Estado alemão proíbe linguagem inclusiva de
gênero
O governo do estado da
Baviera, no sul da Alemanha, liderado pelo partido conservador União Social
Cristã (CSU), aprovou uma emenda à legislação que proíbe o uso de linguagem
inclusiva de gênero em documentos oficiais e em locais públicos, como salas de aula.
Isso significa que as
autoridades estaduais bávaras não poderão mais usar símbolos, como asteriscos e
dois-pontos, em substantivos para torná-los mais inclusivos (mais abaixo no
artigo, entenda como funciona o gênero no idioma alemão).
Florian Herrmann,
membro do gabinete do governador da Baviera, Markus Söder, explicou que a regra
se aplicará também às escolas e universidades. O uso de linguagem sensível ao
gênero passa a ser proibido em textos usados no ensino diário, bem como em cartas
aos pais e comunicações internas.
"Para nós, a
mensagem é: a linguagem deve ser clara e compreensível", afirmou Herrmann.
"Mas também se trata de manter aberto o espaço para o discurso em uma
sociedade liberal." Ele justificou ainda que a linguagem sensível ao
gênero é motivada por ideologias e que pode causar um efeito de exclusão sobre
quem não a adota.
O governo bávaro não
deixou claro se haverá nem qual será a punição aos professores e outros
funcionários do governo que violarem as novas regras.
O gênero no idioma
alemão
Assim como no
português, o alemão usa palavras com gênero. Substantivos, artigos e pronomes
são alterados para fazer tal distinção. Um paciente do sexo masculino, por
exemplo, é referido como Patient, enquanto uma paciente do sexo feminino é
Patientin. No plural, pacientes homens são Patienten, enquanto pacientes
mulheres são Patientinnen. E, se houver tanto homens quanto mulheres, usa-se,
também como no português, a palavra plural masculina para se referir ao grupo.
Na linguagem escrita,
há muito tempo é comum escrever PatientInnen, com um i maiúsculo, para indicar
que o plural a que se refere provavelmente contém tanto homens quanto mulheres.
Mas houve, então,
pedidos por mais esforços para tornar o alemão mais inclusivo, menos dominado
pelos homens e menos binário. Passou-se assim a usar símbolos para separar as
palavras, como um asterisco (chamado de "estrela de gênero"),
dois-pontos ou um underline, criando termos como Patient*in e Patient_in. No
alemão falado, esses símbolos são pronunciados com uma pausa ou uma parada
glótica.
Em 2021, o renomado
dicionário de alemão padrão Duden começou a alterar seus verbetes de
substantivos que se referem a pessoas para deixar claras as versões femininas e
apontar a versão masculina como se referindo explicitamente a homens.
Enquanto a Baviera
recua em relação à linguagem inclusiva de gênero, outras partes da Alemanha,
como a cidade de Hannover, optaram por reformular tal linguagem em
correspondências oficiais.
Reações à decisão na
Baviera
A decisão de proibir
uma linguagem mais inclusiva na Baviera, anunciada na terça-feira (19/03), foi
recebida com reações acaloradas.
O Partido Social
Democrata (SPD), do chanceler federal Olaf Scholz, acusou o governador bávaro
Söder de restringir a liberdade de expressão de professores e funcionários do
poder público. Segundo a legenda, o objetivo da proibição não foi proteger a
gramática alemã, mas atacar o progresso da liberdade e da igualdade.
Já a Associação de
Mulheres Católicas Alemãs (KDFB, na sigla em alemão) falou em um
"lamentável retrocesso" e criticou a falta de "alternativas
construtivas para promover a igualdade de direitos". Segundo a presidente
da associação no estado, Birgit Kainz, o idioma está em estado de fluxo, se
desenvolve com a sociedade, mas também molda a consciência e o pensamento –
sendo, portanto, uma ferramenta importante para promover a igualdade.
A Federação da
Juventude Católica Alemã (BDKJ) na Baviera acusou o governo estadual de
prejudicar a vida de muitos LGBTQIA+ afetados pela decisão. "Inúmeros
adolescentes católicos voltarão para as escolas e universidades depois da
Páscoa e se depararão com um ambiente de ensino no qual sua própria
homossexualidade não será mais abordada livremente como uma realidade de
vida", disse a diretora espiritual da associação, Maria-Theresia Kölbl.
O presidente estadual
da BDKJ, Florian Hörlein, também reagiu com incompreensão. "O discurso
político genuíno e livre só é possível com oportunidades irrestritas de
expressão, esforços constantes para educar e a luta pelos melhores
argumentos", afirmou, acrescentando que a federação continuará mantendo o
espaço de discurso aberto para o gênero e incentivando as pessoas a falarem de
forma sensível ao gênero.
Por outro lado, a
Associação de Professores Alemães (DL) recebeu bem a política. O presidente da
DL, Stefan Düll, disse à agência de notícias alemã DPA que a linguagem oficial
deve ser centrada em "formulações respeitosas que são sensíveis ao gênero
sem marcá-las como tal". Ele acrescentou que o asterisco, por exemplo,
poderia ser percebido por alguns como excludente.
A Sociedade para a
Língua Alemã (GfdS) também saudou a decisão de não permitir o uso de caracteres
especiais como asteriscos e underlines, mas enfatizou ser claramente a favor de
uma linguagem mais inclusiva "se for compreensível, legível e estiver em
conformidade com as regras".
Fonte: Deutsche Welle
Nenhum comentário:
Postar um comentário