Inteligência alemã classifica AfD como
extremista de direita que ameaça a democracia
A
agência de inteligência interna da Alemanha classificou nesta sexta-feira
(02/05) a sigla de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) como uma
"organização comprovadamente extremista de direita" que ameaça a
democracia.
Segundo
o Departamento Federal de Proteção
da Constituição (BfV),
o partido viola a dignidade humana e a democracia ao tentar excluir
grupos populacionais, como imigrantes, da participação igualitária na
sociedade.
A
medida permite à agência monitorar de forma mais incisiva o partido que
ficou em segundo lugar nas eleições federais de fevereiro, incluindo
grampos telefônicos, acompanhamento de reuniões e recrutamento de informantes.
Algumas
alas da AfD, como seu braço jovem e três
diretórios regionais do partido, já haviam sido classificadas como
extremistas.
Já as
ações da sigla como um todo eram analisadas desde 2019 pelo BfV – à época,
o rótulo se limitava a um "caso de interesse". Com isso, a agência de
inteligência interna só tinha permissão para coletar e avaliar declarações
públicas de dirigentes do AfD.
Em
2021, o órgão atualizou sua análise e passou a tomar a sigla como
"suspeita de extremismo". Essa classificação mais rígida permite que
as autoridades usem métodos confidenciais para monitorar o partido e seus
membros. O entendimento foi confirmado em dois
tribunais alemães após
o partido entrar com ações judiciais contestando o rótulo.
Os
co-líderes da AfD, Alice Weidel e Tino Chrupalla, divulgaram uma nota
criticando a decisão do BfV, descrita por eles como um "duro golpe"
contra a democracia.
"A
AfD, como partido de oposição, está agora sendo publicamente desacreditada e
criminalizada", afirmaram. Weidel e Chrupalla prometeram contestar
judicialmente a decisão, que eles consideram "de clara motivação
política".
<><> Ameaça à democracia
Segundo o BfV, há evidências concretas de que
o partido anti-imigração fundado em 2013 visa atentar contra a ordem
democrática da Alemanha.
"O entendimento predominante do partido
sobre as pessoas com base em etnia e descendência é incompatível com a ordem
democrática livre", disse a agência.
As declarações e posições do partido e dos
principais representantes da AfD violam o princípio constitucional da
inviolabilidade da dignidade humana, afirmaram os vice-presidentes da agência,
Sinan Selen e Silke Willems.
Segundo o órgão, o objetivo da legenda é
"excluir determinados grupos populacionais da participação igualitária na
sociedade, submetê-los a um tratamento que viola a Constituição e, assim, lhes
atribuir um status subordinado".
A AfD não considera os cidadãos alemães de
origem imigrante de países predominantemente muçulmanos como membros iguais do
povo alemão, acrescentou o BfV. Tal abordagem, diz o órgão, desperta "medo
irracional e hostilidades" contra estes grupos.
Em uma declaração separada, a ministra do
Interior da Alemanha, Nancy Faeser, que está deixando o cargo, disse que o
partido faz uma campanha aberta contra a ordem democrática.
"A AfD representa um conceito étnico que
discrimina grupos populacionais inteiros e trata os cidadãos com histórico de
migração como alemães de segunda classe", disse em um comunicado.
A categoria de "extremista"
atribuída pelo BfV não pressupõe a proibição de partidos políticos,
que só pode ser solicitada ao Tribunal Constitucional por uma das câmaras do
parlamento alemão ou pelo próprio governo.
<><> Partido anti-imigração
A AfD
vem resistindo ao monitoramento do BfV e tentado impedir que sua classificação
se torne pública.
Nos
últimos anos, lideranças do partido geraram controversas ao relativizar o
nazismo ou afirmar que Adolf Hitler foi "forçado" a invadir a
Polônia.
A sigla
também acumula manifestações anti-imigração e, em seu programa partidário, vê "a
ideologia do multiculturalismo como uma séria ameaça à paz social e à
existência contínua da nação como uma entidade cultural".
Um dos
líderes mais expressivos da AfD, Björn Höcke,
foi multado por usar um slogan nazista
proibido em um comício de campanha no ano passado.
<><> Segunda maior força política
Após
uma campanha eleitoral dominada por temas como imigração e crise econômica, a
AfD se firmou como a segunda maior força do Parlamento
Alemão (Bundestag) nas eleições federais antecipadas ocorridas em fevereiro
passado.
