A
falácia dos mercados de carbono
O
intercâmbio constante de CO2 entre a atmosfera e os oceanos regula o clima da
Terra impedindo que este se assemelhe ao de Marte ou de Vênus. O CO2
atmosférico é transparente à luz solar, porém é opaco à energia (térmica)
infravermelha, de tal forma que permite a entrada da luz ao mesmo tempo em que
impede que o calor da Terra escape livremente para o espaço.
Quando
a temperatura terrestre aumenta, os oceanos absorvem CO2 atmosférico e
facilitam que parte do calor se esvaia, contribuindo assim para que a atmosfera
de nosso planeta se resfrie. Já quando cai em excesso a temperatura da
atmosfera terrestre, esta aquece-se ao absorver CO2 liberado pelos oceanos. Com
efeito, por milhões de anos o ciclo do carbono tem impedido que a Terra se
torne demasiadamente fria ou quente, isto é, que se assemelhe climaticamente à
Marte ou à Vênus.
O ano
de 2024 foi confirmado pelo Copernicus Climate Change Service (C3S)[i] como o
mais quente já registrado na Terra. O primeiro ano em que a temperatura média
global ultrapassara em 1,5 °C a sua marca pré-industrial.
Na
medida em que a temperatura dos oceanos aumenta, a solubilidade do CO2 na água
diminui comprometendo-se a capacidade oceânica de absorver mais desses gases.
Condição que reforça o efeito estufa e engendra um mecanismo de
retroalimentação: quanto maior a concentração de dióxido de carbono na
atmosfera mais aquecimento global, menor a capacidade dos oceanos em absorver
CO2 e ainda mais aquecida a temperatura da superfície terrestre – tanto que
para alguns especialistas o aquecimento global ganhara “vida própria”, visto
que o gatilho que inaugura um mecanismo automático de aquecimento de nosso
planeta já teria sido acionado.
Embora
oscilações referentes ao El Niño tenham contribuído para temperaturas incomuns
observadas na superfície marinha durante o ano de 2024, os cientistas do C3S
são taxativos em afirmar que a concentração de gases de efeito estufa na
atmosfera são as suas principais causas, especialmente associadas à queima de
combustíveis fósseis e ao desmatamento.
O que
significa que o gatilho do aquecimento global fora acionado pelo desenrolar
daquilo que muitos entendem (por vezes acriticamente) por progresso e/ou
desenvolvimento. A figura abaixo ilustra o quão crescem as concentrações médias
de dióxido de carbono e de metano atmosféricos desde o início do presente
século. Quadra história marcada por crescentes conflitos socioambientais e
militares, não raras vezes em torno de recursos energéticos demasiadamente
poluentes como o petróleo, mas cada vez mais por terras raras.
Ou
seja, pela apropriação de recortes da biosfera que concentram elementos
químicos transformados por milhões de anos pelo silencioso metabolismo da
Terra. Qualidades da matéria geralmente mescladas à minérios e que contêm
propriedades aproveitáveis na separação de certos componentes do petróleo, mas
também na produção de lâmpadas de LED e de super ímãs que se encontram em
computadores e em motores de automóveis movidos por energia elétrica.
Infelizmente
não há surpresas nos dados expostos pelos pesquisadores do C3S em seu
relatório. O que causa desconforto é a conclusão apresentada (e igualmente nada
surpreendente) de que as mudanças climáticas extremas são provocadas pelos
“seres humanos”. Afinal, cabe aí uma ponderação: se é inquestionável que o
preocupante acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera resulte da ação
humana, plenamente discutível é que a responsabilidade recaia indistintamente
sobre toda a espécie humana.
Francamente,
parece um grande equívoco – para não dizer uma injustiça – responsabilizar
povos indígenas, pequenos agricultores, comunidades quilombolas e ribeirinhas
pela concentração desses gases na atmosfera terrestre. Quando o assunto são
mudanças climáticas extremas, tais grupos sociais não podem simplesmente
figurar na mesma categoria de grandes corporações que impulsionam a degradação
ecossistêmica para lucrar exorbitantemente com a comercialização de commodities
agropecuárias e minerais – sem nenhuma medida ambiental verdadeiramente
efetiva.
