quinta-feira, 22 de maio de 2025

EUA caçam rede do Hezbollah na fronteira brasileira

O governo dos Estados Unidos anunciou uma recompensa de até US$ 10 milhões (cerca de R$ 56,5 milhões) para quem fornecer informações sobre “os mecanismos financeiros” do grupo libanês Hezbollah na região da Tríplice Fronteira, entre Argentina, Brasil e Paraguai. De acordo com a Embaixada dos EUA no Brasil, o objetivo é obter detalhes sobre contrabando, lavagem de dinheiro e outras operações financeiras do grupo na área. O pagamento será feito pelo programa Rewards for Justice (RFJ) — iniciativa do Departamento de Estado americano que premia informações que ajudem a combater o terrorismo.

Segundo o RFJ, o Hezbollah tem obtido recursos na região por meio de:
 Lavagem de dinheiro
 Tráfico de drogas
 Falsificação de dólares
 Comércio ilegal de diamantes
 Contrabando de produtos como carvão, cigarros e petróleo

Além disso, o grupo também estaria envolvido em negócios “aparentemente legítimos”, como construção civil, importação e exportação e venda de imóveis, segundo o programa.

<><> Hezbollah na mira dos EUA

O Hezbollah é classificado como organização terrorista pelos EUA desde 1997, e a Tríplice Fronteira já foi repetidamente apontada como uma das principais bases de financiamento do grupo.

Em comunicado divulgado nesta segunda-feira (19/5), o RFJ afirmou:
“Os financiadores e facilitadores do Hezbollah na Tríplice Fronteira operam redes multinacionais que geram milhões de dólares para o grupo no Hemisfério Ocidental. Muitos desses indivíduos também organizam campanhas de arrecadação e enviam recursos para o Hezbollah no Oriente Médio.”

A recompensa é oferecida para quem fornecer informações que levem à identificação e desarticulação desses esquemas. O governo americano busca dados sobre:
 Doadores e facilitadores financeiros
 Instituições financeiras ou casas de câmbio que realizem transações suspeitas
 Empresas controladas pelo Hezbollah ou usadas como fachada

<><> O que é o Hezbollah?

O Hezbollah é um partido político e grupo armado xiita com forte influência no Líbano, onde controla uma das maiores milícias do país. Surgiu nos anos 1980 em resposta à ocupação israelense no sul do Líbano e recebe apoio militar e financeiro do Irã.

O grupo já realizou ataques contra forças israelenses e americanas e é considerado organização terrorista por EUA, Israel e vários países ocidentais.

Operações contra o Hezbollah no Brasil

Em novembro de 2023, a Polícia Federal (PF) prendeu três suspeitos de ligação com o Hezbollah na Operação Trapiche, que investigava o financiamento de terrorismo no país. Os alvos eram acusados de planejar ataques contra a comunidade judaica, incluindo a Embaixada de Israel em Brasília.

As investigações, realizadas com apoio de agências de inteligência dos EUA e Israel, indicaram que os planos foram intensificados após o conflito entre Hamas e Israel em outubro de 2023.

Em agosto de 2024, uma nova fase da operação levou à prisão de outro suspeito em Belo Horizonte, acusado de financiar atividades terroristas usando contas bancárias abertas em nome de imigrantes vulneráveis.

<><> Histórico de atuação na Tríplice Fronteira

A região da Tríplice Fronteira é há anos monitorada por agências de inteligência internacionais devido à suspeita de atividades ilícitas ligadas ao Hezbollah.

 2002: EUA criaram o “3 + 1 Group on Tri-Border Area Security” para treinar autoridades locais no combate ao terrorismo.
 2011: Congresso americano realizou audiência sobre o tema, classificando a área como “epicentro de atividades criminosas”.
 2006: O libanês Assad Ahmad Barakat, conhecido como “tesoureiro do Hezbollah”, foi incluído na lista de terroristas globais por financiar o grupo na região. Ele foi preso no Brasil em 2018 e extraditado para o Paraguai em 2020.

Autoridades argentinas também atribuem ao Hezbollah os ataques à Embaixada de Israel (1992) e ao prédio da AMIA (1994), que deixaram mais de 100 mortos. Segundo investigações, os atentados foram planejados na Tríplice Fronteira.

A oferta de recompensa reforça a preocupação dos EUA com a influência do Hezbollah na América Latina, especialmente em áreas com fronteiras pouco fiscalizadas. Enquanto isso, operações conjuntas entre Brasil, EUA e Israel continuam visando desarticular células do grupo no país.

O libanês Assad Ahmad Barakat, acusado de ser um dos principais financiadores do Hezbollah na Tríplice Fronteira, sempre negou qualquer envolvimento com atividades terroristas. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo em 2002, ele afirmou que as acusações eram parte de um “complô econômico” para incriminá-lo e que teriam sido forjadas por um rival comercial que buscava vingança.

“Esse absurdo (envolvimento com terrorismo) só veio se somar ao monte de mentiras que forjaram contra minha pessoa”, declarou Barakat na época.

