segunda-feira, 25 de março de 2024

Visita de Macron ao Brasil: o meio ambiente estará no centro da pauta

A visita de três dias do presidente da França, Emmanuel Macron, ao Brasil, na próxima semana, terá um forte componente ambiental, com promessas de investimento do governo francês em projetos na Amazônia, em um momento em que a União Europeia tenta impor travas nas exportações brasileiras para o bloco devido ao desmatamento na região.

Parte das conversas entre Macron e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva será justamente para apresentar a Amazônia e suas complexidades ao presidente francês, disse nesta sexta-feira a embaixadora Maria Luísa Escorel, secretária de Europa e América do Norte do Itamaraty.

"A idéia é que o presidente Lula possa mostrar a Macron a complexidade da realidade amazônica, que não é apenas uma grande floresta, mas também um local onde há uma grande população, são 25 milhões de pessoas. Como podemos trabalhar com essas populações para que tenham uma vida digna e ao mesmo tempo respeitar a floresta", disse.

Nessa linha, a viagem do presidente francês ao Brasil começará com a visita a uma comunidade ribeirinha na ilha do Combu, na baía de Guarajá, em Belém, para conhecer o projeto de produção sustentável de cacau e chocolate orgânico criado pela líder comunitária Dona Nena, e que hoje sustenta a maior parte das famílias da região.

Os dois presidentes ainda farão, na ilha, um passeio pela floresta e terão encontro com líderes indígenas.

De acordo com a embaixadora, o governo francês tem a intenção de ajudar a financiar algum projeto de desenvolvimento ou combate ao desmatamento na Amazônia, mas não está definido qual seria ou o valor.

A intenção dos franceses não é colocar recursos no Fundo Amazônia, mas que o Brasil apresente alguma proposta em andamento ou que esteja pronta, mas precise de financiamento, para que possam financiar diretamente.

Concretamente, um dos atos a serem assinados durante a viagem é um protocolo de intenções de 100 milhões de reais entre a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar ações de desenvolvimento sustentável no Brasil.

A questão ambiental tem sido parte central da retomada das relações entre Brasil e França depois do governo Bolsonaro, quando a conturbada relação entre o então presidente brasileiro e Macron dificultou as relações entre os dois países. Mas, apesar do bom entendimento entre os dois atuais presidentes, o caminho não tem vindo sem percalços.

O governo brasileiro ainda se ressente da legislação aprovada pelo Parlamento Europeu que impõe diversas barreiras às importações de regiões de florestas, usando com base dados de desmatamento, e que atingem principalmente o Brasil.

Além disso, em meio à tentativa de fechar o acordo de livre comércio Mercosul-União Europeia, o presidente francês vem dando declarações fortes contra o acordo, o que azedou o tom entre a diplomacia francesa e brasileira nos últimos meses.

Ainda assim, a relação entre os dois presidentes é considerada excelente, desde que Macron recebeu Lula em Paris, em 2021, com honras de chefe de Estado.

Durante a visita da próxima semana, entre os diversos assuntos previstos para serem conversados entre ambos, o acordo Mercosul-UE não estaria na pauta, por se tratar de tema multilateral. Escorel admitiu, no entanto, que é possível que seja sim levantado por um dos lados. Não se tratará de negociação, ressalvou.

"Essa é uma negociação com a Comissão Europeia, não com países europeus. Os países deram um mandato para a Comissão e ela fala por todos eles. A grande maioria tem interesse em prosseguir", disse.

 

       Amazônia e submarinos, receita para relançar a relação entre Brasil e França

 

Com a sua primeira visita ao Brasil na próxima semana, o presidente francês Emmanuel Macron buscará, junto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, relançar a relação bilateral por meio da Amazônia e dos submarinos, apesar das suas diferenças sobre a Ucrânia ou o acordo UE-Mercosul.

Lula, de 78 anos, receberá o seu homólogo de 46 anos na tarde de terça-feira em Belém, no Pará, onde iniciará uma visita de três dias que o levará também ao Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.

"Estamos vivendo um momento brasileiro", afirmou a Presidência francesa, que considerou "um sinal de grande importância" o fato de Macron ter dedicado três dias à sua primeira visita bilateral à América Latina.

O Brasil preside atualmente o grupo G20 de grandes economias e, em 2025, será o anfitrião da conferência sobre mudança climática COP30, em Belém. É também um membro-chave do grupo Brics+ de países emergentes.

A França, sétima maior economia do mundo, e o Brasil, a nona maior, também são considerados atores importantes em um cenário internacional marcado pela rivalidade entre China e Estados Unidos, razão pela qual também discutirão os "desafios globais".

"A França é um ator essencial, incontornável para a política externa brasileira", segundo a chefe da diplomacia brasileira para a Europa, Maria Luisa Escorel de Moraes.

Paris vê Brasília como uma ponte com as "grandes nações emergentes".

- "Assunto estratégico" -

Ambos os países lançaram uma parceria estratégica em 2006, com os conservadores Jacques Chirac e Lula no poder, que arrefeceu a partir de 2016 com as sucessivas presidências de Michel Temer e Jair Bolsonaro.

