Contramão: enquanto Israel e Ucrânia clamam
por munição, Brasil abre mão de fábrica, diz analista
Marinha do Brasil
decide pela concessão da principal fábrica de munições do país ao capital
estrangeiro, em mais um golpe à base industrial de defesa nacional. Nova onda
de privatizações de empresas militares brasileiras em contexto geopolítico
desfavorável agrava vulnerabilidade nacional, diz analista à Sputnik Brasil.
Nesta quarta-feira
(31), a empresa vinculada à Marinha do Brasil EMGEPRON confirmou a sua intenção
de conceder uma das principais fábricas de munição brasileiras ao capital
estrangeiro. A concessão da Fábrica de Munição Almirante Jurandyr da Costa
Müller de Campos foi ofertada a empresas de Reino Unido, Suécia, Itália e
Israel durante evento realizado no Itaim, em São Paulo.
De acordo com a
Marinha, a Empresa Gerencial de Projetos Navais (EMGEPRON), em parceria com a
Diretoria de Sistemas de Armas da Marinha (DSAM), realizou um "road
show" no centro financeiro paulistano, visando a entrega da Fábrica de
Munição Almirante Jurandyr da Costa Müller de Campos (FAJCMC) à iniciativa
privada.
A intenção da força é
angariar fundos para a "modernização da fábrica" por meio da
implementação de "novo modelo de gestão" que alavanque o
empreendimento. A Marinha promete publicar os editais ainda neste semestre e
concluir a concessão da fábrica por até 20 anos.
O bom desempenho
nacional e internacional da Fábrica Müller de Campos anima os investidores.
Advogado que atua nas tratativas defendeu a concessão, lembrando que "a
fábrica é uma das principais produtoras de artefatos militares do mundo e, a
partir da concessão à iniciativa privada, certamente vai gerar mais
receita", reportou o portal Metrópoles.
De fato, a fábrica
opera a contento, produzindo munições de qualidade para as Forças Armadas e
exportando o seu excedente para parceiros do Brasil no Sul Global. Então,
afinal, para que abrir mão dessa fábrica estratégica para o Brasil? A Sputnik
Brasil conversou com especialistas para compreender os motivos por trás de mais
uma privatização na Base Industrial de Defesa (BID) brasileira.
"Infelizmente, a
privatização de fábricas de defesa não é novidade no Brasil. Existe uma ideia
de que toda empresa que não dá lucro está dando prejuízo ao Estado
brasileiro", disse o pesquisador do Núcleo de Avaliação da Conjuntura da
Escola de Guerra Naval, Rafael Esteves Gomes, à Sputnik Brasil. "Mas
sabemos que em setores estratégicos a lógica de mercado se aplica de forma um
pouco diferente."
De acordo com o
especialista, a concessão da fábrica consiste em "uma estratégia
equivocada, que afeta uma área muito sensível para as Forças Armadas que é a de
munições. Convenhamos que nada funciona sem munições".
A notícia sobre a
concessão da Fábrica de Munição Almirante Jurandyr da Costa Müller de Campos
agrava os ânimos de setores nacionalistas da sociedade brasileira, já
insatisfeitos com a possível venda da fábrica de foguetes Avibrás ao capital
estrangeiro.
"O Brasil não
está olhando para o contexto internacional quando decide abrir mão de fábricas
de munições ou da Avibrás", disse o especialista militar e oficial da
reserva da Marinha do Brasil Robinson Farinazzo à Sputnik Brasil. "Estamos
em um momento tenso geopoliticamente, com as principais potências se rearmando
até os dentes. E o Brasil, ao contrário, abrindo mão das suas capacidades
militares e tecnológicas."
Conflitos de larga
escala sendo travados na Ucrânia e no entorno de Israel demonstram o caráter
essencial das munições no campo de batalha. O Brasil se encontra em posição
confortável nessa área, justamente pela produção nacional desses artefatos pela
Fábrica Müller de Campos.
"Vemos os EUA
modernizando suas fábricas de munição a toque de caixa, vemos as Forças Armadas
de Israel e Ucrânia desesperadas atrás de munições no mercado mundial. E o
Brasil, por incrível que pareça, se desfazendo da sua fábrica", considerou
Farinazzo. "A fábrica tem bons balanços, exporta e é bem-sucedida, não sei
qual o cálculo por trás dessa decisão."
A concessão da fábrica
ao capital internacional também surpreende, uma vez que a Marinha poderia
prospectar empresas brasileiras interessadas na empreitada. Como evidenciado no
caso da Avibrás, bancos brasileiros demonstram resistência em participar de investimentos
na área de defesa.
