PF: Bolsonaro ordenou que Cid fraudasse
cartão de vacina dele e de sua filha
O ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) ordenou ao seu então ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro
Cid, que inserisse dados falsos de vacinação contra a Covid-19 dele e de sua
filha nos sistemas do Ministério da Saúde, segundo relatório da Polícia Federal
(PF) apresentado nesta terça-feira (19).
“Os elementos de prova
colhidos corroboram as afirmações prestadas pelo colaborador MAURO CESAR
BARBOSA CID, demonstrando que, por ordem do então Presidente JAIR BOLSONARO,
MAURO CESAR CID solicitou a AILTON BARROS a inserção dos dados falsos de
vacinação contra a Covid-19 em benefício do ex-Presidente da República e de sua
filha”, afirma a PF.
Ainda de acordo com o
documento, “os elementos de prova coletados ao longo da presente investigação
são convergentes em demonstrar que JAIR MESSIAS BOLSONARO agiu com consciência
e vontade determinando que seu chefe da Ajudância de Ordens intermediasse a
inserção dos dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do
Ministério da Saúde em seu benefício e de sua filha. Não há nos autos,
elementos que indiquem que MAURO CESAR CID, AILTON BARROS e JOÃO CARLOS BRECHA
se uniram em unidade de desígnios para inserir os dados falsos à revelia do
então Presidente da República JAIR BOLSONARO.
• PF: Cid imprimiu cartão de vacina falso
de Bolsonaro no Palácio da Alvorada
Provas colhidas pela
Polícia Federal (PF) e apresentadas em relatório divulgado nesta terça-feira
(19) indicam que Mauro Cid acessou o ConectSUS do ex-presidente Jair Bolsonaro
(PL) e imprimiu certificado falso de vacinação contra a Covid-19 no Palácio da
Alvorada, em dezembro de 2022, a mando do ex-chefe do Executivo.
“Os elementos de prova
coletados ao longo da presente investigação são convergentes em demonstrar que
JAIR MESSIAS BOLSONARO agiu com consciência e vontade determinando que seu
chefe da Ajudância de Ordens intermediasse a inserção dos dados falsos de vacinação
contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde em seu benefício e de sua
filha. Não há nos autos, elementos que indiquem que MAURO CESAR CID, AILTON
BARROS e JOÃO CARLOS BRECHA se uniram em unidade de desígnios para inserir os
dados falsos à revelia do então Presidente da República JAIR BOLSONARO“, aponta
o documento da PF.
Ainda segundo as
investigações, a inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 para
falsificação de cartões vacina “pode ter sido utilizado pelo grupo para
permitir que seus integrantes, após a tentativa inicial de golpe de Estado,
pudessem ter à disposição os documentos necessários para cumprir eventuais
requisitos legais para entrada e permanência no exterior (cartão de vacina),
aguardando a conclusão dos atos relacionados a nova tentativa de golpe de
Estado que eclodiu no dia 08 de janeiro de 2023″.
Outro Lado
O advogado e assessor
de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, disse à CNN que ainda não foi informado sobre
indiciamento.
A defesa do deputado
federal Gutemberg Reis de Oliveira disse que está em missão oficial do
Parlamento do Mercosul em Montevidéu. Assim que tivermos um posicionamento, eu
te envio.
O advogado Eduardo
Kuntz – responsável pela defesa do ex-assessor de Bolsonaro Marcelo Costa
Câmara e do ex-segurança Sergio Rocha Cordeiro – disse que ainda aguarda o
acesso ao relatório policial.
A CNN tenta contato
com os demais citados, mas ainda não teve retorno.
Veja a lista de
indiciados pela PF no caso
• Jair Messias Bolsonaro, ex-presidente da
República (inserção de dados falsos em sistema de informações e associação
criminosa);
• Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de
ordens da Presidência da República (falsidade ideológica de documento público,
inserção de dados falsos em sistema de informações e uso de documento
ideologicamente falso);
• Gabriela Santiago Cid, esposa de Mauro
Cid (falsidade ideológica de documento público e uso de documento
ideologicamente falso);
• Gutemberg Reis de Oliveira, deputado
federal (MDB-RJ) (inserção de dados falsos em sistema de informações e
associação criminosa);
• Luis Marcos dos Reis, ex-ajudante de
ordens da Presidência da República (abaixo do Mauro Cid) (inserção de dados
falsos em sistema de informações e falsidade ideológica de documento público);
• Farley Vinicius Alcântara, médico e
sobrinho de Luis Marcos dos Reis (inserção de dados falsos em sistema de
informações e falsidade ideológica de documento público);
• Eduardo Crespo Alves, militar que
tentou, por intermédio de outra pessoa, inserir os dados falsos no site do
ministério (inserção de dados falsos em sistema de informações);
• Paulo Sérgio da Costa Ferreira (inserção
de dados falsos em sistema de informações);
• Ailton Gonçalves Barros, ex-major do
Exército (inserção de dados falsos em sistema de informações, falsidade
ideológica de documento público e associação criminosa);
• Marcelo Fernandes Holanda (inserção de
dados falsos em sistema de informações);
• Camila Paulino Alves Soares, enfermeira
de Duque de Caxias (inserção de dados falsos em sistema de informações);
• João Carlos de Sousa Brecha,
ex-secretário de Governo de Duque de Caxias (inserção de dados falsos em
sistema de informações e associação criminosa);
• Marcelo Costa Câmara, assessor especial
de Bolsonaro (inserção de dados falsos em sistema de informações).
