Guarda-costas de Brazão recolhia dinheiro
da milícia em igreja de Malafaia
Novas revelações
surgem no caso Marielle Franco a partir de registros do “disque-denúncia” do
Rio de Janeiro, apontando o envolvimento de Robson Calixto, assessor de
Domingos Brazão na Alerj e no TCE-RJ, com atividades de milicianos.
De acordo com
informações anônimas fornecidas à Polícia do Rio, Robson Calixto, conhecido
como “Peixe”, era intermediário entre os Brazão e Ronnie Lessa, o assassino da
vereadora Marielle Franco.
Relatos indicam que
Robson era avistado regularmente em uma igreja evangélica do pastor Silas
Malafaia próxima à UPP da Taquara, recebendo dinheiro arrecadado na região para
a milícia, nos dias 15 e 30 de cada mês. Além disso, denúncias sugerem que
Robson atuava como “segurança informal” de Domingos Brazão, estando
frequentemente armado.
Informações constantes
no inquérito final da Polícia Federal sobre os assassinatos da vereadora
Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, apontam que o segurança de
um dos mandantes, o conselheiro do TCE-RJ Domingos Brazão, identificado como Robson
Calixto, o “Peixe”, recebia duas vezes por mês quantias originárias da
arrecadação criminosa das milícias que operam na Zona Oeste do Rio numa igreja
evangélica que é de propriedade do pastor bolsonarista Silas Malafaia.
De acordo com o
documento policial, a informação apareceu na investigação após ligações
anônimas para o serviço de “disque-denúncia” do estado, conforme consta em
imagem reproduzida na página 170 do relatório, que teve seu sigilo levantado
neste domingo (24) pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.
“Na estrada citada,
próxima da UPP da Taquara, localiza-se uma igreja evangélica do Silas Malafaia,
onde pode ser encontrado o miliciano ‘Robson Calixto Fonseca”, de vulgo
“Peixe”, nos dias 15 e 30 de todo mês, para receber a quantia que é arrecadada
na região. Ele anda armado, é policial e segurança particular do deputado
Domingos Brazão”, diz a denúncia anexada ao inquérito da PF, que data de 18 de
junho de 2018.
A versão usada nesta
reportagem do texto com a denúncia foi corrigida em seus vários erros de
ortografia. No entanto, a expressão “UPP” está equivocada e se refere, na
verdade, à “UPA” da Taquara, que de fato fica a cerca de 70 metros de distância
da ADVEC, a “Assembleia de Deus Vitória em Cristo”, igreja da qual Silas
Malafaia é dono. Não há Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na região
mencionada.
“Peixe”, conforme
mostram as investigações, seria um policial militar atuante na milícia de Rio
das Pedras há muitos anos, além de homem de confiança de Domingos Brazão, de
quem realizava uma espécie de segurança improvisada, o acompanhando
constantemente. O nome dele aparece em inúmeros outros inquéritos abertos pelo
Gaeco (Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado), do Ministério
Público do Rio de Janeiro.
Braga Netto demitiu delegado que avisou
que Rivaldo tinha ligação com milícias
O general Walter Braga
Netto, um dos mais amedalhados integrantes da cúpula do bolsonarismo, que foi
candidato a vice-presidente da República na chapa de Jair Bolsonaro (PL) em
2022, vê sua situação se complicar cada vez mais com a Justiça. Ele, que já é
uma das figuras centrais no inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado
ocorrida no final do último governo, agora, está às voltas com a elucidação do
caso do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson
Gomes, ocorrido em março de 2018.
Interventor federal no
Rio de Janeiro à época do crime, Braga Netto já tinha sido apontado no
relatório da PF sobre o caso, divulgado neste domingo (24), como o responsável
em última instância pela nomeação do delegado Rivaldo Barbosa para o cargo de
chefe da Polícia Civil fluminense. Rivaldo é acusado de ser um dos três
mandantes, junto com os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, do duplo homicídio
de repercussão mundial.
Não bastasse a
revelação de que seu subordinado direto, o general Richard Nunes, então
secretário de Segurança Pública na intervenção, contrariou todos os alertas da
Subsecretaria de Inteligência para não nomear Rivaldo para o posto máximo da
Polícia Civil, por ter notórias relações com as milícias do estado, surge então
uma nova e perturbadora informação: Braga Netto teria demitido de forma direta
o delegado federal que deu o aviso sobre a conduta criminosa de Rivaldo,
insistindo ao máximo para que o general não permitisse sua nomeação.
Fábio Galvão, então no
cargo de subsecretário de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do
Rio de Janeiro, alertou à cúpula da intervenção federal, chefiada por Braga
Netto e que tinha Richard Nunes como secretário de Segurança, e mostrou informes
sobre Rivaldo, que desde o período em que comandou a Delegacia de Homicídios da
Capital (DHC) seria um policial corrupto e dos intestinos das milícias que
operam na Zona Norte da metrópole.
