quarta-feira, 28 de maio de 2025

Movimento slow: o que é e por que adotá-lo faz bem à saúde?

É inegável que vivemos em uma era de rotinas agitadas em que as pessoas estão sempre com pressa. Trabalho, estudos, compromissos diversos, redes sociais e dias cada vez mais acelerado e cheios fazem parte da vida da maioria das pessoas. No entanto, um movimento tem ganhado força justamente por ir na contramão desse ritmo frenético: o Slow Movement, ou, simplesmente, Movimento Slow.

Esse movimento começou a ganhar força na década de 1980, a partir da chamada “Slow Food” (comer devagar) na Itália, liderada pelo ativista Carlo Petrini, como uma resposta à abertura de uma rede de fast-food em Roma. Com o tempo, a filosofia slow se expandiu para diversas outras áreas, incluindo trabalho, lazer e saúde mental, incentivando um estilo de vida mais consciente e desacelerado.

O Movimento Slow propõe priorizar a qualidade ao invés da quantidade. Ele defende, por exemplo, uma relação mais atenta com a comida, com a natureza e com as pessoas ao redor. O objetivo é reduzir o estresse, melhorar a qualidade de vida e promover bem-estar físico e mental.

“O pilar desse movimento é a conexão com o presente, ou seja, estar atento ao momento, praticando a atenção plena em atividades diárias como comer, caminhar ou conversar. Ele também é focado na sustentabilidade, priorizando práticas que respeitem o meio ambiente e promovam um equilíbrio entre o uso dos recursos naturais e o bem-estar humano. Preza pela simplicidade com foco em reduzir a complexidade e o excesso na vida, e por fim o respeito pelo ritmo natural: entender que tudo tem seu tempo e respeitar os ritmos individuais, sejam eles físicos, emocionais ou sociais”, explica Liam Erelim escritor, educador e fundador do movimento Educação Consciencial.

Dentre as vertentes do Movimento Slow, destacam-se:

•        Slow Food: valoriza a alimentação caseira, ingredientes naturais e o prazer de comer sem pressa.

•        Slow Living: incentiva um cotidiano mais tranquilo, com menos consumo excessivo e mais conexão com o presente.

•        Slow Work: busca reduzir o excesso de trabalho, promovendo produtividade sem exaustão.

•        Slow Travel: preza por viagens mais imersivas, onde a experiência e a cultura local são priorizadas.

<><> Benefícios para a saúde

A adesão a um estilo de vida mais desacelerado e priorizando a qualidade de cada pequeno momento tem impactos positivos na saúde. Isso porque o estresse crônico, comum em rotinas aceleradas, está associado a doenças cardiovasculares, ansiedade e problemas gastrointestinais.

Assim, reduzir a velocidade do dia a dia pode ajudar a diminuir os níveis de estresse e ansiedade, melhorar a qualidade do sono, da alimentação, e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida num todo.

“Diminuir a velocidade ajuda na redução dos níveis de cortisol, conhecido como o hormônio do estresse, gerando uma sensação de equilíbrio e tranquilidade. Essa desaceleração também favorece o ato de saborear experiências simples, como uma refeição ou um momento de lazer, intensificando emoções positivas e promovendo um maior senso de bem-estar”, acrescenta Rodrigo de Aquino, especialista em felicidade, bem-estar e desenvolvimento humano.

Além disso, ao adotar um ritmo mais calmo, o corpo tem mais tempo para se regenerar e a mente, para se organizar. A desaceleração também promove uma maior conexão com as emoções e necessidades internas, contribuindo para uma vida mais equilibrada e significativa. Práticas como dormir melhor, comer sem pressa e reservar tempo para o lazer são cientificamente comprovadas para melhorar a saúde física e mental.

“É fundamental não se comparar também. Existem pessoas que só são mentalmente saudáveis quando estão fazendo muitas coisas ao mesmo tempo. Mas cada um é cada um. Adapte-se de acordo com quem você é! Cada um reage de uma maneira frente a situações diversas. É importante se conhecer”, acrescenta Erelim.

Como aderir ao Movimento Slow

Adotar um estilo de vida mais calmo não significa abandonar responsabilidades, mas sim encontrar equilíbrio. Algumas práticas simples podem ajudar. São elas:

1.       Evitar a multitarefa e focar em uma atividade por vez;

2.       Praticar a alimentação consciente, sem distrações;

3.       Priorizar momentos de lazer e descanso;

4.       Limitar o uso excessivo de telas;

5.       Incorporar pausas ao longo do dia.

“Comece com refeições conscientes, reservando tempo para preparar e apreciar cada refeição sem distrações, observando texturas, sabores e cheiros. Reduza a multitarefa, concentrando-se em uma atividade por vez, seja uma conversa, um trabalho ou um hobby. Desconectar-se do digital também é fundamental. Além disso, cultivar o hábito de apreciar a beleza ao seu redor, observando detalhes simples como a natureza ou a arquitetura, pode trazer uma sensação renovada de bem-estar. Por fim, adotar práticas diárias de meditação, respiração consciente ou mindfulness, ajuda a fortalecer a presença e a atenção plena no presente”, detalha Aquino.

•        Café, doce e vinho podem reduzir risco de síndrome metabólica em 23%

Uma dieta rica em alimentos como uva, morango, açaí, laranja, chocolate, vinho e café pode reduzir em até 23% o risco de síndrome metabólica – conjunto de alterações hormonais e no metabolismo que eleva o risco de o indivíduo desenvolver doenças cardiovasculares.