Enfermeira se diz aliviada após
indiciamentos por fraude em cartões de vacina
A enfermeira Dzirrê de
Almeida Gonçalves, que aparece como responsável por aplicar a dose do primeiro
cartão de vacinação falso de Gabriela Cid, se diz aliviada com o indiciamento
do médico Farley de Alcântara.
De acordo com
investigações da Polícia Federal, os dados de Dzirrê foram utilizado por Farley
sem consentimento dela.
O médico é sobrinho do
sargento do Exército Luís Marcos dos Reis, um dos ex-ajudantes de ordens de
Bolsonaro.
“Estou muito aliviada.
Só quero muito que tudo isso acabe e se esclareça”, disse a enfermeira à CNN.
Em depoimento à PF, o
médico admitiu que atendeu a um pedido do tio ao assinar e carimbar um cartão
de vacina da esposa de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL).
Para isso, de acordo
com as investigações, Farley Alcântara copiou os lotes da vacina contra a
Covid-19 de um cartão de vacinação que a enfermeira de fato preencheu.
O documento foi
registrado na cidade de Cabeceiras (GO), cerca de 100 quilômetros de Brasília,
onde Farley trabalhava.
No relatório final da
PF, aparece trocas de mensagens entre o sobrinho e o tio.
Na conversa, o
ajudante de ordens pede: “Você consegue outro cartão?”. Logo em seguida, o
médico responde: “Amanhã vejo se desenrolo isso. Cartão em branco, né?”. Isso
porque, a dupla agiu ainda para conseguir um segundo cartão que pudesse ser
anotado um lote de vacinas do estado do Rio de Janeiro.
Para a Polícia
Federal, foi com esse cartão em branco que o esquema de falsificação começou. A
partir daí, o esquema chegou ao conhecimento do ex-presidente Jair Bolsonaro
que também teria pedido cartões falsos de vacinação para ele e sua família.
Nesta terça (19), o
médico Farley Alcântara e seu tio foram indiciados pela prática do crime de
falsidade ideológica de documento público, por terem “inseridos dados
ideologicamente falsos de vacinação contra a covid-19 em nome de Gabriela
Ribeiro Cid, esposa de Mauro Cid. Segundo a PF, os dois “tinham consciência da
finalidade criminosa de seus atos”.
Atualmente, Farley de
Alcântara trabalha no Hospital H. Olhos, na cidade de São Gonçalo (RJ).
Em maio do ano
passado, quando a investigação começou, a unidade de saúde informou à
reportagem que iria “aguardar a conclusão das investigações para avaliar quais
medidas serão tomadas” quanto ao médico.
Questionado nesta
terça com o indiciamento de Farley o que seria feito, o hospital não respondeu
aos questionamentos da reportagem.
• Esquema começou em Goiás
Segundo investigações
da Polícia Federal, Farley Vinícius Alencar de Alcântara trabalhava como médico
plantonista no Hospital Municipal de Cabeceiras, quando escreveu informações
falsas à mão em um cartão de vacinação.
Inicialmente, a fraude
teria intuito de beneficiar Gabriela Santiago Ribeiro Cid, esposa de Mauro Cid,
ajudante de ordens do então presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Para
isso, ele teria pegado dados verdadeiros de um cartão com a assinatura da
enfermeira Dzirrê, que de fato vacinou alguém.
No entanto, para dar
mais veracidade, os envolvidos resolveram adicionar a aplicação do imunizante
no sistema do Ministério da Saúde diretamente da cidade de Duque de Caxias, na
Baixada Fluminense. Por isso a necessidade de um segundo cartão de vacinas, em
branco, esse também conseguido pelo médico Farley.
Esse esquema teria
iniciado em 2021 e levado à falsificação de vacinação também de Bolsonaro e sua
filha mais nova. Segundo a PF, “o colaborador Mauro Cid afirmou que o então
presidente ao tomar conhecimento de que ele possuía cartões de vacinação contra
a Covid-19 em seu nome e em nome de seus familiares, ordenou que o colaborador
fizesse as inserções para obtenção dos cartões ideologicamente falsos para ele
e sua filha”.
“Eu vou tomar a vacina; não falsifica,
por favor”, pediu filha a secretário investigado pela PF
O secretário de
governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Sousa Brecha, recebeu uma
mensagem de sua filha, em outubro de 2022, com um apelo para que ele não
falsificasse o cartão de vacinação dela.
Brecha foi indicado
pela Polícia Federal (PF) pelos crimes de associação criminosa e por inserção
de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da
Saúde.
A PF concluiu que
Brecha inseriu dados falsos para fraudar cartões de vacinação em ao menos 12
ocasiões. Ele é investigado por fraudar, entre outros, o cartão do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de sua filha.
