Luís
Nassif: O Brasil e o último baile da ilha fiscal
Três
escândalos superpostos – dos descontos nas aposentadorias, do crédito
consignado de aposentados e do Banco Master -, todos ligados à corrupção do
INSS, mostram a realidade terrível: o Estado brasileiro foi definitivamente
capturado por organizações predatórias instaladas em todos os poderes.
É um
escândalo multipartidário. Depois de se apossar das estatais, das licitações, o
crime politicamente organizado avançou sobre a última cidadela da cidadania: a
poupança popular, de aposentados, beneficiários do Bolsa Família e do BPC
(Benefício de Prestação Continuada) e, agora, de empregados de empresas
privadas, sufocados pelas dívidas para compensar o vício das bets.
Vamos a
uma cronologia, com o auxilio da IA:
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2023 – Início das denúncias isoladas
- Janeiro–Abril:
- Reclamações
aumentam no Consumidor.gov e Procon de diversos estados (SP, PE, MA, PI).
- Idosos relatam
descontos misteriosos em seus benefícios.
- Bancos e
entidades terceirizadas começam a ser notificados.
- Julho:
- O governo Lula
anuncia intenção de reduzir a taxa de juros do consignado e
revisar convênios com associações.
- Bancos reagem
com lobby e ameaças de sair do mercado de consignado do INSS.
📅 2024 – Alerta
vermelho e auditorias
- Fevereiro:
- CGU inicia
auditoria interna no INSS e na Dataprev, após denúncias de
servidores sobre autorizações falsas.
- Abril:
- Governo proíbe temporariamente
novos contratos de consignado para beneficiários do BPC e do Auxílio
Brasil.
- Descobre-se
que mais de 1 milhão de segurados têm contratos ativos sem
consentimento confirmado.
- Agosto:
- Associações
como ANAPB e ABPP são apontadas em relatório da CGU
por cobranças indevidas e convênios “não supervisionados”.
- Banco
Master e outras instituições são citadas indiretamente
por operar carteiras originadas via essas entidades.
- Dezembro:
- Denúncias
indicam que funcionários da Caixa Econômica foram
afastados após barrar ou questionar operações com a carteira do
Banco Master.
- Aparece o nome
de assessores políticos ligados ao centrão, especialmente de estados
do Norte e Nordeste.
📅 2025 – A crise
explode
- Março:
- INSS e CGU
finalizam levantamento mostrando que R$ 6,3 bilhões foram
desviados em fraudes com consignado via associações.
- 4 de Abril –
OPERAÇÃO SEM DESCONTO (PF + CGU + INSS):
- Deflagrada
em DF, SP, MG, PI e BA.
- Mandados de
busca e apreensão contra associações como ANAPB, ABPP e
ASPBRASIL.
- Servidores
da Dataprev e intermediários financeiros são alvos de medidas
cautelares.
- Descobertas
contas bancárias com movimentações milionárias ligadas a entidades
fantasmas.
- Abril – Maio:
- Governo suspende
todos os descontos em folha para associações.
- Bancos são notificados
a comprovar legalidade de carteiras adquiridas.
- Banco
BRB é questionado sobre intenção de comprar carteira do
Master — operação congelada.
- TCU inicia
apuração sobre omissões de controle por parte de seus próprios
auditores.
- Maio:
- Governo Lula
apresenta proposta de reforma legal do consignado, incluindo:
- Obrigatoriedade
de biometria para novos contratos.
- Revalidação
anual de autorizações.
- Proibição de
desconto por entidades sem vínculo direto comprovado com o segurado.
Por
trás dessa esbórnia, surgem bancos, fintechs, apoiadas em políticos de todos os
partidos. E, atrás deles, uma miríade de associações apadrinhadas por
políticos.
💸 Como funcionava o
esquema (segundo PF e CGU):
- Associações
firmavam convênios com Dataprev ou INSS para “representar”
beneficiários.
- Obtinham acesso
a dados de segurados e inseriam descontos em folha, muitas
vezes sem autorização.
- Usavam esses
descontos como “porta de entrada” para oferta de crédito
consignado com bancos e financeiras.
- Repassavam parte
da comissão a políticos, lobistas ou servidores que facilitavam os
convênios.
- Beneficiários descobriam
o empréstimo apenas após o desconto começar — muitos sem saber que
haviam autorizado.
E,
dando retaguarda a tudo, deputados de todos os partidos. Os diretamente ligados
ao Centrão – e ao bolsonarismo – atuando sem limites, através de bancos
públicos, Caixa Econômica Federal e Banco de Brasilia. Os ligados a partidos de
esquerda abrindo espaço para que confederações conseguissem recursos que
compensassem o desmonte comandado pelo Supremo Tribunal Federal.
