Potências
mundiais debatem segurança na era Trump
Os laços tradicionalmente
estreitos entre os Estados Unidos e a Europa
marcam há décadas a Conferência de Segurança de Munique (MSC, na sigla em
inglês), principal fórum mundial para políticas de segurança. Apesar de algumas
diferenças, a cooperação entre os americanos e europeus era bem azeitada e a
apreciação, mútua. Mas desde que Donald
Trump assumiu a Casa Branca, essa certeza vem se
desfazendo. O evento é, portanto, também um termômetro do estado das
relações transatlânticas.
·
Novas tensões entre os EUA e seus aliados?
Uma coisa é certa: um vento
diferente sopra de Washington, ainda que essas sejam só as primeiras semanas do
segundo mandato de Trump como presidente dos EUA. "Os EUA em primeiro
lugar" é o lema incondicional de Trump, mesmo que suas políticas sejam à
custa de seus aliados. Essas tensões provavelmente moldarão alguns dos debates
na tradicional sede da MSC, o hotel Bayerischer Hof. Encerrada neste
domingo, cerca de 60 chefes de Estado e de governo se reuniram com outros
políticos, líderes militares e especialistas.
·
"Explorado" pela Europa
A Conferência de Segurança
de Munique é uma reunião informal; não há tomada de decisões. É exatamente por
isso que o evento tradicionalmente cultiva uma troca aberta, e os conflitos não
são varridos para debaixo do tapete. O novo tom nas relações transatlânticas,
mais áspero, já foi dado pelo próprio Trump. "Fomos explorados pelas
nações europeias tanto no comércio quanto na Otan", disse o americano
durante a campanha eleitoral. "Se eles não pagarem, não os
protegeremos", prometeu, dirigindo-se aos europeus. As duas frases foram
incluídas no Munich Security Report, publicado
anualmente por ocasião da conferência.
Os investimentos militares
de alguns membros europeus da Otan são considerados insuficientes pelo
republicano. Ele também criticou repetidamente a Alemanha por causa disso. Washington
tem assumido a maior parte dos custos da Otan e oferece à Europa uma proteção
militar confiável. Agora isso está vinculado a condições: Trump exige que os
aliados gastem 5% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em defesa. A Alemanha
consegue, com muito esforço, atingir os 2% que agora são considerados o padrão
mínimo na Otan.
Trump já provou que
pode cortar os fundos americanos de organizações ativas
internacionalmente. De acordo com o Munich
Security Report, o grupo em torno do presidente dos EUA também
justifica isso argumentando que até mesmo a potência global tem recursos
limitados e deve usá-los para o bem de seu próprio país. "De fato, o
conceito de 'escassez de recursos' tornou-se uma premissa central do pensamento
republicano sobre política externa", afirma o relatório. Isso também pode
ter um impacto negativo na ajuda à Ucrânia, na qual os EUA têm um papel de líder até o momento. Trump confirmou
nesta quarta-feira a reunião de seu vice com Zelenski na Alemanha,
após telefonar com o governante ucraniano e o presidente russo,
Vladimir Putin. Nas ligações, os líderes se comprometeram a
iniciar negociações para um acordo de paz. Kiev teme que Trump possa cortar o apoio financeiro e militar, conforme anunciado com frequência durante a campanha eleitoral.
Recentemente, falou-se de um possível acordo: ajuda dos EUA em troca de matérias-primas ucranianas, como
terras raras. É possível que essas propostas ganhem contornos
mais concretos.
Nos dias que antecederam a
conferência, circularam rumores de que Vance e sua comitiva poderiam apresentar
em Munique o plano do governo Trump para acabar com a guerra na Ucrânia. O
presidente da conferência, Christoph Heusgen, expressou a esperança de que um
plano de paz possa tomar forma em Munique. O diplomata enfatizou que a
integridade territorial e a soberania da Ucrânia devem ser preservadas – isso,
apesar de Trump ter dito nesta quarta-feira considerar "não
ser realista" que a Ucrânia possa retornar às suas fronteiras
anteriores a 2014, quando a Rússia começou a ocupar seus territórios, nem que o país possa se juntar à Otan como
resultado de um acordo de paz. Representantes do governo russo não foram
convidados para a MSC. Já representantes da oposição russa e de organizações
não governamentais são bem-vindos em Munique.