"A verdade é que
não há nenhuma política para priorizar as compras nacionais", lamentou
Farinazzo. "Este é um problema antigo, uma vez que o rearmamento das
Forças Armadas deveria estar atrelado ao desenvolvimento da indústria nacional."
O aumento da presença
estrangeira nas indústrias de defesa nacionais amplia o já considerável nível
de dependência externa que as Forças Armadas enfrentam, particularmente no
setor de aviação. Nesse sentido, a redução do comprometimento do Executivo com políticas
de conteúdo nacional e desenvolvimento tecnológico nacional preocupa.
"Falemos
claramente: outros países não repassarão tecnologia militar de ponta para o
Brasil", considerou Farinazzo. "Ninguém vai te ensinar a fazer
procedimentos sensíveis na área militar. O Brasil é quem precisa desenvolver
suas capacidades e autonomia."
Apesar dos problemas
estruturais, Gomes acredita que a sociedade civil organizada poderá agir contra
a concessão da Fábrica Müller de Campos ao capital estrangeiro. O especialista
cita como exemplo a recente resistência à venda da Avibrás no Congresso Nacional.
"O projeto de lei
sobre a reestatização da Avibrás mostra que existem setores no Brasil que são
contra a concessão de empresas da BID a grupos estrangeiros, principalmente no
Congresso", disse Gomes. "A mesma mobilização poderá ser feita agora
em relação a essa fábrica de munições."
·
Ponta do iceberg
A concessão da Fábrica
Müller de Campos se insere em um contexto mais amplo de retomada da penetração
dos EUA e seus aliados da OTAN no setor de defesa brasileiro. As dificuldades
dos EUA em manter a sua posição estratégica em regiões como Oriente Médio e
África, aliada aos revezes sofridos no conflito ucraniano, levam os EUA a
recrudescer o controle sobre o seu entorno geográfico, explica o oficial da
reserva da Marinha do Brasil.
"O que sobra para
os EUA nesse contexto são o seu quintal América Latina. A intenção é criar um
clientelismo militar na América Latina, de maneira que, em caso de conflito, a
região não tenha para onde correr", disse Farinazzo. "Já vemos os EUA
fomentando a dependência das Forças Armadas de países como Argentina e
Colômbia, vemos as pressões sobre o Peru e Equador. O Brasil precisa se
preparar para isso e buscar um caminho para garantir a sua independência."
O aumento das pressões
norte-americanas sobre a base industrial de defesa brasileira é evidenciado
pelo caso da Avibrás, quando Washington fez gestões para que a empresa chinesa
Norinco não fosse considerada como possível compradora da empresa responsável
pelos foguetes Astro.
Além disso, há
renovado entusiasmo norte-americano na venda de seus equipamentos militares
para o Brasil. Ainda que obsoletas, essas armas mantêm as Forças Armadas
brasileiras atreladas aos padrões da OTAN. Exemplos são a recente compra
brasileira de helicópteros Black Hawk e negociações para arrematar um lote de
caças F-16 usados.
·
Governo ausente
A mais nova onda de
privatizações e concessões de empresas de defesa brasileiras ocorre justamente
durante um governo ligado à esquerda, que tradicionalmente adotava posições
nacionalistas quanto à indústria brasileira. No entanto, as limitações políticas
e financeiras do governo reduzem o papel de Lula e do Palácio do Planalto nas
tratativas referentes à BID, lamenta Gomes.
"O governo
infelizmente está dando pouca atenção para a indústria de defesa, o que é
preocupante. Prometeu investir, mas não entregou", disse o pesquisador da
Escola de Guerra Naval. "O marco fiscal é um dos motivos pelos quais o
governo resiste a investir mais na BID ou a assumir a dívida da Avibrás, por
exemplo."
Conforme reportado
pela Agência Brasil, o governo federal não se disponibilizou a arcar com a
dívida da Avibrás, estimada em R$ 700 milhões, ou estatizar definitivamente a
empresa. De acordo com o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP), "não
há condições, nesse momento, de financeiramente o governo entrar nessa".
"O orçamento de
defesa do Brasil cresce em números absolutos, mas não em porcentagem do PIB,
permanecendo na casa dos 1,5%", avaliou Gomes. "Isso se demonstra
insuficiente para a modernização das Forças Armadas, que buscam outras
alternativas para atrair investimentos e manter os seus projetos
funcionando."
Na avaliação de Gomes,
a concessão à iniciativa privada é uma forma de levantar fundos para bancar
projetos estratégicos, já que os R$ 127 bilhões garantidos pelo governo à
defesa são majoritariamente revertidos para gastos de pessoal e
administrativos.
