Na
Bahia, formação da chapa para 2026 é desafio para unidade dos governistas
Desde
que se encerraram as eleições municipais de 2024, a base de apoio ao governador
Jerônimo Rodrigues (PT) começou a discutir a possível reeleição do grupo
governista. No centro desse debate, a formação da nova chapa, que busca manter
o PT no comando da Bahia por pelo menos 24 anos.
Na
cabeça de chapa, Jerônimo está garantido. Será o candidato à reeleição, com
apoio da maioria dos deputados estaduais e federais, além de uma ampla frente
de prefeitos no interior da Bahia. Em outubro de 2024, o grupo elegeu 310
aliados. De lá para cá, porém, esse número aumentou e o governo estima ter mais
de 350 prefeituras como aliadas, dentre as 417 do estado.
O
problema começa na disputa pelo parlamento. Para as duas vagas na chapa
reservadas a candidatos ao Senado Federal, três integrantes do grupo já
demonstraram interesse: os atuais senadores Jaques Wagner (PT) e Angelo Coronel
(PSD), além do ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), ex-governador do estado.
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“Três governadores”
Em
entrevista ao A TARDE em janeiro, Wagner defendeu a chapa com ele, Jerônimo e
Rui. Considerado o principal líder do grupo governista, o senador petista já
deixou claro que será candidato. Ao mesmo tempo, ele disse ser natural que
Coronel queira a reeleição, mas que a candidatura de Rui seria incontestável.
“Pelo
peso dos nomes, é muito natural se tivermos uma chapa com três governadores. O
Jerônimo é candidato à reeleição, é muito natural eu ser candidato, como óbvio
seria natural o Coronel também ser candidato. Mas à medida que Rui demande,
porque ele ainda não deu a declaração explícita que pretende ser, não tem muito
como contestar. Há uma naturalidade. E eu digo sempre que a política convive
com a naturalidade das coisas”, afirmou Wagner.
A
declaração de Wagner provocou uma grande turbulência na base aliada. Em
entrevista à Folha de S. Paulo, Angelo Coronel criticou a fome do PT por postos
na chapa majoritária de 2026.
“O PT
tem todo direito de escalar seu time nas posições que bem desejar. Acredito que
irão indicar os quatro componentes da majoritária. Deverá ser uma chapa 100%
puro-sangue”, ironizou Coronel. “Apressado come cru”, complementou o senador do
PSD.
O
desejo de Rui Costa também fica expresso nas entrevistas que dá. O ministro
recorrentemente coloca seu nome à disposição do partido para ser candidato ao
Senado Federal.
“Meu
nome está colocado. Evidente que ainda tenho que conversar com o presidente
[Luiz Inácio Lula da Silva] no ano que vem sobre isso, mas já conversei com ele
e coloquei meu nome à disposição para compor a chapa como senador”, comentou
Rui em fevereiro, em entrevista à Metrópole FM.
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Avulso da chapa
Nos
bastidores, os integrantes da base aliada dão como certa as presenças de
Jerônimo, Wagner e Rui como candidatos em 2026. Segundo fontes ouvidas pelo
Portal A TARDE na condição de anonimato, a expectativa é que Coronel acabe
aceitando alguma oferta que o compense por retirar sua candidatura ao Senado.
Essa
possibilidade, por outro lado, é recorrentemente negada por Coronel. Já
perguntado se aceitaria ser candidato a outro posto em 2026 ou mesmo ganhar um
ministério no governo Lula, o quadro do PSD sempre responde que só tem vocação
para ser senador.
Coronel,
inclusive, não descarta deixar o PSD ou mesmo se candidatar por fora da base
governista, caso Wagner e Rui imponham seus nomes no grupo.
“Eu não
tenho que conversar nada com o PT. É muito cedo. Não existe só candidatura na
chapa oficial. Qualquer partido pode lançar candidaturas avulsas", lembrou
Coronel em entrevista ao Portal A TARDE em janeiro.
Algumas
declarações dadas por Coronel em 2025 têm gerado grande mal estar na base
aliada, que o vê dando cada vez mais sinais em favor de se unir à oposição em
2026. No início deste ano, ele chegou a afirmar que havia pessoas querendo
sabotá-lo.
“Chegou
o Coronel fitness. Olha, estou me preparando. Tem gente querendo me passar a
rasteira aí, então eu tenho que estar em forma, fisicamente e mentalmente. Vem
com a gente! Vem me proteger, gente. Vem ligeiro, pelo amor de Deus”, falou
Coronel, em tom jocoso, em vídeo publicado nas redes sociais.
