A
situação atual da Guerra na Ucrânia
A
eleição do presidente Donald Trump nos Estados Unidos mudou a política do país
com relação à Ucrânia de “o tempo que for
preciso”
para a busca de um acordo de paz negociado. Essas negociações serão orientadas
pela realidade no campo de batalha. O lado com a maior vantagem dita os termos.
Isso se torna mais complicado se não houver cessar-fogo durante as negociações
e o campo de batalha permanecer dinâmico.
Os
beligerantes podem conduzir operações ofensivas enquanto as negociações
progridem, visando melhorar sua posição de barganha. Historicamente, em muitos
conflitos, as negociações de paz duraram anos, mesmo enquanto a guerra
continuava, como durante as guerras da Coreia e do Vietnã. Assim, o equilíbrio
de poder, medido em recursos, perdas e qualidade da liderança estratégica, é
crucial para o resultado das negociações.
Para as
potências ocidentais, isso traz consequências graves. Elas apostaram sua
reputação nesse conflito e, com ele, o destino da “ordem mundial baseada em
regras”. O Sul Global e a ordem mundial multipolar aguardam ansiosamente para
assumir o controle. O fracasso em alcançar a vitória tem o potencial de solapar
mortalmente essa ordem, removendo o Ocidente da liderança global, da qual
desfruta há vários séculos.
·
A natureza da guerra Rússia-Ucrânia de 2022
A
guerra na Ucrânia agora é de desgaste. Guerras desse tipo são vencidas não pela
captura de terreno, mas pela gestão cuidadosa de
recursos,
preservando os próprios enquanto destrói os do inimigo. A “taxa de câmbio” das
perdas não apenas deve ser favorável a um lado, mas também deve levar em conta
as reservas totais disponíveis do inimigo. O caminho para a vitória reside na
capacidade de substituir as perdas, enquanto se mobilizam novas forças e se
sustenta a economia e o moral civis.
Substituir
perdas não significa simplesmente colocar homens em uniformes e fornecer-lhes
treinamento básico. As unidades do Exército devem ser treinadas coletivamente
em vários níveis, o que impulsiona a coesão de cada unidade. Quanto mais coesa
ela for, mais complexas serão as manobras capaz de executar. Perder muitos
soldados redefine a coesão da unidade até o ponto em que ela se torna incapaz
de qualquer manobra, a não ser defender uma trincheira.
Nessa
guerra, o ganho de terreno é muito menos importante. Os combates frequentemente
se concentram no mesmo pedaço de terreno, com pouca movimentação, até que um
dos lados não consiga mais sustentar o conflito. A Guerra Civil Espanhola e a
Primeira Guerra Mundial são exemplos emblemáticos disso. Essas guerras
permaneceram praticamente estacionárias até o último momento, quando então um
dos lados capitulou. A guerra na Ucrânia segue a mesma trajetória.
A
liderança estratégica é vital, porque orienta a gestão de recursos no conflito.
As falhas em identificar objetivos estratégicos e o desperdício de recursos em
objetivos irrelevantes fazem com que as chances de vitória diminuam. Segue-se,
então, um breve resumo das perdas de recursos de cada lado e da capacidade de
manter o conflito até o momento.
·
Condições militares das forças russas
Vendo-se
frustrado o objetivo central da sua Blitzkrieg inicial, qual
seja, promover, nos primeiros dois meses de combates, uma situação que levasse
à mudança de regime em Kiev, a liderança política e militar russa parece ter
apreendido a natureza desgastante em que o conflito se converteria e, daí, a importância
de preservar recursos.
Em três
ocasiões ao longo do ano de 2022 – em Kiev, Kharkov e Kherson –, os russos se
esforçaram para preservar suas capacidades de combate, e cederam terras para
salvar soldados. Essas “derrotas” foram um pesadelo de relações públicas, mas
preservaram soldados experientes, que foram empregados para formar o núcleo da
nova força militar.
