sexta-feira, 22 de março de 2024

PF: Bolsonaro ordenou que Cid fraudasse cartão de vacina dele e de sua filha

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ordenou ao seu então ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, que inserisse dados falsos de vacinação contra a Covid-19 dele e de sua filha nos sistemas do Ministério da Saúde, segundo relatório da Polícia Federal (PF) apresentado nesta terça-feira (19).

“Os elementos de prova colhidos corroboram as afirmações prestadas pelo colaborador MAURO CESAR BARBOSA CID, demonstrando que, por ordem do então Presidente JAIR BOLSONARO, MAURO CESAR CID solicitou a AILTON BARROS a inserção dos dados falsos de vacinação contra a Covid-19 em benefício do ex-Presidente da República e de sua filha”, afirma a PF.

Ainda de acordo com o documento, “os elementos de prova coletados ao longo da presente investigação são convergentes em demonstrar que JAIR MESSIAS BOLSONARO agiu com consciência e vontade determinando que seu chefe da Ajudância de Ordens intermediasse a inserção dos dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde em seu benefício e de sua filha. Não há nos autos, elementos que indiquem que MAURO CESAR CID, AILTON BARROS e JOÃO CARLOS BRECHA se uniram em unidade de desígnios para inserir os dados falsos à revelia do então Presidente da República JAIR BOLSONARO.

•        PF: Cid imprimiu cartão de vacina falso de Bolsonaro no Palácio da Alvorada

Provas colhidas pela Polícia Federal (PF) e apresentadas em relatório divulgado nesta terça-feira (19) indicam que Mauro Cid acessou o ConectSUS do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e imprimiu certificado falso de vacinação contra a Covid-19 no Palácio da Alvorada, em dezembro de 2022, a mando do ex-chefe do Executivo.

“Os elementos de prova coletados ao longo da presente investigação são convergentes em demonstrar que JAIR MESSIAS BOLSONARO agiu com consciência e vontade determinando que seu chefe da Ajudância de Ordens intermediasse a inserção dos dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde em seu benefício e de sua filha. Não há nos autos, elementos que indiquem que MAURO CESAR CID, AILTON BARROS e JOÃO CARLOS BRECHA se uniram em unidade de desígnios para inserir os dados falsos à revelia do então Presidente da República JAIR BOLSONARO“, aponta o documento da PF.

Ainda segundo as investigações, a inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 para falsificação de cartões vacina “pode ter sido utilizado pelo grupo para permitir que seus integrantes, após a tentativa inicial de golpe de Estado, pudessem ter à disposição os documentos necessários para cumprir eventuais requisitos legais para entrada e permanência no exterior (cartão de vacina), aguardando a conclusão dos atos relacionados a nova tentativa de golpe de Estado que eclodiu no dia 08 de janeiro de 2023″.

Outro Lado

O advogado e assessor de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, disse à CNN que ainda não foi informado sobre indiciamento.

A defesa do deputado federal Gutemberg Reis de Oliveira disse que está em missão oficial do Parlamento do Mercosul em Montevidéu. Assim que tivermos um posicionamento, eu te envio.

O advogado Eduardo Kuntz – responsável pela defesa do ex-assessor de Bolsonaro Marcelo Costa Câmara e do ex-segurança Sergio Rocha Cordeiro – disse que ainda aguarda o acesso ao relatório policial.

A CNN tenta contato com os demais citados, mas ainda não teve retorno.

Veja a lista de indiciados pela PF no caso

•        Jair Messias Bolsonaro, ex-presidente da República (inserção de dados falsos em sistema de informações e associação criminosa);

•        Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência da República (falsidade ideológica de documento público, inserção de dados falsos em sistema de informações e uso de documento ideologicamente falso);

•        Gabriela Santiago Cid, esposa de Mauro Cid (falsidade ideológica de documento público e uso de documento ideologicamente falso);

•        Gutemberg Reis de Oliveira, deputado federal (MDB-RJ) (inserção de dados falsos em sistema de informações e associação criminosa);

•        Luis Marcos dos Reis, ex-ajudante de ordens da Presidência da República (abaixo do Mauro Cid) (inserção de dados falsos em sistema de informações e falsidade ideológica de documento público);

•        Farley Vinicius Alcântara, médico e sobrinho de Luis Marcos dos Reis (inserção de dados falsos em sistema de informações e falsidade ideológica de documento público);

•        Eduardo Crespo Alves, militar que tentou, por intermédio de outra pessoa, inserir os dados falsos no site do ministério (inserção de dados falsos em sistema de informações);

•        Paulo Sérgio da Costa Ferreira (inserção de dados falsos em sistema de informações);

•        Ailton Gonçalves Barros, ex-major do Exército (inserção de dados falsos em sistema de informações, falsidade ideológica de documento público e associação criminosa);

•        Marcelo Fernandes Holanda (inserção de dados falsos em sistema de informações);

•        Camila Paulino Alves Soares, enfermeira de Duque de Caxias (inserção de dados falsos em sistema de informações);

•        João Carlos de Sousa Brecha, ex-secretário de Governo de Duque de Caxias (inserção de dados falsos em sistema de informações e associação criminosa);

•        Marcelo Costa Câmara, assessor especial de Bolsonaro (inserção de dados falsos em sistema de informações).

