sábado, 17 de maio de 2025

Lira e Rueda negociaram gado enquanto articulavam federação de PP e União Brasil

O deputado federal Arthur Lira (PP-AL) transferiu 120 bezerros da raça Nelore para o presidente do União Brasil, Antonio Rueda, em dezembro de 2022. É o que mostra levantamento da Agência Pública a partir de Guias de Transferência Animal (GTAs) emitidas pelo governo de Pernambuco. Considerando o valor médio dos animais naquele ano, a operação entre eles pode ter ultrapassado R$ 320 mil.

O negócio ocorreu quando Lira ainda presidia a Câmara dos Deputados e Rueda ocupava a vice-presidência do partido. Era ano eleitoral, e o União Brasil fez aliança com o PP em Alagoas. Também foi o período em que eles iniciaram as articulações para formar a federação entre os dois partidos, a União Progressista Brasileira (UPB), oficializada em 29 de abril de 2025.

Um jantar em um luxuoso restaurante à beira-mar em Barra de São Miguel (AL), em 30 de setembro de 2022, marcou o início das conversas entre Lira e Rueda sobre a federação. “Em tratativas”, disseram eles à repórter Andréia Sadi, que revelou em sua coluna no portal G1 o encontro para discutir “a formação da superbancada na Câmara”.

<><> Por que isso importa?

  • Ex-presidente da Câmara, Arthur Lira, promoveu leilões e negociou gado com importantes figuras da política, aos quais prestou apoio ou firmou parcerias que podem influenciar a dinâmica do Congresso – entre elas Antônio Rueda, com quem firmou a federação UPB, hoje maior grupo partidário na Câmara

Em nota, Rueda afirmou que a transação foi “uma operação comercial legítima, realizada entre dois produtores rurais, com base nos critérios normais do mercado” e “sem qualquer relação com temas eleitorais ou articulações partidárias”. “É fundamental distinguir o que diz respeito à esfera privada de eventuais interpretações políticas, que, neste caso, não se aplicam e não encontram respaldo nos fatos”, ressaltou. Lira não respondeu os questionamentos da Pública.

<><> Lira negocia cifras milionárias de gado com clientela selecionada

A transação das 120 cabeças de gado com o dirigente do União Brasil envolveu três fazendas de Arthur Lira: a Pantaneiro, em Panelas (PE), a Nossa Senhora da Conceição, em Campo Grande (AL) e Santa Maria, em São Sebastião (AL) – a única das três que consta na declaração de bens de Lira entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Os animais foram transportados nos dias 21 e 26 de dezembro de 2022 para a Engenho Tambor, em Timbaúba (PE), de Antonio Rueda. As informações constam nas GTAs – exigidas por lei para movimentações de gado, mesmo entre propriedades do mesmo dono – da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária do Estado de Pernambuco (Adagro/PE).

Em fevereiro, a Pública mostrou que um ano antes de anunciar apoio a Hugo Motta (Republicanos-PB) para sucedê-lo na presidência da Câmara, Lira e o pai, Benedito de Lira (falecido em janeiro), venderam outras 88 cabeças de gado à empresa do parlamentar, a Agropecuária Tapuio.

Os documentos mostram ainda que de janeiro de 2021 a janeiro de 2025, período em que esteve à frente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira movimentou 1924 animais, seja entre suas fazendas, ou de outros proprietários.

Desde 2022, o ex-presidente da Câmara promove leilões de animais criados em suas fazendas que atrai empresários e políticos. O primeiro leilão da Agropecuária Lira foi realizado em 23 de outubro de 2022, dois meses antes da transação com Rueda – e a uma semana da eleição. Os lances para compra de vacas e touros foram transmitidos no YouTube, variando de R$ 19,5 mil a R$ 63 mil por boi e renderam cerca de R$ 1,6 milhão ao deputado. Quem deu mais lances na ocasião foi o então deputado federal André Fufuca (PP/MA), no ano seguinte nomeado ministro dos Esportes.

Desde 2006, o deputado não declara à Justiça Eleitoral o número de animais que possui, embora seja conhecido como grande criador da raça Nelore, com touros de superioridade genética.

<><> UPB: Parceria entre partidos já existia em Alagoas, reduto de Lira

Com validade de quatro anos, a União Progressista Brasileira passou a representar cerca de 20% do total de parlamentares no Congresso – 109 deputados e 14 senadores – maior bancada partidária do país.