<><> A
reivindicação de Trump sobre a Groenlândia
As ameaças de Trump de
anexar territórios pela força, se necessário, incluindo a Groenlândia, que pertence à
Dinamarca, causaram agitação e horror na Europa. O vice de Trump, J.D. Vance,
está por trás dos planos de expansão de Trump. Caso ele reafirme esses planos
em Munique, é provável que encontre uma oposição feroz, principalmente dos
representantes da UE e dos estados europeus. Os europeus reagiram à ameaça de
Trump com a advertência de que os EUA devem obedecer às leis internacionais.
"A inviolabilidade das fronteiras é um princípio fundamental do direito
internacional. Esse princípio deve se aplicar a todos", comentou o
chanceler federal alemão, Olaf Scholz. Não foi sem razão que o presidente da
conferência, Heusgen, enfatizou a importância do direito internacional várias
vezes antes da conferência. "Na minha opinião, não há alternativa melhor
do que a ordem refletida na Carta das Nações Unidas."
<><> Eleições
alemãs
A política interna alemã
desempenhou um papel especial na conferência deste ano, já que a reunião foi
realizada a apenas uma semana das eleições federais antecipadas de 23 de fevereiro e, portanto, no meio da reta final da campanha. Vários candidatos
confirmaram presença na MSC, incluindo o líder do partido conservador CDU e aspirante a
chanceler Friedrich Merz – que, segundo as pesquisas, é o favorito
para vencer as eleições. Os candidatos se veem confrontados com questões
como quanto dinheiro a Alemanha investirá em suas Forças Armadas e de onde
ele deve vir, tendo em vista os orçamentos apertados. A questão não é se, mas
como a Alemanha e a Europa podem fazer mais por sua própria segurança. Agora
que Trump voltou à Casa Branca, é provável que esse tópico seja discutido na
Conferência de Segurança de Munique com mais urgência do que nunca.
¨
J.D.
Vance, vice de Trump, causa espanto entre aliados europeus
Nesta
semana, uma decisão de Donald Trump abalou
as relações dos Estados Unidos com parceiros europeus. Ele optou por dialogar
sozinho com o presidente russo, Vladimir Putin,
sobre o fim da guerra na Ucrânia.
Na sexta-feira (14), em uma conferência internacional, o vice de Trump causou
ainda mais espanto entre os aliados históricos. O objetivo do encontro foi
discutir desafios à segurança do planeta. Todo ano tem. Mas, desta vez, as
cartas estão bastante embaralhadas. Os Estados Unidos enviaram o
vice-presidente. J.D. Vance chocou
o público com o tom nada diplomático das críticas que fez aos próprios aliados. Ele declarou
que tem um novo xerife na cidade - se referindo ao chefe dele, o presidente
Donald Trump. Disse que os europeus são aliados importantes, mas cobrou que
eles aumentem os investimentos na área de defesa e assumam um papel maior na
segurança do próprio continente.
O
auditório em Munique esperava
alguma palavra sobre a proposta americana para acabar com a guerra na Ucrânia -
que é o grande elefante na sala desde que Trump telefonou para o presidente
russo, Vladimir Putin, para negociar o fim do conflito. Na sexta-feira (14), o
vice-presidente preferiu tratar de liberdade de expressão. Disse que a ameaça à
Europa não é a Rússia ou a China,
mas uma ameaça que vem de dentro. Acusou os governos europeus de não defenderem os valores
democráticos o suficiente. J.D. Vance manifestou apoio a políticos anti-imigração e criticou
a estratégia de outros partidos de isolar a extrema direita. Autoridades
da Alemanha interpretaram
como uma referência direta à campanha eleitoral em curso no país. O ministro da
Defesa alemão colocou os pingos nos “Is” e rebateu o vice-presidente. Boris
Pistorius declarou: "Ele questionou a democracia na Alemanha e em toda a
Europa. Ele falou em fim da democracia. Se eu o entendi bem, ele comparou a
situação em partes da Europa com a de regimes autoritários. Isto não é
aceitável”.