 

       Enfermeira se diz aliviada após indiciamentos por fraude em cartões de vacina

 

A enfermeira Dzirrê de Almeida Gonçalves, que aparece como responsável por aplicar a dose do primeiro cartão de vacinação falso de Gabriela Cid, se diz aliviada com o indiciamento do médico Farley de Alcântara.

De acordo com investigações da Polícia Federal, os dados de Dzirrê foram utilizado por Farley sem consentimento dela.

O médico é sobrinho do sargento do Exército Luís Marcos dos Reis, um dos ex-ajudantes de ordens de Bolsonaro.

“Estou muito aliviada. Só quero muito que tudo isso acabe e se esclareça”, disse a enfermeira à CNN.

Em depoimento à PF, o médico admitiu que atendeu a um pedido do tio ao assinar e carimbar um cartão de vacina da esposa de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL).

Para isso, de acordo com as investigações, Farley Alcântara copiou os lotes da vacina contra a Covid-19 de um cartão de vacinação que a enfermeira de fato preencheu.

O documento foi registrado na cidade de Cabeceiras (GO), cerca de 100 quilômetros de Brasília, onde Farley trabalhava.

No relatório final da PF, aparece trocas de mensagens entre o sobrinho e o tio.

Na conversa, o ajudante de ordens pede: “Você consegue outro cartão?”. Logo em seguida, o médico responde: “Amanhã vejo se desenrolo isso. Cartão em branco, né?”. Isso porque, a dupla agiu ainda para conseguir um segundo cartão que pudesse ser anotado um lote de vacinas do estado do Rio de Janeiro.

Para a Polícia Federal, foi com esse cartão em branco que o esquema de falsificação começou. A partir daí, o esquema chegou ao conhecimento do ex-presidente Jair Bolsonaro que também teria pedido cartões falsos de vacinação para ele e sua família.

Nesta terça (19), o médico Farley Alcântara e seu tio foram indiciados pela prática do crime de falsidade ideológica de documento público, por terem “inseridos dados ideologicamente falsos de vacinação contra a covid-19 em nome de Gabriela Ribeiro Cid, esposa de Mauro Cid. Segundo a PF, os dois “tinham consciência da finalidade criminosa de seus atos”.

Atualmente, Farley de Alcântara trabalha no Hospital H. Olhos, na cidade de São Gonçalo (RJ).

Em maio do ano passado, quando a investigação começou, a unidade de saúde informou à reportagem que iria “aguardar a conclusão das investigações para avaliar quais medidas serão tomadas” quanto ao médico.

Questionado nesta terça com o indiciamento de Farley o que seria feito, o hospital não respondeu aos questionamentos da reportagem.

•        Esquema começou em Goiás

Segundo investigações da Polícia Federal, Farley Vinícius Alencar de Alcântara trabalhava como médico plantonista no Hospital Municipal de Cabeceiras, quando escreveu informações falsas à mão em um cartão de vacinação.

Inicialmente, a fraude teria intuito de beneficiar Gabriela Santiago Ribeiro Cid, esposa de Mauro Cid, ajudante de ordens do então presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Para isso, ele teria pegado dados verdadeiros de um cartão com a assinatura da enfermeira Dzirrê, que de fato vacinou alguém.

No entanto, para dar mais veracidade, os envolvidos resolveram adicionar a aplicação do imunizante no sistema do Ministério da Saúde diretamente da cidade de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Por isso a necessidade de um segundo cartão de vacinas, em branco, esse também conseguido pelo médico Farley.

Esse esquema teria iniciado em 2021 e levado à falsificação de vacinação também de Bolsonaro e sua filha mais nova. Segundo a PF, “o colaborador Mauro Cid afirmou que o então presidente ao tomar conhecimento de que ele possuía cartões de vacinação contra a Covid-19 em seu nome e em nome de seus familiares, ordenou que o colaborador fizesse as inserções para obtenção dos cartões ideologicamente falsos para ele e sua filha”.

 

       “Eu vou tomar a vacina; não falsifica, por favor”, pediu filha a secretário investigado pela PF

 

O secretário de governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Sousa Brecha, recebeu uma mensagem de sua filha, em outubro de 2022, com um apelo para que ele não falsificasse o cartão de vacinação dela.

Brecha foi indicado pela Polícia Federal (PF) pelos crimes de associação criminosa e por inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde.

A PF concluiu que Brecha inseriu dados falsos para fraudar cartões de vacinação em ao menos 12 ocasiões. Ele é investigado por fraudar, entre outros, o cartão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de sua filha.