Tampouco
se pode comparar o impacto gerado por uma Terra Indígena, por exemplo, com o
causado pelas Forças Armadas estadunidenses, maior consumidor mundial de
petróleo e maior emissor mundial de CO2 – conforme aponta Ian Angus em seu
elucidativo livro Enfrentado o Antropoceno.
Nesse
sentido, vale lembrar que de acordo com o Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas o aumento de eventos climáticos extremos expôs globalmente
milhões de pessoas à insegurança alimentar e a insegurança hídrica, porém com
impactos negativos desproporcionalmente mais severos para pequenos produtores
de alimentos, famílias de baixa renda e especialmente povos indígenas – cujas
terras abrigam 80% da biodiversidade remanescente no planeta.
Biodiversidade
essencial à manutenção de serviços ecossistêmicos fornecidos gratuitamente pela
natureza e indispensáveis à espécie humana, como a regulação do ciclo
hidrológico da Terra, a ciclagem de nutrientes do solo e a já mencionada
regulação do clima terrestre. A rigor, a biosfera é o conjunto de ecossistemas
onde a vida é possível, um sistema cujo bom funcionamento requer a manutenção
de metabolismos ecossistêmicos minimamente saudáveis.
O que
por seu turno implica a preservação de elementos bióticos e abióticos que
compõem os diferentes ecossistemas terrestres e marinhos. Talvez dois exemplos
interconectados e bastante conhecidos ajudem a ilustrar a importância da
preservação da biodiversidade que assegura serviços ecossistêmicos essenciais:
(i) a existência de polinizadores que garantem a reprodução de árvores que – ao
utilizarem energia solar – (ii) absorvem água do solo pelas raízes e transpiram
vapor d’água pelas folhas, criando assim um ambiente propício para si mesmas e
para muitas outras formas de vida terrena – inclusive a humana.
O ponto
a destacar é que a natureza não é mera fonte de “recursos naturais”, mas uma
trama da vida, um organismo cuja saúde depende do bom estado de seus
ecossistemas, consequentemente da biodiversidade que lhes constituem. Essa
compreensão é relativamente nova para uma parcela menor das pessoas que
enxergam o mundo com a lente do modelo de civilização que surgiu na Europa
Ocidental as voltas do século XVI.
Nessa
perspectiva de mundo, o estudo de nosso planeta como um organismo vivo só se
tornou possível e imprescindível há não muito tempo, quando satélites
projetados para reunir dados sobre a Terra combinaram-se com sistemas
computacionais capazes de coletar e analisar esses dados.
Foi
somente em 1986 que se criou o International Geosphere-Biosphere Programe, um
programa de cooperação científica internacional com o objetivo de descrever e
compreender processos (físicos, químicos e biológicos) que interagem entre si e
regulam o sistema terrestre como aquilo que realmente é: um todo com dinâmica
intrínseca. De acordo com Angus em seu trabalho supramencionado, presentemente
cientistas perfuram partes da Antártica para acessar recortes desse todo
intactas há milhares de anos.
Dessas
perfurações são extraídas amostras para estudos que partem do pressuposto de
que o entendimento do passado pode revelar elementos indispensáveis à apreensão
do estado presente do Sistema Terra, com possíveis ensinamentos à construção de
um futuro sem a insegurança da atual crise ecológica.
Um
entendimento relativamente novo para a ciência tida como oficial, mas milenar
para povos indígenas, que desde muito antes dos europeus do “descobrimento”
desembarcarem nas Bahamas já reconheciam a natureza como um ser vivo, bem como
o presente e o futuro como enlaçados pela sabedoria ancestral. Sabedoria
transmitida muitas vezes através de rituais que funcionam como formas de se
transmitir o passado ao futuro através do presente, mas também de sedimentar o
senso de comunidade nas pessoas.
Manifestações
culturais de uma forma de consciência que apreende a relação
humanidade/natureza como a totalidade que é, em contraponto a ideia
antropocêntrica que projeta a natureza como uma espécie de almoxarifado da
espécie humana. Ideia essa, vale mencionar, que está na raiz epistêmica da
crise ecológica. Certamente um problema global que requer uma solução por parte
da comunidade internacional, mas que em sua essência não é apreensível pela
simples quantificação de (pre)supostas “externalidades negativas” do
desenvolvimento capitalista, talvez por ser uma contradição tão endógena a este
quanto a tecnocracia que o defende praticamente como um ato de fé.
