cid no dia 8 de Janeiro: "povão invadindo o Congresso", "Ibaneis perde"

Nos EUA, para onde fugiu para não passar a faixa para Lula na transição de governo, Jair Bolsonaro (PL) ignorou alertas recorrentes feitos pelo tenente-coronel Mauro Cid, que enviou diversas mensagens por WhatsApp ao chefe alertando sobre o "povão invadindo o Congresso".

A troca de mensagens, ocorrida no dia 8 de janeiro de 2023, foi revelada pelo jornalista Aguirre Talento, que teve acesso a todo conteúdo do celular de Mauro Cid, no portal Uol nesta quarta-feira (21).

Às 15h49, Cid envia uma transmissão do "QGEX Brasília ao vivo" - provavelmente feita pelos golpistas - ao ex-presidente. Em seguida, o militar alerta: "povão invadindo o Congresso". o auxiliar envia outra mensagem 22 minutos depois: JP e CNN não estão transmitindo.

Diante do silêncio de Bolsonaro, Cid segue com mensagens às 17h55 - um link da rede X - e às 18h59, quando avisa que "Lula decretou intervenção federal no DF" e que o "interventor será o Sec Exe do MJ", sobre a nomeação de Ricardo Cappelli, secretário do então ministro da Justiça Flávio Dino, para assumir o governo do Distrito Federal, comandado por Ibaneis Rocha (MDB), aliado de Bolsonaro.

Só então, às 19h04, quando a horda bolsonarista começou a ser desmobilizada, o ex-presidente escreveu a Cid: "O Ibaneiz (sic) perde".

O militar responde de pronto, afirmando que "exonerou o Anderson", sobre a exoneração de Anderson Torres, que deixou o Ministério da Justiça e foi nomeado Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.

Envolvido na chamada "minuta do golpe", Anderson Torres viajou aos EUA para férias logo após Ibaneis assinar sua nomeação na SSP, que comanda toda a estrutura de segurança do DF, que falhou em 8 de Janeiro.

Quatro dias depois, Bolsonaro envia a Cid uma notícia falando justamente da minuta do golpe encontrada na casa de Torres. Cid compartilha um outro link e uma mensagem encaminhada: "escrita a mão".

A partir de então, as conversas entre os dois passam a ter as investigações como tema. No dia 30, Cid envia link de reportagem da Veja sobre "a parceria entre STF e Defesa para derrubar o braço direito de Bolsonaro", sobre a apuração da PF que o envolvia.

Bolsonaro responde com áudio. "Cid, a investigação em cima de você é pra ver se pegaria alguma coisa contra mim. Não pegaram nada, e a narrativa foi pro espaço, daí o pessoal bate o pé nesta outra aí agora. Eu tô à disposição aqui, se quiser ligar pra mim será um prazer falar contigo. Abraço".

Em 3 de abril, Bolsonaro enviou um novo link com reportagem do Estadão que diz que "Mauro Cid vai relatar à PF que ordem para retirar joias da alfândega partiu diretamente de Bolsonaro". A reportagem fazia menção sobre a investigação de contrabando de joias furtadas da Presidência que foram vendidas nos EUA por assessores de Bolsonaro.

"Não teve ordem nenhuma... Eles inventam tudo... O senhor nem sabia o que tinha lá", responde Cid em três mensagens, mostrando certo desespero.

Bolsonaro responde apenas com um "selva", jargão militar usado em saudações ou para dizer que está "ok", que foi adotado pela organização criminosa de Bolsonaro.

Um mês depois, Cid seria preso na investigação sobre as fraudes no cartão de vacinas, que o levaria a firmar acordo de delação e confirmasse as investigações sobre o contrabando, além de revelar a estrutura da quadrilha golpista, que está sendo julgada pelo Supremo Tribunal Federal.

•        STF torna militares réus, acende alerta nas Forças Armadas e reforça discurso por distanciamento da política

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de tornar réus dez militares acusados de envolvimento na tentativa de golpe para manter Jair Bolsonaro (PL) no poder acendeu um alerta dentro das Forças Armadas. Militares do alto comando com quem o blog conversou e que acompanham o caso avaliam que a aceitação da denúncia tem "efeito pedagógico" e reforça a necessidade de afastar a política dos quartéis.

A leitura é de que houve uma contaminação política das tropas — processo comparado ao que ocorreu no golpe militar de 1964. Parte dos militares ainda justifica aquele período, mesmo quando admite que foi um erro. Mas há um consenso crescente entre oficiais de alta patente de que a politização das Forças Armadas trouxe efeitos nocivos à instituição.

O governo Bolsonaro é apontado como ponto de inflexão. Militares com quem o blog conversou avaliam que aquele período foi "um péssimo negócio", principalmente para o controle das tropas.

Essa ruptura entre patentes ficou evidente durante o inquérito da Procuradoria-Geral da República (PGR). Enquanto generais evitaram se engajar diretamente na trama golpista, coronéis — especialmente ligados a forças especiais — estiveram entre os mais engajados.

O plano chamado "Punhal Verde e Amarelo", revelado pela PF, previa ações armadas para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e do vice-presidente Geraldo Alckmin. Entre os acusados, estão coronéis e tenentes-coronéis especializados em operações táticas.

<><> Decisão unânime

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu de forma unânime, na terça-feira (20), tornar réus mais 10 acusados de integrar a trama golpista que tentava manter o então presidente Jair Bolsonaro no poder, apesar da derrota nas eleições de 2022. Os agora réus são do chamado "núcleo 3", de ações táticas.

A lista inclui os "kids pretos" — também chamados de "forças especiais" (FE) —, militares da ativa ou da reserva do Exército, especialistas em operações especiais.

Segundo a Polícia Federal, entre as ações elaboradas pelos indiciados neste grupo havia um "detalhado planejamento operacional, denominado 'Punhal Verde e Amarelo', que seria executado no dia 15 de dezembro de 2022" para assassinar os já eleitos presidente Lula e vice-presidente Geraldo Alckmin.

Esta foi a primeira vez que o Supremo rejeitou uma denúncia contra os acusados pela PGR no inquérito do golpe.

Os ministros acompanharam o voto do relator, Alexandre de Moraes. Ele acolheu parcialmente a denúncia, pois afirmou que não há elementos suficientes para acolher a denúncia contra dois militares: o coronel da reserva Cleverson Magalhães e o general Nilson Diniz Rodrigues.

>>> Com a decisão desta terça, se tornaram réus:

•        general Estevam Gaspar de Oliveira

•        tenente-coronel Hélio Ferreira Lima

•        tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira

•        tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo

•        Wladimir Matos Soares, agente da Polícia Federal (PF)

•        coronel Bernardo Romão Corrêa Netto

•        coronel Fabrício Moreira de Bastos

•        coronel Marcio Nunes de Resende Júnior

•        tenente-coronel Sérgio Cavaliere de Medeiros

•        tenente-coronel Ronald Ferreira de Araújo Júnior

>>> A denúncia foi rejeitada contra:

•        coronel da reserva Cleverson Ney Magalhães

•        general Nilson Diniz Rodriguez

<><> Crimes analisados

>>>> Os investigados foram denunciados por cinco crimes:

•        organização criminosa armada

•        tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito

•        golpe de Estado

•        dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima

•        deterioração de patrimônio tombado

•        Desde março, o Supremo já tornou réus 21 investigados pela trama golpista — entre eles, Bolsonaro, Braga Netto e seus principais aliados.

 

Fonte: g1/Fórum 

 

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