terça-feira, 6 de maio de 2025

Escolha do novo Papa começa nesta quarta, 07/05

O conclave, votação dos cardeais da Igreja Católica para eleger um novo papa, começará dia 7 de maio, anunciou o Vaticano nesta segunda-feira (28/4). A reunião a portas fechadas acontece na Capela Sistina, e 135 cardeais são elegíveis a participar. Não há previsão de quanto tempo será necessário para eleger o próximo papa, mas os dois conclaves anteriores, realizados em 2005 e 2013, duraram apenas dois dias. Normalmente, o conclave começa entre 15 e 20 dias após a morte do pontífice anterior.

O porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, disse que, em 7 de maio, os cardeais participarão de uma missa solene na Basílica de São Pedro, após a qual os elegíveis para votar se reunirão na Capela Sistina para o conclave. Depois de entrarem na Capela Sistina, os cardeais não devem se comunicar com o mundo exterior até que um novo papa seja eleito. Há apenas uma rodada de votação na primeira tarde do conclave. A partir do segundo dia, os cardeais realizam duas votações todas as manhãs e duas votações todas as tardes na capela, até que os candidatos a papa sejam reduzidos a apenas um.

Um candidato precisa de dois terços dos votos dos cardeais eleitores para ser eleito papa. Nas votações, cada cardeal eleitor escreve o nome do seu candidato preferido nas cédulas de votação sob as palavras Eligio in Summum Pontificem, que em latim significa "Eu elejo como Sumo Pontífice". Para manter as votações em segredo, os cardeais são instruídos a não usar sua caligrafia habitual.

Se não houver votação decisiva até o final do segundo dia, o terceiro dia é dedicado à oração e contemplação, sem realização de nenhuma votação. A votação prossegue normalmente após esse período. O processo todo pode levar vários dias, ou às vezes semanas. Duas vezes por dia, durante o conclave, as cédulas usadas para votação são queimadas e pessoas do lado de fora do Vaticano podem ver a fumaça saindo da chaminé da Capela Sistina. Tinta preta ou branca é aplicada nas cédulas. A fumaça preta significa uma votação inconclusiva; a fumaça branca indica a escolha de um novo papa.

·        Quem será o novo papa?

Terminado o funeral do papa Francisco, as atenções agora se voltam para o conclave.

A partir desse momento, entram em cena dois fatores fundamentais para a escolha do novo papa: o legado deixado pelo pontífice anterior e o rumo que se deseja para o catolicismo e sua influência espiritual nos próximos anos. Para que essa definição ocorra, será preciso alcançar um consenso majoritário entre cardeais que participarão do conclave. O Colégio de Cardeais debaterá e votará em seus candidatos preferidos, até que um único nome prevaleça.

Com 80% dos cardeais nomeados pelo papa Francisco, essa será a primeira vez que eles elegem um papa — e o farão com uma perspectiva global ampla. Pela primeira vez na história, menos da metade dos cardeais com direito a voto será europeia. O Brasil tem sete representantes neste grupo. Mas, embora o colégio esteja dominado por nomeações de Francisco, essas indicações não foram exclusivamente de perfil "progressista" ou "tradicionalista". Por isso, nunca foi tão difícil prever quem será eleito o próximo papa.

Entre os nomes mais citados como possíveis sucessores de Francisco, estão (em ordem alfabética):

  • Angelo Scola, italiano, 83 anos;
  • Fridolin Ambongo Besungu, congolês, 65 anos;
  • Luis Antonio Gokim Tagle, filipino, 67 anos;
  • Peter Erdo, húngaro, 72 anos;
  • Peter Kodwo Appiah Turkson, ganês, 76 anos;
  • Pietro Parolin, italiano, 70 anos;
  • Pierbattista Pizzaballa, italiano, 60 anos;
  • Marc Ouellet, canadense, 80 anos;
  • Michael Czerny, canadense, 78 anos;
  • Reinhard Marx, alemão, 71 anos;
  • Robert Prevost, americano, 69 anos;
  • Robert Sarah, guineense, 79 anos.

Nesta reportagem, trazemos mais detalhes de cada cardeal cotado para ser papa.

Novos nomes devem surgir nos próximos dias e durante o conclave.