"Afirmar que o
Brasil tem o objetivo de modernizar as suas Forças Armadas, mas manter o
investimento em defesa baixo e revertido para o pagamento de pessoal me parece,
para o dizer o mínimo, uma incongruência", concluiu o especialista.
¨ Com foco em ampliar mercado, Brasil aumenta de 29 para 40 número
de adidos agrícolas no exterior
Funcionários das
missões diplomáticas são responsáveis por atuarem na abertura, manutenção e
ampliação de mercados para o agronegócio brasileiro. Além disso, atuam para
identificar oportunidades de cooperação com outros países.
O Brasil elevará de 29
para 40 o número de adidos agrícolas em suas missões diplomáticas ao redor do
mundo, anunciou nesta quarta-feira (31) o Ministério das Relações Exteriores.
O incremento de
funcionários, aprovado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), é o
maior desde a instalação da primeira adidância agrícola em 2008.
"Dos 11 novos
postos, cinco estão na Ásia, três na África, dois na América do Sul e um na
Europa. Os locais para instalar novas adidâncias agrícolas serão definidos
posteriormente por meio de uma ordem interministerial do Ministério da
Agricultura e Pecuária (MAPA) e do Ministério das Relações Exteriores
(MRE)", diz o comunicado oficial.
Atualmente, o Brasil
tem adidos agrícolas na Alemanha, Angola, Arábia Saudita, Argentina, Austrália,
Bélgica (dois adidos), Canadá, China (dois adidos), Colômbia, Coreia do Sul,
Egito, Estados Unidos da América, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, Marrocos,
México, África do Sul, Suíça, Peru, Reino Unido, Rússia, Cingapura, Tailândia e
Vietnã.
"Atualmente, o
Brasil já soma mais de 50 mercados abertos em todo o mundo. As aberturas de
mercados são resultado de transações bilaterais que culminam no acordo dos
requisitos de sanidade a serem atestados e do certificado correspondente,
sanitário, fitossanitário ou veterinário, que passará a ser aceito pelo país
importador nos pontos de entrada da mercadoria", acrescentou.
A principal função
desses adidos é identificar oportunidades de comércio, investimento e
cooperação para a indústria agrícola do Brasil. "Quando no posto, os
adidos mantêm a interlocução com representantes dos setores público e privado e
interagem com relevantes formadores de opinião na sociedade civil, imprensa e
academia. Além disso, essa atuação traz resultados para a economia brasileira
por meio de aberturas de mercados", finaliza.
¨ Chineses passam à frente da Petrobras e levam mais da metade do
petróleo em leilão de pré-sal
As petroleiras China
National Offshore Oil Corporation (CNOOC) e PetroChina levaram 23 milhões dos
37,5 milhões de barris de petróleo vendidos em um leilão realizado nesta
quarta-feira (31) pela Bolsa de Valores de São Paulo. O restante, 14,5 milhões,
ficou com a Petrobras.
Com a compra dos
chineses, a estatal Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA) arrecadou R$ 17 bilhões no 4º
Leilão de Petróleo da União, que está sob o regime de partilha.
O valor ficou acima
dos R$ 15 bilhões que eram esperados, segundo o jornal O Globo.
Estavam habilitadas
para participar do leilão a Petrobras e a Refinaria de Mataripe, além das
petroleiras ExxonMobil, Equinor, Galp, PRIO, Shell, TotalEnergies, CNOOC e
PetroChina.
A PPSA é uma estatal
que foi criada para gerenciar e fiscalizar a produção de petróleo e gás sob o
regime de partilha. Nesse modelo, as petroleiras repassam parte da produção
para o governo, cujo percentual é definido no momento do leilão do bloco, explica
a mídia.
O volume de óleo foi
dividido em quatro lotes que serão produzidos nos campos de Mero e Búzios,
ambos no pré-sal da Bacia de Santos, ao longo de 2025. Na modalidade, vencem as
propostas que tiverem o menor desconto em relação ao preço estabelecido pela PPSA.
Nesse leilão, foi
estipulado como preço mínimo o valor do chamado "Brent datado", que
tem como base o preço do petróleo bruto leve do mar do Norte, acrescido de um
desconto máximo de US$ 4,40 (R$ 24,8) para os lotes de Mero e de US$ 4,25 (R$
24) para o lote de Búzios. Esse desconto ocorre porque o comprador precisa
pegar o óleo diretamente no navio-plataforma FPSO, em alto-mar.
O leilão contou com a
participação do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e do
presidente do Conselho de Administração da Petrobras, Pietro Mendes.
Os recursos, que serão
destinados ao Fundo Social, só entrarão no caixa do governo, via Tesouro, entre
abril de 2025 e abril de 2026.
Fonte: Sputnik Brasil
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