segunda-feira, 19 de maio de 2025

Na Bahia, formação da chapa para 2026 é desafio para unidade dos governistas

Desde que se encerraram as eleições municipais de 2024, a base de apoio ao governador Jerônimo Rodrigues (PT) começou a discutir a possível reeleição do grupo governista. No centro desse debate, a formação da nova chapa, que busca manter o PT no comando da Bahia por pelo menos 24 anos.

Na cabeça de chapa, Jerônimo está garantido. Será o candidato à reeleição, com apoio da maioria dos deputados estaduais e federais, além de uma ampla frente de prefeitos no interior da Bahia. Em outubro de 2024, o grupo elegeu 310 aliados. De lá para cá, porém, esse número aumentou e o governo estima ter mais de 350 prefeituras como aliadas, dentre as 417 do estado.

O problema começa na disputa pelo parlamento. Para as duas vagas na chapa reservadas a candidatos ao Senado Federal, três integrantes do grupo já demonstraram interesse: os atuais senadores Jaques Wagner (PT) e Angelo Coronel (PSD), além do ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), ex-governador do estado.

<><> “Três governadores”

Em entrevista ao A TARDE em janeiro, Wagner defendeu a chapa com ele, Jerônimo e Rui. Considerado o principal líder do grupo governista, o senador petista já deixou claro que será candidato. Ao mesmo tempo, ele disse ser natural que Coronel queira a reeleição, mas que a candidatura de Rui seria incontestável.

“Pelo peso dos nomes, é muito natural se tivermos uma chapa com três governadores. O Jerônimo é candidato à reeleição, é muito natural eu ser candidato, como óbvio seria natural o Coronel também ser candidato. Mas à medida que Rui demande, porque ele ainda não deu a declaração explícita que pretende ser, não tem muito como contestar. Há uma naturalidade. E eu digo sempre que a política convive com a naturalidade das coisas”, afirmou Wagner.

A declaração de Wagner provocou uma grande turbulência na base aliada. Em entrevista à Folha de S. Paulo, Angelo Coronel criticou a fome do PT por postos na chapa majoritária de 2026.

“O PT tem todo direito de escalar seu time nas posições que bem desejar. Acredito que irão indicar os quatro componentes da majoritária. Deverá ser uma chapa 100% puro-sangue”, ironizou Coronel. “Apressado come cru”, complementou o senador do PSD.

O desejo de Rui Costa também fica expresso nas entrevistas que dá. O ministro recorrentemente coloca seu nome à disposição do partido para ser candidato ao Senado Federal.

“Meu nome está colocado. Evidente que ainda tenho que conversar com o presidente [Luiz Inácio Lula da Silva] no ano que vem sobre isso, mas já conversei com ele e coloquei meu nome à disposição para compor a chapa como senador”, comentou Rui em fevereiro, em entrevista à Metrópole FM.

<><> Avulso da chapa

Nos bastidores, os integrantes da base aliada dão como certa as presenças de Jerônimo, Wagner e Rui como candidatos em 2026. Segundo fontes ouvidas pelo Portal A TARDE na condição de anonimato, a expectativa é que Coronel acabe aceitando alguma oferta que o compense por retirar sua candidatura ao Senado.

Essa possibilidade, por outro lado, é recorrentemente negada por Coronel. Já perguntado se aceitaria ser candidato a outro posto em 2026 ou mesmo ganhar um ministério no governo Lula, o quadro do PSD sempre responde que só tem vocação para ser senador.

Coronel, inclusive, não descarta deixar o PSD ou mesmo se candidatar por fora da base governista, caso Wagner e Rui imponham seus nomes no grupo.

“Eu não tenho que conversar nada com o PT. É muito cedo. Não existe só candidatura na chapa oficial. Qualquer partido pode lançar candidaturas avulsas", lembrou Coronel em entrevista ao Portal A TARDE em janeiro.

Algumas declarações dadas por Coronel em 2025 têm gerado grande mal estar na base aliada, que o vê dando cada vez mais sinais em favor de se unir à oposição em 2026. No início deste ano, ele chegou a afirmar que havia pessoas querendo sabotá-lo.

“Chegou o Coronel fitness. Olha, estou me preparando. Tem gente querendo me passar a rasteira aí, então eu tenho que estar em forma, fisicamente e mentalmente. Vem com a gente! Vem me proteger, gente. Vem ligeiro, pelo amor de Deus”, falou Coronel, em tom jocoso, em vídeo publicado nas redes sociais.