A Pública apurou que o plano de aliança, inicialmente previsto para depois das eleições de 2022, foi adiado devido à resistência do então presidente do União Brasil, Luciano Bivar, que se opunha à junção das siglas. No ano seguinte, a situação interna do partido se agravou com uma disputa entre Bivar e Rueda, o que resultou em uma crise dentro da legenda.

A federação entre o União Brasil e o PP também enfrentou resistência em alguns estados, onde correligionários de ambas as legendas se mostraram insatisfeitos, especialmente em regiões onde eram adversários políticos.

Em Alagoas, entretanto, a parceria já existia há mais de dois anos. O diretório do União Brasil no estado, desde abril de 2023, é presidido por Luciano Cavalcante, que foi assessor da liderança do PP na Câmara dos Deputados e é conhecido como “homem de confiança” de Lira.

Cavalcante foi alvo da Operação Hefesto, da Polícia Federal (PF), desencadeada em junho de 2023 para investigar um suposto esquema de desvio de dinheiro público na compra de kits de robótica. O inquérito foi arquivado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, sob o argumento de que houve “usurpação de competência” do STF, após a PF ter encontrado indícios de suposta participação de Lira no esquema.

Em meio ao escândalo, Cavalcante foi exonerado do gabinete da liderança do PP na Câmara, mas se manteve na presidência do União Brasil em Alagoas. Outros dirigentes da legenda no estado foram indicados por Lira. O segundo vice-presidente do partido, Otávio Leite, é sócio do ex-presidente da Câmara na AF Promoções Artísticas e Eventos, empresa com sede registrada no Parque Arthur Filho – onde Lira promove vaquejadas. O terceiro vice-presidente, Irisvaldo Macena, está lotado como secretário parlamentar no gabinete de Lira na Câmara desde 2016, com salário de R$ 6,8 mil.

Eles mantêm cavalos nas terras de Lira, conforme mostrou a Pública. O deputado federal é dono de ao menos sete fazendas, sendo duas em Pernambuco e cinco em Alagoas, de acordo com sua declaração à Justiça Eleitoral em 2022 e de informações que vieram à público em reportagem do Congresso em Foco.

¨      Insatisfeito com PL, Eduardo Bolsonaro flerta com PP para 2026

Filho 03 de Jair Bolsonaro, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (SP) está incomodado com o que considera falta de apoio de seu partido, o PL, durante seu autoexílio nos Estados Unidos.

Segundo pessoas próximas, Eduardo tem reclamado que a direção do PL não ofereceu até agora qualquer ajuda financeira. Durante a licença do mandato, o deputado federal não está recebendo salário da Câmara.

Aliados dizem que Eduardo está se bancando nos Estados Unidos com recursos de suas economias e com a ajuda do pai. O ex-presidente estaria destinando ao filho parte dos recursos que recebe de doações de apoiadores via Pix.

<><> Eduardo Bolsonaro flerta com PP

Insatisfeito com o PL, Eduardo Bolsonaro passou a flertar com o PP. Na quarta-feira (14/5), ele se reuniu em Washington, nos Estados Unidos, com o deputado federal Maurício Neves, atual presidente estadual do PP em São Paulo.

O encontro ocorreu dias após Eduardo se reunir com o senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP. O deputado, como noticiou a coluna, fez um bate-volta a Nova York no sábado (10/5) só para almoçar com Ciro.

A aliados Eduardo não descartou a troca do PL pelo PP para concorrer ao Senado ou até a Presidência. O deputado tem dito que o cargo será decidido em acordo com seu pai, Jair Bolsonaro, que, por ora, segue inelegível em 2026.

De acordo com pessoas próximas, Eduardo tem ressaltado que seu voto é “de opinião”. Nesse cenário, a avaliação do filho 03 de Jair Bolsonaro é a de que o partido pelo qual disputará a eleição teria importância secundária.

<><> Eduardo Bolsonaro: “Só volto para Brasil quando Moraes for sancionado”

Autoexilado nos Estados Unidos desde fevereiro, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nega já ter uma data certa para voltar ao Brasil.

À coluna, o filho 03 de Jair Bolsonaro afirmou que só pretende retornar quando alcançar seus objetivos em relação ao ministro do STF Alexandre de Moraes.

