Cientistas afirmam ter criado ‘calculadora
da morte’: tecnologia realmente funciona?
Um grupo de
pesquisadores de uma universidade dinamarquesa desenvolveu um modelo chamado
“calculadora da morte”, algoritmo para prever as fases da vida até o seu fim e
que busca mostrar os riscos do uso comercial desses dados.
“É uma estrutura muito geral que facilita a
previsão da vida humana. Você pode prever qualquer coisa, desde que tenha
dados”, diz à agência de notícias AFP Sune Lehmann, professor da Universidade
Técnica da Dinamarca (DTU) e um dos autores do estudo publicado na revista
científica Nature Computational Science.
Segundo ele, as
possibilidades são infinitas. “Poderia prever resultados de saúde, a
fertilidade ou a obesidade, ou talvez quem teria ou não câncer. Mas também
poderia prever se você ganharia muito dinheiro”, acrescenta.
Especificamente, o
‘life2vec’ usa um modelo semelhante ao ChatGPT, mas em vez de processar dados
textuais, analisa estatísticas como nascimento, estudos, benefícios sociais e
horas de trabalho.
“De certo ponto de
vista, a vida é apenas uma sucessão de acontecimentos: as pessoas nascem, vão
ao pediatra, à escola, mudam de endereço, se casam”, afirma o estudo.
“Exploramos essa
semelhança aqui para adaptar as inovações do processamento automático da
linguagem natural à análise da evolução e previsibilidade das vidas humanas com
base em sequências de eventos detalhados”, destaca.
O modelo é baseado em
dados anônimos de milhões de dinamarqueses, recolhidos pelo Instituto Nacional
de Estatística deste país nórdico.
A análise das
sequências torna mais fácil prever o que acontecerá até o final. Em relação à
morte, o algoritmo acerta em 78% dos casos, e em relação às migrações, em 73%.
“Com uma amostra de
pessoas entre 35 e 65 anos, procuramos prever com base em um período de oito
anos, de 2008 a 2016, se a pessoa vai morrer nos próximos quatro anos, até
2020. O modelo faz isso muito bem, melhor do que qualquer outro algoritmo”, diz
Lehmann, que não usa sua fórmula em casos pessoais.
Essa faixa etária, em
que os óbitos costumam ser poucos, facilita, segundo os pesquisadores, a
verificação da confiabilidade do programa.
Conforme a pesquisa, o
sistema consegue processar informações como o fato de que “em setembro de 2012,
Francisco recebeu vinte mil coroas dinamarquesas como guarda num castelo” ou de
que no “3º ano no secundário, Hermione frequentou cinco aulas eletivas”. Por
essa abordagem, dizem os pesquisadores, é possível formar sequências de vida
individuais que permitem codificar informações detalhadas sobre eventos em
vidas individuais.
Mas o instrumento não
está pronto para ser utilizado pelo público em geral. “Por enquanto é um
projeto de pesquisa que explora o campo das possibilidades (...), e não sabemos
se trata todos da mesma maneira”, explica.
O efeito a longo
prazo, as conexões sociais e a possibilidade de prever o curso da vida ainda
precisam de ser estudados.
Para o pesquisador, o
projeto apresenta um contrapeso científico aos algoritmos desenvolvidos por
gigantes como Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft.
“Eles também podem
construir modelos do mesmo tipo, mas não os tornam públicos nem falam sobre
eles”, afirma. “Podemos presumir que eles os aperfeiçoariam apenas para nos
fazer comprar mais produtos”, acrescenta. Para ele, é “importante ter
contrapeso público e aberto para começar a entender o que pode ser feito com
dados desse tipo”.
E muito mais porque
algoritmos deste tipo certamente já são utilizados na área de seguros, indica a
especialista em ética Pernille Tranberg.
“Eles certamente nos
colocaram em grupos (...) e isso pode ser usado contra nós porque podem nos
forçar a pagar um seguro mais alto, ou rejeitar um empréstimo nosso no banco ou
o acesso a cuidados médicos públicos porque morreremos de qualquer forma”, afirma.
Fonte: AFP
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