O
ministro afirmou que a visão de Vance não corresponde ao que ele vive no
continente e destacou que, no país dele, todas as opiniões têm voz e que
partidos de extrema direita fazem campanha como qualquer outro. J.D. Vance
também rompeu com o tom sóbrio da conferência ao usar ironia para falar sobre a
relação da Europa com o bilionário Elon Musk -
que é contra as regulações do continente para as redes sociais e que tem
declarado apoio à extrema direita. Vance disse: "Se a democracia americana
sobreviveu a dez anos de críticas da ativista ambiental Greta Thunberg, vocês
conseguem sobreviver a alguns meses de Elon Musk”.
No
discurso, o vice-presidente driblou a questão ucraniana, mas nos bastidores se
reuniu com Volodymyr Zelensky. Logo antes da
reunião, o presidente da Ucrânia disse
que não acredita que os Estados Unidos tenham um plano pronto para acabar com a
guerra. Ele afirmou: "Só vou me encontrar com um único
russo, Putin, e só depois de chegar a um plano comum com a Europa e Trump”.
Depois
do encontro com Vance, Zelensky disse que a reunião foi boa, mas que é preciso
conversar mais. Donald Trump tem demonstrado
impaciência com o conflito na Ucrânia. O governo dele sinalizou que os
ucranianos talvez precise ceder território aos russos. A
posição preocupa os europeus, que querem participar das negociações de paz, e
não querem que o conflito se encerre de qualquer jeito. Eles exigem um acordo
justo, que garanta a segurança dos ucranianos. A presidente da Comissão
Europeia deu, na sexta-feira (14) um aviso: "Um fracasso na Ucrânia
enfraqueceria a Europa, mas também enfraqueceria os Estados Unidos”.
¨ Scholz
rebate discurso de Vance e acusa "interferência"
O chanceler federal da
Alemanha, Olaf Scholz, lançou neste
sábado (15/02) duras críticas aos comentários feitos pelo vice-presidente dos
EUA, J.D. Vance, na Conferência de Segurança de Munique, em meio a preocupações com a nova diplomacia adotada pelos Estados
Unidos sob a Presidência de Donald
Trump. Nesta sexta-feira, Vance utilizou seu discurso em
Munique para questionar os valores democráticos europeus, ao invés de tratar do tema da segurança externa da Europa ou das
tensões geradas pela guerra na Ucrânia. O republicano
acusou as autoridades europeias de limitar a liberdade de expressão e excluir
partidos que expressam fortes preocupações sobre a imigração. De maneira
velada, Vance declarou apoio à plataforma do partido ultradireitista Alternativa
para a Alemanha (AfD), o que gerou fortes reações da cúpula do governo
alemão.
No mesmo palco onde Vance
discursou no dia anterior, Scholz lembrou que os membros da AfD banalizam o
passado nazista da Alemanha e os crimes monstruosos cometidos durante o regime,
e insistiu que não deve haver interferências externas na campanha eleitoral
alemã, a poucos dias das eleições gerais no país. "Não
aceitaremos que pessoas de fora interfiram a favor desse partido em nossa
democracia, em nossas eleições e no processo de formação de opinião
democrática", disse Scholz. "Isso é impróprio, especialmente entre
amigos e aliados, e rejeitamos veementemente isso. Como nossa democracia
prosseguirá é algo que nós decidiremos por nós mesmos", prosseguiu.
O chanceler também rebateu
as críticas de Vance ao chamado "cordão sanitário" – o consenso entre os principais partidos da Alemanha que visa
isolar a extrema direita das decisões políticas. "Estamos absolutamente
certos de que a extrema direita deve ficar de fora do processo de tomada de
decisão política e que não haverá cooperação com eles", disse. Scholz
mencionou a visita do vice de Trump ao campo de concentração de Dachau, próximo
a Munique, e o compromisso assumido por ele de "nunca mais" permitir
que tais atrocidades sejam cometidas. Os crimes do Holocausto foram a razão
pela qual "a ampla maioria dos alemães se opõe firmemente àqueles que
glorificam ou justificam" os nazistas, disse o social-democrata, destacando
que foi exatamente isso que membros da AfD fizeram ao banalizar os crimes
cometidos pelo regime. "Um compromisso de 'nunca mais' não pode ser
conciliado com o apoio à AfD", reiterou.
