Copom vê cenário externo desafiador e ameaça
subir juros para conter inflação
O cenário externo
desafiador e o mercado de trabalho interno mais dinâmico que o esperado podem
fazer o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevar a
taxa básica de juros da economia nacional, a chamada Selic, nos próximos meses.
O alerta consta da ata da última reunião do órgão, divulgada nesta terça-feira
(6).
O Copom se reuniu no
final de julho para debater a Selic. Pela segunda vez seguida, o órgão
contrariou o desejo do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e
manteve a taxa básica de juros em 10,5% ao ano.
A decisão foi unânime
e contou, inclusive, com votos de quatro dos noves membros do comitê indicados
pelo próprio governo.
A ata da reunião
informa que tal deliberação considerou um “cenário externo adverso”. “Os fluxos
de capital refletem também um fenômeno global de aversão ao risco, que, a
depender dos fundamentos de cada economia emergente, pressiona a taxa de câmbio
com intensidade variável”, descreveu o comitê, explicando a alta do dólar no
Brasil.
Desde o início do ano,
a cotação da moeda estadunidense saiu de R$ 4,85 para até R$ 5,75. Esse aumento
fez a Petrobras elevar os preços de seus combustíveis. O preço de outros
produtos também ficaram pressionados. A inflação acabou aumentando.
De acordo o Copom, o
desemprego no Brasil segue caindo acima do esperado. Isso cria um efeito
colateral negativo para a inflação. “Esse movimento ocorre em contexto de hiato
do produto próximo à neutralidade, tornando mais desafiador o processo de
convergência da inflação à meta”, explicou o comitê.
Por esses e outros
motivos, a taxa de juros não caiu. Segundo o Banco Central, isso pode,
inclusive, fazer com que ela seja elevada.
“O Comitê avaliará a
melhor estratégia: de um lado, se a estratégia de manutenção da taxa de juros
por um tempo suficientemente longo levará a inflação à meta no horizonte
relevante; de outro lado, o Comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em
elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se
julgar apropriado”, informou o Copom na ata de sua última reunião.
O que é Selic?
A taxa Selic é
referência para a economia nacional. É também o principal instrumento
disponível para o BC controlar a inflação no país.
Quando ela sobe,
empréstimos e financiamentos tendem a ficar mais caros. Isso desincentiva
compras e investimentos, o que contém a inflação. Em compensação, o crescimento
econômico tende a ser prejudicado.
Já quando a Selic cai,
os juros cobrados de consumidores e empresas ficam menores. Há mais gente
comprando e investindo. A economia cresce, criando empregos e favorecendo
aumentos de salários. Os preços, por sua vez, tendem a aumentar por conta da
demanda.
A Selic também é uma
taxa de referência para os títulos da dívida que o governo emite para financiar
suas atividades. Isso significa que, quando ela sobe ou desce, isso também
influencia no gasto com juros e até no valor total da dívida brasileira.
Por isso, Lula tem
cobrado a redução da taxa desde que ele voltou à Presidência. Na terça-feira
(30), antes da decisão dos Copom sobre juros, centrais sindicais chegaram a
realizar atos em 11 capitais sob o lema "menos juros, mais empregos".
• Por que o Copom vê a queda do desemprego
como algo ruim para a economia?
O Comitê de Política
Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu na quarta-feira (31) manter a
taxa básica de juros, a chamada Selic, em 10,5% ao ano. A decisão contrariou o
governo e sindicalistas, que defendem uma redução dos juros para aumento da geração
de emprego no país. Foi tomada, entretanto, justamente porque o comitê vê na
queda do desemprego um fator de risco para a economia nacional.
Desde o pico da crise
causada pela pandemia do covid, no início de 2021, a taxa de desemprego no país
caiu pela metade, descendo de 14,9% para os atuais 6,9%. Desde de que o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomou posse, a redução foi de cerca
de 2 pontos percentuais. Em um ano, queda de 1 ponto.
Para o Copom,
presidido por Roberto Campos Neto, isso criou um "cenário de mercado de
trabalho apertado". A expressão foi citada na ata da reunião de maio do
comitê, em que o comitê reduziu o ritmo de cortes dos juros pela primeira vez
depois de seis encontros.
