quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Copom vê cenário externo desafiador e ameaça subir juros para conter inflação

O cenário externo desafiador e o mercado de trabalho interno mais dinâmico que o esperado podem fazer o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevar a taxa básica de juros da economia nacional, a chamada Selic, nos próximos meses. O alerta consta da ata da última reunião do órgão, divulgada nesta terça-feira (6).

O Copom se reuniu no final de julho para debater a Selic. Pela segunda vez seguida, o órgão contrariou o desejo do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e manteve a taxa básica de juros em 10,5% ao ano.

A decisão foi unânime e contou, inclusive, com votos de quatro dos noves membros do comitê indicados pelo próprio governo.

A ata da reunião informa que tal deliberação considerou um “cenário externo adverso”. “Os fluxos de capital refletem também um fenômeno global de aversão ao risco, que, a depender dos fundamentos de cada economia emergente, pressiona a taxa de câmbio com intensidade variável”, descreveu o comitê, explicando a alta do dólar no Brasil.

Desde o início do ano, a cotação da moeda estadunidense saiu de R$ 4,85 para até R$ 5,75. Esse aumento fez a Petrobras elevar os preços de seus combustíveis. O preço de outros produtos também ficaram pressionados. A inflação acabou aumentando.

De acordo o Copom, o desemprego no Brasil segue caindo acima do esperado. Isso cria um efeito colateral negativo para a inflação. “Esse movimento ocorre em contexto de hiato do produto próximo à neutralidade, tornando mais desafiador o processo de convergência da inflação à meta”, explicou o comitê.

Por esses e outros motivos, a taxa de juros não caiu. Segundo o Banco Central, isso pode, inclusive, fazer com que ela seja elevada.

“O Comitê avaliará a melhor estratégia: de um lado, se a estratégia de manutenção da taxa de juros por um tempo suficientemente longo levará a inflação à meta no horizonte relevante; de outro lado, o Comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”, informou o Copom na ata de sua última reunião.

O que é Selic?

A taxa Selic é referência para a economia nacional. É também o principal instrumento disponível para o BC controlar a inflação no país.

Quando ela sobe, empréstimos e financiamentos tendem a ficar mais caros. Isso desincentiva compras e investimentos, o que contém a inflação. Em compensação, o crescimento econômico tende a ser prejudicado.

Já quando a Selic cai, os juros cobrados de consumidores e empresas ficam menores. Há mais gente comprando e investindo. A economia cresce, criando empregos e favorecendo aumentos de salários. Os preços, por sua vez, tendem a aumentar por conta da demanda.

A Selic também é uma taxa de referência para os títulos da dívida que o governo emite para financiar suas atividades. Isso significa que, quando ela sobe ou desce, isso também influencia no gasto com juros e até no valor total da dívida brasileira.

Por isso, Lula tem cobrado a redução da taxa desde que ele voltou à Presidência. Na terça-feira (30), antes da decisão dos Copom sobre juros, centrais sindicais chegaram a realizar atos em 11 capitais sob o lema "menos juros, mais empregos".

•        Por que o Copom vê a queda do desemprego como algo ruim para a economia?

 

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu na quarta-feira (31) manter a taxa básica de juros, a chamada Selic, em 10,5% ao ano. A decisão contrariou o governo e sindicalistas, que defendem uma redução dos juros para aumento da geração de emprego no país. Foi tomada, entretanto, justamente porque o comitê vê na queda do desemprego um fator de risco para a economia nacional.

Desde o pico da crise causada pela pandemia do covid, no início de 2021, a taxa de desemprego no país caiu pela metade, descendo de 14,9% para os atuais 6,9%. Desde de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomou posse, a redução foi de cerca de 2 pontos percentuais. Em um ano, queda de 1 ponto.

Para o Copom, presidido por Roberto Campos Neto, isso criou um "cenário de mercado de trabalho apertado". A expressão foi citada na ata da reunião de maio do comitê, em que o comitê reduziu o ritmo de cortes dos juros pela primeira vez depois de seis encontros.