Isso foi comprovado por um estudo realizado com mais de 6 mil brasileiros, o maior do mundo a associar os efeitos do consumo de polifenóis – compostos bioativos conhecidos por sua ação antioxidante e anti-inflamatória – na proteção de problemas cardiometabólicos. Os resultados foram divulgados no Journal of Nutrition.

“Trata-se de uma boa notícia para quem gosta de frutas, chocolate, café e vinho, alimentos ricos nesses compostos. Embora a relação entre o consumo de polifenóis e a redução do risco de síndrome metabólica já ter sido identificada em estudos anteriores, ela nunca havia sido verificada em uma população tão grande [6.378 indivíduos] e ao longo de tanto tempo [oito anos]. Com o resultado da nossa pesquisa, não restam dúvidas: a promoção de dietas ricas em polifenóis pode ser uma estratégia valiosa para reduzir o risco cardiometabólico na população e prevenir a síndrome metabólica”, afirma Isabela Benseñor, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) e coautora do artigo.

O trabalho integra o Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), que monitora a saúde de 15 mil funcionários públicos de seis universidades e centros de pesquisa do país desde 2008. A iniciativa conta com financiamento do Ministério da Saúde e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A análise dos dados para o artigo foi feita na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, durante o pós-doutorado de Renata Carnaúba, no âmbito do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da Fapesp.

Entre os 6.378 participantes analisados, 2.031 desenvolveram a síndrome metabólica. A condição é caracterizada pela combinação de pressão alta, obesidade abdominal, níveis sanguíneos elevados de açúcar (hiperglicemia), de triglicerídeos e de colesterol (dislipidemia). Geralmente, o diagnóstico é dado quando o indivíduo apresenta pelo menos três desses cinco fatores.

A prevalência da síndrome metabólica está aumentando em proporções epidêmicas em todo o mundo. No Brasil, saltou de 29,6% em 2013 para 33% em 2022, apontam pesquisas previamente publicadas.

“Pretendemos nos aprofundar, em futuros estudos, no papel dos polifenóis na proteção contra doenças cardiometabólicas. O que se sabe até agora são questões relacionadas ao poder anti-inflamatório e antioxidante desses compostos, além de uma possível influência positiva na microbiota intestinal”, destaca Benseñor, que coordena o ELSA-Brasil.

<><> Variedade de alimentos

Existem mais de oito mil tipos de polifenóis já identificados na natureza, sendo que os mais conhecidos e estudados são os ácidos fenólicos (presentes no café e no vinho), os flavonoides (frutas de forma geral, feijão e chocolate), as lignanas (sementes e laranja) e os estilbenos (uva roxa e vinho tinto).

Para identificar quais substâncias os participantes da pesquisa consumiam regularmente, foram aplicados questionários. Verificou-se a frequência da ingestão de 92 alimentos ricos em diferentes classes de polifenóis. Os efeitos de diferentes métodos de cozimento e processamento foram levados em consideração para permitir medições precisas da ingestão desses compostos bioativos.

Com base nessa análise, concluiu-se que um consumo elevado de polifenóis totais (469 miligramas por dia), proveniente de diferentes alimentos, diminuiu em 23% o risco de os indivíduos desenvolverem a síndrome metabólica, em comparação com aqueles que apresentaram um consumo mais baixo (177 mg/d). Uma redução similar do risco foi encontrada para o consumo de ácidos fenólicos, uma classe específica de polifenol abundante no café, vinho tinto e nos chás.

Carnaúba explica que a quantidade de polifenóis associada à redução do risco de síndrome metabólica é referente ao valor total de consumo do composto, que é obtida a partir da ingestão de diversos alimentos. “A variedade alimentar importa, pois uma das justificativas para os efeitos benéficos dos polifenóis na saúde é a sua capacidade de modular a microbiota intestinal. Esse processo pode estimular o crescimento de bactérias benéficas, conhecidas como probióticas. Porém, quanto mais diversa for a alimentação e mais variadas forem as fontes de polifenóis na dieta, melhor é o efeito na microbiota intestinal e, consequentemente, na saúde do indivíduo”, pontua.

De acordo com as análises, o consumo mais elevado de flavan3ol, uma subclasse de flavonoide, esteve associado com um risco 20% menor de desenvolver síndrome metabólica. Na população estudada, o consumo de flavan3ol se deu principalmente a partir do vinho tinto, que, sozinho, contribuiu com quase 80% da ingestão total deste composto. O chocolate também foi um contribuinte importante, já que determinou 10% do consumo de flavanol nesta população.

O estudo também analisou o impacto dos polifenóis em outras questões cardiometabólicas relacionadas à síndrome metabólica, como hipertensão, resistência à insulina e triglicérides aumentados, por exemplo.

“Os resultados mostraram que os efeitos dessas substâncias no metabolismo e nas questões cardíacas não são poucos. Independentemente de diversos fatores de risco para a doença, como sexo, idade, tabagismo e atividade física, aqueles que ingeriram mais polifenóis tiveram até 30 vezes menos chance de desenvolver pressão arterial elevada, 30 vezes menos chance de apresentar resistência à insulina e 17 vezes menos chance de ter triglicerídeos aumentados”, relata Carnaúba.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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