Diferentemente
do modelo de civilização europeu ocidental, que arrogantemente se propõe como o
único mundo possível, os povos indígenas partem de uma ontologia assaz
diferente do que seja o tempo-espaço presente e a própria vida. Se na visão de
mundo típica do universalismo europeu a natureza não é mais do que mera fonte
de “recursos naturais”, aproveitáveis em processos muitas vezes degradantes de
acumulação capitalista, para os povos tradicionais ela é uma teia da vida, na
qual a humanidade se insere e da qual o bom funcionamento ela depende para
existir e se desenvolver.
O
entendimento ou cosmovisão dos povos indígenas latino-americanos, por exemplo,
emerge de uma forma de estar no mundo que difere frontalmente a da “civilização
ocidental”, que se propõe a portadora do progresso ao passo que degrada
aceleradamente condições naturais indispensáveis à vida.
No
entanto, muitos insistem em considerar como um ato civilizatório o
desenvolvimento do sistema que ainda hoje expropria territórios de povos
originários calcado na destruição ecossistêmica e no racismo que lhe acompanha
– senão como pseudo e abjeta justificativa à pilhagem das riquezas naturais
desses povos. Retrato de uma discriminação eivada de pedantismo, mas também de
violências.
Opressões
funcionais ao sistema de poder que de acordo com José Luís Fiori nasceu na
Europa Ocidental e avança tal qual um universo em expansão, mediante um esquema
interestatal marcado pela crueza do imperialismo. Contradições estruturais,
forjadas no sistema-mundo-moderno-colonial desde os seus albores, quando o
pensamento dos europeus passara a atribuir a si próprios a posição de
avançados, estigmatizando outros povos do planeta como atrasados, em muitos
casos, selvagens.
Conforme
aponta o britânico Eric Willians em Capitalismo e escravidão, a captura de
pessoas do continente africano – transportadas em porões de embarcações
inglesas para trabalharem forçosamente nas plantations americanas – alimentou a
acumulação de capital mercantil que deu impulso à Revolução Industrial.
Revolução que alçara a produtividade do trabalho a níveis impressionantes e que
trouxera avanços materiais e tecnológicos não menos impressionantes, muitos
desses indispensáveis ao desenvolvimento humano.
Avanços
conquistados, contudo, no desenrolar de uma ideia de civilização originalmente
marcada pela violência contra grupos sociais oprimidos e que hoje nos coloca
diante dos desafios da atual crise ecológica – ao retemperar draconianamente o
racismo com a injustiça ambiental e com a conformação de “zonas de sacrifício”.
Isto é, com a formação de áreas geográficas que padecem com degradações
ecossistêmicas e desinvestimento econômico.
Uma
espécie de custos ambientais do desenvolvimento, que recaem
desproporcionalmente sobre minorias que vivem próximas a indústrias poluentes
ou bases militares, ademais daquelas acossadas por desmatamento ilegal, pela
grilagem de terras ou que são vizinhas das montanhas de lixo que se avolumam
mundo afora.
Atualmente
esse sistema que hierarquiza e subjuga espaços, lugares e pessoas apresenta uma
configuração bastante distinta da que lhe era característica quando despontou
como modo de produção do “Novo Mundo”, que trouxe consigo a temporalidade
febril da acumulação capitalista.
Mola
mestra de uma forma de metabolismo social que avança calcada num consumismo
exacerbado e associado a queima de combustíveis fósseis, hoje cada vez mais
ciclópica, impulsionada pela negociação frenética – em Mercados de Futuros – de
direitos de compra e venda de barris de petróleo sequer extraído das entranhas
da Terra. Expressão de um modo de produção que se financeirizara até a medula
sob tutela dos Estados.
Em A
finança mundializada, François Chesnais nos deixou claro que a esfera
financeira do capitalismo se tornara a espinha dorsal de um mundo no qual o
capital portador de juros fora alçado ao centro das relações econômicas e
sociais pela decisão dos Estados mais poderosos em liberalizar os sistemas
financeiros. Na esteira desse movimento e de acordo com um recente relatório da
Oxfam, atualmente pelo sistema financeiro fluem US$ 30 milhões – por hora – dos
países do Sul Global para o 1% das pessoas mais ricas do mundo.