No
pleito, o partido quase dobrou sua votação em relação à votação de 2021,
obtendo 20,8% dos votos, segundo a contagem final. São dez pontos
percentuais a mais do que na eleição anterior.
Além de
crescer, a AfD também ultrapassou legendas tradicionais como o Partido Social-Democrata (SPD) e os Verdes, as duas siglas que
compõem o atual governo de coalizão liderado pelo chanceler federal Olaf Scholz, que sofre com impopularidade.
Os
ultradireitistas ficaram apenas atrás da União Democrata-Cristã (CDU), a legenda chefiada
pelo deputado Friedrich Merz, que deve liderar o
próximo governo.
Após
a eleição de fevereiro, o partido reabilitou em suas fileiras políticos
que tinham sido colocados à margem devido a
comentários relativizando o nazismo. O bilionário Elon Musk fez campanha para
o partido, dizendo que era o único que poderia "salvar a
Alemanha".
¨
Alemanha reage as
críticas do governo Trump critica vigilância contra AfD
O
Ministério do Exterior alemão tomou na madrugada desta sexta-feira (02/05)
a medida incomum de rebater diretamente o secretário de Estado americano,
Marco Rubio, depois que o americano acusou a Alemanha de ser uma
"tirania disfarçada" após agência de inteligência
interna alemã classificar o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD)
como "organização extremista de
direita".
A
disputa também envolveu o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, e o bilionário
da tecnologia Elon Musk. A rusga ocorre em momento complicado para a
Alemanha, poucos dias antes do 80º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial e da
capitulação incondicional da Alemanha nazista e também a poucos dias da
posse do novo governo alemão.
"A
Alemanha acaba de dar à sua agência de espionagem novos poderes para vigiar a
oposição. Isso não é democracia – é tirania disfarçada", escreveu Rubio.
"O que é verdadeiramente extremista não é a popular AfD – que
ficou em segundo lugar nas eleições recentes –, mas sim as políticas
letais de imigração de fronteiras abertas do establishment, às
quais a AfD se opõe. A Alemanha deveria reverter o rumo."
<><>
Resposta de Berlim
"Isto
é democracia. Esta decisão é o resultado de uma investigação completa e
independente para proteger nossa Constituição e o Estado de direito",
respondeu no X a conta em inglês do Ministério do Exterior da Alemanha à
mensagem de Rubio.
"Tribunais
independentes terão a palavra final. Aprendemos com a nossa história que o
extremismo de extrema direita precisa ser contido", enfatizou a pasta, que
foi dirigida durante o último mandato pela líder do Partido Verde, Annalena
Baerbock, que entregará o cargo ao conservador Johann Wadephul na próxima
semana.
Vance,
por sua vez, fez referência à Guerra Fria em sua publicação no X. "A AfD é
o partido mais popular na Alemanha e, de longe, o mais representativo na
Alemanha Oriental. Agora, os burocratas tentam destruí-lo", escreveu o
vice do presidente americano, Donald Trump. "O Ocidente derrubou,
unido, o Muro de Berlim. E ele foi reconstruído – não pelos soviéticos ou
russos, mas pelo
establishment alemão", concluiu Vance, que em fevereiro
se encontrou desafiadoramente em Munique com a líder da AfD Alice
Weidel.
Musk,
dono do X, aliado e assessor de Trump, republicou os comentários de Vance
e ironizou: "O destino ama ironia".
Durante
a campanha eleitoral, o bilionário da tecnologia apoiou abertamente a AfD, afirmando que só a
sigla poderia "salvar a Alemanha". Musk participou de um dos comícios
da legenda através de chamada de vídeo e de uma live com Weidel em sua
plataforma X.
<><> Tentativas de "minar
ordem democrática"
O Departamento Federal de Proteção da
Constituição (BfV) –
que já havia classificado várias seções estaduais da AfD como extremistas
de direita – afirmou ter agido contra o partido a nível federal
devido às suas tentativas de "minar a ordem livre e democrática" na
Alemanha.
A
classificação concede às autoridades maiores poderes para monitorar o partido,
reduzindo as barreiras para medidas como interceptação de chamadas telefônicas
ou infiltração de informantes.
A AfD
criticou a medida como um "golpe duro" para a democracia, poucos
meses depois de ter ficado em segundo lugar na eleição
federal em fevereiro. A legenda prometeu entrar com recurso judicial.
Os
colíderes da AfD, Alice Weidel e Tino Chrupalla, afirmaram em um comunicado que
o partido está "sendo publicamente desacreditado e criminalizado" e
que a decisão tem "claramente motivação política".