Eduardo diz se manter no exterior com recursos de suas economias e com a ajuda do pai. Segundo ele, Bolsonaro repassa parte das doações que recebe de apoiadores.

O deputado licenciado, inclusive, tem reclamado, nos bastidores, da falta de ajuda financeira do PL. Por esse motivo, passou a flertar com o PP, como revelou a coluna.

O parlamentar diz que seguirá nos Estados Unidos mesmo que precise prorrogar por mais um tempo sua licença na Câmara. O prazo inicial se encerra em julho.

¨      Valdemar reage a reclamações de Eduardo Bolsonaro sobre o PL

O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, reagiu às reclamações sobre o partido feitas pelo deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (SP), que é filiado à legenda.

Eduardo, como revelou a coluna, tem reclamado que o PL não está o ajudando financeiramente durante seu período de autoexílio nos Estados Unidos, mesmo tendo um fundo eleitoral robusto.

O deputado tem dito que está se bancando no exterior com recursos de suas economias e com ajuda de Jair Bolsonaro, que tem destinado ao filho parte das doações que recebe de apoiadores via Pix.

À coluna, Valdemar contou que tentou organizar uma cota entre deputados do PL para ajudar Eduardo. A ideia era que cada um doasse R$ 500. Bolsonaro, contudo, não teria aceitado.

“Ele tem que falar com o pai. Eu quis fazer uma arrecadação mensal para suprir o salário dele, e o Bolsonaro disse que mandaria o dinheiro para ele”, disse Valdemar à coluna.

¨      Nikolas Ferreira rejeita proposta de Valdemar para eleição de 2026

O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) rejeitou proposta defendida pelo presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, para que mude seu domicílio eleitoral para São Paulo nas eleições de 2026.

Em conversa com a coluna, Nikolas afirmou que “nunca houve essa conversa” com o PL. O parlamentar bolsonarista reforçou que pretende continuar saindo candidato por Minas Gerais.

“Agradeço o carinho do povo paulista comigo, mas reafirmo com clareza: meu coração, minha missão e meu compromisso permanecem firmes com Minas Gerais”, disse Nikolas.

“Foi o povo mineiro que me confiou essa honrosa missão de representá-los em Brasília, e é por eles que continuo lutando diariamente. Amo esta terra, sua história, sua gente, e não há projeto pessoal ou político que me faça abandonar esse chamado”, emendou.

Conforme revelado pelo jornal Folha de S. Paulo e confirmado pela coluna, Valdemar quer Nikolas como candidato a deputado federal por São Paulo em 2026, para atuar como puxador de votos no estado.

O motivo seriam os desfalques dos deputados do PL Eduardo Bolsonaro, que deve ser candidato ao Senado, e Carla Zambelli, que está inelegível após ser condenada em ação no STF.

¨      Mirando STF, bolsonaristas criam grupo com parlamentares de extrema direita americanos

Enquanto o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e outros caciques do Centrão se reuniam para eventos em Nova York, deputados bolsonaristas estiveram em Washington articulando novas ações para pressionar o STF.

Capitaneada pelo deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está em autoexílio nos EUA, a ação culminou, por exemplo, ma criação de um “grupo de trabalho” entre os bolsonaristas da Câmara e republicanos do Congresso americano.

O acerto foi feito pelo deputado Cory Mills, presidente do sub-comitê de inteligência das relações internacionais do Congresso americano, com o deputado Filipe Barros (PL-PR), atual presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.

“Combinamos de criar um grupo de trabalho que trocará informações importantes sobre a democracia brasileira e possíveis interferências no nosso processo eleitoral”, disse Barros.

<><> Eduardo com Centrão

Além de organizar os encontros de bolsonaristas com lideranças da direita americana, Eduardo Bolsonaro esteve em Nova York, onde conversou com caciques do Centrão durante um almoço no sábado (10/5), conforme revelou a coluna.

Nas conversas com o Centrão, o filho “03” de Jair Bolsonaro expressou insatisfação com o PL, seu atual partido. Incomodado, Eduardo iniciou conversas com lideranças do PP para uma troca de partido em 2026, como antecipou a coluna.

 

Fonte: Por Alice Maciel, da Agencia Pública/Metrópoles

 

 

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