A
Rússia parece ser capaz de substituir suas perdas e ainda aumentar o
contingente de suas forças. De acordo com o site Mediazona, subsidiado pelo serviço russo da
rede britânica [inimiga] BBC, o exército russo pode ter sofrido um
total de pouco mais de 98.000 mortos. Esse número incluiria apenas soldados
russos mortos, identificados pelo nome, e o número real provavelmente seria
maior. O próprio Mediazona estima que o número real possa ser
de cerca de 165.000.
Ao
mesmo tempo, não são contabilizadas as perdas de antigos independentistas dos
novos territórios incorporados no Donbass. Então, outros 20.000 deveriam ser
adicionados àquele montante, chegando a cerca de 120.000. Isso atualmente dá
uma média de cerca de 3.600 mortos por mês. Historicamente, para cada morto
há quatro feridos, então outros
480.000 feridos precisam ser adicionados à contagem russa, o que equivale a uma
perda mensal de 14.400; ou seja, 18.000 baixas mensais no total.
No
entanto, os mesmos dados indicam que, destes, três quartos dos
feridos geralmente retornam ao serviço após o tratamento. Para resumir, as
forças russas estão sofrendo 7.200 perdas permanentes mensalmente, com uma taxa
de retorno de 10.800. Ao mesmo tempo, os russos estão recrutando 30.000 voluntários
por mês,
além dos feridos que se recuperaram. Isso se traduz em um crescimento de 22.800
soldados a cada mês. Mesmo que as perdas russas possam ser o dobro do
contabilizado pelo Mediazona, o exército russo ainda estaria se
expandindo. Somado a esse número, houve a presença temporal uma força limitada
de cerca de 10.000 a 12.000
soldados norte-coreanos, destacados para ajudar as forças russas a expulsar o
exército ucraniano da região de Kursk.
A
Rússia também tem a geração de força a seu favor. Ela mantém o recrutamento
obrigatório aos 18 anos. Ainda que os recrutas não possam ser enviados para o
combate fora das fronteiras da Rússia, o sistema fornece um ano de treinamento
básico para cada homem qualificado na Rússia. Quando um russo se voluntaria ou
é mobilizado, ele só precisa de alguns meses de reciclagem individual e
treinamento coletivo. Os soldados ucranianos devem ser treinados do zero. Isso
dá à Rússia uma vantagem enorme na formação de novas unidades. O desafio viria
apenas se os voluntários acabassem, já que parece haver pouco apetite político
no país para uma nova rodada de mobilização em massa.
Para
equipar esse exército, os russos vinham desenvolvendo sua base industrial
militar na última década, além de receberem o apoio da Coreia do Norte e do Irã.
Isso permite que o Exército Russo equipe a contento as novas formações. Ao
mesmo tempo, rotações periódicas permitem que as unidades absorvam a
substituição, mantendo soldados experientes. Isso se traduz em um exército
russo com cerca de um milhão e meio de
soldados treinados
e equipados, que até mesmo o Pentágono reconheceu ter se
recuperado com sucesso de eventuais perdas iniciais.
Onde o
exército russo parece ser fraco é em seu corpo de oficiais gerais em nível
operacional. Há um sistema de “bom e velho” no exército russo que não
responsabiliza oficiais incompetentes. Ainda que muitos sejam competentes, a
corrupção e a mentira são toleradas por aqueles que não o são. No campo de
batalha, isso pode resultar em comandantes alegando falsamente conquistar
objetivos [como foi o caso da frente de Sievierodonyetsk em setembro de 2024].
De suas
posições lançam, então, ataques sem o suporte de fogo fornecido por escalões
superiores, na tentativa de tornar realidade o que eram relatórios falsos,
produzindo fiascos com baixas pesadas. Mesmo quando esses oficiais são
flagrados por jornalistas militares russos e o público pressiona o Ministério
da Defesa a agir, os culpados não apenas escapam da punição, mas podem ser
promovidos para salvar a cara.