A
agência de inteligência afirmou que a AfD "visa excluir certos grupos
populacionais da participação igualitária na sociedade".
Em
particular, a AfD não considera cidadãos alemães com origem migratória de
países com grande população muçulmana como "membros iguais do povo
alemão", acrescentou o
órgão.
<><> Apelos pela proibição do
partido
A
designação reacendeu os apelos pela proibição do partido na Alemanha,
antes da posse do conservador Friedrich Merz como chanceler na próxima
terça-feira, liderando uma coalizão com o Partido Social-Democrata (SPD) de
centro-esquerda.
Lars
Klingbeil, do SPD, que deverá se tornar vice-chanceler e ministro das Finanças
na coalizão, disse que o governo consideraria proibir a AfD.
"Eles
querem um país diferente, querem destruir nossa democracia. E devemos levar
isso muito a sério", disse ele ao jornal Bild. Ele
acrescentou, no entanto, que nenhuma decisão precipitada seria tomada.
O
futuro novo ministro do Interior, Alexander Dobrindt, disse que a ação da
agência de espionagem "inevitavelmente significa que haverá mais
vigilância sobre a AfD".
<><> AfD ganha votos com
temor sobre imigração
O
partido, fundado em 2013, ganhou popularidade capitalizando os temores sobre a
migração enquanto a Alemanha sofria com recessão.
A
legenda obteve mais de 20% dos votos nas eleições de fevereiro, um resultado
recorde e atrás apenas do bloco de centro-direita CDU/CSU de Merz.
Pesquisas
de opinião recentes colocam o partido empatado ou até mesmo ligeiramente à
frente da aliança CDU/CSU.
O
partido tem enfrentado polêmicas frequentes. Um membro
importante foi condenado por usar um slogan nazista proibido e outros foram
criticados por minimizar as atrocidades nazistas.
A sigla
também enfrentou alegações de laços estreitos com a Rússia. Esta semana, um
ex-assessor de um parlamentar europeu da AfD foi acusado de suspeita de espionagem para a China.
Em um
país ainda assombrado por seu passado nazista na Segunda Guerra Mundial, os
outros partidos do establishment prometeram não governar ou
cooperar com a AfD.
Merz
rompeu essa chamada "barreira de proteção" durante a campanha
eleitoral, confiando no apoio da AfD para aprovar uma moção parlamentar não
vinculativa exigindo medidas de imigração mais rígidas. Isso gerou revolta
generalizada e protestos em todo o país.
Desde
então, ele insiste que não trabalhará com a AfD.
¨
Por que Alemanha
classificou partido da direita radical AfD como grupo extremista
O
partido Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão) foi classificado
como organização de "extrema direita" pelo Departamento Federal de
Proteção da Constituição do país, o Verfassungsschutz.
"A
visão em relação à sociedade baseada na etnia e na ancestralidade que prevalece
dentro do partido é incompatível com a ordem democrática livre", afirmou a
agência de inteligência em comunicado.
A AfD
ficou em segundo lugar nas eleições federais realizadas em
fevereiro na Alemanha, conquistando um
recorde de 152 cadeiras entre os 630 assentos do Bundestag, o parlamento
alemão, e 20,8% dos votos.
A
notícia chega enquanto o parlamento se prepara para votar na próxima semana
para confirmar o líder conservador Friedrich Merz como chanceler à frente de
uma coalizão com os social-democratas de centro-esquerda. Ele é líder da União
Democrata Cristã (CDU), tradicional sigla de centro-direita que é também a da
ex-chanceler Angela Merkel.
A dupla
que lidera a AfD, Alice Weidel e Tino
Chrupalla, reagiram ao anúncio argumentando que a decisão "tem motivações
políticas claras", que representa um "sério golpe contra a democracia
alemã" e que o partido estava sendo "desacreditado e
criminalizado" pouco antes da mudança de governo.
·
Sob escrutínio
Já há
algum tempo o partido estava sob escrutínio por suspeita de que tivesse
inclinações extremistas, tendo sido inclusive classificado pela agência de
inteligência como movimento de extrema direita em três Estados do leste, onde
tem maior popularidade.
Em
relatório, o órgão observou que a AfD não considera pessoas com "origens
migratórias de países predominantemente muçulmanos" como membros da
sociedade alemã com mesmo valor que os demais.