¨      Presidente da CNBB diz que desafio do novo papa será pregar numa 'sociedade marcada pelo medo

Se o colégio de cardeais reúne os mais notáveis prelados do Vaticano, não é nenhum exagero colocar o arcebispo brasileiro Jaime Spengler, de 64 anos, como aquele que atualmente é o mais ilustre nome da América Latina. O critério, neste caso, é objetivo. Desde 2023, este franciscano, catarinense da cidade de Gaspar, preside a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o colegiado de bispos do maior país católico do mundo. No mesmo ano, Spengler também foi eleito para presidir o Celam, o Conselho Episcopal Latino-Americano. Em conversa com a BBC News Brasil na tarde de 25 de abril, ele assume a humildade de sua ordem franciscana para desconversar sobre o peso que suas palavras, discursos e opções eleitorais devem ter no conclave que ocorre agora em maio. "Estou com 110 quilos. E meu médico diz que preciso perder pelo menos 15", comenta, aos risos.

Spengler foi ordenado padre em 1990. Vinte anos mais tarde tornou-se bispo. Durante a Jornada Mundial da Juventude de 2013, no Rio de Janeiro, conheceu pessoalmente o papa Francisco. Na ocasião, ele foi um dos religiosos brasileiros designados para ministrar encontros catequéticos com os jovens. Ele atribui a esse primeiro contato com o argentino a sua nomeação, dois meses depois, para comandar a arquidiocese de Porto Alegre, onde está até hoje.

Recorda-se que seu primeiro encontro com Francisco ocorreu em um almoço realizado com mais de 300 bispos no Rio de Janeiro. "Depois cada um podia, se quisesse, se aproximar do papa para saudá-lo. Eu pensei: não vou. Tinha tanta gente, era uma confusão tremenda, eu nunca fui desse tipo de bajulação, não é o meu espírito", recorda. "Mas apareceu um espaço e eu estendi-lhe a mão." O papa então teria lhe perguntado nome e sobrenome. E respondido com um "ah" que, como semanas depois interpretou o hoje cardeal, significava que ele já estava designado para comandar a igreja na capital gaúcha.

Spengler foi feito cardeal no último consistório - reunião do colégio de cardeais - de Francisco, em dezembro do ano passado. É um novato dentre os pertencentes à categoria, portanto. Mas, apesar disso, não se trata de figura desconhecida nos corredores do Vaticano. Em 2014, por nomeação de Francisco, passou a integrar o Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada, órgão do Vaticano responsável por supervisionar ordens religiosas, congregações e sociedades de vida apostólica. Em Roma desde a última terça, para acompanhar o funeral de Francisco e, em seguida, tomar parte no conclave, Spengler atendeu a reportagem via chamada de vídeo a partir de uma sala do Pontifício Colégio Pio Brasileiro, instituição mantida pela CNBB que funciona como uma espécie de QG dos religiosos do país no entorno do Vaticano.

LEIA A ENTREVISTA:

·        Como estão os preparativos para o conclave?

Jaime Spengler - Até agora não recebemos informações detalhadas a respeito do pós-funeral. O que temos esses dias são o que acontece durante o funeral. Mais do que isso eu não tenho elementos.

·        Qual o principal legado deixado por Francisco para a Igreja? O próximo papa parte daí ou pode tomar outro caminho?

Spengler - Ele assumiu o ministério em um momento muito delicado da história, que foi a renúncia de Bento 16. Era um contexto interno muito difícil […] e a partir desse contexto Francisco foi escolhido para dar continuidade, eu diria assim, ao trabalho que Bento, sim, inaugurou. […] Creio que a coragem dele, em assumir nesse contexto, eu interpretaria como um legado. Depois, tudo aquilo que no pré-conclave [de 2013] se sugeriu, ele ao longo desses 12 anos tentou levar adiante. Aqui temos vários elementos, […] a grande reforma da Cúria Romana, que está em fase ainda de implementação […] e um legado não só para a Igreja, creio que para a sociedade como um todo que é a causa da ecologia, o cuidado da casa comum. […] Hoje, eu diria, é difícil um debate em torno da questão climática sem considerar esses documentos que o papa lançou [comenta, citando especificamente a encíclica Laudato Si']. E um outro legado: esses dias eu estava fazendo uma espécie de análise […] dos documentos que esse homem publicou: 'A Alegria do Evangelho', 'A Alegria da Verdade', 'A Alegria do Amor'…

·        Ele trouxe bom humor para a Igreja?

Spengler - Exato, exato. Sempre marcado pela alegria. Mas não a alegria do palhaço, vamos dizer assim. Um modo todo próprio de compreender a alegria, afinal o evangelho é motivo de alegria. […]

·        O senhor falou que ele teve muita coragem em 2013. O que se espera neste momento? Qual característica deve ter o futuro papa?