Em
contraste, quando oficiais competentes levantam questões sérias na frente de
batalha, podem ser punidos, como teria sido o caso do major-general Ivan Popov,
ex-comandante do 58º Exército, que interrompeu a contraofensiva ucraniana em
Zaporizhzhie e está atualmente preso sob o que podem ser até mesmo acusações
forjadas. Situações como essas conspiram para aumentar as baixas no Exército
Russo, gastando recursos valiosos com ferimentos autoinfligidos.
·
Condições militares das forças ucranianas
Minha
opinião é que a alta liderança política ucraniana gastou tempo demais tentando
atingir objetivos de relações públicas, a um custo significativo para as
operações militares. As enormes perdas de recursos, especialmente humanos,
esgotaram de forma considerável a capacidade de combate das forças ucranianas,
e colocam em risco o potencial de combate a longo prazo. Isso acabou se
mostrando duplamente desafiador, pois a Ucrânia começou com menos recursos. A
Rússia tem três vezes a população da Ucrânia e, no caso de munição de
artilharia, supera em muito não apenas a Ucrânia, mas todo o Ocidente, numa
proporção de três para um.
O
padrão de manter cidades depois que elas se tornaram indefensáveis, ou atacar
mesmo quando não há chance de sucesso tornou-se visível em todas as operações,
mas duas batalhas se destacaram mais. A primeira foi a batalha de Bakhmut na
região de Donyetsk, no Donbass, de 2022 a 2023. No meu entender, a cidade tinha
pouco valor operacional, menos ainda estratégico. No entanto, a liderança
ucraniana insistiu em mantê-la até seu amargo fim.
Para
atacar a cidade, os militares russos usaram o PMC [Private Military Company]
Wagner, reforçado por presidiários com penas comutadas, dando ao exército
regular russo tempo para absorver os reservistas mobilizados e estabelecer
novas formações. Para deter a força russa, a Ucrânia enviou um fluxo constante
de homens para a cidade, muitos deles com pouco treinamento.
A
expectativa de vida em batalha do soldado ucraniano médio caiu para cerca
de quatro horas, de acordo com o
ex-fuzileiro naval norte-americano Troy Offenbecker, que lutou no lado
ucraniano. É impossível dizer quantos morreram, mas um jornalista
ocidental contou 250 feridos em
um hospital ao longo de um dia. Havia três hospitais em Bakhmut, outro em
Soledar, ao norte, e um em Chasov-Yar, recebendo feridos ao sul da cidade.
Aplicando
aproximativamente aquela marca numérica, ela seria extrapolada então para uma
média de 1.250 feridos diários. A proporção de quatro feridos para um morto
resultaria em 312 mortos por dia, ou seja, dentro de uma faixa entre 200 e 400
mortos diários, com alguns relatórios anotando picos de 500 fatalidades por
dia. A batalha durou oito meses, o que resulta entre 48.000 a 96.000 mortos
ucranianos nela.
Em
contraste, no mesmo período, os russos perderam cerca de 1.800 soldados Wagner
e 11.000 ex-presidiários, num total próximo a 13.000 combatentes caídos. Isso
está de acordo com a taxa de um para três que Yevgeny Prigozhin, chefe do
Wagner, afirmou em uma entrevista de maio de 2023. Não há
justificativa militar para tal taxa de perdas em uma cidade, especialmente
porque há terreno mais defensável atrás dela.
A única
explicação é a de que o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy transformou
Bakhmut em um símbolo nacional, após entregar, com grande pompa, a bandeira assinada
por seus defensores ao
Congresso dos Estados Unidos, e depois não querer lidar com a imagem da perda
desse símbolo. Assim, no mínimo 48.000 ucranianos morreram e, de qualquer
maneira, a cidade caiu.