“Papai. Eu vou tomar a vacina do covid segunda dose segunda não falsifica pfv”, disse a garota para seu pai. “Ta bom meu amor”, respondeu Brecha. “Vc é mto corajosa.” As mensagens foram enviadas em outubro de 2022 pela filha.

Meses antes, em junho daquele ano, a menina enviou uma mensagem em um grupo em que dizia ter tomado o que seria, de acordo com os investigadores, a primeira dose. “Oi gente tomei a vacina. Nem doeu”, enviou.

Procurada pela CNN, a Prefeitura de Duque de Caxias informou que João Carlos de Sousa Brecha foi exonerado de suas funções e não se manifestará a respeito das investigações da PF.

“A Prefeitura de Duque de Caxias esclarece que o ex-secretário João Carlos de Souza Brecha foi exonerado das suas funções na pasta e não se manifestará acerca de investigações da Polícia Federal que não foram apreciadas pela Justiça.”

 

       Fake news sobre vacina, coágulos achados em autópsias, máscaras petistas no shopping: a cruzada anticovid da esposa de Mauro Cid

 

Em conversas com amigas e familiares por aplicativo de mensagens, que foram apreendidas pela Polícia Federal, a esposa do tenente-coronel Mauro Cid difundiu informações falsas sobre vacinas contra covid-19 e relacionou o uso de máscaras ao voto em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022.

“Estou tão impressionada c tudo isso q acredito q esses q estão de máscara são os q votaram no PT”, disse Gabriela Cid, casada com o ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a uma amiga em 12 de novembro de 2022 — menos de duas semanas depois da vitória de Lula no segundo turno das eleições.

Uma interlocutora sua, identificada pela PF “possivelmente” como Monique Cid Dalla Lana Bohrer, avisa Gabriela que passou em um shopping center para almoçar e se impressionou com “famílias inteiras” usando máscaras.

A esposa de Cid responde que impedirá sua filha de usar a proteção facial nas aulas de balé. Ela diz, então, que os usuários de máscaras “já querem propagar medo” e isso “faz parte do plano” — sem indicar do que exatamente se trata. “Mais um motivo para lutarmos até o final”, escreve Gabriela.

As conversas foram obtidas legalmente e fazem parte do relatório da PF que conclui com o indiciamento de Cid e de Gabriela, além de Bolsonaro, por associação criminosa e falsificação nos cartões de vacina.

Em mensagens trocadas com uma pessoa identificada pela PF como Ticiana Villas Bôas, filha do general da reserva Eduardo Villas Bôas, a esposa de Cid espalha um vídeo sobre “mortes súbitas” em pessoas vacinadas contra covid. O vídeo, segundo Gabriela, mostra coágulos sendo retirados em autópsias.

“Aqui ninguém rela nos meus filhos… nem em mim”, responde a filha do ex-comandante do Exército. “Isso aí”, assente Gabriela.

“Tem muita gente que acredita em tudo. Não enxerga que quem está no poder quer dinheiro e não pensa na população. Por isso o presidente [Bolsonaro] brigou tanto!”, acrescenta.

No âmbito das investigações, a PF também apreendeu um bloco de anotações de Gabriela Cid em que ela faz um “check list”, com sinal de verificação ou não, em tarefas pré-viagem aos Estados Unidos em dezembro de 2021.

O registro falso de vacinação inserido no sistema do Ministério da Saúde foi feito justamente para viabilizar a entrada dela em território americano.

Na lista de tarefas, havia cinco pendências: cartão de vacinação, cílios, mega hair, manutenção das unhas e botox. O cartão de vacinação estava com sinal de visto.

 

       Wajngarten: “O que está acontecendo é pior que a Lava Jato”

 

O ex-secretário de Comunicação da Presidência Fábio Wajngarten disse considerar “absurdo” o pedido de indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no inquérito que apura a adulteração de cartões de vacinação contra a Covid-19.

Wajngarten voltou a dizer que Bolsonaro sempre teve posição clara a respeito da vacina e que qualquer alteração em registros oficiais teria ocorrido sem sua anuência ou conhecimento.

“Isso tudo é um absurdo. O mundo todo sabe da posição do presidente Bolsonaro sobre a vacina. Razão pela qual é descabida qualquer conversa sobre adulteração. Se alguma coisa foi alterada, foi sem que ele tenha pedido e sem seu conhecimento”, afirmou Wajngarten, dizendo não confiar na veracidade dos depoimentos que embasaram o pedido de indiciamento do ex-presidente.

Wajngarten reiterou os termos da petição apresentada pela defesa de Bolsonaro, cobrando acesso ao relatório da investigação.

“A defesa técnica esteve no STF às 13h30 e não conseguiu o despacho que está em todos os veículos de imprensa. Isso tudo é pior que a Lava Jato”, acrescentou.

Na petição em questão, a defesa afirmou que foi informada de que o cartório ainda não havia tomado ciência do referido despacho, razão pela qual não poderia conceder as cópias do relatório da investigação.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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