Diante do aviso, Braga
Netto não só ignorou Galvão, autorizando o insistente Richard Nunes a dar o
cargo de chefe da Polícia Civil ao agora acusado de mandar matar Marielle, como
também o demitiu do cargo de subsecretário de Inteligência da Secretaria de
Segurança Pública do Rio cinco meses depois, o devolvendo aos quadros da
Polícia Federal, o que, portanto, colocava o delegado longe das atribuições
nessa área no Rio de Janeiro.
Galvão era, àquela
altura, um prestigiado delegado que havia coordenado operações que colocaram na
cadeia 1.288 criminosos, sendo 375 deles eram do setor da Segurança, todos
acusados de corrupção.
• General ligado a Braga Netto “bancou”
nomeação de delegado acusado de matar Marielle
O relatório final da
Polícia Federal sobre as investigações dos assassinatos da vereadora Marielle
Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, enviado à Justiça e à
Procuradoria-Geral da República mostra que o delegado acusado de ser um dos
três mandantes do crime, Rivaldo Barbosa, foi “bancado” para o cargo de Chefe
da Polícia Civil do Rio de Janeiro por um general do Exército ligado ao também
general Walter Braga Netto, que à época do crime, no início de 2018, era o
interventor federal no Rio. Braga Netto é uma das figuras mais ilustres e
poderosas da extrema direita brasileira e foi o candidato a vice-presidente da
República na chapa de Jair Bolsonaro (PL) em 2022.
O general Richard
Nunes, então secretário de Segurança Pública nomeado pelo interventor Braga
Netto, insistiu muito para a nomeação de Barbosa para comandar a Polícia Civil
fluminense, mesmo existindo contra o delegado uma série de contraindicações
apontadas em relatórios da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de
Segurança Pública, que mostrava, com base em documentos do Gaeco (Grupo de
Atuação Especial contra o Crime Organizado), do Ministério Público do Rio de
Janeiro, que Rivaldo era apontado como recebedor de vantagens indevidas durante
o período em que foi o responsável pela Delegacia de Homicídios da Capital
(DHC). Na prática, os autos manifestavam que o policial era corrupto e mantinha
ligações com o crime organizado.
Como “argumento” para
insistir na nomeação de Rivaldo para a chefia da Polícia Civil, o general Nunes
advogou defendendo o delegado ao dizer que “tais contraindicações não eram
pautadas em dados objetivos”. De fato, Rivaldo foi nomeado para o cargo em 13
de março de 2018, um dia antes da morte de Marielle, que agora é atribuída a
ele e aos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, o primeiro deputado federal e o
segundo conselheiro do TCE-RJ.
As informações que
levantam o nome dos generais Braga Netto e Richard Nunes como agentes
relacionados à nomeação de Rivaldo como delegado-geral da Polícia Civil no
estado constam a partir da página 277 do relatório final da PF, que teve seu
sigilo levantado, junto com outros vários documentos da investigação do crime
sofrido por Marielle Franco, neste domingo (24) pelo ministro Alexandre de
Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Mulher de Rivaldo Barbosa movimentou mais
de R$7 milhões com empresas de fachada
Segundo a Polícia
Federal, Erika Andrade de Almeida Araújo, advogada e empresária, esposa do
ex-líder da Polícia Civil Rivaldo Barbosa, detido neste domingo (24), é
identificada como “laranja” do marido em empresas fictícias utilizadas pelo
delegado para lavar dinheiro adquirido de forma ilegal durante seu comando na
Delegacia de Homicídios da capital.
Erika colaborou na
lavagem de dinheiro, co-fundando, junto com o marido, empresas de consultoria
como a Mais I Consultoria Empresarial LTDA e Armis Consultoria Empresarial
Eireli. Ela é alvo de investigações da PF por suspeita de lavagem de dinheiro.
A advogada aparece
como a pessoa responsável por retirar valores das contas das empresas e uma
análise bancária mostrou que, entre janeiro de 2015 e dezembro de 2019, ela
movimentou mais de R$ 7 milhões.
Conforme a PF, há
evidências de que Barbosa era o verdadeiro administrador das empresas e o
responsável pela comunicação com os clientes e apresentação dos serviços
oferecidos.
Durante o período em
que ele liderou a DH da capital, de janeiro de 2012 a outubro de 2015, e
posteriormente, de outubro de 2015 a março de 2018, quando assumiu a Divisão de
Homicídios, a PF alega que ele recebeu propina para evitar investigações sobre
homicídios cometidos por organizações criminosas, decorrentes de disputas
territoriais pelo “jogo do bicho”.
Isso foi evidenciado
pela declaração de bens do delegado, que apresentou um aumento significativo de
seu patrimônio, incluindo múltiplos imóveis adquiridos no período.
O delegado e sua
esposa ingressaram no setor privado em 2014, quando estabeleceram a Mais I
Consultoria Empresarial. Erika Araújo, formada em administração e direito,
atuou como advogada na Fragata Antunes e Advogados Associados por menos de dois
anos, entre 2007 e 2009.
Conforme dados do
Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), Erika declarou ser sócia
de duas empresas e desempenhar a função de “Inspetora de Qualidade”, com uma
remuneração de R$ 28.920,56.