Spengler - Gosto muito de ler um pensador coreano [o filósofo Byung-Chul Han] que diz que a gente vivia, até alguns anos atrás, numa sociedade marcada pelo cansaço. Hoje estamos vivendo numa sociedade marcada pelo medo. E o medo se expressa de muitas formas hoje. Haja visto, por exemplo, os diversos conflitos armados. Na nossa realidade latino-americana a questão do narcotráfico, das milícias, a situação dos jovens que não sabem se vão conseguir superar talvez um curso universitário, se depois conseguem um lugar de trabalho à altura e por aí adiante. E temos esses diversos conflitos armados mundo afora. Oficialmente, se eu não me engano, são 59. A imprensa tem tematizado dois, sobretudo, mas existem aí outros 57, para dizer pouco.

·        O papa Francisco sempre mencionava conflitos bélicos em suas mensagens…

Spengler - Exatamente. Ele criou uma expressão que ficou célebre nesse contexto: estamos vivendo uma terceira guerra mundial aos pedaços. E é verdade. Junto com isso temos uma concentração de riqueza no mundo nas mãos de um grupo sempre mais reduzido. E a grande parte da sociedade é excluída. Hoje o ser humano é visto mais como produto do que como sujeito. Então, resgatar também esse lugar da pessoa humana, no contexto da sociedade, no campo social propriamente dito, no ambiente da política, da economia… Eu creio que é um grande desafio.

·        Qual o papel do papa diante disso?

Spengler - Como tarefa específica da Igreja, o grande desafio é a transmissão da fé às novas gerações com uma linguagem e uma metodologia adequadas […]. A gurizada, aqui uso uma expressão gaúcha, na faixa dos 17, 18 anos possui uma outra estrutura lógica mental que já não é a da nossa geração. […] Precisamos apresentar, propor a mensagem a eles. Com suas características próprias, apresentadas na sua integralidade, com uma linguagem que encontre repercussão na vida desses adolescentes e jovens que possuem outra estrutura mental, uma lógica mental distinta da nossa. Creio que a linguagem e a metodologia aqui nos desafiam.

·        Medo, líderes mundiais com discursos autoritários e extremistas, guerras… A figura do papa hoje é mais do que religião? Tem um papel para o planeta como um todo?

Spengler - Eu creio que a Igreja, e o papa é a referência da instituição, possui uma reserva ética e moral. Francisco usou uma expressão que também ficou célebre e aqui entre o papel da Igreja nesse âmbito: construir pontes, pontes com o mundo, como ele fez. Ele foi ao encontro das realidades mais diversas. […] As viagens que ele realizou, ao longo dos anos, sempre foram marcadas por essa característica periférica, de realidades digamos de fronteira, tentando justamente a partir das fronteiras propor espaços de diálogo com todos. […] Ele realizou um esforço tremendo nesse sentido, também com grupos minoritários da sociedade. Ao longo dos anos estabeleceu espaços de encontros, de diálogo, que se tornaram célebres. E em alguns setores, até setores internos da Igreja, isso causou um certo desconforto.

·        Essa postura virou um paradigma? O futuro papa tem de manter isso?

Spengler - Essa pergunta eu não posso responder. O futuro a Deus pertence.

·        O senhor entra no conclave não apenas como mais um. O senhor é presidente do Celam e, portanto, representa os bispos de toda a América Latina. O senhor é presidente da CNBB e, assim, é a voz dos bispos do maior país católico do mundo. Não há como ignorar que seu peso é grande, certo?

Spengler - Menino, aqui você entra em uma questão delicada. São 110 quilos. Meu médico, que me acompanha, está pedindo para perder uns 15. Então está difícil…

·        Brincadeiras à parte, o peso político é inegável. Quando o senhor pede a palavra, não é somente, entre aspas, um cardeal. O senhor é uma voz que representa o Brasil, que representa a América Latina…

Spengler - Isso certamente tem um peso, sim. Mas isso eu realmente, com muita tranquilidade e serenidade… Eu estou há três meses dentro desse colégio [de cardeais], dentro desse grupo especial. Obviamente a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil é a maior conferência [episcopal] do mundo. Somos 490 bispos. Ela tem certamente um lugar de destaque no contexto da catolicidade. O Brasil tem a maior população católica do mundo, apesar do fenômeno que nós temos ciência e acompanhamos [do crescimento dos evangélicos]. E a América Latina, como um todo, ela teve um papel muito importante no processo pós-Concílio Vaticano 2º [realizado na década de 1960]. Foi talvez o continente que mais se empenhou pela aplicação daquilo que foram os documentos produzidos naquele momento da vida da Igreja […], que se tornaram paradigmáticos não só para a América Latina. […] Então essa experiência da América Latina e, claro, o Brasil está nesse contexto, de alguma forma inspirou, em maior ou menos intensidade, inspirou e orientou esses anos do pontificado de Francisco. E hoje, nesse contexto, várias partes do mundo olham para o Brasil e para a América Latina com uma afeição, eu diria, toda própria. […] Então nesse sentido certamente há sim uma atenção particular voltada para o contexto latino-americano. E aqui na América Latina eu creio que nós temos homens extraordinários.