Naquela ocasião, o
Copom decidiu reduzir os juros de 10,75% ao ano para 10,5% ao ano. Nas seis
vezes anteriores, a queda foi de 0,5 ponto.
Para o Copom, o
aumento do emprego, principalmente com carteira assinada, poderia acarretar em
elevação de salários e de preços. A inflação poderia vir a subir. Por isso, os
diretores decidiram que era melhor frear a queda dos juros e também a economia.
"No mundo inteiro
é assim", justificou o economista Miguel de Oliveira, vice-presidente da
Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças). "Quando você tem
o nível de emprego bombando, significa dizer que as pessoas tendem a ter mais
renda, consumindo mais, o que pode pressionar a inflação."
Assim, os juros
elevados ajudariam a manter os preços sob controle.
• Controvérsias
Weslley Cantelmo,
economista e presidente do Instituto Economias e Planejamento, reclama dessa
visão simplista do BC brasileiro. Segundo ele, apesar desse raciocínio parecer
lógico, ele não é verificado completamente na prática. Por isso, não deveria
basear uma decisão sobre juros.
Cantelmo disse que o
suposto excesso de emprego pode influenciar numa inflação por excesso de
demanda de consumidores. É preciso, porém, considerar outros fatores nessa
equação antes de culpar a queda do desemprego pela alta de preços.
"Isso também está
relacionado com a capacidade produtiva, com a capacidade ociosa e com o próprio
nível dos salários", explicou Cantelmo. "No caso do Brasil, ainda
temos algum grau de capacidade ociosa e um nível de renda bastante modesto, com
boa parte da população vinculada a atividades informais."
O Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), que divulga periodicamente a taxa de
desemprego no país, também tabula dados sobre a informalidade. De acordo com o
órgão, 38,6% da população ocupada no Brasil eram informais ao final do segundo
trimestre deste ano. No trimestre anterior, a taxa era praticamente a mesma. Há
um ano, eram 39,2%.
"A questão do
emprego melhorou bastante, mas ainda existe uma ampla massa de trabalhadores no
mercado informal que poderia migrar para o formal caso tivesse emprego",
ratificou Mauricio Weiss, economista e professor da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS). Segundo o IBGE, são 39,3 milhões de trabalhadores.
• Objetivo
Weiss ainda aponta um
problema na meta perseguida pelo Copom ao decidir sobre a Selic. Segundo ele, a
lei que deu autonomia ao BC, sancionado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL),
colocou a busca pelo pleno emprego como um objetivo secundário. Nesse contexto,
o que realmente importa ao BC é a inflação.
"Nos Estados
Unidos, por exemplo, a meta é a menor inflação possível dentro do pleno
emprego. Isso muda toda a dinâmica", ressaltou Weiss. "O correto no
Brasil seria incluir o emprego como uma meta de mesmo peso que a
inflação."
• O que é Selic?
A taxa Selic é
referência para a economia nacional. É também o principal instrumento
disponível para o BC controlar a inflação no país.
Quando ela sobe,
empréstimos e financiamentos tendem a ficar mais caros. Isso desincentiva
compras e investimentos, o que contém a inflação. Em compensação, o crescimento
econômico tende a ser prejudicado.
Já quando a Selic cai,
os juros cobrados de consumidores e empresas ficam menores. Há mais gente
comprando e investindo. A economia cresce, criando empregos e favorecendo
aumentos de salários. Os preços, por sua vez, tendem a aumentar por conta da
demanda.
A Selic também é uma
taxa de referência para os títulos da dívida que o governo emite para financiar
suas atividades. Isso significa que, quando ela sobe ou desce, isso também
influencia no gasto com juros e até no valor total da dívida brasileira.
Por isso, Lula tem
cobrado a redução da taxa desde que ele voltou à Presidência. Na terça-feira
(30), antes da decisão dos Copom sobre juros, centrais sindicais chegaram a
realizar atos em 11 capitais sob o lema "menos juros, mais empregos".
• Alckmin: "Não tem razão Brasil ter
a 2ª maior taxa de juro mundial"
O presidente em
exercício e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC),
Geraldo Alckmin, afirmou nesta segunda-feira (5) que não faz sentido o Brasil
ainda ter uma das maiores taxas de juro real do mundo, mesmo dispondo de
fundamentos sólidos na economia.