O
vice-presidente da AfD, Stephan Brandner, classificou a decisão como "um
completo absurdo" e disse que ela "não tem absolutamente nada a ver
com a lei e a ordem".
A
ministra interina do Interior, Nancy Faeser, defendeu o posicionamento,
afirmando que o Verfassungsschutz havia tomado uma decisão clara, inequívoca e
sem "nenhuma influência política" após uma análise aprofundada e um
relatório de 1.100 páginas.
A
vice-presidente do Bundestag, Andrea Lindholz, disse que, por ter sido
designado como grupo extremista de direita, a AfD não deveria ser tratado da
mesma forma que outros partidos, especialmente no parlamento.
Devido
ao grande número de assentos conquistados na última eleição, seus membros
tinham boas chances de serem eleitos para presidir comissões parlamentares, mas
Lindholz descartou essa ideia como "quase impensável".
·
Política de isolamento
Após
o sucesso nas urnas, os líderes da AfD
chegaram a defender o fim de uma postura que há décadas predomina da forma
tácita na política alemã de isolamento da extrema direita pelos demais
partidos, estratégia popularmente conhecida em alemão como "brandmauer"
ou em inglês como "firewall" (muro de fogo, em tradução
literal).
"Qualquer
um que erga esses muros de fogo vai se queimar atrás deles", disse Tino
Chrupalla.
Depois
de dobrar sua parcela de votos em menos de quatro anos, a AfD continua em
segundo lugar nas pesquisas de opinião, atrás dos conservadores de Merz, apesar
de vários escândalos recentes, incluindo o de um membro de alto perfil que
foi condenado por proferir slogans
nazistas proibidos na Alemanha.
No
início deste ano, Alice Weidel adotou o termo "remigração",
amplamente visto como a deportação em massa de pessoas de
origem migratória, embora ela tenha rejeitado essa interpretação.
A AfD
atraiu o apoio de figuras proeminentes do governo do atual presidente
americano, Donald Trump.
Nove
dias antes da eleição na Alemanha, o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D.
Vance, encontrou-se com Weidel em Munique e disse que não havia espaço para
"firewalls", alegando que a liberdade de expressão estava em
declínio na Europa.
O
bilionário da tecnologia Elon Musk teve uma conversa longa com Weidel
transmitida ao vivo no X, quando pediu aos alemães que votassem na AfD. Ele
reiterou as mensagens de apoio durante a campanha eleitoral.
A
agência doméstica de inteligência da Alemanha é responsável tanto pela área de
contrainteligência quanto pela investigação de ameaças terroristas.
Embora
se espere que a mudança na designação da AfD seja contestada na justiça, o
relatório provavelmente levará a um relaxamento dos requisitos da agência para
o uso de informantes e vigilância no monitoramento das atividades do partido.
Alguns
políticos alemães chegaram a defender que a nova classificação deveria abrir
espaço para que o partido fosse proibido.
A
argumentação se apoia na Lei Fundamental da República Federal da Alemanha, a
constituição mais recente do país, adotada quatro anos após a queda do regime
nazista de Adolf Hitler, em 1949, que afirma que partidos que
"deliberadamente minam o funcionamento da ordem básica livre e democrática
da Alemanha" podem ser banidos se agirem de maneira "militante e
agressiva".
Órgãos
domésticos de inteligência não podem pressionar pela proibição do partido -
esse processo caberia ao parlamento, ao governo ou ao Tribunal Constitucional
Federal da Alemanha -, mas a decisão do Verfassungsschutz poderia encorajar
outras instâncias a dar seguir nesse propósito.
De
saída do cargo, o atual chanceler, Olaf Scholz, alertou contra decisões
precipitadas, mas Heidi Reichinnek, do partido A Esquerda, disse que ninguém
poderia aceitar que "uma sigla que provou ser de extrema direita esteja
lutando e destruindo nossa democracia de dentro para fora".
Desde o
fim da Segunda Guerra Mundial, o Tribunal Constitucional proibiu apenas dois
partidos, ambos na década de 1950.
A
vice-presidente do Partido Social-Democrata (SPD), Serpil Midyatli, comentou
que o que todos já sabiam havia agora sido reconhecido por escrito. "Está
claro para mim que a proibição precisa ser imposta", disse ela, de acordo
com a agência de notícias alemã DPA.
Ela
destacou ainda que os fundadores da constituição da Alemanha pós-guerra
procuraram garantir que o país não afundasse novamente no abismo, referindo-se
ao período do nazismo.
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Fonte: DW Brasil/BBC News

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