·        Mas pelos seus cargos o senhor é um papável?

Spengler - Olha, qualquer bispo, qualquer batizado aqui pode ser considerado [risos]. Mais do que isso eu não vou, eu não tenho com dizer. Mas sabe, agora falando de uma forma muito livre, quando você na vida gosta do que faz e ama o que é, e isso vale para a vida matrimonial, para uma profissão, para a vida consagrada, para o ministério ordenado […], quando há essa convicção de fundo, que tu gostas do que és e amas o que fazes, tens que estar preparado para a atividade que de alguma forma lhe é solicitada. E creio que essa atitude nos dá uma liberdade de espírito e uma serenidade toda própria.

·        Em 2018 foi anunciado que o Brasil integraria um projeto piloto do Vaticano para combate à pedofilia, com apoio da CNBB, e que a partir de então relatórios seriam produzidos sistematicamente sobre o tema. Isso vem sendo feito?

Spengler - Cada diocese deve implementar as orientações que foram construídas ao longo desses anos. A CNBB é uma instância de apoio aos bispos […] e tem como missão promover a comunhão entre os bispos e, na medida do possível, ser uma referência a quem às vezes, em alguma realidade, precisa ou pede uma orientação, um apoio ou coisa que o valha. Nesse sentido, a conferência buscou, sim, realizar esse serviço ao longo dos anos e continua empenhada nesse trabalho. Agora acompanhar a realidade ou a situação em cada realidade local, isso não é missão da conferência. Cada diocese o faz diretamente à Santa Sé.

·        Então os relatórios estão sendo feitos?

Spengler - Claro, pelas dioceses […]. Eu não saberia dizer se já está 100% aplicado em todas as realidades, mas o que posso dizer é que está havendo sim um grande empenho para levar a termo aquilo que o Santo Padre pediu da Igreja.

·        Quais são os principais problemas da Igreja que o futuro papa precisará priorizar?

Spengler - Essa é uma boa pergunta. Como eu disse antes, o futuro a Deus pertence.

·        Mas os problemas já existem, não são do futuro.

Spengler - Falar do futuro é difícil. Eu creio que o grande desafio da Igreja é realmente falar com uma linguagem adequada, com uma metodologia própria à sociedade de hoje. Como fazer isso? É delicado. […] Na tradição cristã, a experiência da fé é graça, é dom, é algo que te toca e você recebe. Não é simplesmente expressão de uma busca pessoal. Às vezes se vê e se explora um certo esteticismo religioso que pode até ser interessante por um tempo mas não sei se mantém uma existência, se sustenta uma vida. Temos shows, temos muito visual, etc., mas a experiência da fé cristã se dá a partir do encontro pessoal com a pessoa de Jesus Cristo e a disposição para viver essa experiência não é individualmente, mas sempre em comunidade.

·        O senhor é novo entre os cardeais mas já circulava há anos pela alta cúpula da Igreja. Quais são as lembranças da convivência com Francisco?

Splenger - Tenho várias. […] O que eu guardo do papa: a simplicidade, um homem extremamente simples. O protocolo, para ele, era muito leve. A capacidade de escuta: ele queria ouvir sempre de cada um aquilo que trazia. […] Cada vez que eu chegava ele me perguntava como estava o Rio Grande do Sul depois daquela tragédia climática que nos atingiu de forma única [no ano passado]. No auge da tragédia, em um sábado, eu estava em casa e de repente toca o telefone: eu quase tive um troço, pensei que fosse um blefe, alguma coisa. Aqui é o papa. Que papa? Eu saí correndo para dentro de casa, não sabia onde ir, confesso que fiquei sem palavras… Era o papa demonstrando solidariedade. […] Tudo isso me marcou nesse homem. Simplicidade, capacidade de escuta, desejo de se mostrar próximo, espírito de acolhida impressionante e talvez, em termos mais institucionais, sempre gostei de ler as reflexões dele. Textos relativamente breves, de fácil compreensão, belíssimos, reflexões que nos davam sustentação e iluminação.

·        O sucessor terá muita pressão para corresponder às expectativas?

Spengler - [Risos]. Quem conduz a Igreja é o Espírito Santo. E não se trata de encontrar um sucessor para Francisco. O que se busca é um sucessor para Pedro [apóstolo de Jesus, considerado pela Igreja como o primeiro papa]. Isso é importante: não se sucede Francisco. O papa é o sucessor de Pedro.

·        As características então podem ser outras?

Spengler - Sim. Até porque o tempo muda. A sociedade se transforma.

 

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Fonte: BBC News 

 

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