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MDB pode sobrar
A
possível dispensa de Coronel pode impactar ainda o espaço de um terceiro
partido. O MDB, do vice-governador Geraldo Júnior, pode acabar perdendo seu
posto, dando lugar ao PSD.
Partido
com mais representantes eleitos na Bahia, somando parlamentares e
principalmente prefeitos, o PSD é visto como indispensável no grupo governista
e, no caso de perder uma das vagas ao Senado Federal, poderá indicar o
candidato a vice-governador na chapa majoritária de 2026.
Por
esse motivo, o principal líder do MDB na Bahia, o ex-ministro Geddel Vieira
Lima, tem defendido a manutenção de Angelo Coronel como candidato ao Senado
para 2026. Isso garantiria a possibilidade dos emedebistas mais uma vez
indicarem o postulante a vice-governador.
“Há um
equívoco nesse entendimento de que uma chapa com três ex-governadores será mais
forte. Porque, eventualmente, você pode ter, entre Rui, Wagner e Jerônimo, um
em determinado momento melhor do que o outro, mas os votos deles são os mesmos,
têm a mesma origem”, analisou Geddel em entrevista ao Portal A TARDE em
janeiro.
“O que
o MDB tem é a vice-governadoria, que é o que conquistou nas urnas, e é o que o
MDB reivindica e vai lutar por isso, legitimamente, claramente, com
transparência, como nós fazemos política. Sei que Wagner, Rui e todos
compreendem isso”, acrescentou o emedebista.
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Unidade ameaçada
Além de
PT, PSD e MDB, outras legendas também desejam colocar seus nomes para 2026. Uma
delas é o Avante, liderado na Bahia pelo ex-deputado federal Ronaldo Carletto.
O partido foi auxiliado pelo próprio governo do estado entre 2023 e 2024,
conseguindo ampliar fortemente o seu número de prefeitos no interior, e agora
espera ver isso representado na chapa majoritária.
O PP,
que oficialmente integra a oposição, também tem nomes governistas que já foram
especulados para compor chapa na próxima eleição estadual. Para poderem sonhar
com uma das vagas, porém, eles terão que deixar o atual partido e encontrar
algum governista para se filiar.
A maior
parte das fontes do Portal A TARDE acredita, entretanto, que a tendência é que
a base chegue rachada no próximo ano.
“Não é
possível encontrar espaço para todo mundo que quer espaço e que, sinceramente,
tem motivo para desejar esse espaço. É natural que alguns nomes busquem outro
caminho. Mas vamos fazer de tudo para manter a unidade do grupo. É o grupo que
dá certo, que faz todo mundo crescer. Quem saiu perdeu tamanho”, disse, sob
anonimato, um interlocutor próximo à articulação política do governo Jerônimo.
• Última chapa puro-sangue ‘não deu
certo’, lembra Otto Alencar
Presidente
estadual do PSD, o senador Otto Alencar admitiu que seu colega de partido, o
senador Angelo Coronel, pode não integrar a chapa majoritária nas eleições de
2026. A declaração foi feita durante entrevista ao programa Boa Tarde Bahia, da
TV Bandeirantes, em meio a um momento de tensão entre Coronel e o Partido dos
Trabalhadores (PT), principal aliado do PSD na Bahia.
O
impasse gira em torno da composição da chapa para o próximo pleito. O PT
defende a formação com três nomes do partido: o governador Jerônimo Rodrigues,
que tentará a reeleição; o senador Jaques Wagner; e o ministro da Casa Civil,
Rui Costa, cotado para disputar uma vaga no Senado. Coronel, por sua vez,
insiste em manter sua pré-candidatura e já chegou a ameaçar romper com o grupo
caso seja deixado de fora.
Vale
lembrar que o próprio Rui Costa, ex-governador da Bahia, já confirmou
publicamente que discutiu essa possibilidade com o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (PT).
Otto,
que mantém uma relação pessoal próxima com Coronel, reconheceu a existência de
descontentamentos internos, mas também sinalizou espaço para negociação e
eventual compensação política. “Coronel é meu amigo, meu compadre, e, desde que
conheço ele, ele é a mesma pessoa. Ele fala as coisas que acha que deve falar.
Pode estar errado ou certo, mas quando está errado, ele consegue recuperar”,
disse. “Mas é um homem que sabe conversar e vai discutir. Eu acho que vai ter
saída. Têm compensações que poderão ser dadas", emendou.
Reeleito
ao Senado em 2022, Otto não será candidato em 2026, mas tem atuado como
figura-chave nas articulações políticas. Ele criticou decisões tomadas com
antecedência excessiva e defendeu cautela na definição da chapa. “Na política,
só se toma decisão quando o momento exige. Quando toma antes, é precipitado.