No entanto, houve um
aumento significativo na renda de Erika em poucos meses após a criação das
empresas, considerando que antes disso seu maior salário havia sido em torno de
R$ 4.830,00, quando estava na prefeitura do Rio de Janeiro.
A investigação da PF
destaca que, poucos meses após a constituição das empresas, elas já estavam
recebendo grandes aportes de capital de empresas consolidadas no mercado.
Um desses aportes foi
mencionado em uma denúncia do Ministério Público do Rio, em 2018, na qual o
delegado e outros sete investigados foram acusados de crimes contra a Lei de
Licitações. Na ocasião, a empresa da família de Rivaldo Barbosa recebeu R$ 160 mil
por consultoria à Light Distribuidora de Energia. O MP solicitou à Justiça o
afastamento de Rivaldo da chefia da polícia.
De acordo com o
relatório contábil (DRE – Demonstração do Resultado do Exercício) de uma das
empresas (Armis), foi declarado um lucro líquido de R$ 558.886,09, somente no
período de 01 de maio de 2017 a 31 de dezembro de 2017, o que representa, em
média, um lucro líquido de quase R$ 70.000,00 mensais.
O COAF informou que a
empresa Mais I Consultoria declarou um faturamento de R$ 20.000,00 por mês.
Entretanto, ao verificar as movimentações nas contas da empresa no período de
01 de junho de 2016 a 18 de junho de 2018, constatou-se uma movimentação de R$
1.072.598,00 a crédito e R$ 1.141.159,00 a débito. Ou seja, um valor mais de
duas vezes superior ao faturamento declarado.
O relatório do COAF
também apontou que a empresa preferia saques em dinheiro, uma estratégia pouco
comum, em vez de usar métodos mais seguros como transferências bancárias.
Destacou-se uma retirada de alta quantia feita por Erika das contas da empresa,
no valor de R$ 880.019,46.
Além das movimentações
financeiras incompatíveis com a renda e o faturamento declarados, a PF também
aponta uma alta frequência de operações financeiras em dinheiro e o aumento
considerável do patrimônio do casal, principalmente pela aquisição de imóveis.
Witzel já disse que foi perseguido por
Bolsonaro por investigar a fundo caso Marielle
Após as prisões dos
três acusados de mandarem matar a vereadora Marielle Franco e seu motorista,
Anderson Gomes, o deputado federal Chiquinho Brazão (UB-RJ), seu irmão e
conselheiro do TCE-RJ Domingos Brazão e o ex-delegado-geral da Polícia Civil
fluminense Rivaldo Barbosa, ocorridas neste domingo (24), uma declaração do
ex-governador do Rio Wilson Witzel, contextualizada e analisada sob a ótica das
informações do inquérito agora divulgadas, voltou a ser repercutida nas redes
sociais.
Alvo de um processo de
impeachment relâmpago após ter caído em desgraça com o então presidente Jair
Bolsonaro (PL), a quem se dedicou e apoiou na campanha de 2018, na qual ambos
saíram vitoriosos, Witzel declarou em 2021, já fora do cargo, que havia sido
perseguido e massacrado por Bolsonaro por investigar a fundo o assassinato da
vereadora do PSOL. O então governador foi quem afastou da chefia da Polícia
Civil o delegado Rivaldo Barbosa, agora acusado de ser um dos mandantes do
assassinato político.
“Tudo isso começou
porque eu mandei investigar sem parcialidade o caso Marielle. Quando foram
presos os dois executores da Marielle, o meu calvário e a perseguição contra
mim foram inexoráveis”, afirmou Witzel na CPI da Covid, em junho de 2021.
De fato, foi ainda sob
a gestão de Witzel que os nomes de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz surgiram
como executores do crime, levando os dois para a cadeia. Apenas agora, anos
depois, uma delação premiada do primeiro é que revelou finalmente os mandantes
do duplo homicídio. O ex-governador, ao prestar depoimento na Comissão
Parlamentar de Inquérito, lembrou também que após a descoberta da identidade
dos dois executores, Bolsonaro correu para as redes sociais, ainda de madrugada
nos Emirados Árabes Unidos, onde estava, para atacá-lo e desacreditar as
investigações.
“Ver um presidente da
República em uma live lá em Dubai acordar na madrugada para me atacar e dizer
que eu estava manipulando a polícia do meu estado… Ou seja: quantos crimes de
responsabilidade esse homem vai ter que cometer até que alguém pare ele?”, declarou
na CPI, em 2021.
Neste domingo, após as
detenções dos irmãos Brazão e do delegado Barbosa, Witzel voltou às redes para
falar sobre o episódio em que afastou o policial da então direção da Polícia
Civil e das represálias que sofreu por conta disso, aproveitando ainda para
atacar a esquerda.
“Fui massacrado pela
República quando determinei a prisão dos executores e sugeri delação. Fui
massacrado pela esquerda após trocar o delegado por acreditar que era preciso
fazer muito mais pra desvendar o caso. Sensação de dever cumprido, ainda que
tenha custado meu mandato”, postou em seu perfil oficial o ex-governador.
Fonte: Fórum
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