Mais
tarde, em 2023, a mando dos britânicos, a liderança ucraniana enviou seu Corpo
de Fuzileiros Navais para a operação mais questionável até então: a Batalha de
Krinki. A meu ver, a operação tinha zero chances de sucesso. Para atingir os
objetivos operacionais e avançar em direção à Crimeia, a Ucrânia teria que
capturar uma grande cabeça de ponte e, a seguir, empurrar a artilharia para o
outro lado do rio, o que exigiria grandes quantidades de munição pesada. Para
movê-la através do rio, os ucranianos precisariam de pontes sobre o Dnipro, que
seriam imediatamente destruídas pelo robusto fogo russo de longo alcance.
Fosse
como fosse, os ucranianos cruzaram o rio e, durante o primeiro mês, conseguiram
infligir pesadas perdas aos contra-ataques russos, mas depois, os russos se
entrincheiraram para um cerco, e foi a vez dos ucranianos sofrerem perdas. O
reabastecimento ucraniano, as substituições e a evacuação de baixas tiveram que
ser realizadas sobre o exposto Rio Dnipro, enquanto os russos tinham a
cobertura das florestas. O resultado foi uma proporção de baixas
consideravelmente desequilibrada.
Quando
a Ucrânia finalmente encerrou a operação, muitos meses depois, o Corpo de
Fuzileiros Navais Ucranianos estava aniquilado, junto com uma artilharia
equivalente a duas brigadas. Mesmo que a operação tenha gerado repercussão positiva
na mídia ocidental,
é impossível justificar militarmente esse colossal desperdício de homens e
recursos.
O
exército ucraniano obteve alguns sucessos onde o objetivo militar foi
priorizado. A ofensiva de Kharkov, em outubro de 2022, foi magistralmente
planejada e executada. O planejamento e a preparação cuidadosos permitiram que
o exército ucraniano utilizasse o elemento surpresa, rapidamente explorado.
As
perdas totais da Ucrânia são difíceis de avaliar. A Fundação Jamestown estimou que a Ucrânia
tinha mobilizado dois milhões de homens até julho de 2023, e o número agora
pode deve estar se aproximando de três milhões. A maioria das estimativas
sugere o exército ucraniano em campo em cerca de 1 milhão de homens, enquanto Volodymyr
Zelenskyy afirmou estar
mobilizando outros 880.000. As perdas oficiais ucranianas de 43.000 são
francamente irrealistas à luz dos números anteriores.
Para
uma estimativa mais verossímil, o canal “Antiseptic” do Telegram oferece
um dos poucos bancos de dados que compara fotos de satélite atuais e pré-guerra
de alguns cemitérios ucranianos selecionados. A natureza limitada dos
cemitérios pode resultar em subcontagem. Por exemplo, a cidade de Kharkov tem
vários cemitérios, mas apenas o cemitério nº. 18 foi levantado. Soldados
enterrados em outros cemitérios da cidade não são contados.
O
gráfico abaixo calcula a média da porcentagem da população pré-guerra perdida
por localidade e a compara com a população total da Ucrânia. A estimativa final
é de cerca de 769.000 mortos e, com base em dados históricos, provavelmente o
mesmo número é plausível para feridos nunca se recuperarão o suficiente para
voltar à frente de batalha.
Isso
corresponde à estimativa da Fundação Jamestown: cerca de 1 milhão e meio de
pessoas são vítimas permanentes, outros 400.000 a 600.000 feridos se recuperam
em hospitais, deixando de 1 milhão a 800.000 ainda em campo.
Essa
taxa de perdas significa que a Ucrânia está ficando sem
formações treinadas e motivadas. O problema foi agravado pela decisão da
liderança política ucraniana de criar novas formações, em vez de substituir as
perdas em unidades experientes existentes. À medida que as formações mais
antigas perdiam seu pessoal experiente e a eficácia em combate, as novas
formações sofreram baixas extras antes que pudessem ganhar experiência
suficiente para serem úteis.