<><> "Distorção
do que consideramos ser democracia"
No dia anterior, o ministro
da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, acusou Vance
de distorcer a realidade em sua interpretação sobre os valores democráticos
europeus. "O vice-presidente dos EUA questionou a democracia em toda a
Europa. E se eu o entendi corretamente, ele está comparando as condições em
partes da Europa com as de regiões autoritárias" Isso não é aceitável.
Essa não é a Europa e não é a democracia na qual eu vivo e na qual estou
fazendo campanha atualmente", afirmou.
Cathryn Clüver-Ashbrook,
cientista política da Fundação Bertelsmann e ex-diretora do Conselho Alemão de
Relações Exteriores (DGAP), disse à DW que o discurso de Vance revelou
"quais estratégias podemos esperar na distorção do que consideramos ser
democracia em seu entendimento factual, fundamental e também baseado em
normas". "O primeiro terço do discurso foi salpicado de teorias da
conspiração, desinformação e um convite para levar essas distorções a
sério", comentou.
¨ Estaria a
aliança transatlântica com os dias contados?
O silêncio se espalhou pelo
salão, a tensão era quase palpável quando o vice-presidente dos Estados
Unidos, JD Vance, subiu ao
púlpito da Conferência de Segurança de Munique nesta sexta-feira (14/02).
Apenas dois dias antes, o
mundo parecia ser um lugar diferente. É claro que os europeus já haviam
percebido que seria difícil lidar com o presidente americano Donald
Trump e que seu segundo mandato na Casa Branca
seria um teste para as relações entre os Estados Unidos e a Europa.
No entanto, um telefonema entre Trump e o presidente russo Vladimir Putin, na noite de quarta-feira, provocou ondas de choque na União Europeia e
na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Os europeus temem ser
completamente marginalizados nas conversas sobre a Ucrânia – talvez até mesmo na reorganização da ordem internacional.
O presidente da Alemanha,
Frank-Walter Steinmeier, soou quase suplicante quando se dirigiu diretamente a
Vance em seu discurso de abertura na Conferência de Segurança de Munique:
"O que quer que vocês planejem, discutam conosco!"
Já a presidente da Comissão
Europeia, Ursula von der Leyen,
mostrou-se autoconfiante ao defender que a Europa deve e vai gastar muito mais dinheiro com defesa, expandirá suas capacidades de armamento. Mas ressaltou que a Europa já
fez muito, e que vê-la forte é de interesse dos EUA. "Uma Ucrânia
derrotada enfraqueceria a Europa, mas também enfraqueceria os Estados Unidos.
Os regimes autoritários de todo o mundo estão observando atentamente para ver
se é possível sair impune invadindo vizinhos e violando fronteiras
internacionais ou se há um verdadeiro limite", disse.
<><> "O que
estamos realmente defendendo?"
Já J.D. Vance falou por 18
minutos, mas evitou mencionar a segurança externa da Europa ou a Ucrânia. Em
vez disso, deu uma espécie de palestra sobre o que o governo Trump considera
ser a democracia.
Segundo Vance, a Europa
sempre enfatiza os valores comuns, mas nos EUA as pessoas estão
"preocupadas com o que são esses valores". A maior ameaça ao
continente europeu não seria a Rússia nem a China, mas viria de dentro,
com a Europa abandonando alguns de seus valores mais fundamentais.
Um sinal disso, no
raciocínio de Vance, seria a anulação das eleições presidenciais na Romênia,
que ele considera legítimas – a Suprema Corte do país cita evidências de
influência russa. Os eleitores europeus estariam preocupados com a imigração, e
a liberdade de expressão na Europa estaria "em retrocesso", apontou
ao condenar a existência de "cordões sanitários" na política.
Vance não citou
explicitamente o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), que
até agora é mantido afastado do poder pelos demais partidos alemães no parlamento, mas é o segundo
colocado nas intenções de voto.
Momentos depois de
discursar, Vance esteve com a líder e principal candidata da sigla, Alice
Weidel, segundo um porta-voz da AfD. Outro emissário do governo americano, o
bilionário Elon Musk, tem trabalhado para eleger o partido anti-imigração e
eurocético.