Naquela ocasião, o Copom decidiu reduzir os juros de 10,75% ao ano para 10,5% ao ano. Nas seis vezes anteriores, a queda foi de 0,5 ponto.

Para o Copom, o aumento do emprego, principalmente com carteira assinada, poderia acarretar em elevação de salários e de preços. A inflação poderia vir a subir. Por isso, os diretores decidiram que era melhor frear a queda dos juros e também a economia.

"No mundo inteiro é assim", justificou o economista Miguel de Oliveira, vice-presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças). "Quando você tem o nível de emprego bombando, significa dizer que as pessoas tendem a ter mais renda, consumindo mais, o que pode pressionar a inflação."

Assim, os juros elevados ajudariam a manter os preços sob controle.

•        Controvérsias

Weslley Cantelmo, economista e presidente do Instituto Economias e Planejamento, reclama dessa visão simplista do BC brasileiro. Segundo ele, apesar desse raciocínio parecer lógico, ele não é verificado completamente na prática. Por isso, não deveria basear uma decisão sobre juros.

Cantelmo disse que o suposto excesso de emprego pode influenciar numa inflação por excesso de demanda de consumidores. É preciso, porém, considerar outros fatores nessa equação antes de culpar a queda do desemprego pela alta de preços.

"Isso também está relacionado com a capacidade produtiva, com a capacidade ociosa e com o próprio nível dos salários", explicou Cantelmo. "No caso do Brasil, ainda temos algum grau de capacidade ociosa e um nível de renda bastante modesto, com boa parte da população vinculada a atividades informais."

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulga periodicamente a taxa de desemprego no país, também tabula dados sobre a informalidade. De acordo com o órgão, 38,6% da população ocupada no Brasil eram informais ao final do segundo trimestre deste ano. No trimestre anterior, a taxa era praticamente a mesma. Há um ano, eram 39,2%.

"A questão do emprego melhorou bastante, mas ainda existe uma ampla massa de trabalhadores no mercado informal que poderia migrar para o formal caso tivesse emprego", ratificou Mauricio Weiss, economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Segundo o IBGE, são 39,3 milhões de trabalhadores.

•        Objetivo

Weiss ainda aponta um problema na meta perseguida pelo Copom ao decidir sobre a Selic. Segundo ele, a lei que deu autonomia ao BC, sancionado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), colocou a busca pelo pleno emprego como um objetivo secundário. Nesse contexto, o que realmente importa ao BC é a inflação.

"Nos Estados Unidos, por exemplo, a meta é a menor inflação possível dentro do pleno emprego. Isso muda toda a dinâmica", ressaltou Weiss. "O correto no Brasil seria incluir o emprego como uma meta de mesmo peso que a inflação."

•        O que é Selic?

A taxa Selic é referência para a economia nacional. É também o principal instrumento disponível para o BC controlar a inflação no país.

Quando ela sobe, empréstimos e financiamentos tendem a ficar mais caros. Isso desincentiva compras e investimentos, o que contém a inflação. Em compensação, o crescimento econômico tende a ser prejudicado.

Já quando a Selic cai, os juros cobrados de consumidores e empresas ficam menores. Há mais gente comprando e investindo. A economia cresce, criando empregos e favorecendo aumentos de salários. Os preços, por sua vez, tendem a aumentar por conta da demanda.

A Selic também é uma taxa de referência para os títulos da dívida que o governo emite para financiar suas atividades. Isso significa que, quando ela sobe ou desce, isso também influencia no gasto com juros e até no valor total da dívida brasileira.

Por isso, Lula tem cobrado a redução da taxa desde que ele voltou à Presidência. Na terça-feira (30), antes da decisão dos Copom sobre juros, centrais sindicais chegaram a realizar atos em 11 capitais sob o lema "menos juros, mais empregos".

 

•        Alckmin: "Não tem razão Brasil ter a 2ª maior taxa de juro mundial"

O presidente em exercício e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, afirmou nesta segunda-feira (5) que não faz sentido o Brasil ainda ter uma das maiores taxas de juro real do mundo, mesmo dispondo de fundamentos sólidos na economia.