Até
agora apareceram apenas os escândalos dos descontos em folha. Pior que isso, é
o crédito consignado de aposentados. Fintechs sabiam quem ia se aposentar e,
através de representantes espalhados por todo o país, entravam em contato e
convenciam as vítimas a pegar o crédito consignado. A vítima aderia, como
aderem hoje, todas as vítimas de bets espalhadas pelo país.
A Caixa
Econômica Federal foi alvo de um golpe que, fosse outro o responsável,
receberia repercussão contínua da mídia.
O
presidente – indicado pelo todo poderoso Artur Lira – indicou o responsável
pela Asset Caixa, que se dispôs a adquirir carteiras do Banco Master que, por
sua vez, é apadrinhado pelo Senador Ciro Nogueira. Dois funcionários honestos
recusaram a operação. Foram afastados. E ficou por isso mesmo. Um dos
apadrinhados para a Asset é sócio de Lira em negócios em Alagoas. Os dois
funcionários que cumpriram seu dever se perderam no anonimato.
O mesmo
Ciro Nogueira propôs o aumento do Fundo Garantidor de Crédito para bancar as
peripécias do Banco Master. De repente, tornou-se defensor do ajuste fiscal,
propondo aumento de tributação dos grandes bancos – mas apenas porque resistiam
ao aumento do FGC. Foi também padrinho da compra do Master pelo BRB do Governo
do Distrito Federal.
Não
sobrou um poder. No Tribunal de Contas da União, as investigações esbarraram no
conselheiro Aroldo Cedraz. Na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), os
processos do Master estão parados desde o ano passado. No Banco Central, a
intervenção do ex-presidente Roberto Campos permitiu mais um ano de esperneio
do Master, aumentando exponencialmente o tamanho do rombo.
Veja o
mapa abaixo.
O poder
das bets completa esse quadro dantesco de apropriação da poupança popular. Hoje
em dia, segundo dados do Banco Central, metade da renda do brasileiro é
comprometida com endividamento, uma bomba que vai estourar em um ponto qualquer
no futuro.
A
extensão dos consignados a trabalhadores de empresas privadas completará o
ciclo: endividam-se com as bets, pegam o crédito consignado para apagar o
incêndio, e por 6, 7 anos, comprometerão sua renda com o consignado.
À
medida que esses escândalos vão explodindo, fica claro a falta de defesas do
Estado brasileiro. O suicídio institucional da década de 2010, a brincadeira de
derrubar presidentes, que teve a participação de todo o sistema de controle –
STF, PF, MPF, Lava Jato, imprensa e o escambau – levou a isto: um país
capturado na base pelo crime organizado e no topo pelo sistema político.
Estamos
em um clima de fim de baile, onde todo o pudor foi recolhido, com Ministros do
Supremo indo aos últimos bailes da Ilha Fiscal, em conferências suspeitas,
bancadas por patrocinadores suspeitos, para se encontrar com empresários
suspeitos em lugares selecionados, sem se dar conta da gravidade do momento e
de sua responsabilidade em defesa da democracia.
Esse
quadro provocará o crescimento exponencial do sentimento de revolta da
população que, em algum ponto do futuro, explodirá em nova onda moralista, que
será devidamente apropriada por aventureiros como os da Lava Jato, para também
tirar seu quinhão.
Acordem!
Haverá um aventureiro que explodirá em um ponto qualquer do futuro, conduzido
pelo clamor popular.
¨ O escândalo do Banco
Master e do INSS vai escalar
Está
ficando mais clara a extensão do escândalo do INSS. Estoura no exato momento em
que o Banco Master entra na linha de fogo.
O Banco
Master tem uma atuação significativa no segmento de crédito consignado,
oferecendo produtos como o M Fácil Consignado, com agilidade na liberação de
crédito com taxas de juros e condições atrativas. Essa modalidade de empréstimo
é vantajosa em relação a outras linhas de crédito, sendo uma das principais
frentes de atuação do banco.
Além
disso, o Banco Master expandiu sua atuação com a aquisição do Will Bank,
um banco digital com mais de 6 milhões de clientes, principalmente nas classes
C e D. Essa estratégia reforça o foco do banco em oferecer soluções financeiras
acessíveis e inovadoras para um público mais amplo.
Com o
BRB, o principal ativo estratégico do Master são as operações de crédito
consignado, o Credcesta.
A venda
de R$ 8 bilhões em ativos adquiridos pelo BRB continham parte do crédito
consignado do Banco Master. Nos próximos dias, o escândalo do consignado virá
se somar ao dos descontos na aposentadoria.
Saliente-se
que um dos políticos mais citados, nas ligações com o Master, é o senador Ciro Nogueira, presidente
do Partido Progressista (PP).
As
implicações políticas do escândalo passam também pelos precatórios e envolvem o
ex-presidente do Banco Central Roberto Campos Neto, Segundo informações divulgadas pela
coluna Lauro Jardim,
o Fundo Garantidor de Crédito enviou mais de 30 alertas para o Banco Central,
quando ainda estava sob o comando de Campos Neto.
Fonte: Jornal GGN

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