<><> MDB pode sobrar

A possível dispensa de Coronel pode impactar ainda o espaço de um terceiro partido. O MDB, do vice-governador Geraldo Júnior, pode acabar perdendo seu posto, dando lugar ao PSD.

Partido com mais representantes eleitos na Bahia, somando parlamentares e principalmente prefeitos, o PSD é visto como indispensável no grupo governista e, no caso de perder uma das vagas ao Senado Federal, poderá indicar o candidato a vice-governador na chapa majoritária de 2026.

Por esse motivo, o principal líder do MDB na Bahia, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, tem defendido a manutenção de Angelo Coronel como candidato ao Senado para 2026. Isso garantiria a possibilidade dos emedebistas mais uma vez indicarem o postulante a vice-governador.

“Há um equívoco nesse entendimento de que uma chapa com três ex-governadores será mais forte. Porque, eventualmente, você pode ter, entre Rui, Wagner e Jerônimo, um em determinado momento melhor do que o outro, mas os votos deles são os mesmos, têm a mesma origem”, analisou Geddel em entrevista ao Portal A TARDE em janeiro.

“O que o MDB tem é a vice-governadoria, que é o que conquistou nas urnas, e é o que o MDB reivindica e vai lutar por isso, legitimamente, claramente, com transparência, como nós fazemos política. Sei que Wagner, Rui e todos compreendem isso”, acrescentou o emedebista.

<><> Unidade ameaçada

Além de PT, PSD e MDB, outras legendas também desejam colocar seus nomes para 2026. Uma delas é o Avante, liderado na Bahia pelo ex-deputado federal Ronaldo Carletto. O partido foi auxiliado pelo próprio governo do estado entre 2023 e 2024, conseguindo ampliar fortemente o seu número de prefeitos no interior, e agora espera ver isso representado na chapa majoritária.

O PP, que oficialmente integra a oposição, também tem nomes governistas que já foram especulados para compor chapa na próxima eleição estadual. Para poderem sonhar com uma das vagas, porém, eles terão que deixar o atual partido e encontrar algum governista para se filiar.

A maior parte das fontes do Portal A TARDE acredita, entretanto, que a tendência é que a base chegue rachada no próximo ano.

“Não é possível encontrar espaço para todo mundo que quer espaço e que, sinceramente, tem motivo para desejar esse espaço. É natural que alguns nomes busquem outro caminho. Mas vamos fazer de tudo para manter a unidade do grupo. É o grupo que dá certo, que faz todo mundo crescer. Quem saiu perdeu tamanho”, disse, sob anonimato, um interlocutor próximo à articulação política do governo Jerônimo.

•        Última chapa puro-sangue ‘não deu certo’, lembra Otto Alencar

Presidente estadual do PSD, o senador Otto Alencar admitiu que seu colega de partido, o senador Angelo Coronel, pode não integrar a chapa majoritária nas eleições de 2026. A declaração foi feita durante entrevista ao programa Boa Tarde Bahia, da TV Bandeirantes, em meio a um momento de tensão entre Coronel e o Partido dos Trabalhadores (PT), principal aliado do PSD na Bahia.

O impasse gira em torno da composição da chapa para o próximo pleito. O PT defende a formação com três nomes do partido: o governador Jerônimo Rodrigues, que tentará a reeleição; o senador Jaques Wagner; e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, cotado para disputar uma vaga no Senado. Coronel, por sua vez, insiste em manter sua pré-candidatura e já chegou a ameaçar romper com o grupo caso seja deixado de fora.

Vale lembrar que o próprio Rui Costa, ex-governador da Bahia, já confirmou publicamente que discutiu essa possibilidade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Otto, que mantém uma relação pessoal próxima com Coronel, reconheceu a existência de descontentamentos internos, mas também sinalizou espaço para negociação e eventual compensação política. “Coronel é meu amigo, meu compadre, e, desde que conheço ele, ele é a mesma pessoa. Ele fala as coisas que acha que deve falar. Pode estar errado ou certo, mas quando está errado, ele consegue recuperar”, disse. “Mas é um homem que sabe conversar e vai discutir. Eu acho que vai ter saída. Têm compensações que poderão ser dadas", emendou.

