Visita de Macron ao Brasil: o meio ambiente
estará no centro da pauta
A visita de três dias
do presidente da França, Emmanuel Macron, ao Brasil, na próxima semana, terá um
forte componente ambiental, com promessas de investimento do governo francês em
projetos na Amazônia, em um momento em que a União Europeia tenta impor travas
nas exportações brasileiras para o bloco devido ao desmatamento na região.
Parte das conversas
entre Macron e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva será justamente para
apresentar a Amazônia e suas complexidades ao presidente francês, disse nesta
sexta-feira a embaixadora Maria Luísa Escorel, secretária de Europa e América
do Norte do Itamaraty.
"A idéia é que o
presidente Lula possa mostrar a Macron a complexidade da realidade amazônica,
que não é apenas uma grande floresta, mas também um local onde há uma grande
população, são 25 milhões de pessoas. Como podemos trabalhar com essas populações
para que tenham uma vida digna e ao mesmo tempo respeitar a floresta",
disse.
Nessa linha, a viagem
do presidente francês ao Brasil começará com a visita a uma comunidade
ribeirinha na ilha do Combu, na baía de Guarajá, em Belém, para conhecer o
projeto de produção sustentável de cacau e chocolate orgânico criado pela líder
comunitária Dona Nena, e que hoje sustenta a maior parte das famílias da
região.
Os dois presidentes
ainda farão, na ilha, um passeio pela floresta e terão encontro com líderes
indígenas.
De acordo com a
embaixadora, o governo francês tem a intenção de ajudar a financiar algum
projeto de desenvolvimento ou combate ao desmatamento na Amazônia, mas não está
definido qual seria ou o valor.
A intenção dos
franceses não é colocar recursos no Fundo Amazônia, mas que o Brasil apresente
alguma proposta em andamento ou que esteja pronta, mas precise de
financiamento, para que possam financiar diretamente.
Concretamente, um dos
atos a serem assinados durante a viagem é um protocolo de intenções de 100
milhões de reais entre a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) e o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar ações de
desenvolvimento sustentável no Brasil.
A questão ambiental
tem sido parte central da retomada das relações entre Brasil e França depois do
governo Bolsonaro, quando a conturbada relação entre o então presidente
brasileiro e Macron dificultou as relações entre os dois países. Mas, apesar do
bom entendimento entre os dois atuais presidentes, o caminho não tem vindo sem
percalços.
O governo brasileiro
ainda se ressente da legislação aprovada pelo Parlamento Europeu que impõe
diversas barreiras às importações de regiões de florestas, usando com base
dados de desmatamento, e que atingem principalmente o Brasil.
Além disso, em meio à
tentativa de fechar o acordo de livre comércio Mercosul-União Europeia, o
presidente francês vem dando declarações fortes contra o acordo, o que azedou o
tom entre a diplomacia francesa e brasileira nos últimos meses.
Ainda assim, a relação
entre os dois presidentes é considerada excelente, desde que Macron recebeu
Lula em Paris, em 2021, com honras de chefe de Estado.
Durante a visita da
próxima semana, entre os diversos assuntos previstos para serem conversados
entre ambos, o acordo Mercosul-UE não estaria na pauta, por se tratar de tema
multilateral. Escorel admitiu, no entanto, que é possível que seja sim
levantado por um dos lados. Não se tratará de negociação, ressalvou.
"Essa é uma
negociação com a Comissão Europeia, não com países europeus. Os países deram um
mandato para a Comissão e ela fala por todos eles. A grande maioria tem
interesse em prosseguir", disse.
Amazônia e submarinos, receita para
relançar a relação entre Brasil e França
Com a sua primeira
visita ao Brasil na próxima semana, o presidente francês Emmanuel Macron
buscará, junto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, relançar a relação
bilateral por meio da Amazônia e dos submarinos, apesar das suas diferenças
sobre a Ucrânia ou o acordo UE-Mercosul.
Lula, de 78 anos,
receberá o seu homólogo de 46 anos na tarde de terça-feira em Belém, no Pará,
onde iniciará uma visita de três dias que o levará também ao Rio de Janeiro,
São Paulo e Brasília.
"Estamos vivendo
um momento brasileiro", afirmou a Presidência francesa, que considerou
"um sinal de grande importância" o fato de Macron ter dedicado três
dias à sua primeira visita bilateral à América Latina.
O Brasil preside
atualmente o grupo G20 de grandes economias e, em 2025, será o anfitrião da
conferência sobre mudança climática COP30, em Belém. É também um membro-chave
do grupo Brics+ de países emergentes.
A França, sétima maior
economia do mundo, e o Brasil, a nona maior, também são considerados atores
importantes em um cenário internacional marcado pela rivalidade entre China e
Estados Unidos, razão pela qual também discutirão os "desafios globais".
"A França é um
ator essencial, incontornável para a política externa brasileira", segundo
a chefe da diplomacia brasileira para a Europa, Maria Luisa Escorel de Moraes.
Paris vê Brasília como
uma ponte com as "grandes nações emergentes".
- "Assunto
estratégico" -
Ambos os países
lançaram uma parceria estratégica em 2006, com os conservadores Jacques Chirac
e Lula no poder, que arrefeceu a partir de 2016 com as sucessivas presidências
de Michel Temer e Jair Bolsonaro.
Embora a cooperação
comercial, educacional, cultural e militar tenha continuado, a última visita de
um líder francês ao Brasil foi em 2013, com o socialista François Hollande.