Quando toma depois, é retardado. Então, vou tomar a decisão correta na hora
certa”, afirmou.
O
senador também relembrou o processo eleitoral de 2022, quando Jerônimo
Rodrigues foi escolhido como candidato ao governo da Bahia, em uma escolha que
surpreendeu até aliados mais próximos. “Todo mundo achava que o candidato seria
eu. Naquela época, ninguém pensava que seria Jerônimo. E terminou sendo
Jerônimo. E encontrou-se uma saída, uma solução", contou.
“Existe
uma coisa que eu valorizo muita na política que é a avaliação do momento.
Qualquer partido que esteja muito hegemônico, e nenhum vai estar em 2026, está
ganho, a eleição está decidida, pode até fazer uma chapa puro-sangue. A última
vez não deu certo, foi a de 2006 de Antônio Carlos Magalhães, com Paulo Souto,
Tinoco e Rodolpho Tourinho", lembrou.
"Paulo
Souto queria Geddel [Vieira Lima] na chapa, [mas] ACM não quis, fez puro-sangue
e perdeu para Wagner. Então, puro-sangue às vezes cansa”, completou o senador
Otto Alencar durante a mesma entrevista.
• Oposição ignora histórico de derrotas e
desdenha de chapa petista
O bloco
de oposição na Bahia, liderado pelo ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União
Brasil), tem tentado emplacar, nas últimas semanas, o discurso de que há
chances de vitórias nas eleições de 2026 contra a 'superchapa' do PT, como vem
sendo chamada a majoritária encabeçada pelo governador Jerônimo Rodrigues e
pelos ex-governadores Rui Costa e Jaques Wagner.
A
teoria pregada, que ignora o histórico recente de derrotas do grupo contra os
candidatos petistas, é de que o cenário seria "mais fácil" para o
triunfo. O que tem sido defendido por uma ala do PT é que Jerônimo seja
candidato à reeleição, com o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa,
disputando o Senado, junto com o já senador Jaques Wagner, que seria postulante
a um novo mandato no Congresso Nacional.
Nos
últimos dias, ACM Neto, que perdeu a eleição para governador em 2022, tem
reforçado a ideia de que pode derrotar o grupo. Na quinta-feira, 15, o
ex-prefeito falou abertamente sobre o tema, em entrevista à rádio Excelsior, e
afirmou que prefere encarar os três nomes nas urnas.
“Eu,
caso seja candidato a governador, particularmente prefiro encarar os três do
PT. Acho mais fácil nesse cenário. A gente não escolhe adversário, mas, fazendo
uma análise, é mais fácil encarar os três do PT, porque vamos mostrar a
panelinha deles. Você gira, gira, gira e termina em Rui Costa, Jaques Wagner e
Jerônimo", afirmou o líder da oposição.
Ex-líder
da bancada na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), o deputado estadual Alan
Sanches (União Brasil) também minimizou o peso da chapa com três governadores,
no final de 2024, ao comentar sobre o tema.
"A
gente se preocupa com o nosso. Na hora da disputa eleitoral, vamos mostrar que
depois de 18 anos, a Bahia precisa de mudança", afirmou na ocasião, em
conversa com a imprensa.
Em
janeiro deste ano, foi a vez do prefeito de Salvador, Bruno Reis (União
Brasil), ironizar o desenho, afirmando que a composição poderia dar
"xabu".
"Eles
acham que vão ganhar todas as eleições na política. Uma hora dá xabu”, disparou
Bruno Reis.
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Na contramão
Diferente
do que tem sido dito publicamente por ACM Neto e parte de seus aliados, outros
membros da oposição reconhecem o peso que uma chapa com Jerônimo, Rui e Wagner
deve ter nas urnas, caso seja confirmada.
Alguns
nomes consultados recentemente pelo Portal A TARDE, em conversas informais,
acreditam que a majoritária 'puro-sangue' seria "imbatível", com
possibilidade de uma reeleição com recorde de votos para o atual governador.
O que
pensam os aliados?
Dentro
do PT, a expectativa é de que a chapa majoritária puro-sangue consiga
impulsionar a bancada do partido na Assembleia Legislativa e na Câmara dos
Deputados, mesmo com a federação Brasil da Esperança (PT/PCdoB/PV).
"Esperamos
voltar para a época em que a gente tinha até 15 deputados aqui, mesmo sabendo
que tem a federação", disse um deputado estadual petista, em conversa com
o Portal A TARDE, em fevereiro deste ano.
Fonte:
A Tarde/Tribuna da Bahia

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