Embora a cooperação comercial, educacional, cultural e militar tenha continuado, a última visita de um líder francês ao Brasil foi em 2013, com o socialista François Hollande. Lula viajou para Paris em junho de 2023 após retornar ao poder.

"Onze anos sem uma visita presidencial é muita coisa. Até que ponto esta viagem vai marcar o retorno da política à relação bilateral?", questiona Gaspard Estrada, cientista político da universidade francesa Sciences Po e especialista em América Latina.

A indústria militar pode marcar a diferença. Ambos os países concordaram em 2008 em construir quatro submarinos franceses de propulsão convencional do tipo Scorpene na base naval brasileira de Itaguaí, no Rio de Janeiro, onde está prevista a inauguração do terceiro denominado "Tonelero".

O acordo, confiado ao Naval Group, previa também a construção de um quinto submarino nuclear para o Brasil, mas sem transferência de tecnologia francesa relativa ao reator. Isso poderia mudar.

"Há conversas sobre a possibilidade de que a França coopere conosco inclusive nesse aspecto da energia nuclear", disse Escorel de Moraes. "É um assunto estratégico, sensível e delicado", reconheceu.

Para Estrada, "um anúncio nesse sentido por parte de Macron enviaria um forte sinal ao Brasil e a Lula". O presidente deve visitar a base naval na quarta-feira, mas a Presidência francesa não fez nenhum anúncio.

- "Diferenças" e "convergência" -

Símbolo de suas coincidências na luta contra a mudança climática e a pobreza, Macron, que chegará do território vizinho da Guiana Francesa, iniciará sua visita de Estado com Lula na Amazônia.

A transição ecológica é uma prioridade para o Brasil e Estrada considera que a França poderia defender seus investimentos neste setor como uma questão "estrutural" do relacionamento, diante de uma China que ganha espaço no setor energético brasileiro.

A França é o terceiro maior investidor no Brasil, atrás dos Estados Unidos e da Espanha, e Macron estará acompanhado por uma grande delegação de empresários, incluindo líderes dos grupos Carrefour, Airbus e Naval Group.

Ao contrário da reforma consensual da governança global, o acordo comercial UE-Mercosul, ao qual a França se opõe atualmente, ainda "não está na agenda", segundo o Brasil. Paris espera discutir a guerra na Ucrânia.

Lula rejeita a política de isolamento em relação à Rússia, mas Macron deixou de defender o diálogo com Moscou e não descarta o envio de tropas para apoiar a Ucrânia.

"Apesar das diferenças, é muito importante poder discutir" e depois "veremos quais elementos de convergência podem levar a agir em apoio à Ucrânia, que continua sendo a nossa prioridade absoluta", assegurou a Presidência francesa.

 

Ø  Brasil se torna membro do CERN, laboratório que abriga maior colisor de partículas do mundo

 

Após 14 anos de tratativas, o Brasil tornou-se membro associado do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (CERN, na sigla em francês), anunciou na sexta-feira (22) o maior laboratório de física da Europa.

O laboratório é responsável pela operação do maior colisor de partículas do mundo, palco de uma das grandes descobertas da história da física: o bóson de Higgs, apelidado de "partícula de Deus".

Ao se tornar membro, o Brasil será o primeiro país das Américas a fazer parte do centro que também deu origem à World Wide Web.

A relação entre o país sul-americano e o centro remonta a 1990, com a assinatura de um Acordo de Cooperação Internacional, permitindo que pesquisadores brasileiros participassem do experimento DELPHI no Large Electron-Positron Collider (LEP).

Na última década, a comunidade experimental de física de partículas do Brasil dobrou de tamanho, ressalta o CERN em um comunicado.

Sendo agora membro associado, "o Brasil tem o direito de nomear representantes para participar das reuniões do Conselho do CERN e do Comitê de Finanças. Os seus cidadãos são elegíveis para se candidatarem a cargos de duração limitada e aos programas de pós-graduação do CERN, e a sua indústria tem o direito de concorrer a contratos do CERN, aumentando as oportunidades de colaboração industrial em tecnologias avançadas", diz o laboratório.

No ano passado, a ministra de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, visitou o centro em Genebra, com uma delegação de deputados, segundo o jornalista Jamil Chade no UOL.

Em coletiva depois da visita, a chefe da pasta rebateu críticos que questionam o uso dos recursos para um projeto no exterior.

Estima-se que o Brasil terá de pagar cerca de US$ 12 milhões (R$ 59,4 milhões) por ano para formalizar a participação.

Mas segundo Santos, a adesão vai permitir que a indústria nacional possa entrar em um mercado milionário e fornecer tecnologia. Ainda de acordo com a ministra, o CERN oferece hoje contratos U$S 500 milhões (R$ 2,4 bilhões) e o Brasil quer uma fatia disso, relata o jornalista.

No caso, 70% da contribuição brasileira seria revertida em contratos do organismo internacional a empresas nacionais. "A adesão abre muitas possibilidades para a indústria brasileira", afirmou Santos.

O laboratório do CERN, nos arredores de Genebra, fica na fronteira entre a França e a Suíça e emprega cerca de 2.500 pessoas de todo o mundo. Fundado em 1954, o CERN tem 23 Estados-membros: 22 da Europa, mais Israel.

 

Fonte: Reuters/AFP/Sputnik Brasil

 

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