Lula viajou para Paris em junho de 2023 após retornar ao poder.
"Onze anos sem
uma visita presidencial é muita coisa. Até que ponto esta viagem vai marcar o
retorno da política à relação bilateral?", questiona Gaspard Estrada,
cientista político da universidade francesa Sciences Po e especialista em
América Latina.
A indústria militar
pode marcar a diferença. Ambos os países concordaram em 2008 em construir
quatro submarinos franceses de propulsão convencional do tipo Scorpene na base
naval brasileira de Itaguaí, no Rio de Janeiro, onde está prevista a
inauguração do terceiro denominado "Tonelero".
O acordo, confiado ao
Naval Group, previa também a construção de um quinto submarino nuclear para o
Brasil, mas sem transferência de tecnologia francesa relativa ao reator. Isso
poderia mudar.
"Há conversas
sobre a possibilidade de que a França coopere conosco inclusive nesse aspecto
da energia nuclear", disse Escorel de Moraes. "É um assunto
estratégico, sensível e delicado", reconheceu.
Para Estrada, "um
anúncio nesse sentido por parte de Macron enviaria um forte sinal ao Brasil e a
Lula". O presidente deve visitar a base naval na quarta-feira, mas a
Presidência francesa não fez nenhum anúncio.
-
"Diferenças" e "convergência" -
Símbolo de suas
coincidências na luta contra a mudança climática e a pobreza, Macron, que
chegará do território vizinho da Guiana Francesa, iniciará sua visita de Estado
com Lula na Amazônia.
A transição ecológica
é uma prioridade para o Brasil e Estrada considera que a França poderia
defender seus investimentos neste setor como uma questão "estrutural"
do relacionamento, diante de uma China que ganha espaço no setor energético
brasileiro.
A França é o terceiro
maior investidor no Brasil, atrás dos Estados Unidos e da Espanha, e Macron
estará acompanhado por uma grande delegação de empresários, incluindo líderes
dos grupos Carrefour, Airbus e Naval Group.
Ao contrário da
reforma consensual da governança global, o acordo comercial UE-Mercosul, ao
qual a França se opõe atualmente, ainda "não está na agenda", segundo
o Brasil. Paris espera discutir a guerra na Ucrânia.
Lula rejeita a
política de isolamento em relação à Rússia, mas Macron deixou de defender o
diálogo com Moscou e não descarta o envio de tropas para apoiar a Ucrânia.
"Apesar das
diferenças, é muito importante poder discutir" e depois "veremos
quais elementos de convergência podem levar a agir em apoio à Ucrânia, que
continua sendo a nossa prioridade absoluta", assegurou a Presidência
francesa.
Ø
Brasil se torna membro do CERN, laboratório
que abriga maior colisor de partículas do mundo
Após 14 anos de
tratativas, o Brasil tornou-se membro associado do Centro Europeu de Pesquisas
Nucleares (CERN, na sigla em francês), anunciou na sexta-feira (22) o maior
laboratório de física da Europa.
O laboratório é
responsável pela operação do maior colisor de partículas do mundo, palco de uma
das grandes descobertas da história da física: o bóson de Higgs, apelidado de
"partícula de Deus".
Ao se tornar membro, o
Brasil será o primeiro país das Américas a fazer parte do centro que também deu
origem à World Wide Web.
A relação entre o país
sul-americano e o centro remonta a 1990, com a assinatura de um Acordo de
Cooperação Internacional, permitindo que pesquisadores brasileiros
participassem do experimento DELPHI no Large Electron-Positron Collider (LEP).
Na última década, a
comunidade experimental de física de partículas do Brasil dobrou de tamanho,
ressalta o CERN em um comunicado.
Sendo agora membro
associado, "o Brasil tem o direito de nomear representantes para
participar das reuniões do Conselho do CERN e do Comitê de Finanças. Os seus
cidadãos são elegíveis para se candidatarem a cargos de duração limitada e aos
programas de pós-graduação do CERN, e a sua indústria tem o direito de
concorrer a contratos do CERN, aumentando as oportunidades de colaboração
industrial em tecnologias avançadas", diz o laboratório.
No ano passado, a
ministra de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, visitou o centro em Genebra,
com uma delegação de deputados, segundo o jornalista Jamil Chade no UOL.
Em coletiva depois da
visita, a chefe da pasta rebateu críticos que questionam o uso dos recursos
para um projeto no exterior.
Estima-se que o Brasil
terá de pagar cerca de US$ 12 milhões (R$ 59,4 milhões) por ano para formalizar
a participação.
Mas segundo Santos, a
adesão vai permitir que a indústria nacional possa entrar em um mercado
milionário e fornecer tecnologia. Ainda de acordo com a ministra, o CERN
oferece hoje contratos U$S 500 milhões (R$ 2,4 bilhões) e o Brasil quer uma
fatia disso, relata o jornalista.
No caso, 70% da
contribuição brasileira seria revertida em contratos do organismo internacional
a empresas nacionais. "A adesão abre muitas possibilidades para a
indústria brasileira", afirmou Santos.
O laboratório do CERN,
nos arredores de Genebra, fica na fronteira entre a França e a Suíça e emprega
cerca de 2.500 pessoas de todo o mundo. Fundado em 1954, o CERN tem 23
Estados-membros: 22 da Europa, mais Israel.
Fonte: Reuters/AFP/Sputnik
Brasil
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