Ele admitiu ser simpatizante do Hezbollah, mas ressaltou que “isso não é crime”.

<><> Outros nomes na mira das autoridades

Em 2006, o Tesouro americano impôs sanções a Farouk Omairi, um libanês naturalizado brasileiro, identificado como um “coordenador de integrantes do Hezbollah na região” e “figura-chave na obtenção de documentos falsos brasileiros e paraguaios”.

Quase 17 anos depois, em junho de 2023, o juiz federal argentino Daniel Rafecas pediu à Interpol que localizasse Omairi e outros três suspeitos de origem libanesa para interrogá-los sobre o ataque à AMIA em 1994.

Em sua decisão, Rafecas afirmou que havia “suspeitas bem fundamentadas” de que os investigados eram “colaboradores ou agentes operacionais do braço armado do Hezbollah”, segundo a Associated Press.

Outro nome citado no caso é Ali Hussein Abdallah, também naturalizado brasileiro e possivelmente residente na Tríplice Fronteira.

<><> Hezbollah e o tráfico de drogas: suspeitas de parceria com o PCC

Um dos aspectos que mais preocupa autoridades brasileiras e internacionais é a possível ligação entre o Hezbollah e facções criminosas, principalmente no tráfico internacional de drogas.

No Brasil, essa conexão foi investigada em um caso envolvendo Elton Leonel Ruminich da Silva, conhecido como “Galã”, um brasileiro apontado como traficante internacional ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Segundo a Polícia Federal, ele seria um dos principais nomes da facção na fronteira com o Paraguai.

Em 2019, a Secretaria de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro encontrou indícios de que “Galã” mantinha contatos com integrantes do Hezbollah e estaria planejando uma fuga. Na época, ele estava preso em Bangu 1, mas foi transferido para um presídio federal de segurança máxima após a descoberta.

Procurado pela BBC News Brasil em 2023, o advogado de “Galã”, Eugenio Malavasi, negou qualquer vínculo do cliente com o grupo libanês:

“Essas conexões nunca foram provadas. Não existem. Não há nenhum elemento factual que corrobore essa vinculação”, afirmou.

<><> Relação Hezbollah-PCC: evidências e rota do crime

Jorge Lasmar, professor de Relações Internacionais da PUC-Minas, afirma que investigações da Polícia Federal já identificaram laços entre o Hezbollah e o PCC, principalmente em operações de contrabando e tráfico de drogas.

“As evidências em relação a isso estão cada vez maiores. Um documento de 2014 da PF aponta essa parceria, e os EUA sempre destacam essa ligação”, explica Lasmar.

Segundo ele, o Hezbollah utilizaria rotas controladas pelo PCC — como a Tríplice Fronteira e o aeroporto de Guarulhos — para traficar drogas, exigindo acordos com a facção paulista.

Enquanto suspeitos como Barakat e Omairi negam acusações, autoridades brasileiras, argentinas e americanas seguem monitorando a atuação do Hezbollah na região. A possível parceria com o PCC preocupa, já que poderia fortalecer redes criminosas internacionais.

Com recompensas milionárias e operações conjuntas, os EUA e seus aliados na América do Sul buscam desarticular esses esquemas, mas o desafio permanece complexo diante da sofisticação dessas organizações.

¨      Cooperação Egito-Líbano fortalece resistência anti-imperialista

Em um cenário internacional marcado por intervenções imperialistas e violações sistemáticas da soberania nacional, o recente encontro entre os presidentes Abdel-Fattah al-Sisi, do Egito, e Joseph Aoun, do Líbano, reafirma a importância da resistência coletiva contra a dominação estrangeira na região. A reunião no Cairo não só fortaleceu os laços bilaterais entre os dois países, mas também destacou a necessidade urgente de defender a autodeterminação dos povos árabes frente às agressões israelenses e à ingerência ocidental.

O presidente Sisi foi categórico ao condenar as repetidas violações de Israel contra a soberania libanesa, exigindo a retirada imediata das forças de ocupação dos territórios libaneses. Essa posição não apenas reforça o compromisso do Egito com o direito internacional, mas também evidencia uma postura anti-imperialista coerente, que reconhece que a estabilidade regional só será alcançada quando os povos da região puderem exercer pleno controle sobre seus territórios.

O Líbano, há décadas sob pressão militar e política de Israel, com ocupações ilegais em áreas como as Fazendas de Shebaa, precisa do apoio de nações irmãs para garantir sua integridade territorial.

O chamado de Aoun à comunidade internacional para responsabilizar Israel é justo, mas sabemos que a história demonstra que as potências ocidentais frequentemente fecham os olhos aos crimes do Estado sionista. Por isso, a solidariedade entre os países árabes, como a demonstrada pelo Egito, é fundamental.

<><> O inabalável apoio à causa palestina

A reafirmação do apoio à Palestina pelos dois líderes é mais um passo na luta contra a limpeza étnica promovida por Israel. A esquerda revolucionária sempre compreendeu que a questão palestina não é apenas um conflito territorial, mas um símbolo da resistência contra o colonialismo moderno.