“Papai. Eu vou tomar a
vacina do covid segunda dose segunda não falsifica pfv”, disse a garota para
seu pai. “Ta bom meu amor”, respondeu Brecha. “Vc é mto corajosa.” As mensagens
foram enviadas em outubro de 2022 pela filha.
Meses antes, em junho
daquele ano, a menina enviou uma mensagem em um grupo em que dizia ter tomado o
que seria, de acordo com os investigadores, a primeira dose. “Oi gente tomei a
vacina. Nem doeu”, enviou.
Procurada pela CNN, a
Prefeitura de Duque de Caxias informou que João Carlos de Sousa Brecha foi
exonerado de suas funções e não se manifestará a respeito das investigações da
PF.
“A Prefeitura de Duque
de Caxias esclarece que o ex-secretário João Carlos de Souza Brecha foi
exonerado das suas funções na pasta e não se manifestará acerca de
investigações da Polícia Federal que não foram apreciadas pela Justiça.”
Fake news sobre vacina, coágulos achados
em autópsias, máscaras petistas no shopping: a cruzada anticovid da esposa de
Mauro Cid
Em conversas com
amigas e familiares por aplicativo de mensagens, que foram apreendidas pela
Polícia Federal, a esposa do tenente-coronel Mauro Cid difundiu informações
falsas sobre vacinas contra covid-19 e relacionou o uso de máscaras ao voto em
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022.
“Estou tão
impressionada c tudo isso q acredito q esses q estão de máscara são os q
votaram no PT”, disse Gabriela Cid, casada com o ajudante de ordens do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a uma amiga em 12 de novembro de 2022 —
menos de duas semanas depois da vitória de Lula no segundo turno das eleições.
Uma interlocutora sua,
identificada pela PF “possivelmente” como Monique Cid Dalla Lana Bohrer, avisa
Gabriela que passou em um shopping center para almoçar e se impressionou com
“famílias inteiras” usando máscaras.
A esposa de Cid
responde que impedirá sua filha de usar a proteção facial nas aulas de balé.
Ela diz, então, que os usuários de máscaras “já querem propagar medo” e isso
“faz parte do plano” — sem indicar do que exatamente se trata. “Mais um motivo
para lutarmos até o final”, escreve Gabriela.
As conversas foram
obtidas legalmente e fazem parte do relatório da PF que conclui com o
indiciamento de Cid e de Gabriela, além de Bolsonaro, por associação criminosa
e falsificação nos cartões de vacina.
Em mensagens trocadas
com uma pessoa identificada pela PF como Ticiana Villas Bôas, filha do general
da reserva Eduardo Villas Bôas, a esposa de Cid espalha um vídeo sobre “mortes
súbitas” em pessoas vacinadas contra covid. O vídeo, segundo Gabriela, mostra
coágulos sendo retirados em autópsias.
“Aqui ninguém rela nos
meus filhos… nem em mim”, responde a filha do ex-comandante do Exército. “Isso
aí”, assente Gabriela.
“Tem muita gente que
acredita em tudo. Não enxerga que quem está no poder quer dinheiro e não pensa
na população. Por isso o presidente [Bolsonaro] brigou tanto!”, acrescenta.
No âmbito das
investigações, a PF também apreendeu um bloco de anotações de Gabriela Cid em
que ela faz um “check list”, com sinal de verificação ou não, em tarefas
pré-viagem aos Estados Unidos em dezembro de 2021.
O registro falso de
vacinação inserido no sistema do Ministério da Saúde foi feito justamente para
viabilizar a entrada dela em território americano.
Na lista de tarefas,
havia cinco pendências: cartão de vacinação, cílios, mega hair, manutenção das
unhas e botox. O cartão de vacinação estava com sinal de visto.
Wajngarten: “O que está acontecendo é
pior que a Lava Jato”
O ex-secretário de
Comunicação da Presidência Fábio Wajngarten disse considerar “absurdo” o pedido
de indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no inquérito que apura a
adulteração de cartões de vacinação contra a Covid-19.
Wajngarten voltou a
dizer que Bolsonaro sempre teve posição clara a respeito da vacina e que
qualquer alteração em registros oficiais teria ocorrido sem sua anuência ou
conhecimento.
“Isso tudo é um
absurdo. O mundo todo sabe da posição do presidente Bolsonaro sobre a vacina.
Razão pela qual é descabida qualquer conversa sobre adulteração. Se alguma
coisa foi alterada, foi sem que ele tenha pedido e sem seu conhecimento”,
afirmou Wajngarten, dizendo não confiar na veracidade dos depoimentos que
embasaram o pedido de indiciamento do ex-presidente.
Wajngarten reiterou os
termos da petição apresentada pela defesa de Bolsonaro, cobrando acesso ao
relatório da investigação.
“A defesa técnica
esteve no STF às 13h30 e não conseguiu o despacho que está em todos os veículos
de imprensa. Isso tudo é pior que a Lava Jato”, acrescentou.
Na petição em questão,
a defesa afirmou que foi informada de que o cartório ainda não havia tomado
ciência do referido despacho, razão pela qual não poderia conceder as cópias do
relatório da investigação.
Fonte: CNN Brasil
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