Cientistas
investigam tratamento pontual para combater tremores essenciais
Pesquisadores
do Mass General Brigham identificam o "ponto ideal" para ultrassom
focalizado, no cérebro, capaz de dar alívio e abrandar os chamados tremores
essenciais. Para eles, a descoberta estabelece o modelo de local ideal para
ablação, o que tornará o procedimento mais seguro e eficaz para pacientes no
Mass General Brigham e em todo o mundo. Os cientistas do Brigham and Women's
Hospital foram os pioneiros na aplicação da talamotomia por ultrassom
focalizado guiado por ressonância magnética (MRgFUS). Neste estudo, foram
analisados 351 pacientes tratados com MRgFUS com diagnóstico de tremores
essenciais.
"O
ultrassom é uma estratégia que utiliza essa lesão para fazer um tratamento
definitivo pois quando é feita com uma intensidade forte com o ultrassom
focalizado, acaba causando uma lesão irreversível. O risco é acabar lesionando
estruturas que não precisam ser lesionadas e ocasionar alguma sequela
neurológica. Quanto mais se utiliza essa técnica e melhor é estudada, acaba se
tornando mais segura, como estão mostrando esses novos trabalhos", alertou
Carlos Uribe, neurologista do Hospital Brasília, da Rede Américas.
Na
pesquisa, foi identificada uma sub-região específica do tálamo cerebral que,
quando incluída durante o tratamento com ultrassom focalizado guiado por
ressonância magnética (MRgFUS), pode resultar em melhorias significativas dos
tremores, reduzindo os efeitos colaterais. Os resultados foram publicados na
Science Advances. Os tremores essenciais afetam cerca de 1% da população
mundial e cerca de 5% das pessoas com mais de 60 anos.
"Esse
tratamento único e não invasivo pode ter efeitos imediatos, duradouros e
transformadores para os pacientes e foi pioneiro aqui no Brigham and Women's
Hospital há 30 anos", disse o coautor senior G. Rees Cosgrove, diretor de
neurocirurgia funcional do Brigham and Women's Hospital , membro fundador do
sistema de saúde Mass General Brigham. "Os resultados do estudo ajudarão a
tornar o procedimento ainda mais seguro e eficaz do que já é e ajudarão outros
centros ao redor do mundo a melhorar seus resultados."
• Tratamento
O
estudo identificou um conjunto de locais e conexões cerebrais ideais para
atingir, com o ultrassom magnético, como locais e conexões a serem evitados,
que levam a efeitos colaterais. A equipe então testou se esse "ponto
ideal" poderia ser usado como modelo para prever os resultados em uma
coorte de pacientes tratados com o mesmo procedimento em outro centro, o que se
provou verdadeiro.
O
tratamento mostrou que quanto mais lesionado o "ponto ideal", melhor
era o resultado nos dados comparativos de todos os pacientes, um ano após o
procedimento. De acordo com os pesquisadores, quando os pacientes submetidos à
talamotomia apresentam bom controle dos tremores em um ano, conseguem preservar
os resultados pelo mesmo período. "Ver como esse procedimento pode ter um
impacto tão grande na vida dos pacientes foi o que me motivou a prosseguir com
a pesquisa", disse a autora principal, Melissa Chua, residente senior do
Departamento de Neurocirurgia do Brigham.
A
próxima etapa de estudos é detalhar a evolução dessa tecnologia e os resultados
dos pacientes que melhoraram a partir do tratamento. "É como um presente
quando pacientes que não conseguiam cantar, falar em público, escrever ou mesmo
beber em um copo por anos conseguem fazê-lo novamente — vemos isso em cada
caso", afirmou o coautor sênior G. Reeves Cosgrove.
Para o
médico neurologista Marco Aurélio Borges, do Instituto de Neurologia de Goiânia
(ING), o método é bastante eficiente, inclusive para outros diagnósticos.
"Essa técnica também pode ser aplicada na doença de Parkinson, porém com
resultados inferiores comparados ao tremor essencial. Importante diferenciar as
duas doenças para evitar confusão quanto ao diagnóstico e aplicação clínica do
procedimento relatado acima."
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Palavra do especialista com Carlos Uribe, neurologista do Hospital Brasília, da
Rede Américas
"O
tremor essencial costuma preocupar o paciente porque pode ser confundido com
outros tipos de doença, como a doença de Parkinson. O mais importante é
procurar um especialista para o diagnóstico correto e acompanhamento para ver
se em algum momento esse tremor acaba somando algum outro sintoma que possa
significar outro tipo de doença. Muitas pessoas acabam convivendo com esse
tremor e decidem fazer algum tipo de tratamento sintomático quando realmente
estiver atrapalhando as atividades do dia a dia. E quando se decide começar, as
chances de controle só com medicamentos são grandes. E em casos que são
refratários, que não responderam bem ou que têm muitos efeitos secundários,
estaria indicado esse outro tipo de abordagem, utilizando a talamotomia, e uma
das técnicas é esse ultrassom focalizado que vem se mostrando cada vez mais
seguro."
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Ações não invasivas - Maciel Pontes, médico neurologista do Hospital de Base do
DF
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Pelo o que descreve a pesquisa, o tratamento pode ser eficiente no combate aos
tremores?
Sim. A
pesquisa conduzida pelo Mass General Brigham indica que a talamotomia por
ultrassom focalizado guiado por ressonância magnética (MRgFUS) é altamente
eficaz no alívio dos sintomas do tremor essencial. O estudo identificou um
"ponto ideal" no tálamo cerebral que, quando atingido com precisão,
resulta em uma melhora significativa e duradoura nos tremores, com redução de
efeitos colaterais. Esses achados reforçam o potencial desse tratamento não
invasivo como uma alternativa segura e transformadora para os pacientes.