Os
ucranianos estão tentando mudar isso, mas pode ser tarde
demais. Os soldados experientes são substituídos por homens capturados nas ruas
e que não têm qualquer desejo de lutar. No ano passado, 100.000 soldados
ucranianos desertaram. A recém-formada
155ª Brigada perdeu mais de 1.700 de 6.000 homens por deserção antes de chegar
à linha de frente. Sem uma fonte milagrosa de combatentes experientes e
motivados, o exército ucraniano pode entrar em colapso nos próximos 6 a 12
meses. O recrutamento de jovens de 18 a 25 anos ganhará tempo, mas não
resolverá o problema da motivação.
Equipamentos
também estão se esgotando. O Ocidente, cujo apoio militar mantém a Ucrânia na
luta, parece ter esvaziado seu estoque de equipamentos, e pouco resta a
oferecer. Alguns governos ocidentais até mesmo despojaram seus
próprios exércitos de
equipamentos, e atualmente eles não estão mais em condições de realizar
missões. A mesma situação se aplica à capacidade de disparo de longo alcance. O
Ocidente parece estar sem todos os mísseis, exceto os Taurus
alemães. É improvável que estes últimos tenham o mesmo impacto que os Storm
Shadows britânicos.
O único
âmbito onde a Ucrânia conseguiu equipar suas forças foi na guerra de drones.
Esses drones estão tendo um impacto militar desproporcional.
Foram fundamentalmente os drones FPV [first person view:
com câmeras de direção] que mantiveram a Ucrânia viva no último ano. No
entanto, os russos têm tantos drones quanto, provavelmente
mais, simplesmente devido a uma base industrial maior e importações quase
irrestritas da China. O equilíbrio entre a defesa de guerra
eletrônica e drones de ataque tem oscilado há
algum tempo, mas ultimamente os russos ganharam uma clara vantagem com drones de
cabo de fibra, que não podem ser bloqueados. A Ucrânia possui essa tecnologia,
mas não parece produzir em números suficientes para se igualar aos russos.
Com a
crescente escassez de mão de obra e equipamentos, é difícil imaginar como a
Ucrânia poderá se manter sem a intervenção direta de forças ocidentais, e
especificamente das americanas. Em especial quando a liderança política
ucraniana continua a priorizar relações públicas em vez de objetivos militares.
Para o
Ocidente, tudo isso aporta um risco estratégico. A liderança global ocidental
se apoiava no poder econômico, militar e no soft power. O poder
econômico já está abalado. Usando o PIB de Paridade de Poder de Compra, que
mede a produção total de uma nação em vez do valor monetário de sua economia,
torna-se evidente que duas das três das maiores economias globais são países
asiáticos não alinhados, e não potências ocidentais.
A
Rússia segue em quarto lugar, à frente do Japão e da Alemanha. As potências
ocidentais, especialmente seus líderes, arriscaram boa parte de suas
reputações, e aceitaram
sacrifícios econômicos para vencer essa guerra. Uma derrota militar da
Ucrânia nas mãos da Rússia, considerando o apoio ocidental, minaria tanto os
aspectos militares quanto os de soft power da ordem mundial
liberal.
Esta
última já está abalada pela resposta ocidental ao conflito em
Gaza. O resultado seria então o colapso da liderança ocidental e a substituição
da ordem mundial liberal por outra. Seria difícil especificar a forma da nova
ordem mundial, mas o período de transição pode ser perturbador e violento, à
medida que países ao redor do mundo perceberem que as soluções militares estão
de volta à pauta.
Isso
também colocaria em risco o papel do dólar americano no comércio global,
cuja instrumentalização
militar tem
assustado muitas nações, levando-as a buscar caminhos alternativos. Como afirmou o secretário de
Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, “em cinco anos… não teremos mais a
capacidade de aplicar sanções”, à medida em que os países encontrem maneiras de
contornar o dólar. Isso pode ajudar a explicar por que a equipe de Donald Trump
está tão ansiosa para acabar com a guerra na Ucrânia.