Reeleito ao Senado em 2022, Otto não será candidato em 2026, mas tem atuado como figura-chave nas articulações políticas. Ele criticou decisões tomadas com antecedência excessiva e defendeu cautela na definição da chapa. “Na política, só se toma decisão quando o momento exige. Quando toma antes, é precipitado. Quando toma depois, é retardado. Então, vou tomar a decisão correta na hora certa”, afirmou.

O senador também relembrou o processo eleitoral de 2022, quando Jerônimo Rodrigues foi escolhido como candidato ao governo da Bahia, em uma escolha que surpreendeu até aliados mais próximos. “Todo mundo achava que o candidato seria eu. Naquela época, ninguém pensava que seria Jerônimo. E terminou sendo Jerônimo. E encontrou-se uma saída, uma solução", contou.

“Existe uma coisa que eu valorizo muita na política que é a avaliação do momento. Qualquer partido que esteja muito hegemônico, e nenhum vai estar em 2026, está ganho, a eleição está decidida, pode até fazer uma chapa puro-sangue. A última vez não deu certo, foi a de 2006 de Antônio Carlos Magalhães, com Paulo Souto, Tinoco e Rodolpho Tourinho", lembrou.

"Paulo Souto queria Geddel [Vieira Lima] na chapa, [mas] ACM não quis, fez puro-sangue e perdeu para Wagner. Então, puro-sangue às vezes cansa”, completou o senador Otto Alencar durante a mesma entrevista.

•        Oposição ignora histórico de derrotas e desdenha de chapa petista

O bloco de oposição na Bahia, liderado pelo ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil), tem tentado emplacar, nas últimas semanas, o discurso de que há chances de vitórias nas eleições de 2026 contra a 'superchapa' do PT, como vem sendo chamada a majoritária encabeçada pelo governador Jerônimo Rodrigues e pelos ex-governadores Rui Costa e Jaques Wagner.

A teoria pregada, que ignora o histórico recente de derrotas do grupo contra os candidatos petistas, é de que o cenário seria "mais fácil" para o triunfo. O que tem sido defendido por uma ala do PT é que Jerônimo seja candidato à reeleição, com o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, disputando o Senado, junto com o já senador Jaques Wagner, que seria postulante a um novo mandato no Congresso Nacional.

Nos últimos dias, ACM Neto, que perdeu a eleição para governador em 2022, tem reforçado a ideia de que pode derrotar o grupo. Na quinta-feira, 15, o ex-prefeito falou abertamente sobre o tema, em entrevista à rádio Excelsior, e afirmou que prefere encarar os três nomes nas urnas.

“Eu, caso seja candidato a governador, particularmente prefiro encarar os três do PT. Acho mais fácil nesse cenário. A gente não escolhe adversário, mas, fazendo uma análise, é mais fácil encarar os três do PT, porque vamos mostrar a panelinha deles. Você gira, gira, gira e termina em Rui Costa, Jaques Wagner e Jerônimo", afirmou o líder da oposição.

Ex-líder da bancada na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), o deputado estadual Alan Sanches (União Brasil) também minimizou o peso da chapa com três governadores, no final de 2024, ao comentar sobre o tema.

"A gente se preocupa com o nosso. Na hora da disputa eleitoral, vamos mostrar que depois de 18 anos, a Bahia precisa de mudança", afirmou na ocasião, em conversa com a imprensa.

Em janeiro deste ano, foi a vez do prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), ironizar o desenho, afirmando que a composição poderia dar "xabu".

"Eles acham que vão ganhar todas as eleições na política. Uma hora dá xabu”, disparou Bruno Reis.

<><> Na contramão

Diferente do que tem sido dito publicamente por ACM Neto e parte de seus aliados, outros membros da oposição reconhecem o peso que uma chapa com Jerônimo, Rui e Wagner deve ter nas urnas, caso seja confirmada.

Alguns nomes consultados recentemente pelo Portal A TARDE, em conversas informais, acreditam que a majoritária 'puro-sangue' seria "imbatível", com possibilidade de uma reeleição com recorde de votos para o atual governador.

O que pensam os aliados?

Dentro do PT, a expectativa é de que a chapa majoritária puro-sangue consiga impulsionar a bancada do partido na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados, mesmo com a federação Brasil da Esperança (PT/PCdoB/PV).

"Esperamos voltar para a época em que a gente tinha até 15 deputados aqui, mesmo sabendo que tem a federação", disse um deputado estadual petista, em conversa com o Portal A TARDE, em fevereiro deste ano.

 

Fonte: A Tarde/Tribuna da Bahia

 

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