Pessoas
que vivem em países do Norte Global, onde um alto consumo material está para
além da quantidade de matéria natural disponível em suas fronteiras
geográficas. Logo, Estados que se valem da natureza de espaços que não estão
sob suas jurisdições para assegurar os insustentáveis padrões de vida de suas
populações.
Mais
ainda, que o fazem de forma a agigantar a dívida ecológica que acumularam com
os países do Sul Global, referente a um montante histórico de injustiças
ambientais; fruto da expropriação de riquezas naturais, da degradação de
ecossistemas e da poluição de territórios pelo descarte irresponsável de
resíduos produtivos.
Inclusive
com a agravante de situações criminosas estarrecedoras, como a que ceifou mais
de uma centena de vidas humanas e contaminou o Watu – ou Rio Doce – com a lama
tóxica da Vale, mesmo após as advertências de que a barragem de Brumadinho
poderia ceder ante o ritmo da exploração de minério naquela região. Ritmo
ensandecido, quiçá por uma tentativa de compensar a lucratividade perdida com a
queda momentânea do preço do minério de ferro no mercado internacional de
commodities – regulado bela bolsa de Chicago.
Não
obstante, a complexa esfera financeira (estruturada em torno do dólar
estadunidense) propõe falsas soluções à crise ecológica que acelera. Soluções
falsas à medida que não têm por principal objetivo a preservação de territórios
ricos em biodiversidade e retenção de carbono, mas engordar ainda mais as já
abarrotadas contas bancárias e o patrimônio de empresas poluentes, bem como o
das pessoas super ricas que se locupletam com o sistema que consome
autofagicamente a trama da vida.
Conforme
matéria de Silvia Ribeiro, uma nova onda de projetos de mercado de carbono
avança sobre Terras Indígenas e comunidades que vivem da agricultura
tipicamente camponesa. Em reposta a isso e por iniciativa de comunidades
indígenas da Amazônia e da América Latina, o Movimento Global pelas Florestas
produziu o vídeo Não ao REDD e aos Mercados de Carbono.
O vídeo
é uma denúncia elucidativa, comparte experiências e perspectivas de povos
ameaçados por projetos de crédito de carbono e que ademais de mineradoras,
madeireiros ilegais e grileiros convivem agora com o assédio dos que chamam
“garimpeiros de ar”. Representantes de empresas que – por meio de mentiras –
tentam seduzir povos tradicionais a assinarem contratos que habilitam essas
empresas a negociar créditos de carbono emitidos com lastro na biodiversidade
preservada cuidadosamente por esses povos durante centenas – talvez milhares –
de anos.
No
geral, as empresas que compram tais créditos se valem de propaganda enganosa
para passar uma falsa imagem verde. Grandes mineradoras, empresas petrolíferas
e do setor de aviação estão entre estas, que se utilizam de créditos oriundos
de projetos REDD para seguir com suas emissões massivas e crescentes de CO2,
sob falsas alegações de que são “carbono neutras”. Isto é, de que o
desmatamento que causam e o dióxido de carbono que emitem mundo afora podem ser
compensados pela preservação da biodiversidade em determinados territórios de
comunidades tradicionais.
Entretanto,
o que tais projetos vendem tampouco é absorção de carbono, mas a promessa de
proteção de florestas que há muito são protegidas pelos povos tradicionais, sob
a justificativa (estapafúrdica) de que estes são incapazes de resguardá-las por
conta própria. Falácia que reforça a velha lógica colonial e racista da
expropriação, agora complexificada pela transformação da biodiversidade de
territórios tradicionais em produtos financeiros negociáveis em bolsas de
valores.
No
fundo, o que os indígenas latino-americanos que se levantaram contra os
projetos REDD estão a dizer é que não querem que seu trabalho de cuidar e
preservar a trama da vida seja apropriado por grandes empresas poluentes. De
fato, um escárnio, especialmente porque estas empresas se aproveitam dos
“direitos de poluir” desses projetos para seguirem – contumazes em outros
recortes da biosfera – com sua necroeconomia que persegue e destrói comunidades
tradicionais. Especialmente por isso os indígenas e pequenos agricultores da
Amazônia resistem ao avanço dessas supostas soluções.