·
Conclusão
Até o
momento, a Ucrânia ainda tem algumas cartas na mesa de negociação. Seu exército
ainda está em campo, disputando cada metro de terreno. Mas o tempo está se
esgotando para os ucranianos. A Ucrânia tem problemas significativos com mão de
obra. O equilíbrio de poder está mudando a favor da Rússia e, em algum momento,
os ucranianos começarão a enfrentar o colapso da frente. Esse resultado é mais
provável, dada a tendência negativa na tomada de decisões pela liderança
política ucraniana. A menos que comecem a conservar seu poder de combate, o
colapso torna-se cada vez mais iminente. A Ucrânia precisaria de um cessar-fogo
agora para ganhar espaço para restaurar seu poder de combate e melhorar sua
posição nas negociações de paz.
Os
russos estão na situação oposta. As vantagens russas em mão de obra e
equipamento estão crescendo. A Rússia está enviando para o combate o
equivalente a duas novas divisões por mês. As condições do campo de batalha e o
crescente poder de fogo significam que é improvável que os russos aceitem
qualquer cessar-fogo até que os termos finais de paz sejam acordados, algo que
já deixaram claro. Também é provável
que estendam o processo de negociação para melhorar sua posição no terreno. O
tempo está a seu favor e, a menos que a paz seja acordada agora, estão a
caminho da vitória, o que pode ter consequências políticas e econômicas
devastadoras para o resto da Europa.
As
potências ocidentais apostaram a ordem mundial liberal no resultado dessa
guerra. Negociar a paz nos termos russos hoje seria
ruim, mas apostar em uma improvável melhora nas condições no campo de batalha e
perder seria muito pior. Os Estados Unidos parecem estar tomando o primeiro
caminho, com o secretário de Defesa, Pete Hegseth, sinalizando aos russos que
os Estados Unidos levam as negociações a sério, retirando da mesa a adesão da
Ucrânia à OTAN.
A União
Europeia, no entanto, escolheu o último caminho, prometendo apoio pelo tempo que for
necessário e
negociando a partir de uma “posição de força”, sem perceber que a
força é medida em combate e em poder industrial, e não em declarações
atrevidas. As tendências atuais no campo de batalha são mais favoráveis à
posição norte-americana. Isso daria aos Estados Unidos a chance de conter as
consequências da guerra na Ucrânia para a Europa e preservar sua liderança
global, especialmente o papel dominante do dólar.
Com os
Estados Unidos cada vez mais enxergando a guerra como um risco, a posição de
negociação da Ucrânia corre o risco de se desfazer. Mesmo com o apoio
norte-americano, a posição ucraniana no campo de batalha está se deteriorando.
Sem o apoio norte-americano, as chances de colapso da Ucrânia no mesmo campo
são muito maiores, mesmo com a ajuda contínua da União Europeia.
Neste
momento, os russos estão exigindo a Crimeia e quatro oblasts da
Ucrânia, além da proibição da Ucrânia de entrar na OTAN e na União Europeia,
bem como a garantia dos direitos dos russo-falantes no país. Essas demandas
incidem sobre as regiões onde o exército russo já controla 60% ou mais do
território. Se a Ucrânia entrar em colapso, o exército russo avançará,
empurrando a linha de contato para o interior da Ucrânia e as condições se
agravarão.
Há uma
boa chance da Rússia abocanhar toda a Novorossiya, adicionando ao seu
controle as províncias de Kharkov, Odessa, Mykolaiv, Poltava e Dnipropetrovsk,
bem como referendos locais sobre a condição da Transcarpácia e, se o clima político na
Romênia for
favorável, também da Bucovina do Norte e de outras regiões de língua romena,
seduzindo os membros que quiser da OTAN com territórios, para dividir a unidade
da aliança. Isso reduzirá a Ucrânia a um Estado sem litoral, baseado em Kiev,
Chernigov e Lvov.
A
verdadeira questão, portanto, é: a Ucrânia obterá uma paz aceitável, ainda que
amarga, agora, ou continuará lutando, arriscando-se a um colapso militar muito
pior, sob os ditames russos, no futuro?
Fonte: Alex
Vershinin, em A Terra é Redonda

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