"Não tem justificativa. Temos a segunda maior taxa de juro real do mundo e só perde para a Rússia, que está em guerra", disse, na abertura do Congresso Aço Brasil.

Entre os fundamentos sólidos, Alckmin citou reservas cambiais de US$ 370 bilhões, segurança jurídica, enorme mercado consumidor e recorde de exportações.

Alckmin destacou a importância do ajuste fiscal e disse que o governo vai cumprir o arcabouço fiscal. A expectativa é que, ainda neste semestre, ocorra uma redução das taxas de juros norte-americana e a brasileira, o que irá favorecer o crescimento da economia nacional.

"O mercado internacional enfrenta um grande estresse que deve ser passageiro. O Brasil tem a 6ª maior população do mundo, um mercado interno forte, amanhã sai o balanço das exportações de janeiro a julho com recorde. Temos reservas cambiais, e vejo com otimismo que a política fiscal será cumprida. Por isso, não tem razão o Brasil ter a segunda maior taxa de juro real do mundo. Isso atrapalha muito", afirmou.

No mês passado, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic, os juros básicos da economia, em 10,5% ao ano.

<><> Indústria do aço

Em discurso, ele destacou que a indústria de aço é "a indústria das indústrias", que sempre esteve na vanguarda da inovação. Com a política instituída pelo governo Lula, a Nova Indústria Brasil significa um avanço para o desenvolvimento econômico e social.

"Não há desenvolvimento econômico e social sem as indústrias", afirmou o presidente em exercício, enfatizando que nos próximos dias estará disponível no mercado as Letras de Crédito do Desenvolvimento (LCD), que vão baratear o custo do crédito para as indústrias.

Essas letras são como as já existentes, do setor imobiliário e do setor agrícola (LCI e LCA, respectivamente), onde as pessoas físicas estão isentas de pagar imposto de renda quando aplicam nesse título.

Alckmin destacou que, até 2028, o Brasil receberá investimentos de R$ 100 bilhões no âmbito do Programa Mover, de descarbonização da indústria, e destacou que o país emite 55% de gás carbônico, um percentual bem abaixo do que em outros países, graças ao potencial energético.

De acordo com Instituto Aço Brasil, a produção brasileira de aço bruto atingiu 16,4 milhões de toneladas no primeiro semestre de 2024, um crescimento de 2,4% na comparação com o mesmo período do ano passado. De janeiro a dezembro de 2023, a produção foi de 31,9 milhões de toneladas, quando houve uma queda de 6,5% em relação a 2022.

 

•        Governo analisa antecipar indicação para a presidência do Banco Central, diz Jaques Wagner

O líder do governo no Senado, senador Jaques Wagner (PT-BA), declarou nesta terça-feira (6) que o Executivo está considerando antecipar a indicação para o novo presidente do Banco Central (BC). Conforme reportado pela CNN, o parlamentar afirma que a ação permitiria maior previsibilidade para a instituição financeira.

O mandato do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, termina em dezembro. Ele foi nomeado durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

“Hoje, todo mundo no Banco Central, mesmo quem está na direção, pelo que eu ouço, acha melhor indicar [o presidente], porque um Banco Central trabalha com expectativa de futuro”, disse Wagner em entrevista a jornalistas no Senado. No entanto, ele ressalta que para isso acontecer, é necessário um acordo para realizar a sabatina no Senado.

Os membros da diretoria e presidência do Banco Central devem passar por uma sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), e suas indicações são posteriormente votadas no plenário.

“Pelo que estou sentindo, a maioria das pessoas entende que é bom indicar, mas tudo tem que ser combinado”, disse. O líder do governo ainda destacou que não há um prazo definido para que o Executivo faça a indicação.

Atualmente, Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária do BC e ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, é um dos nomes mais cotados para substituir Campos Neto.

 

Fonte: Brasil de Fato/Brasil 247

 

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