A crescente força das gerações grisalhas no
Brasil
O Brasil está passando por um profundo e
rápido processo de mudança da sua estrutura etária. A sociedade brasileira teve
uma base populacional rejuvenescida durante cerca de 500 anos. Mas a dinâmica
demográfica já está mudando e terá uma inversão completa ao longo do século
XXI.
No passado, a grande maioria da população
brasileira tinha menos de 50 anos de idade, mas, em um futuro não muito
distante, o conjunto das diversas gerações grisalhas (50+) serão maioria da
população. Na segunda metade do séc. XX, o Brasil tinha uma oferta quase
ilimitada de mão de obra jovem, o que possibilitou o aproveitamento parcial do
1º bônus demográfico.
De fato, como mostra o gráfico abaixo, com
dados da Divisão de População da ONU (revisão 2024), a população brasileira de
0-49 anos era de 48,6 milhões de pessoas em 1950 e subiu até o pico de 155,4
milhões em 2015, mais do que triplicando em 65 anos. Porém, a população de 0-49
anos já está decrescendo (atingiu 152 milhões de pessoas em 2025) e deve ser
reduzida por cerca da metade do valor máximo da série, ou seja, caindo para
78,4 milhões de pessoas em 2100.
Desta forma, atualmente, o Brasil vive a
dupla realidade de uma diminuição absoluta da quantidade de “jovens” (com menos
de 50 anos) e um crescimento acelerado, absoluto e relativo da população
“idosa” (50+). O número total de pessoas com 50 anos e mais de idade era de 4,8
milhões de pessoas em 1950, alcançou 26,3 milhões no ano 2000, chegou a 60,7
milhões de pessoas em 2025, deve atingir o pico de 98,8 milhões em 2067 e,
acompanhando a tendência do total da população brasileira, deve apresentar uma
redução para 85 milhões de pessoas em 2100.
Considerando os 150 anos entre 1950 e 2100, a
população total do Brasil deve crescer 3,1 vezes, a população de 0-49 anos deve
crescer 1,6 vezes e a população de 50 anos e mais de idade deve crescer
impressionantes 17,6 vezes, com destaque para os grupos mais idosos. O Brasil
passa não só por um processo de envelhecimento, mas também por um
envelhecimento do envelhecimento.
A população de 50-59 anos era de 2,7 milhões
de pessoas em 1950 e deve atingir 19,8 milhões em 2100, um aumento de 7,3
vezes. No mesmo período, a população de 60-69 anos era de 1,4 milhão e deve
atingir 20,7 milhões, um crescimento de 14,8 vezes. A população de 70-79 anos
era de 541 mil pessoas e deve chegar a 20,5 milhões, um crescimento de 37,8
vezes. E a população de 80 anos e mais de idade era de somente 184 mil pessoas
em 1950 e deve chegar a 23,9 milhões de pessoas em 2100, um crescimento de
estonteantes 131 vezes.
O gráfico abaixo, também com dados da Divisão
de População da ONU, mostra que o grupo etário 0-49 anos representava mais de
90% da população brasileira entre 1950 e 1970, mas diminuiu nas últimas
décadas, chegou a 71% em 2025 e deve ficar abaixo de 50% nos últimos 25 anos do
séc. XXI. Em rota inversa o grupo etário de 50 anos e mais de idade
representava menos de 10% da população brasileira entre 1950 e 1970, subiu para
29% em 2025 e deve ultrapassar 50% a partir da década de 2070.
A análise da mudança da estrutura etária
brasileira indica que a economia brasileira, progressivamente, passará a contar
cada vez mais com a produção e o consumo da população de 50 anos e mais de
idade. A combinação de uma população mais madura e mais escolarizada
possibilitará o aproveitamento do 2º bônus demográfico (ou bônus da
produtividade).
O aumento da proporção da população do topo
da pirâmide etária e o aumento da idade média da força de trabalho indicam que
o progresso do Brasil dependerá cada vez mais do aporte das gerações grisalhas
(ou prateadas) para o aproveitamento de um 3º bônus demográfico, também chamado
de dividendo da longevidade. A economia prateada (ou grisalha) – que ganha
crescente relevância nos países avançados na transição demográfica – consiste
no desenvolvimento de um sistema de produção e consumo no qual pessoas com 50
anos ou mais se inserem no mercado de trabalho, colaboram com o sistema
produtivo, se envolvem em projetos inovadores, impulsionam o desenvolvimento
socioeconômico e ampliam os mercados de trabalho e consumo.
Essa economia é vista como uma oportunidade
crescente para a iniciativa privada e para o avanço das políticas públicas, uma
vez que uma população mais longeva tende a possuir maior experiência, poder
aquisitivo e demanda por produtos e serviços que atendam às suas necessidades
específicas.
Simultaneamente, a economia prateada
representa uma chance de conectar diferentes gerações, reduzindo o isolamento e
a solidão entre os idosos, além de aumentar as oportunidades de diversidade
etária e de maior intergeracionalidade nas organizações econômicas e sociais.
Ao promover um envelhecimento saudável e múltiplas conexões sociais, livres de
discriminação etária, o Brasil poderá contar com um contingente significativo
de pessoas maduras, capazes de construir uma velhice ativa, inovadora,
produtiva e colaborativa. Isso, de forma plena, contribuirá para o bem-estar de
toda a população, em um ambiente de solidariedade intergeracional.
• Casos
de demência na China crescem mais rápido do que no resto do mundo
Os casos de Alzheimer e outras demências
estão crescendo mais rapidamente na China do que a média global, de acordo com
um estudo publicado na quarta-feira (7) no jornal PLOS One.
No trabalho, os pesquisadores da Universidade
Fudan, na China, analisaram mais de três décadas de dados globais de saúde do
Global Burden of Disease (GBD), um banco de dados público criado em conjunto
por instituições como o Banco Mundial e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O estudo descobriu que, entre 1990 e 2021, os
casos de demência e Alzheimer na China triplicaram, enquanto os casos globais
dobraram. Além disso, os pesquisadores descobriram que as mulheres têm uma
carga geral de doenças maior, em parte devido à maior expectativa de vida, mas
os homens apresentam taxas de mortalidade ligeiramente mais altas pela
condição.
O estudo também projetou tendências para os
próximos 15 anos usando modelos estatísticos, sugerindo que as taxas de
demência continuarão a aumentar, especialmente na China, a menos que
intervenções mais eficazes sejam implementadas.
Entre os fatores de risco para a demência, o
estudo mostrou que o alto nível de açúcar no sangue, proveniente do diabetes, é
agora o principal fator de risco evitável para demência em todo o mundo,
incluindo a China. O tabagismo e o peso corporal elevado também são fatores
importantes, principalmente entre os homens.
Além disso, os autores do estudo concluíram
que o aumento das taxas de demência e Alzheimer na China está sendo
impulsionado pelo crescimento populacional e pelas mudanças demográficas
etárias. No entanto, eles reforçam que medidas como reduzir o alto nível de
açúcar no sangue e o tabagismo, principalmente entre os mais velhos, podem
retardar o aumento dos casos de demência.
Fonte: Por José Eustáquio Diniz Alves em A
Terra é Redonda/CNN Brasil

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