terça-feira, 5 de março de 2024

Pesquisadores encontram microplásticos em todas placentas humanas testadas

Foi constatada a presença de microplásticos em todas as amostras de placentas humanas analisadas em um estudo recente. Publicada na revista Toxicological Science, a pesquisa gerou preocupações entre os cientistas sobre os potenciais impactos na saúde dos fetos em desenvolvimento.

Analisando 62 amostras de tecido placentário, os cientistas identificaram o polietileno como o plástico mais comum, amplamente utilizado na fabricação de sacolas e garrafas plásticas. Embora o impacto na saúde ainda não esteja completamente elucidado, estudos laboratoriais demonstraram danos às células humanas causados pelos microplásticos. Essas partículas podem se alojar nos tecidos, desencadeando processos inflamatórios similares aos observados com a poluição do ar, ou os compostos químicos presentes nos plásticos podem provocar danos adicionais.

A crescente quantidade de resíduos plásticos despejados no meio ambiente tem contribuído para a poluição por microplásticos em escala global, afetando desde o topo do Monte Everest até as profundezas dos oceanos. Há evidências de que as pessoas estão ingerindo essas minúsculas partículas através dos alimentos, da água e até mesmo do ar que respiram, sendo que foram detectadas nas fezes de bebês e adultos.

O professor Matthew Campen, da Universidade do Novo México, EUA, responsável pela liderança da pesquisa, expressou: “Se observarmos efeitos nas placentas, então toda a vida dos mamíferos neste planeta poderá ser afetada. Isso não é nada promissor.” Campen ressaltou ainda a preocupação com a crescente concentração de microplásticos nos tecidos humanos, sugerindo uma possível correlação com o aumento de certos problemas de saúde, como a doença inflamatória intestinal (DII), o câncer de cólon em pessoas com menos de 50 anos e a redução na contagem de espermatozoides. Um estudo realizado em 2021 descobriu que pessoas com DII tinham 50% mais microplásticos nas fezes.

O pesquisador demonstrou profunda preocupação com a crescente produção global de plásticos, argumentando que isso agrava ainda mais o problema dos microplásticos no meio ambiente. Os resultados da pesquisa, publicados na revista Toxicological Sciences, revelaram a presença de microplásticos em todas as amostras de placenta analisadas, com concentrações variando de 6,5 a 790 microgramas por grama de tecido. Após análises químicas e centrifugação para separação dos microplásticos do tecido, foi possível identificar a assinatura química característica de cada plástico. A mesma técnica foi empregada por cientistas da Capital Medical University, em Pequim, China, para detectar microplásticos em amostras de artérias humanas.

Os microplásticos foram inicialmente detectados em placentas no ano de 2020, em amostras de quatro mulheres saudáveis que passaram por gravidezes e partos normais na Itália. Os cientistas alertaram que os microplásticos transportam substâncias que, atuando como desreguladores endócrinos, podem causar efeitos adversos à saúde humana a longo prazo.

A concentração de microplásticos nas placentas é especialmente preocupante, conforme enfatizou Campen. O tecido placentário se desenvolve ao longo de apenas oito meses, em contraste com outros órgãos do corpo humano, cujo desenvolvimento ocorre ao longo de períodos muito mais extensos.

 

Ø  Por que é tão difícil combater a poluição plástica?

 

A poluição plástica é derivada do acúmulo de diversos tipos de plástico no meio ambiente. Com o aumento da produção do plástico, esse problema se agrava constantemente, sendo uma das questões ambientais mais preocupantes do mundo. 

Isso se dá por diversas questões, sendo sua prevalência no meio ambiente uma delas: é estimado que o plástico demore cerca de 450 anos para se decompor. Cerca de 80% de todos os plásticos que já foram produzidos na história ainda estão presentes no meio ambiente. E, mesmo assim, especialistas acreditam que a sua confecção pode aumentar. 