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Na sua opinião, quais são os tratamentos atualmente utilizados que surtem mais
efeitos?
Atualmente,
os tratamentos mais eficazes para o tremor essencial incluem o uso de
medicamentos como propranolol e primidona, além de procedimentos mais avançados
como a estimulação cerebral profunda (DBS) e, mais recentemente, a talamotomia
por ultrassom focalizado (MRgFUS). Este último tem se destacado por oferecer
alívio imediato e duradouro dos tremores sem a necessidade de cirurgia
invasiva, sendo uma opção promissora principalmente para pacientes que não
respondem bem aos medicamentos.
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Uma vez com o diagnóstico dos tremores, quais são as orientações para o
paciente e para a família?
Ao
receber o diagnóstico de tremor essencial, é fundamental que o paciente e sua
família compreendam a natureza do distúrbio que, embora não seja fatal, pode
impactar profundamente a qualidade de vida. A orientação inicial envolve buscar
acompanhamento com um neurologista especializado em distúrbios do movimento
para avaliação do grau de comprometimento e definição da melhor abordagem
terapêutica. Também é importante o suporte emocional e psicológico,
especialmente para lidar com possíveis limitações nas atividades diárias. A
participação da família no processo de cuidado é essencial para garantir adesão
ao tratamento e adaptação às mudanças na rotina.
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Para saber mais...
O
médico neurologista Marco Aurélio Borges, do Instituto de Neurologia de Goiânia
(ING), explicou na prática como funciona o método. "O ultrassom focalizado
de alta frequência (HIFU) é uma técnica terapêutica não invasiva que utiliza
ondas de ultrassom concentradas para aquecer e destruir tecidos-alvo com
precisão milimétrica, sem a necessidade de cortes ou incisões. Ele funciona
como uma 'lente acústica', que foca a energia em um ponto específico do corpo —
como um feixe de luz concentrado — elevando a temperatura local (geralmente
acima de 55?°C), o que provoca coagulação térmica e destruição celular
controlada."
Segundo
o especialista, o HIFU é guiado por imagens (geralmente por ressonância
magnética)para garantir precisão no direcionamento, e tem sido usado no
tratamento de tumores, como próstata, fígado, mama, além, de miomas uterinos e
doenças neurológicas. No caso da aplicação contra doenças neurológicas, ele
alerta sobre a necessidade de entender e distinguir diagnósticos.
"O
tremor essencial e a doença de Parkinson são condições neurológicas distintas
que compartilham o sintoma do tremor, mas diferem em suas causas,
características clínicas e evolução. O tremor essencial é geralmente uma
condição hereditária e benigna, caracterizada por tremores que ocorrem durante
a ação voluntária, como ao escrever, segurar objetos ou realizar tarefas
motoras finas. Ele costuma afetar ambas as mãos de forma simétrica e, em alguns
casos, pode envolver a cabeça e a voz. Já a doença de Parkinson é uma condição
neurodegenerativa progressiva, associada à perda de neurônios produtores de
dopamina. O tremor parkinsoniano é tipicamente observado em repouso, começando
geralmente de forma assimétrica, em apenas um lado do corpo. Além do tremor, é
comum a presença de rigidez muscular, lentidão nos movimentos (bradicinesia) e
alterações no equilíbrio postural. Portanto, embora ambas as condições envolvam
tremores, suas manifestações clínicas e tratamentos são distintos, exigindo
abordagens diagnósticas e terapêuticas diferenciadas. "
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Duas perguntas para Ana Cláudia Pires Carvalho, neurologista especialista em
distúrbios do movimento do Hospital Anchieta Taguatinga
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Como esse tratamento pode melhorar a vida de quem tem o diagnóstico de
tremores?
O
estudo fala sobre uma técnica chamada ultrassom focalizado, que é usada pra
tratar tremores — principalmente o tremor essencial, que é diferente do
Parkinson, mas tem sintomas parecidos. Essa tecnologia é promissora e já vem
sendo aplicada em alguns casos de Parkinson, principalmente quando o tremor é
muito intenso e não responde bem aos remédios. Então, sim, ela pode ajudar
bastante no controle do tremor, mas é importante lembrar que não é uma cura e
nem trata todos os sintomas da doença. É uma ferramenta a mais que temos,
especialmente para pacientes que não podem ou não querem fazer cirurgia.
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Para a senhora, quais tratamentos utilizados são eficientes?
O
tratamento mais eficaz até hoje continua sendo a levodopa — é o que melhor
controla os sintomas motores, como a rigidez, a lentidão e o tremor. Mas a
gente costuma associar com outros remédios pra ajustar melhor ao longo do
tempo, porque o Parkinson é uma doença que vai mudando. Quando os medicamentos
começam a perder efeito ou causam efeitos colaterais, a gente pode indicar a
estimulação cerebral profunda, que é uma cirurgia com bons resultados. Além
disso, fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional fazem muita
diferença. O tratamento precisa ser bem individualizado, adaptado pra cada fase
da doença. Mas o primeiro passo é entender bem a doença. Parkinson não tem
cura, mas tem tratamento, e quanto mais cedo a gente começar, melhor a
qualidade de vida. É importante ter um acompanhamento contínuo com o
neurologista e envolver outros profissionais, como fisioterapeutas e
fonoaudiólogos, desde o início. O exercício físico regular ajuda muito, tanto
nos sintomas quanto no humor. Pra família, o mais importante é estar presente,
dar apoio emocional e ajudar a adaptar a casa conforme o paciente vai tendo
mais dificuldades. E, claro, conversar abertamente sobre o futuro, sobre os
cuidados e decisões que podem surgir com o tempo. Informação e acolhimento fazem
toda a diferença — tanto pro paciente quanto pra quem está ao lado dele.
Fonte:
Correio Braziliens

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