A condenação ao deslocamento forçado de palestinos e a rejeição a qualquer tentativa de normalizar a ocupação são posições que devem ser defendidas por todos os que lutam por justiça social e soberania popular.

O silêncio cúmplice das potências ocidentais diante dos crimes de guerra israelenses revela a hipocrisia da ordem internacional vigente. Enquanto os EUA e a Europa armam e financiam a máquina de guerra sionista, países como Egito e Líbano assumem a responsabilidade de ser a voz dos oprimidos.

<><> A Síria e a necessidade de uma solução política soberana

A discussão sobre a Síria também merece destaque. Apoiar o povo sírio significa rejeitar as tentativas de desestabilização promovidas por potências estrangeiras e defender uma solução política que respeite a vontade dos sírios, sem interferências externas.

A condenação às agressões israelenses contra a Síria e a exigência da retirada de Israel dos Altos do Golã ocupados são medidas necessárias para a paz regional.

A guerra na Síria foi, em grande parte, alimentada por interesses imperialistas que buscavam fragmentar mais um Estado árabe. O apoio egípcio e libanês a um processo político soberano no país é um contraponto essencial às narrativas hegemonônicas que tentam impor governos fantoches na região.

O encontro entre Sisi e Aoun reforça a importância da unidade entre as nações do Oriente Médio contra as agressões externas. A esquerda deve estar ao lado desses governos quando eles defendem a soberania nacional e a resistência contra o imperialismo.

O Egito, sob a liderança de Sisi, tem desempenhado um papel crucial nessa luta, seja no apoio ao Líbano, na defesa da Palestina ou na busca de uma solução justa para a Síria.

A verdadeira paz na região só virá quando os povos árabes puderem decidir seus próprios destinos, livres da ocupação e da dominação estrangeira.

E isso exige solidariedade internacionalista, denúncia do sionismo e do imperialismo, e apoio às iniciativas que fortaleçam a autonomia dos países do Sul Global. A soberania do Oriente Médio não é negociável.

¨      A hipocrisia cultural da Europa diante do massacre em Gaza

A recente declaração do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, defendendo a exclusão de Israel do Festival Eurovisão da Canção enquanto durar sua ofensiva militar em Gaza, não é apenas uma questão de justiça cultural, mas um reflexo da necessidade urgente de respeitar a soberania dos povos do Oriente Médio e de combater a hipocrisia da comunidade internacional.

Enquanto a Rússia foi imediatamente banida de competições culturais após a invasão da Ucrânia em 2022, Israel segue participando de eventos como o Eurovision, mesmo cometendo atrocidades diárias contra o povo palestino.

Essa duplicidade de critérios revela uma estrutura de poder global que normaliza a violência colonialista quando ela é perpetrada por aliados do Ocidente.

<><> A cultura não pode ser cúmplice da opressão

O Eurovision se apresenta como um espaço de união pela música, mas a arte nunca é neutra. Quando um país que bombardeia civis, destrói hospitais e impede o acesso a alimentos e medicamentos é permitido em um palco internacional, a mensagem é clara: a vida palestina vale menos.

A postura da RTVE, emissora espanhola, ao exibir a mensagem “Paz e justiça para a Palestina” durante a transmissão, demonstra que setores progressistas não estão dispostos a silenciar diante do genocídio. A cultura não pode ser usada como ferramenta de whitewashing (lavagem de imagem) para regimes que violam direitos humanos.

<><> A esquerda deve defender a soberania palestina

A esquerda internacional tem o dever de se posicionar contra a ocupação ilegal israelense e a favor da autodeterminação dos povos. A Palestina não é um “conflito”; é um projeto de limpeza étnica que dura décadas, financiado por potências imperialistas.

Pedro Sánchez, ao defender a exclusão de Israel do Eurovision, segue uma linha coerente com o reconhecimento do Estado da Palestina pela Espanha em 2023. Essa posição deve ser ampliada:

  • Boicote cultural e econômico a Israel, seguindo o modelo do movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções).
  • Pressão diplomática para que a UE e a ONU parem de tratar Israel como uma “vítima” e reconheçam seus crimes de guerra.
  • Solidariedade ativa aos palestinos, denunciando a cumplicidade de governos que vendem armas a Israel.

<><> Nem música, nem silêncio enquanto houver ocupação

O Festival Eurovision pode até tentar se dizer “apolítico”, mas a arte sempre reflete as contradições do mundo. Se em 2022 a Rússia foi banida por sua invasão à Ucrânia, é inaceitável que Israel continue sendo recebido de braços abertos enquanto massacra palestinos.

A fala de Sánchez é um passo importante, mas não basta. A esquerda deve exigir ações concretas contra a máquina de guerra israelense e ampliar a luta pela soberania do Oriente Médio, livre da interferência imperialista.

 

Fonte: BBC News/O Cafezinho

 

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