"Não sabemos nem mesmo
o que estamos realmente defendendo neste mundo. O que vocês estão
defendendo?", indagou à plateia de aliados europeus, em sua maioria
perplexos.
<><> Críticas
contundentes ao discurso de Vance
"O vice-presidente dos
EUA questionou a democracia em toda a Europa. E se eu o entendi corretamente,
ele está comparando as condições em partes da Europa com as de regiões
autoritárias", reagiu o ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius.
"Isso não é aceitável. Essa não é a Europa e não é a democracia na qual eu
vivo e na qual estou fazendo campanha atualmente."
O chanceler federal da
Alemanha, Olaf Scholz, também criticou a fala de Vance. "O que foi dito
aqui é irritante e não pode ser simplesmente descartado e minimizado",
disse à rádio Deutschlandfunk. "Precisamos de um cordão sanitário",
insistiu, aludindo à experiência traumática da Alemanha com o nazismo.
Para Cathryn Clüver-Ashbrook,
cientista política da Fundação Bertelsmann e ex-diretora do Conselho Alemão de
Relações Exteriores (DGAP), o discurso de Vance rompeu com o protocolo.
"Mas de uma forma diferente do que se poderia esperar", afirma à DW.
Normalmente, não se comenta sobre questões políticas internas com aliados
em um contexto como esse – uma conferência destinada a discutir
majoritariamente questões de segurança.
Para Clüver-Ashbrook, o
discurso revela "quais estratégias podemos esperar na distorção do que consideramos
ser democracia em seu entendimento factual, fundamental e também baseado em
normas". "O primeiro terço do discurso foi salpicado de teorias da
conspiração, desinformação e um convite para levar essas distorções a
sério", comenta.
<><> Normas deformadas
Ao longo do discurso de
Vance, ficou claro que a discordância transatlântica não é mais
"apenas" sobre os pontos problemáticos do mundo, a Ucrânia, o Oriente
Médio ou a divisão justa de fardos. A ruptura no relacionamento entre os EUA e
seus parceiros europeus é muito mais fundamental.
Durante décadas, a tão
aclamada "comunidade de valores" foi a cola ideológica que manteve o
mundo ocidental unido. Os aliados da Otan e da UE sempre podiam invocar a
defesa da democracia, da liberdade de opinião e do Estado de Direito. Mas agora
esses conceitos estão sendo sequestrados, reinterpretados e reformulados por
partes da elite política, e não apenas nos EUA. E essa divisão agora atravessa
a aliança entre estes países.
Mas como os europeus devem
lidar com a nova situação? Clüver-Ashbrook diz que a capacidade europeia de
exercer influência deve agora ser "completamente repensada". O
primeiro passo será se colocar na nova perspectiva dos EUA e definir o que eles
podem oferecer a Washington para enfatizar novamente os pontos em comum.
Isso foi muito mais fácil
durante o primeiro mandato de Trump, porque ainda havia interesses semelhantes.
"O presidente [dos EUA] está muito mais isolado agora. Elon Musk poderia
ter escrito o discurso de Vance", argumenta Clüver-Ashbrook. Por isso,
diz, é ainda mais importante a Europa se apresentar em uma frente unida.
China acena com simpatia
Na conferência, o apoio aos
europeus veio de um lugar muito mais inesperado. O discurso polêmico de Vance
foi imediatamente seguido por uma aparição do Ministro das Relações Exteriores
da China, Wang Yi, que adotou um tom muito mais conciliatório em relação ao
velho continente.
Ele vê a Europa e a China
como "parceiros, não rivais". Para Pequim, a UE "sempre foi um
polo importante no mundo multipolar". "Devemos preservar o sistema
internacional liderado pela ONU", disse Wang. Para ele, a Europa
desempenha um "papel importante" no processo de paz na Ucrânia.
Após esse memorável primeiro
dia da Conferência de Segurança de Munique, uma coisa está clara: a estrutura
de poder global está diante de uma enorme reviravolta. E o resultado está mais
incerto do que nunca.
Fonte: DW Brasil/g1
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