Entre 2000 e 2015, por exemplo, a produção de plástico teve um aumento de 79%. Além disso, acredita-se que a massa total do material seja de duas vezes a massa de todos os mamíferos presentes no planeta.

Embora o plástico seja um material reciclável, a sua maioria é descartada incorretamente, contribuindo para o agravamento da poluição plástica.

·        Microplásticos

Os microplásticos são outro agravante para a poluição plástica, provando que a reciclagem não pode ser a principal responsável pela solução do problema.

Esse tipo de plástico é resultado de toda a vida útil do material, sendo liberado de diversas formas e contribuindo para a poluição. A produção, manuseamento, uso e descarte do plástico são responsáveis pela liberação de milhares de micropartículas de plástico pelo mundo. 

A presença do material na natureza é constante, sendo encontrado nos lugares mais remotos da Terra, além de ser persistente. Quando é introduzido no ambiente, sua remoção é quase impossível por conta do seu tamanho. Seu uso na agropecuária também foi apontado como causa da contaminação da produção agrícola.

É quase impossível evitar sua ingestão, uma vez que suas partículas foram encontradas até no ar. O material já foi encontrado na água potável, diversos alimentos e até mesmo no sal de cozinha.

De acordo com especialistas, o microplástico é o maior poluente dos mares. 

·        Limites planetários

A poluição plástica também resultou na ultrapassagem do limite planetário de poluentes químicos. Os limites planetários foram reconhecidos em 2009 e levam em conta a resiliência do planeta em relação aos danos criados pelo ser humano. Eles indicam qual o máximo de prejuízo que a Terra pode suportar até se tornarem irreversíveis. Inicialmente, quando o termo foi adotado, o limite planetário de poluentes químicos ainda não tinha sido contabilizado. Porém, cientistas conseguiram identificar a ultrapassagem de um nível “seguro”. 

·        Tratado da poluição plástica

Em março de 2022, a ONU aprovou um tratado que tem o objetivo de tomar medidas para o controle da poluição plástica na Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unea). Reconhecendo o tamanho do problema, o tratado foi reconhecido como o maior pacto ambiental desde o acordo feito em Paris em 2015. 

A resolução conta com diversos planos para resolver os problemas derivados do ciclo do plástico. Durante 2022, esses planos serão reunidos e analisados pelo comitê do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e aplicados até o final de 2024, de acordo com a assembleia. 

De acordo com o presidente da Unea, a poluição plástica virou uma epidemia que foi se agravando desde o começo da produção do plástico, mas que estamos no caminho para a cura. 

economia circular está entre um dos objetivos do tratado. Ela garantiria a redução da produção do plástico e impulsionaria a reciclagem, onde não há desperdício e tudo que possa ser reaproveitado, é utilizado.

A adoção desse sistema econômico poderia resultar na redução de 80% da poluição plástica dos oceanos até 2040, além de ajudar na redução de emissão de gases agravantes do efeito estufa. 

·        Quanto plástico é jogado no oceano?

Um estudo, de 2023, calcula que existam de 93 mil a 578 mil toneladas de plástico na superfície dos oceanos, impactando o ecossistema marinho. A poluição por todo esse lixo plástico nos oceanos tem um nome específico: smog de plástico.

Os resíduos plásticos sofrem fragmentação, resultando em micro e nano partículas. Essas partículas vão para a costa ou fundo do mar, causando impactos negativos no meio ambiente. Além disso, a poluição plástica pode ser ingerida pela vida marinha, causando mortes.

Segundo os pesquisadores, o acúmulo de sacolas plásticas e outros produtos plásticos nos oceanos sofreu um grande aumento a partir de 2005, crescendo todos os anos, atingindo níveis inéditos.

Nesse contexto, em 2019, foi estimada uma média de 171 trilhões de partículas de plástico depositadas no oceano, em sua maioria microplásticos, pesando 2.3 milhões de toneladas. De acordo com os cientistas, a quantidade de poluição plástica nos oceanos deve aumentar a cada ano.

 

Fonte: eCycle

 

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