"Não tem
justificativa. Temos a segunda maior taxa de juro real do mundo e só perde para
a Rússia, que está em guerra", disse, na abertura do Congresso Aço Brasil.
Entre os fundamentos
sólidos, Alckmin citou reservas cambiais de US$ 370 bilhões, segurança
jurídica, enorme mercado consumidor e recorde de exportações.
Alckmin destacou a
importância do ajuste fiscal e disse que o governo vai cumprir o arcabouço
fiscal. A expectativa é que, ainda neste semestre, ocorra uma redução das taxas
de juros norte-americana e a brasileira, o que irá favorecer o crescimento da
economia nacional.
"O mercado
internacional enfrenta um grande estresse que deve ser passageiro. O Brasil tem
a 6ª maior população do mundo, um mercado interno forte, amanhã sai o balanço
das exportações de janeiro a julho com recorde. Temos reservas cambiais, e vejo
com otimismo que a política fiscal será cumprida. Por isso, não tem razão o
Brasil ter a segunda maior taxa de juro real do mundo. Isso atrapalha
muito", afirmou.
No mês passado, o
Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu, por unanimidade,
manter a taxa Selic, os juros básicos da economia, em 10,5% ao ano.
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Indústria do aço
Em discurso, ele
destacou que a indústria de aço é "a indústria das indústrias", que
sempre esteve na vanguarda da inovação. Com a política instituída pelo governo
Lula, a Nova Indústria Brasil significa um avanço para o desenvolvimento
econômico e social.
"Não há
desenvolvimento econômico e social sem as indústrias", afirmou o
presidente em exercício, enfatizando que nos próximos dias estará disponível no
mercado as Letras de Crédito do Desenvolvimento (LCD), que vão baratear o custo
do crédito para as indústrias.
Essas letras são como
as já existentes, do setor imobiliário e do setor agrícola (LCI e LCA,
respectivamente), onde as pessoas físicas estão isentas de pagar imposto de
renda quando aplicam nesse título.
Alckmin destacou que,
até 2028, o Brasil receberá investimentos de R$ 100 bilhões no âmbito do
Programa Mover, de descarbonização da indústria, e destacou que o país emite
55% de gás carbônico, um percentual bem abaixo do que em outros países, graças
ao potencial energético.
De acordo com
Instituto Aço Brasil, a produção brasileira de aço bruto atingiu 16,4 milhões
de toneladas no primeiro semestre de 2024, um crescimento de 2,4% na comparação
com o mesmo período do ano passado. De janeiro a dezembro de 2023, a produção
foi de 31,9 milhões de toneladas, quando houve uma queda de 6,5% em relação a
2022.
• Governo analisa antecipar indicação para
a presidência do Banco Central, diz Jaques Wagner
O líder do governo no
Senado, senador Jaques Wagner (PT-BA), declarou nesta terça-feira (6) que o
Executivo está considerando antecipar a indicação para o novo presidente do
Banco Central (BC). Conforme reportado pela CNN, o parlamentar afirma que a
ação permitiria maior previsibilidade para a instituição financeira.
O mandato do atual
presidente do BC, Roberto Campos Neto, termina em dezembro. Ele foi nomeado
durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
“Hoje, todo mundo no
Banco Central, mesmo quem está na direção, pelo que eu ouço, acha melhor
indicar [o presidente], porque um Banco Central trabalha com expectativa de
futuro”, disse Wagner em entrevista a jornalistas no Senado. No entanto, ele
ressalta que para isso acontecer, é necessário um acordo para realizar a
sabatina no Senado.
Os membros da
diretoria e presidência do Banco Central devem passar por uma sabatina na
Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), e suas indicações são posteriormente
votadas no plenário.
“Pelo que estou
sentindo, a maioria das pessoas entende que é bom indicar, mas tudo tem que ser
combinado”, disse. O líder do governo ainda destacou que não há um prazo
definido para que o Executivo faça a indicação.
Atualmente, Gabriel
Galípolo, diretor de Política Monetária do BC e ex-secretário-executivo do
Ministério da Fazenda, é um dos nomes mais cotados para substituir Campos Neto.
Fonte: Brasil de
Fato/Brasil 247
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