Quilombo dos Palmares, em Alagoas, deve
ganhar mais estrutura para atrair turistas
Ponto turístico de
Alagoas, a Serra da Barriga, onde localizava-se o quilombo dos Palmares pode
virar o único local de celebração oficial no Dia da Consciência Negra. É o que
propõe o governo do estado, que tem dialogado com a Fundação Cultural Palmares para
que nos próximos anos todas as celebrações da data aconteçam no local.
Também há um projeto
para modernizar o parque memorial e atrair mais turistas.
"A proposta é que
outros estados façam suas memórias nos dias que antecedem 20 de novembro. A
ideia é criar uma nova tradição: a celebração oficial nacional do Dia da
Consciência Negra passaria a ser feita só na Serra da Barriga", diz a
secretária estadual de Turismo, Barbara Braga.
Apesar de já trazer
movimento para o turismo local, com cerca de 6.000 visitantes em 2022, só agora
a
região vai entrar para
o roteiro turístico oficial do estado.
A pasta do turismo de
Alagoas foi criada no ano pasado. Antes, a agenda do setor fazia parte da
Secretaria de Desenvolvimento Econômico. O estado tem, atualmente, 76
comunidades quilombolas.
"Nosso objetivo é
fazer com que a Serra da Barriga se torne mais um grande ponto turístico de
Alagoas, para trazer mais pessoas para conhecer o quilombo dos Palmares. Com
isso, as pessoas terão consciência de tudo o que aconteceu e da importância das
tradições do povo preto".
Para quem está à
frente do chamado afroturismo, que valoriza culturas negras, a Serra da Barriga
costuma ser o primeiro local a ser lembrado.
"Não é um
quilombo no qual as pessoas vivem, é um memorial. É como se fosse um museu a
céu aberto e é bonito ser assim", afirma Bia Moremi, CEO e diretora
criativa da Brafrika Viagens, agência especializada neste ramo.
"Está em
decadência o tipo de turismo em que você vai para um resort e volta para casa
sem ver nada da cultura e da riqueza local. Fico feliz de ver essa movimentação
pública, que acho que ainda é bastante embrionária", diz ela.
Além dessa iniciativa,
o parque deve ganhar novas placas de sinalização, totens e estrutura de áudio
por meio de um programa de revitalização encampado pela rede social TikTok em
parceria com o Centro Cultura e Estudos Étnicos Anajô e a Fundação Palmares.
A empresa prometeu
ainda desenvolver um novo aplicativo da Serra da Barriga, com vídeos e
informações mais precisas sobre o espaço, entre outras melhorias.
As celebrações na
Serra da Barriga já acontecem ao longo do último mês de novembro, tendo o seu
ápice no dia 20. Na data, estavam programados vigília do berimbau, feita por
capoeristas, apresentações de grupos culturais, presença de políticos,
atividades de gastronomia, artesanato, entre outras atrações.
A Serra da Barriga é
um bem imaterial tombado pelo Iphan desde 1986 e monumento nacional desde 1988.
O local é considerado sagrado e de grande representatividade para o povo negro,
onde foi criado o maior foco de resistência escrava do Brasil, o Quilombo dos
Palmares.
Segundo a gestão Paulo
Dantas (MDB), em 2023 o estado iniciou diálogo com o governo federal, por meio
do Ministério do Turismo e da Embratur, para que a Serra da Barriga e o estado
de Alagoas estejam em todas as campanhas de promoção internacional do afroturismo.
O dia 20 de novembro,
que hoje é feriado em diversos estados e municípios do país, remete à morte do
maior líder que habitou o quilombo, Zumbi dos Palmares, que viveu entre 1655 e
1695. A data busca reforçar a resiliência contra a escravidão e o protagonismo
dos negros no processo de abolição. Também virou símbolo de luta contra as
desigualdades raciais atuais, ainda sequela dos mais de 300 anos de regime
escravagista.
A comunidade
quilombola persistiu ali na região por quase cem anos. Entre 1597 e 1695,
resistiu a investidas da coroa portuguesa e de delegações holandesas, que
tentaram por muitas vezes destruir o local, sem sucesso.
No período de seu
ápice, o quilombo reuniu na Serra da Barriga --na época em Pernambuco, hoje
pertencente ao estado de Alagoas-- milhares de pessoas. Os números não são
precisos. Algumas estimativas chegam a falar na presença de até 20 mil
quilombolas no auge de sua formação, no século 17.
Fonte: FolhaPress
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