Fajutas
soluções, que tampouco resultaram de um debate público no qual se tenha dado
voz às comunidades tradicionais latino-americanas e de outros lugares do Sul
Global, mas que vieram de cima para baixo na esteira das COPs. Ou seja, são
fruto dos encontros das partes signatárias da Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre Mudança do Clima. Conferências que reúnem representantes de Estado
e de grandes empresas para encaminhar saídas à crise climática.
Encontros
que seguem a acontecer ano a ano desde 1995, talvez por se assemelhar cada vez
mais a um balcão de negócios do capitalismo do desastre, no qual aparentemente
se negociam muitas coisas, menos soluções efetivas à crise ecológica em curso.
Do contrário tal problema não estaria a avançar persistentemente.
Esse
ano Belém do Pará sediará a 30ª edição da COP. É possível que seja celebrada
nessa ocasião o fato de que em 11 de dezembro de 2024 foi sancionada no Brasil
a Lei 15.042/2024, que instituiu o Sistema Brasileira de Comércio de Emissões
(SBCE). Iniciativa que em alguma medida visa regular o mercado de carbono
brasileiro e que estabelece regras de compensação para setores que mais emitem
gases de efeito estufa.
Curiosamente,
como mostra matéria de Lorena Tabosa (publicada no portal O Joio e o Trigo), a
lei deixou de fora o agronegócio. Setor que é responsável por 74% das emissões
de gases de efeito estufa no Brasil – seja pelas emissões de metano dos animais
ou pelas mudanças no uso da terra que promove, das quais se destaca o
monocultivo da soja. Aliás, vale destacar que atualmente o Brasil é o maior
exportador mundial dessa oleaginosa.
Em 2024
o país exportou cerca de 156 milhões de toneladas, cuja produção de 1
quilograma consome em média 1.800 litros de água. Quem sabe um fenômeno que
ajude explicar porque nossos rios estejam a secar em áreas de intensa atividade
agropecuária – como revelou um estudo de pesquisadores da USP, publicado na
Revista Nature e resgatado numa matéria de Carolina Bataier no Brasil de Fato.
Aliás,
em 04 de dezembro de 2024, a CUT publicou em seu portal uma matéria de Walber
Pinto. A matéria denuncia ataques de fazendeiros contra comunidades
tradicionais no Brasil com o uso de agrotóxicos. Segundo o levantamento da
Comissão Pastoral da Terra (CPT), os disparos de veneno lançado por aviões
contra essas comunidades vêm crescendo, especialmente nas áreas marcadas por
conflitos com fazendeiros e representantes do agronegócio.
No
total, foram 182 registros desse tipo nos últimos seis meses, ou seja, média de
1 ataque por dia. Infelizmente, a “guerra química” que promove a pulverização
aérea por agrotóxicos chegou a um número muito maior do que o do ano passado,
quando foram registradas 19 ocorrências. Triste capítulo da guerra promovida
pelo agronegócio contra a trama da vida.
Em
tempo: em 9 de maio de 2024 o Congresso Nacional derrubou parte do veto do
presidente Lula à Lei 14.785/2023. Lei que por flexibilizar o controle de
agrotóxicos se constitui numa clara ameaça à saúde e ao meio ambiente.
Apelidada de “Pacote do Veneno” por ambientalistas, mas fortemente impulsionada
pela bancada ruralista, a lei foi aprovada no Senado em novembro do ano
passado.
Conforme
denunciam os povos indígenas que se levantaram contra os projetos REDD,
atualmente há duas visões de mundo em disputa no espaço agrário brasileiro. A
visão dos povos tradicionais é frontalmente contrária à das grandes corporações
do agronegócio e dos fazendeiros que impulsionam a violência no campo.
Fica a
questão de qual caminho privilegiar: o indicado pelos territórios de povos
tradicionais, que oferecem importantes elementos subjetivos para se encontrar a
saída do labirinto de alienação em que nos encontramos em nossa relação
metabólica com a natureza de que somos parte, ou aquele no qual se acelere
ainda mais um metabolismo social autofágico, que retempera o racismo e requenta
a guerra química que envenena solos, aquíferos e pessoas.
A arena
política é decisiva nessa questão. No entanto, parece imprescindível rever o
atual estatuto da política, ofuscada por cruentos nacionalismos e fantasiosas
ideias de soberania e supremacia.
Fonte:
Por Daniel L. Jeziorny, em A Terra é Redonda

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